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Coluna Vitor Vogas

PL x Republicanos: a concorrência na direita conservadora do ES

Para esta disputa municipal, os partidos de Magno e Erick não estão juntos em nenhuma das maiores cidades capixabas. Disputam o protagonismo e a liderança do mesmo campo

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Magno Malta e Erick Musso presidem, respectivamente, o PL e o Republicanos no ES

As eleições municipais deste ano são importantes por si mesmas, mas também são, acima de tudo, uma “escala” para a de 2026. As duas coisas se complementam. Daqui a dois anos, encerrando o segundo mandato sucessivo, o governador Renato Casagrande (PSB) não poderá concorrer à reeleição. Isso abre uma expectativa de poder enorme em todo o meio político capixaba, tanto para aliados que estão no poder com ele, na órbita do atual governo, como, principalmente, para quem não está.

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Quando pensamos em quais são as forças que estão fora dessa grande coalizão governista em torno de Casagrande e que hoje lutam contra a máquina estadual, dois partidos logo vêm à mente: o Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, e o Republicanos. Ambos são agremiações de direita, presididas no Espírito Santo, respectivamente, pelo senador Magno Malta e pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa Erick Musso.

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A imensa coalizão de Casagrande reúne de partidos de esquerda, como o PT, o PDT e o próprio PSB, até a fronteira da centro-direita, com partidos como o PSDB (pelo qual se elegeu o vice-governador Ricardo Ferraço, hoje no MDB), o União Brasil, o Podemos e o PP – este último ensaiando, desde o ano passado, um movimento de desembarque também visando à sucessão em 2026.

Hoje, o que é que podemos vislumbrar para o “pós-Casagrande”, considerando as candidaturas majoritárias (governador e duas vagas no Senado) que estarão em disputa? Em primeiro lugar, as candidaturas que na certa surgirão do próprio movimento político liderado pelo governador, que tanto pode se desmantelar até lá como pode se manter forte e coeso. Casagrande poderá lançar um candidato forte à sucessão, que ainda não sabemos quem será, além dele mesmo como provável postulante ao Senado.

À esquerda de Casagrande, teremos provavelmente um PT vindo muito competitivo, já que novamente ocupa o poder central no país, com Helder Salomão e Fabiano Contarato podendo disputar os cargos de governador e senador – não necessariamente nessa ordem.

E então chegamos à direita, que hoje não governa nem o Brasil nem o Espírito Santo. No Estado, esse campo já tem o PL e o Republicanos consolidados como forças alternativas, correndo “na pista de fora”, em raias externas ao pelotão de Casagrande. Desse pelotão governista, até 2026, também podem se desgarrar outros partidos de centro-direita ou direita, como o Podemos do deputado federal Gilson Daniel e o principal candidato para isso: o PP do deputado federal Josias da Vitória, que tem se aproximado muito do Republicanos.

Mirando esse pós-Casagrande em 2026, como vimos chamando a atenção aqui desde o ano passado, pode estar em gestação uma frente de direita no Espírito Santo, reunindo principalmente PL, Republicanos e PP. Partindo desse pressuposto, pensei (e escrevi aqui) no ano passado: “Bem, essa união de forças, com 2026 no horizonte, já deve começar a se manifestar em 2024. É possível que esses partidos já venham juntos, unidos em coligações e dividindo palanques em alguns dos municípios mais importantes do Espírito Santo”.

Essa era a minha expectativa.

No entanto, quando paramos para observar o quadro real do momento, minha previsão nesse ponto se frustrou. Concretamente, não temos observado PL e Republicanos unindo forças para estas eleições municipais. Está se dando exatamente o contrário, ou seja, pelo menos nesse cenário de disputa municipal, o que se tem percebido, longe de um bom entrosamento, é muito mais o PL e o Republicanos concorrendo entre si pela liderança desse campo conservador de direita do que se fortalecendo mutuamente.

Se fizermos um giro pelos maiores municípios do Espírito Santo, em absolutamente nenhum deles PL e Republicanos caminham juntos para estas eleições. Em alguns deles, inclusive, sucederam recentemente episódios importantes em que os dois partidos trombaram, bateram de frente e se desentenderam publicamente com estrépito.

Em rota de colisão

Em Vitória, cidade mais importante e talvez o exemplo mais gritante (até porque o deputado em questão grita mesmo), o PL de Magno decidiu lançar Capitão Assumção ao cargo de prefeito, hoje ocupado por Lorenzo Pazolini, do Republicanos, que ainda não o anunciou, mas será candidato à reeleição. Até aí tudo natural, tudo legítimo, tudo dentro da normalidade do jogo democrático… se não fosse pela sucessão de ataques desferidos por Assumção a Pazolini e reverberados por outros expoente do PL no Estado.

Pouco antes de ser preso e solto por Alexandre de Moraes, em março, Assumção chegou a chamar Pazolini de “moleque” da tribuna da Assembleia. Bate o tempo todo na tecla de que “Pazolini não é de direita”, sendo ecoado, por exemplo, por Gilvan da Federal. No início de abril, no evento de filiação do vereador afastado Armandinho Fontoura ao PL, o deputado federal foi quem puxou o coro de “Pazolini não é de direita”, levando ao delírio os assumcionistas presentes (menos o próprio Assumção, que, por ordem de Moraes, não pode estar no mesmo ambiente que Armandinho, já que os dois são investigados no mesmo inquérito sigiloso).

Isso só em Vitória, mas tem muito mais.

Outra ruidosa trombada entre o Republicanos de Erick e o PL de Magno teve vez em Aracruz, onde o primeiro deu um clássico “balão” no segundo. No dia 4 de abril, a apenas dois dias do encerramento do prazo para filiações de pré-candidatos, o Republicanos anunciou a “contratação” de Leandro Sperandio, delegado da Polícia Civil e aspirante a prefeito da cidade do litoral norte. Ocorre que, duas semanas antes, levado por Magno Malta, o mesmo Sperandio tinha ido pessoalmente a Brasília, ao encontro de Bolsonaro, para assinar com o PL, tendo a ficha abonada pelo ex-presidente da República em pessoa.

A ficha de filiação de Sperandio ao PL foi rasgada, e Magno não digeriu nada bem o preterimento de última hora, como não negaram as caras de velório dele mesmo e de Gilvan da Federal no vídeo postado por eles falando à frustrada militância do partido no dia 5 de abril – sem tempo hábil para tirarem da cartola uma alternativa à baixa.

Do lado esquerdo, Sperandio mostra ficha de filiação ao Republicanos, com Alcântaro Filho; do lado direito, Magno Malta discursa em Aracruz ao lado de Gilvan da Federal

Na Serra, PL e Republicanos também estão em choque. Na cidade mais populosa do Estado, os dois partidos vão medir forças nas urnas, indo para um confronto direto no campo da direita conservadora. O partido de Magno Malta lançou na noite de ontem (26) a pré-candidatura do vereador Igor Elson, enquanto o de Erick Musso vai para a disputa com o deputado estadual Pablo Muribeca.

À semelhança de Assumção em Vitória – embora de forma menos ostensiva e agressiva –, o pré-candidato do PL já inaugurou a estratégia de dizer que Muribeca não seria bolsonarista e nem mesmo seria de verdade um representante da direita, visto que apoia o governo Casagrande.

Ou seja, em mais uma prova do que estamos tratando de demonstrar – PL e Republicanos se chocando e se acotovelando pelo mesmo espaço de norte a sul do Estado –, o PL na Serra também está buscando dar um “chega para lá” no Republicanos dentro do mesmo campo, arvorando-se em único “autêntico representante” da direita conservadora e marcando o território que reivindica como seu domínio exclusivo.

Por esse raciocínio, a “direita” brasileira se resumiria ao PL e ao bolsonarismo, e apenas candidatos do PL, por ser o partido de Bolsonaro, poderiam ser verdadeiramente considerados de direita. É raciocínio bastante discutível e facilmente desmontável – seria mais ou menos como dizer que só o PT representa a esquerda no Brasil. Mas é assim que funciona a mente dos representantes do PL.

Outras cidades

Em Vila Velha, o Republicanos decidiu apoiar a reeleição de Arnaldinho Borgo (Podemos), enquanto o PL filiou o ex-secretário estadual de Segurança Pública Alexandre Ramalho e com ele vai enfrentar e tentar desbancar o atual prefeito. Isso depois de o próprio Republicanos ter chegado muito perto de filiar Ramalho. Até meados de fevereiro, as negociações do ex-secretário estavam mais quentes com o partido de Erick Musso. Mas esfriaram e ele foi para o PL.

Em Cariacica, o Republicanos apoia a reeleição de Euclério Sampaio (MDB), enquanto Magno, irredutível na tese de que o PL deve ter candidato próprio a prefeito em todas as maiores cidades, faz questão de lançar, com remotíssimas chances de êxito, Ivan Bastos – 13º colocado entre 14 candidatos a prefeito da mesma cidade na última disputa municipal, em 2020.

Em Guarapari, o Republicanos pretende concorrer à sucessão de Edson Magalhães (União Brasil) com o vereador Rodrigo Borges, principal opositor do prefeito na Câmara Municipal, enquanto o PL vai competir com o deputado estadual Danilo Bahiense. Morador de Vila Velha, o delegado aposentado foi convencido por Magno a transferir o domicílio eleitoral, em mais uma evidência da obstinação do senador em cumprir seu ambicioso plano de fazer com que o PL ocupe a cabeça da chapa em todas as principais cidades.

Em Cachoeiro de Itapemirim, o Republicanos pretende emplacar a candidatura do advogado Diego Libardi, aliado aos deputados Bruno Resende (União Brasil) e Allan Ferreira (Podemos), ao passo que o PL vai disputar com o vereador Léo Camargo.

Em Linhares, assim como em Vitória, o Republicanos tem o atual chefe do Executivo Municipal: apoiado pelo ex-prefeito Guerino Zanon (PSD), Bruno Marianelli defenderá o seu mandato nas urnas. Por seu turno, em vez de o apoiar, o PL preferiu lançar o empresário Maurinho Rossoni.

Em Colatina, o Republicanos tem o pré-compromisso de apoiar o ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos (PSD), enquanto o PL será representado pelo professor Luciano Merlo. Ambos são concorrentes do atual prefeito, Guerino Balestrassi (MDB), que buscará a reeleição.

Em São Mateus, o Republicanos vai para a disputa com o ex-deputado estadual Carlinhos Lyrio, ao passo que o PL ainda procura decidir o que fazer.

Conclusão

Como resta provado, as duas principais forças de direita do Espírito Santo hoje não estão jogando juntas em nenhum dos principais estádios eleitorais capixabas.

Não que isso invalide uma reaproximação política e o estreitamento do diálogo entre PL e Republicanos após as disputas municipais de outubro deste ano. De novembro até 2026, os dois partidos conservadores podem enfim convergir para um alinhamento político que pode até evoluir para a formação daquela frente de direita aventada lá no início, unindo forças e indo com uma estratégia conjunta para a próxima eleição estadual, a fim de derrotar o PT e o grupo de Casagrande.

Mas essa etapa, se vier a ocorrer, ainda vai longe.

Neste momento, no presente processo eleitoral, o que se vê nitidamente é um duelo íntimo e explícito por protagonismo e pela hegemonia dentro desse campo da direita conservadora em terras capixabas – o qual, de resto, reflete a disputa entre Republicanos e PL também em âmbito nacional com vistas à eleição presidencial daqui a dois anos.


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