Coluna Vitor Vogas
Pazolini calibra o discurso de campanha para a reeleição
Em prestação de contas aos vereadores, prefeito lançou os dois pilares do que deverá ser seu discurso eleitoral. Também listou o que já fez em Vitória
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Pazolini discursa. Crédito: André Sobral
Em meio a provocações, contendas verbais com opositores e muito barulho da torcida que lotou as galerias do plenário, o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) reviveu seus dias de parlamentar, na aguardada prestação de contas semestral aos vereadores de Vitória, realizada na Câmara Municipal na última quarta-feira (12). Seus cerca de 40 minutos de pronunciamento da tribuna serviram, antes de mais nada, para o prefeito calibrar o discurso que deve levar para a campanha à reeleição daqui a pouco mais de um ano, cujas bases foram praticamente lançadas ao público ali.
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São duas as premissas do discurso, fincadas pelo próprio Pazolini: de um lado, nas palavras do prefeito, “a recuperação da capacidade de diálogo com a cidade”; do outro, o que ele chama de “recuperação da capacidade de investimentos da Prefeitura com recursos próprios”. “Assumimos com um grande desafio: reconstruir esta cidade, sob duas premissas que haviam sido abaladas”, afirmou o prefeito.
Abaixo, passamos a analisar, um por um, os principais pontos dessa estratégia discursiva de Pazolini.
“Capacidade de diálogo”
“Diálogo” foi uma das palavras mais repetidas pelo prefeito tanto em sua fala inicial como nas respostas aos questionamentos dos parlamentares. “A primeira premissa é o diálogo, ouvir a cidade, reconectar a cidade ao coração das pessoas, reconectar a gestão aos anseios e desejos das pessoas.” Não deixa de ser irônico que uma das principais críticas de oposicionistas ao prefeito seja precisamente à alegada falta de diálogo “com a cidade” e “com quem pensa diferente”.
Dando alguns exemplos, Pazolini citou a ciclovia inaugurada há poucos meses na Avenida Rio Branco, na Praia do Canto. “Era uma batalha jurídica, que durou anos. Mas, em tempo recorde, ouvindo os moradores, entregamos a ciclovia, É a ciclovia do diálogo, a ciclovia da vida”, denominou o prefeito, “tomando emprestado” o nome da ciclovia da Terceira Ponte, que está prestes a ser inaugurada pelo Governo Estadual.
Outro exemplo foi dado por Pazolini ao destacar que Vitória foi a cidade brasileira que mais gerou empregos, proporcionalmente, em 2021, e é a segunda cidade no quesito velocidade para abertura de empresas. “Isso ocorre porque aí tem ambiente republicano, tem diálogo. Todas essas conquistas só foram possíveis pelo diálogo com o nosso povo.”
Ele também enalteceu esse ponto ao assinalar uma entrega muito simbólica para a cidade, em razão da demora na conclusão da obra, herdada por ele de gestões anteriores: a Escola Municipal de Educação Fundamental Paulo Freire, na Grande Santo Antônio. “Foram 20 anos de obras. Investimos quase R$ 7 milhões e com trabalho, diálogo e humildade, resolvemos em um ano e meio.”
Para constar: patrono da educação brasileira, Paulo Freire postulava exatamente o diálogo – no caso, entre educadores e educandos, em construção conjunta do conhecimento.
Capacidade de investimentos
É a pedra angular do discurso de Pazolini. Ele lembrou que, em janeiro de 2021, assumiu a Prefeitura em plena pandemia e, segundo ele, deparou-se com o “esfacelamento das contas públicas municipais”.
“Vitória estava na UTI, respirando por aparelhos. A previsão de investimentos com recursos próprios deixados no orçamento de 2021 era de R$ 6,5 milhões. Em setembro de 2021, fizemos o Plano Vitória, projetando um investimento de R$ 1 bilhão em quatro anos de mandato. Hoje o que parecia um sonho já foi superado. Até agora, já investimos mais de R$ 1,3 bilhão com recursos próprios. Saímos de R$ 6,5 milhões previstos no orçamento de 2021 para R$ 1,3 bilhão.”
Reforma da Previdência
Prevendo que seria bombardeado por indagações sobre o tema, que de fato é um dos mais delicados para a sua administração, Pazolini buscou antecipar-se, expondo o calcanhar de Aquiles já na fala introdutória: o projeto de reforma do sistema previdenciário municipal mandado por ele para a Câmara nos primeiríssimos dias do seu governo, em janeiro de 2021, e de fato aprovado às pressas e sem quase nenhum debate pelo Legislativo Municipal.
O prefeito tratou o projeto de reforma como um “remédio amargo, mas necessário”.
“Fizemos as propostas legislativas que não queríamos, que não desejávamos, que nenhum gestor quer fazer, mas que eram necessárias para quem tem responsabilidade. O Tribunal de Contas do Estado acaba de divulgar que a Previdência de vários municípios está na UTI e muita gente vai ficar sem receber. E nós fizemos um dever de casa amargo, que ninguém deseja, mas que era necessário para garantir que nossos aposentados não ficassem sem receber. Se não fizéssemos isso, o cenário hoje seria ainda mais caótico, pois vem aí uma reforma tributária que será ainda mais traumática para Vitória”, alertou.
Segundo Pazolini, pouco antes da reforma, a Prefeitura estava à beira de um “colapso previdenciário”. “Teríamos quase quebrado. Não queríamos fazer, mas era um remédio amargo e necessário, e nós éramos obrigados a fazer.”
O prefeito também exercitou a máxima de que a melhor defesa é o ataque, acusando vereadores de oposição de serem irresponsáveis, enganarem os aposentados e jogarem para a plateia:
“Alguns que estão nesta Casa, inclusive, instigaram os servidores para que eles fossem precocemente ao Judiciário e judicializassem essa questão. Cometeram estelionato. Amamos os aposentados, mas lamentamos a narrativa política mentirosa levada a eles, só para jogarem para a plateia.”
Ataques à oposição
Seguindo firmemente a estratégia de tomar a iniciativa de atacar (“propor o jogo”), em vez de manter uma postura reativa (“jogar na defesa, saindo nos contragolpes”), Pazolini surpreendeu meio mundo lançando de cara, sem citar o nome, a informação de que um vereador de Vitória tem condenação transitada em julgado por ataque à honra de terceiros, e ainda pedir ao corregedor-geral da Câmara, Leonardo Monjardim (Patriota), que “tome as providências adequadas”.
“Tem muito fanfarrão que era vereador naquela época e ficou calado e que agora fica fazendo graça. Tem gente condenada neste plenário, lamentavelmente, com sentença transitada em julgado. Recebi uma representação gravíssima. Com todo o respeito, corregedor, se tem vereador condenado, o senhor terá que apurar. É claro o Regimento Interno da Câmara: o vereador que ofendeu a honra de alguém perde o mandato. Fica o nosso pedido, como cidadão, para que o senhor convoque uma reunião. Isso tem que ser apreciado com o devido processo legal e respeito às normas pertinentes.”
Na sequência, bem no início de sua intervenção, o vereador Vinicius Simões (Cidadania) meio que vestiu a carapuça, Pazolini confirmou ser ele o alvo da sentença em questão e voltou a pedir investigação da Corregedoria contra o vereador de oposição. Não foram repassados mais detalhes.
Críticas à gestão de Luciano
Mas a ofensiva de Pazolini não foi só contra vereadores de oposição. Também sobraram críticas à administração do seu antecessor, Luciano Rezende (Cidadania), prefeito de 2013 a 2020, em momento algum citado nominalmente pelo atual prefeito.
Pazolini acusou a “irresponsabilidade administrativa de quem nos antecedeu e não fez”. Tornando a destacar os modestos R$ 6,5 milhões deixados para investimentos de 2020 para 2021, o prefeito fez até uma insinuação maldosa: “O dinheiro foi, e aí cada um conclui para onde ele foi… De fato, ele não estava nos cofres municipais.”
Ao discorrer sobre educação, deu nova estocada em Luciano. “Trinta por cento dos estudantes da 5ª série da rede municipal não sabiam ler e escrever. Essa foi a realidade que herdamos. No nosso primeiro ano, crescemos em 15% o teste de fluência para leitura.”
Mesma coisa ao comparar os números de exames realizados na rede municipal de saúde: “Para não criar constrangimento neste plenário, não vou nem voltar a 2017, 2016, 2015…”
E também ao ressaltar a obra de restauração do Mercado da Capixaba, no Centro: “Tem vídeo aí rodando de gente que em 2016 prometeu o Mercado da Capixaba. E o que foi feito?”, perguntou o prefeito à sua claque, qual um animador de auditório. “Nada!”, responderam em uníssono e alto volume, disciplinadamente, os seus apoiadores.
A propósito, a sessão especial ocorreu com as galerias lotadas predominantemente por correligionários do prefeito. Graças à invasão dos torcedores nas arquibancadas, ele pôde jogar em casa, num ambiente amigável, inclusive sob gritos de “Pazola!” e até “Governador!”.
Afagos na Câmara e, particularmente, em Piquet
Enquanto não faltaram cutucadas nos opositores e no antecessor, sobraram elogios e afagos tanto à Câmara Municipal como, particularmente, ao presidente da Casa, Leandro Piquet. Correligionário do prefeito no Republicanos, o chefe do Legislativo andou se estranhando publicamente com Pazolini e, destacadamente, com o secretário municipal de Governo, Aridelmo Teixeira (Novo), convidado a se sentar à Mesa Diretora com eles, em lugar de destaque.
Enaltecendo a prestação de contas como uma “festa democrática”, Pazolini fez questão de assinalar “o que tem sido construído na cidade de Vitória junto com esta Casa de Leis”. “Esta Casa tem o DNA de cuidar do cidadão junto conosco”, salientou em outro momento.
Num carinho direto em Piquet, o prefeito fez questão de reverenciá-lo como corresponsável pela política implantada pela Prefeitura de inclusão de uma refeição a mais a cada turno letivo para as crianças do infantil e do fundamental matriculadas na rede escolar de Vitória. Com efeito, a medida foi adotada pela prefeitura a partir de uma indicação de Piquet, então líder do prefeito na Câmara, após um diagnóstico realizado pelo seu gabinete em 2021.
“Aqui preciso citar Vossa Excelência”, disse Pazolini a Piquet, “que nos ajudou nessa política pública, com o diagnóstico de que as crianças tinham rendimento inferior no primeiro tempo, antes do recreio, porque chegavam à escola com fome. Implementamos mais refeições para garantir que os alunos se alimentem dignamente e tenham uma melhor aprendizagem. Por isso a importância desta Casa, com as sugestões.”
Flerte com o populismo
Não se pode deixar de notar que, em alguns momentos, Pazolini não se vexou de fazer algumas falas que resvalam no velho populismo, como a já citada “amamos os aposentados”.
“Almoço lá e faço questão de estar ao lado dos mais vulneráveis”, fez questão de dizer o prefeito, ao destacar o trabalho do abrigo para pessoas em situação de rua.
Austeridade fiscal
No capítulo “resgate da capacidade de investimentos”, há um subcapítulo intitulado “austeridade fiscal”, personificado por Aridelmo Teixeira (Novo). O ex-secretário municipal da Fazenda foi o patrono da reforma previdenciária e, agora secretário de Governo, sentou-se à Mesa, como observado acima, durante a prestação de contas.
Pazolini salientou medidas como renegociação de contratos, cortes de gastos de custeio e “redução em mais de 20% dos cargos comissionados da Prefeitura”, o que permitiu, segundo ele, a redução em mais de R$ 100 milhões da folha de pagamento. Nesse ponto, ele se deu a deixa para nova investida contra opositores:
“Então a gente entende por que alguns hoje estão insatisfeitos. Perderam as boquinhas, o troca-troca”.
Segundo o prefeito, as medidas de contenção de gastos propiciaram a concessão de aumento salarial de 12,5% para o funcionalismo municipal. E essa foi a própria deixa para um anúncio importante:
“Este ano vai ter aumento de novo, já posso adiantar”, contou ele, sob aplausos da plateia. O percentual ainda não foi informado.
Educação
Para materializar o conceito de “recuperação da capacidade de investimentos”, o prefeito enumerou uma série de investimentos sociais concretos, começando pela educação.
Segundo ele, nos dois primeiros anos (2021 e 2022), sua administração investiu mais de R$ 100 milhões nas unidades escolares. “Para eliminar a exclusão digital da cidade”, a Prefeitura distribuiu 30 mil tablets aos alunos e notebooks aos professores.
“Acabamos com a farra dos cargos comissionados. Nomeamos 500 profissionais efetivos concursados só para a Educação”, assinalou o prefeito.
Saúde
Pazolini enalteceu o desempenho da Prefeitura de Vitória em 2021, primeiro ano de sua administração, na campanha de vacinação em massa contra a Covid-19, contemplando inclusive, sem distinção, moradores de outros municípios e até de outros estados.
“Vitória foi referência. Foi a cidade que mais vacinou no Brasil, em menos tempo. Recebemos pessoas de muitas unidades do Brasil. Algumas pessoas me disseram que devíamos exigir apresentação de comprovante de residência. Nossa resposta foi clara e objetiva: ‘Nós não vamos decidir quem vive e quem morre. Vacina para todos, garantida!’”, afirmou, sob aplausos.
O prefeito ainda salientou o crescimento dos exames de especialidades na rede municipal de saúde:
Segundo os dados levados por ele, em 2019 foram 220,1 mil; em 2020, primeiro ano da pandemia e último da gestão de Luciano, foram 174,1 mil; em 2021, segundo da pandemia e primeiro do governo Pazolini, foram 189,7 mil; em 2022, já foram 378,2 mil.
Ainda segundo o prefeito, a partir de uma parceria do município com a Santa Casa, a previsão é que sejam realizados 507,5 mil exames em 2023.
Segurança Pública
Pazolini salientou a ampliação do videomonitoramento, a “queda de 73% em furtos e roubos na Capital” e o trabalho da Guarda Municipal, responsável pela prisão de uma quadrilha que sequestrava mulheres.
Falando em mulheres, ele ressaltou a inauguração da Casa Rosa, voltada ao acolhimento das vítimas de violência doméstica. “Implantamos uma política pública mais eficaz de proteção e cuidado às mulheres, crianças e famílias. Muitas dessas mulheres vítimas de violência acolhidas na Casa Rosa hoje têm renda superior à de seus antigos agressores, que estão presos.”
Assistência Social
O prefeito deu destaque ao Vix + Cidadania, programa de transferência direta de renda para famílias em vulnerabilidade social, lançado no início deste ano pela Prefeitura. “Estamos erradicando a pobreza. Pagamos R$ 112,00 para cada morador da família. Levamos para dentro de casa comida e dignidade.”
Segundo Pazolini, o orçamento da Secretaria de Assistência Social cresceu 62,34% de 2019 a 2023. “Se voltarmos a 2017, vai ser vergonhoso”, voltou a alfinetar.
Ele ainda salientou o programa habitacional da sua gestão: “Em dois anos e meio, entregamos mais escrituras públicas do que em toda a história da cidade”.
Em nova alfinetada, citou também o Abrigo Transitório: “Era feita uma covardia nesta cidade. Até 2021, pessoas em situação de rua não tinham onde passar a noite. Dava 19 horas, elas eram expulsas do Centro-Pop.”
Outras medidas
O prefeito ainda destacou a melhoria urbanística da Orla Noroeste (Grande São Pedro e Grande Santo Antônio), “a maior obra da história da cidade”. “É a transferência de vida de uma população abandonada.”
Litou também o Centro de Convivência da Terceira Idade, em construção em Jardim Camburi; o restauro do Mercado Capixaba, “com recursos próprios, valorizando o Centro de Vitória”, os “R$ 140 milhões de investimentos em macrodrenagem”; e a elevação dos investimentos em cultura e sustentabilidade.
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