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Coluna Vitor Vogas

Os 10 motivos que levaram Casagrande a apoiar Marcelo contra Vandinho – Parte 2 

Temor quanto a um possível crescimento da oposição mais radical na Assembleia e desejo imperioso de neutralizá-la; receio quanto a interferências externas de outras forças políticas na definição do comando da Casa de Leis; a influência política acumulada por Marcelo no Legislativo estadual e seu bom trânsito entre os pares…

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Marcelo Santos (em pé, à direita) em plenário. Foto: Ales

Temor quanto a um possível crescimento da oposição mais radical na Assembleia e desejo imperioso de neutralizá-la; receio quanto a interferências externas de outras forças políticas na definição do comando da Casa de Leis; a influência política acumulada por Marcelo Santos (Podemos) no Poder Legislativo estadual e seu bom trânsito entre os pares, da esquerda à extrema direita que faz oposição a Casagrande (PSB).

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Abaixo, a coluna relaciona e busca elucidar os quatro últimos motivos, não declarados pelo governador, que o levaram a manifestar explicitamente o seu apoio a Marcelo na eleição para a presidência da Assembleia, tratando de esvaziar a chapa de Vandinho Leite (PSDB).

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Os seis primeiros motivos (quatro ditos, dois não ditos) estão aqui.

7. Neutralizar a oposição 

Pesou muito na decisão do governador em prol de Marcelo um inconfesso receio quanto à possível natureza dos acordos firmados por Vandinho com deputados da oposição radical para se viabilizar e, por consequência, ao espaço que tais deputados poderiam vir a ocupar em postos-chave de comissões estratégicas e até na próxima Mesa Diretora. 

No fim de dezembro, em movimento capitaneado por Vandinho, Hudson Leal (braço direito do primeiro no processo) e Tyago Hoffmann, foi formado um blocão com 24 deputados visando, para todos os efeitos, somente à discussão sobre a distribuição das vagas nas comissões. 

Dentro desse bloco, com o avançar de janeiro, Vandinho, Hudson e Theodorico Ferraço passaram a gestar a candidatura do primeiro à presidência, com o apoio de muitos deputados governistas, mas também dos representantes da oposição extrema (incluindo a bancada do PL). 

Mas Marcelo jamais fez parte do blocão, assim como outros deputados governistas alinhados com ele (Janete, Zé Esmeraldo, Xambinho…). 

Criou-se assim uma situação temerária para o governo, na qual Vandinho, até então favorito para a presidência, não havia buscado agregar todos os deputados governistas, mas havia reunido em torno dele os principais deputados da oposição (novatos e reeleitos, de Lucas Polese a Assumção). 

“Vandinho, Hudson e Ferraço estavam se organizando, buscando levar os novos de todas as ideologias, inclusive os da bancada que nos ofende. Já basta a lição de Erick Musso. Em nome de uma pacificação, deixamos ele crescer, e deu no que deu”, rememora um interlocutor de Casagrande. 

Tyago Hoffmann então deslocou-se das discussões desse blocão, anunciou que não era candidato à presidência e aproximou-se de Marcelo, o qual, jogando parado até então, passou a intensificar suas articulações de bastidores, até ganhar as bênçãos de Casagrande. 

Com uma chapa encabeçada por Marcelo, o Palácio acredita neutralizar qualquer chance de a oposição extrema botar as asas de fora e vir a se sentar em qualquer lugar à Mesa, pois Casagrande & Cia. estão convictos de conseguir derrotar a chapa de Vandinho no voto em plenário – se for mesmo necessário – contando somente com os apoios de deputados governistas ou independentes, sem precisar de um só voto dos oposicionistas e sem fazer concessões a eles. 

Segundo deputados governistas, nesta quarta-feira (25), a chapa de Marcelo já contaria com a adesão de 18 dos 30 deputados, com a possibilidade de ingresso dos independentes Camila Valadão (Psol) e Sérgio Meneguelli (Republicanos). 

Theodorico Ferraço, por sua vez, disse que a chapa de Vandinho já tinha 12 assinaturas.

Dez assinaturas ali são certas: além de Vandinho e Ferraço, quatro deputados do PL (Assumção, Polese, Callegari e Danilo Bahiense), três do Republicanos (Hudson, Alcantaro e Bispo Alves) e mais o Coronel Weliton (PTB).

8. Interferir para evitar interferências

Por ironia, pode-se dizer que o governador desta vez resolveu interferir na eleição da Assembleia de um modo raras vezes visto (e destoando do próprio estilo) também a fim de bloquear outras interferências externas, mas por parte de representantes de outros Poderes. Tipo assim: “Se alguém tiver que interferir nessa decisão de forma acintosa, que seja eu”. 

Confirmando informação trazida pela colunista Letícia Gonçalves, de A Gazeta, na terça-feira, um deputado governista contou à coluna (dando nomes) que ele e alguns pares foram chamados ao gabinete do conselheiro Sérgio Aboudib e, conversa vai, conversa vem, o ex-presidente do TCES teria dito a cada um, reservadamente, que eles deveriam escolher o deputado Vandinho por ser da base e por já ter reunido o apoio da maioria dos deputados, e que portanto o governador não deveria orientar voto em outro deputado.

(Parêntese: é notória a preocupação de conselheiros do TCES e de representantes de outras instituições do Estado com a iminente chegada de Marcelo à presidência da Assembleia, seu consequente crescimento político e o possível uso que ele poderá fazer do cargo como trampolim para chegar à vaga de Sérgio Borges no TCES, a ser aberta com a aposentadoria compulsória do conselheiro, por idade, em janeiro do próximo ano.)

Questionada pela coluna sobre o tema, a assessoria do TCES respondeu, em nome de Aboudib: “Pela sua atuação no Tribunal, o conselheiro Sérgio Aboudib recebe em seu gabinete prefeitos, vereadores, secretários e deputados. Não existe da parte do conselheiro qualquer interferência no processo de escolha da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa”.

Pelo sim, pelo não, também pesou na decisão de Casagrande, segundo interlocutores, certo temor de que, ajudando a colocar Vandinho na presidência da Assembleia, forças políticas externas e adversários do atual governo pudessem estar buscando ocupar posições estratégicas no tabuleiro político-eleitoral do Espírito Santo com os olhos já voltados para outras disputas.

Entre elas, a já citada sucessão de Sérgio Borges no TCES e a sucessão de Casagrande em 2026. Nos dois casos, o grupo que tiver o controle da Assembleia poderá exercer considerável influência.

9. O peso político de Marcelo

No contexto da Assembleia Legislativa, colaboradores de Casagrande consideram Marcelo um deputado com mais peso político que Vandinho. 

Primeiro vice-presidente da Casa há seis anos, Marcelo foi quem articulou a eleição de Erick Musso em janeiro de 2017, apeando Ferraço da presidência (e é daí, entre outras razões mais nebulosas, que se origina a inimizade mortal entre as duas maiores raposas políticas e recordistas de mandato na Assembleia). 

Para muitos, desde o início da “Era Erick”, Marcelo é de fato quem comanda a Assembleia, tanto no plenário como nos bastidores: não é o presidente, mas preside. “É um político que sabe fazer política, então é melhor tê-lo como aliado do que contra a gente. Se preciso de um aliado ali e se preciso escolher entre os dois, que seja um aliado mais forte”, afirma um casagrandista. 

10. O trânsito com a direita

Bem articulado, Marcelo transita bem (e de igual maneira) por todos os nichos do plenário, da esquerda mais “esquerdista” (Iriny, Coser) à oposição a Casagrande situada na extrema direita (a bancada do PL). Está longe de ser um político de esquerda. Na verdade, é um deputado meio “supra-ideológico”.

Nestes últimos anos marcados por extrema polarização entre a esquerda e o bolsonarismo no país, Marcelo não costuma entrar em debates ideológicos nem marcar posição sobre temas polêmicos (os da agenda moral, por exemplo). 

Assim, sem dar espaço na Mesa para a oposição mais radical a Casagrande (risco imaginado por palacianos em caso de vitória de Vandinho), Marcelo poderá, na presidência, ajudar a dirimir conflitos com essa ala. É uma das apostas, pelo menos.


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