Coluna Vitor Vogas
O que dizem Vidigal, Arnaldinho e Euclério sobre Ricardo Ferraço
Os quatro são cotados – pelo próprio Renato Casagrande – para a sucessão do governador em 2026, como representante do mesmo grupo político
Em entrevista concedida à Rádio BandNews na última quinta-feira (19), o governador Renato Casagrande (PSB) praticamente deu o tiro de largada para uma corrida muito peculiar: aquela disputada entre seus próprios aliados, a ver qual deles chega em melhores condições, em meados de 2026, para conquistar seu apoio e representar seu projeto político na próxima eleição a governador do Espírito Santo.
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Casagrande, aliás, disse praticamente o mesmo em outras entrevistas dadas por ele em sequência no mesmo dia (por exemplo, à Rádio CBN), evidenciando que de fato aproveitou a maratona de atendimento à imprensa no fim do ano para passar seu recado ao meio político e aos próprios aliados, transmitindo aquilo que pensa, no momento, sobre a própria sucessão em 2026. E o recado é claro.
Casagrande elencou quatro nomes, chamados por ele de “lideranças políticas”, que podem vir a se candidatar ao Palácio Anchieta com seu apoio daqui a menos de dois anos. Em primeiro lugar, prestigiou seu vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB). Chamou-o de “candidato natural” à sucessão, por ser o primeiro da linha de substituição, o que lhe confere uma vantagem prática sobre os demais. Isso porque, se Casagrande decidir concorrer ao Senado, terá de renunciar ao cargo de governador em abril de 2026. Nesse caso, Ricardo se tornará o chefe do Executivo Estadual e, uma vez sentado na cadeira, terá plena legitimidade para disputar a eleição em agosto. Daí que, segundo Casagrande, se Ricardo assumir mesmo o governo, “vira o candidato natural” de seu grupo.
Ao mesmo tempo, o governador fez questão de prestigiar outros três diletos aliados políticos, citando-os espontaneamente, na mesma resposta, ao lado de Ricardo, como outros potenciais candidatos ao Governo do Estado: o ainda prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), o de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), e o de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB). Nas palavras do governador, “não podemos descartar” nenhum deles. Casagrande também fez questão de não classificar Ricardo como seu “plano A” e de negar que seu vice-governador seja “a prioridade” nesse contexto.
Inaugurou-se, pois, o Grande Prêmio Casagrande da Sucessão, com quatro pilotos da mesma equipe na pista. E, se um deles larga em vantagem, como o pole position, o que têm a dizer os outros três? É aqui que tudo fica ainda mais interessante.
Neste momento, enquanto se posicionam no grid e começam a aquecer os motores, Vidigal, Arnaldinho e Euclério dizem praticamente a mesma coisa: tratam Ricardo como o candidato do grupo deles, liderado por Casagrande. Assim, também apontam o vice-governador como o “candidato natural” do grupo e jogam para ele toda a responsabilidade de confirmar tal condição.
“Meu candidato é Ricardo Ferraço. Só vou pensar diferente se ele disser que não é candidato”, responde Euclério Sampaio. O prefeito de Cariacica também é filiado ao MDB, partido presidido por Ricardo no Espírito Santo.
Já Arnaldinho declara o seguinte: “Fico feliz por ter sido lembrado pelo governador Casagrande. Faço parte do grupo político do governador e, neste momento, o candidato natural é Ricardo Ferraço. Minha prioridade agora é administrar Vila Velha para fazer a cidade avançar cada vez mais”.
Chamo a atenção, nas aspas de Arnaldinho, para o emprego da locução adverbial e do advérbio de tempo: “neste momento”, “agora”.
Por sua vez, em entrevista à Rádio BandNews no último dia 13, Vidigal declarou: “Não está no meu radar [ser candidato ao governo]. E nesse grupo já temos um pré-candidato, que é o vice Ricardo Ferraço. Nosso empenho agora é unir forças nesse projeto”.
Na mesma entrevista, o prefeito da Serra afirmou que não tenciona disputar nenhum cargo eletivo que já tenha exercido (já foi prefeito quatro vezes, vereador da Serra, deputado estadual e federal; jamais foi governador nem senador): “Não tenho interesse em disputar nenhuma eleição da qual já tive mandato. Mas, como todo bom soldado, se porventura vier a ser convocado, e se for à minha altura, irei analisar”.
Na convenção estadual do PDT, realizada no dia seguinte (14) no Centro de Convenções de Vitória, Vidigal deu um passo além: afirmou que, se for convocado pelo governador (para ser seu candidato à sucessão), estará pronto e “à disposição”.
Ninguém poderia esperar nada diferente por parte de nenhum dos três a esta altura. Arnaldinho e Euclério acabaram de se reeleger nas respectivas cidades. Mal saíram das urnas nas disputas municipais. Como é que poderiam admitir candidatura ao Governo do Estado antes mesmo de serem empossados para o segundo mandato de prefeito?
Vidigal, por sua vez, está mais à vontade que os dois, pois ficará sem mandato a partir do dia 1º (tanto é que já deu uma declaração ligeiramente mais “atirada”, ao reconhecer que “está à disposição” de Casagrande, “se for convocado” por ele). Mas admitir a esta altura interesse em concorrer ao governo seria totalmente contraditório com o discurso mantido por ele desde que anunciou sua não candidatura à reeleição na Serra, em março deste ano: o de que daria um tempo da política para se dedicar à família.
Ao mesmo tempo, as declarações dos três prefeitos da Grande Vitória obedecem a uma só estratégia: tratando Ricardo como o candidato do grupo comandado por Casagrande, os três jogam sobre as costas do líder emedebista as atenções, as pressões e a responsabilidade de se viabilizar, enquanto tiram de si os holofotes e podem seguir trabalhando tranquilamente nos próximos 15 meses, cada um na sua raia, para buscarem viabilizar a si mesmos.
Se fosse uma corrida de atletismo, é como se os três preferissem correr pelas beiradas, nas raias periféricas da pista, deixando Ricardo disputar essa prova na raia central (logo, como o favorito).
Se fosse hipismo, eles sabem que Ricardo tem a vantagem de poder se sentar na sela de Casagrande antes de todos e já entrar na corrida eleitoral no cavalo reservado ao governador do Estado. Mas, se Ricardo não vingar e nem chegar a se sentar na dita sela, querem estar prontos para montar o cavalo se ele passar arreado para um deles.
Casagrande: “Let the games begin”
Casagrande está prestes a completar a metade do seu atual governo (o terceiro e, provavelmente, o último). Sua tradicional série de entrevistas de fim de ano, então, lhe serviu para fazer um balanço do primeiro tempo do seu governo na esfera administrativa. Mas ele também aproveitou a ocasião para dar o apito inicial e fazer a bola rolar em outro jogo, disputado no campo político: o da sua sucessão. Afinal, a partir do ano que vem, enquanto segue administrando o Estado no segundo tempo do mandato, ele terá também o grande desafio de escolher e preparar um sucessor.
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