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Coluna Vitor Vogas

Bastidores: a chapa única liderada por Marcelo a partir do acordo selado com Vandinho

Veja quem do grupo de Vandinho entrará ou poderá entrar na chapa do Palácio Anchieta e em quais cargos da Mesa. / As vitórias e os danos colaterais para o governo Casagrande. / Por que Palácio insistiu em acordo mesmo tendo maioria para vencer disputa? / Por que Marcelo fica muito mais longe do TCES? / E por que governo pode desistir de revogar os superpoderes do presidente?

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Da esquerda para a direita: Danilo Bahiense, Marcelo Santos, João Coser e Hudson Leal

O “discurso da vitória” de Marcelo Santos (Podemos) já está pronto. Estava sobre a sua mesa de trabalho, no gabinete da vice-presidência da Assembleia, ontem à noite. Em condições normais de pressão e temperatura, ele será eleito com folgas, à frente de chapa única, na votação para a próxima Mesa Diretora, às 15 horas desta quarta-feira (1º).

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O acordo de conciliação entre Marcelo e Vandinho Leite (PSDB) está lacrado. Eles se falaram, inclusive ontem à noite, no gabinete da vice-presidência.

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Hudson na vice-presidência

E Hudson Leal (Republicanos)? Há exatamente uma semana, o braço direito de Vandinho nesse processo eleitoral foi dormir soltando cobras e lagartos contra Casagrande devido ao apoio do governador a Marcelo, em desfavor de Vandinho. Nesta quarta, acordou 1º vice-presidente da Mesa na chapa de Marcelo. Esse foi um dos pontos-chave do tratado de rendição de Vandinho.

Coser pode virar secretário

A priori, o cargo de 1º vice-presidente estava reservado para João Coser (PT). Para acomodar Hudson, o petista pode ser remanejado para o posto de 1º secretário da Mesa.

Gandini fora da Mesa

Nessa reacomodação das peças no tabuleiro, Gandini perde a 1ª secretaria. Mas não chega a ser uma perda tão grande para o deputado do Cidadania, que já não estava lá muito inclinado a conviver na Mesa com Coser (os dois são adversários em Vitória). Além disso, no formato atual, os poderes dos secretários da Mesa estão muito limitados.

Danilo com um pé dentro

Além de Hudson na vice-presidência, quem pode ascender ao posto de 2º secretário é ninguém menos que o Delegado Danilo Bahiense (PL). Ele foi visto ontem à noite conversando com Marcelo no gabinete da vice-presidência.

Bolsonarista moderado

Danilo é do PL, é bolsonarista, apoiou Manato em 2022 e em princípio é opositor de Casagrande. Mas não é um deputado extremista. E, entre os quatro deputados do PL que estavam na agora desmanchada chapa de Vandinho, é seguramente o mais moderado. Os outros são Callegari, Lucas Polese e Capitão Assumção.

Marcelo Santos falou, Marcelo Santos avisou…

Marcelo deu a dica em sua entrevista à coluna ontem à noite: da direita à esquerda, independentemente de ideologias, “não há veto à chegada de nenhum parlamentar, com a possibilidade de chegarem e fazerem parte da nossa chapa”. Nenhum.

PL e PT: jabuticapixaba

Se esse rearranjo se concretizar, podemos ter, quem diria?, uma Mesa formada por um deputado do PT e um do PL. Marcelo pode ser ladeado por Coser e Danilo. Jabuticapixaba.

A fatura de Vandinho

Esse teria sido o preço de Vandinho para tirar o time de campo: uma das duas primeiras secretarias para representantes do seu grupo, mais a 1ª vice-presidência e o comando de algumas comissões.

Resistências de marcelistas

Alguns marcelistas resistiam aos termos desse acordo, especialmente os que tinham interesse em alguma das duas primeiras secretarias da Mesa. Achavam que Marcelo só deveria ceder a 1ª vice-presidência, pois Vandinho não estaria em condições de pleitear muita coisa – até porque, se o tucano insistisse na disputa, perderia no voto em plenário e seu grupo ficaria sem nada.

Por essa perspectiva, dois dos quatro postos mais importantes da Mesa seriam demais para o grupo de Vandinho. Mas Marcelo (leia-se o governo) achou melhor ceder.

Ceder por quê?

Se Vandinho insistisse em ir para a disputa em plenário, o governo teria superioridade numérica garantida (18 a 10) para derrotar o grupo de Vandinho e deixá-lo sem absolutamente nada na Mesa. Venceria do mesmo jeito. Por outro lado, uma disputa em plenário poderia gerar para o governo consequências negativas e incontroláveis, na relação com a Assembleia, logo no início do mandato.

Não deixar a oposição crescer

Primeiro porque, mesmo ainda minoritária, a oposição poderia ganhar reforços.

À míngua, deputados como Vandinho e Hudson poderiam adotar perfil mais independente e crítico ao governo (Hudson mesmo, “malandramente”, deu sinais nessa direção em entrevista à coluna, ao criticar o novo sistema de regulação de leitos implantado por Nésio Fernandes na Secretaria de Saúde em agosto passado).

Já Danilo, sem nada a perder, em vez de suavizar a postura, poderia aproximar-se dos extremistas. Se confirmado o seu ingresso na chapa costurada pelo Palácio Anchieta, o delegado pode passar até a representar uma ponte com a bancada da extrema direita.

Controle da partilha das comissões

Além disso, com um chapão, o governo conseguirá controlar melhor a distribuição das vagas nas comissões estratégicas.

CPIs e o número mágico

Por último, mas não menos importante, 10 deputados (justamente o número de parlamentares até então reunidos na chapa de Vandinho) é o número mágico e mínimo de assinaturas necessárias para se protocolar um pedido de instauração de CPI na Assembleia.

Se esse grupo fosse derrotado e se mantivesse unido após o pleito, poderia render dores de cabeça ao Palácio também nesse front.

Neutralizar a extrema direita

Com a implosão da chapa de Vandinho, o governo também atinge o objetivo estratégico de deixar completamente sem nada a bancada da extrema direita (já excluindo Bahiense dessa categoria). Consegue isolar seus principais opositores no processo de eleição da Mesa.

Por essa penca de fatores, o governo, através de Marcelo, achou melhor buscar um acordo, fazer concessões e evitar a disputa entre duas chapas.

Por que não o próprio Vandinho?

Um lugar menor para Vandinho na chapa de Marcelo ficaria parecendo um humilhante prêmio de consolação para o deputado da Serra, depois de ele ter chegado tão longe e tão perto de se tornar presidente.

Como votará Camila Valadão

Se confirmado esse novo possível desenho da chapa de Marcelo, Camila Valadão não votará nele. A deputada do PSol não votaria de jeito nenhum na chapa de Vandinho, porque esta abrigava quatro deputados do PL. E até poderia votar em Marcelo, se mantida a configuração anterior da chapa do decano da Assembleia.

Mas, a se confirmar o ingresso de Danilo Bahiense na Mesa, pelo mesmo motivo, Camila não deve apoiar a chapa liderada por Marcelo. Meu palpite: ela vota não.

Estava pressentindo

Aliás, foi justamente pressentindo a absorção de aliados de direita de Vandinho na chapa de Marcelo que Camila evitou se posicionar a favor do deputado do Podemos nos últimos dias.

Marcelo mais longe do TCES

Com Hudson na 1ª vice-presidência, Marcelo fica muito mais longe da vaga do conselheiro Sérgio Borges, a ser aberta em janeiro do próximo ano, no Tribunal de Contas do Estado (TCES). Este tópico merece ser aprofundado em outra coluna, mas adiantamos o cerne do raciocínio.

Raciocínio: a sucessão na Mesa

Se Marcelo se tornar conselheiro daqui a um ano tendo Hudson Leal na vice-presidência, este é quem ascenderá à presidência, interinamente. Deverá convocar nova eleição para presidente no prazo de cinco sessões. Mas, uma vez na cadeira e com a caneta para exonerar e nomear os servidores apadrinhados pelos colegas, é mais que previsível que Hudson se candidate para seguir no comando da Mesa.

Para o governo, nem pensar

Essa hipótese não agrada absolutamente nada ao Palácio Anchieta. Hudson, com perdão pelo trocadilho, está longe de ser um aliado leal e constante. E o governo pode até ter engolido, mas não vai esquecer as falas pesadas do deputado contra Casagrande uma semana atrás (“estupro eleitoral” etc.).

Aliás, a “autorização” para o ingresso de Hudson na 1ª vice-presidência pode ser lida como sinal mais que suficiente de que, para a sucessão de Sérgio Borges no TCES, os planos do governo Casagrande passam bem longe de Marcelo.

Superpoderes podem continuar

Da mesma forma, se Danilo Bahiense virar mesmo um dos secretários da Mesa, é possível, eu diria até provável, que o governo repense seus planos de pedir a Marcelo para revogar a resolução dos superpoderes para o presidente da Casa. A revogação visaria distribuir melhor os poderes entre os três titulares da Mesa, como era antes, até 2019. Mas isso pode já não ser tão conveniente assim para o governo Casagrande.

“Com um presidente de confiança para o governo e apenas ele com poderes na Mesa, fica muito mais fácil para o governo negociar com o comando da Assembleia”, sintetiza um deputado da base. E, se Danilo poderá ser um secretário quase decorativo, por que conceder mais poderes para ele?

Contexto: como chegamos aqui

Em fevereiro de 2019, como presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos) apresentou um projeto de resolução, aprovado em plenário, que mudou o Regimento Interno, concentrando nas mãos do presidente poderes para assinar contratos, atos de exoneração e nomeação (portanto, para distribuir os cargos).

Até então, cada um desses atos, para ter valor legal, precisava da assinatura do presidente e de pelo menos um dos dois primeiros secretários da Mesa.

Na eleição da Mesa em 2021, no acordo de vista grossa de Casagrande para a recondução de Erick, o presidente se comprometeu, inclusive em entrevista a A Gazeta, a apresentar novo projeto de resolução revogando a dos superpoderes e restabelecendo o texto anterior do Regimento Interno.

Mas Erick só cumpriu esse acordo pela metade (a explicação completa está aqui). E, na prática, continuou tendo poder absoluto para nomear e exonerar os mais de 300 comissionados subordinados à Mesa Diretora. Os secretários até hoje seguem sendo figuras quase decorativas.

A princípio, o governo tinha interesse em recolocar tudo como dantes, mas… com uma Mesa tão heterogênea, sobretudo se confirmado Danilo, é possível que volte atrás e que, nesse novo cenário, os superpoderes para Marcelo passem até a convir ao Palácio.

Segurem-no que eu quero ver!

Em meados do ano passado, quem pegou muito no pé de Erick (seu inimigo nº 2, atrás de Marcelo) por causa disso, cobrando a revogação dos superpoderes, foi ninguém menos que… Theodorico Ferraço. E é possível que a velha águia cachoeirense também cobre isso de Marcelo na presidência.

Janete de Sá

Indo para o seu 6º mandato, Janete de Sá (PSB) quer continuar à frente da Comissão de Agricultura.

Mazinho dos Anjos

O governista Mazinho dos Anjos (PSDB) pleiteia a presidência da poderosa Comissão de Finanças. Como é advogado, pode entrar na de Justiça.

Comissão de Segurança

Denninho Silva (União Brasil) quer presidir a Comissão de Segurança. É parente e ex-assessor do prefeito Euclério Sampaio (aposentado da Polícia Civil), além de grande aliado do secretário estadual de Segurança, Alexandre Ramalho (Podemos).

Mas, no acordo de Marcelo e do governo com o grupo de Vandinho, a comissão também pode ir para as mãos do Delegado Danilo Bahiense.


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