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Coluna Vitor Vogas

Nésio & Neio: comunistas do PCdoB sob nova direção no ES

Saiba quem é o novo presidente do partido no Espírito Santo, próximo ao ex-secretário estadual de Saúde no nome, na profissão e na militância política

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Nésio Fernandes (à esquerda) com Neio Lúcio. Foto: acervo pessoal de Neio Lúcio

Os comunistas no Espírito Santo estão sob nova direção. Em conferência estadual realizada na última quarta-feira (15), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) elegeu o seu novo Comitê Estadual – equivalente ao Diretório Estadual nas demais agremiações. E o escolhido é alguém que guarda grande semelhança com o ex-secretário estadual da Saúde Nésio Fernandes, no nome, na profissão e na militância partidária: a partir de agora, quem preside o partido no Espírito Santo é o médico Neio Lúcio Fraga Pereira.

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E as interseções com Nésio não param aí. Hoje com 68 anos e servidor concursado da Prefeitura de Vila Velha, o gaúcho Neio Lúcio mudou-se para o Espírito Santo em meados de 2019, a convite do próprio Nésio, para executar uma missão delegada a ele pelo então secretário de Estado da Saúde: ajudar a tirar do papel a Fundação Estadual de Inovação em Saúde (Inova Capixaba), um dos mais ambiciosos projetos implementados pela gestão Nésio Fernandes na Sesa.

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Depois de ter cumprido essa missão, Neio tornou-se diretor do Hospital Antônio Bezerra de Faria, administrado pela iNOVA desde dezembro de 2021.

Além da militância partidária em comum no PCdoB, os dois haviam se conhecido na condição de gestores da saúde pública nos anos anteriores, em eventos do Ministério da Saúde, quando Nésio era dirigente da área no estado do Tocantins, enquanto Neio era superintendente do Grupo Hospitalar Conceição, empresa pública do Ministério da Saúde no Rio Grande do Sul.

Antes disso, Neio tinha sido presidente do Conselho Curador da Fundação Hospitalar Getúlio Vargas (FHGV), mantida pela Prefeitura de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul – fundação pública de direito privado nos moldes do que viria a ser a iNOVA.

Agora, mantida a amizade e o companheirismo no partido, a escolha de Neio Lúcio para comandar os rumos do PCdoB no Espírito Santo passou diretamente pelo dedo de Nésio.

Secretário nacional de Atenção Primária à Saúde no governo Lula (PT) desde janeiro, o ex-chefe da Sesa pode ser considerado, hoje, o mais influente quadro político do PCdoB no Espírito Santo, estado que ele escolheu para seguir vivendo com sua família, embora atualmente passe a maior parte do tempo em Brasília, no Ministério da Saúde.

O próprio Nésio, aliás, não só teve papel decisivo, junto à direção nacional do PCdoB, na escalação do colega de medicina para presidir o partido no Espírito Santo. Membro da cúpula nacional da legenda, Nésio transferiu seu domicílio eleitoral para o Estado quando se tornou secretário de Saúde, no governo passado de Renato Casagrande (PSB), em 2019. Desde então, participava regularmente das reuniões da direção estadual do PCdoB, como convidado, mas não exercia nenhum cargo partidário em nível local.

Agora, Nésio passa a ocupar oficialmente uma das 33 cadeiras do Comitê Estadual (o Diretório) e uma das 11 cadeiras da Comissão Política Estadual, órgão decisório máximo do PCdoB no Espírito Santo, doravante também presidido por Neio Lúcio e equivalente à Executiva Estadual nas demais agremiações.

Com isso, o ex-secretário estadual da Saúde passa a influir, com direito a voz e voto, nas deliberações dos comunistas no Estado, o que inclui, naturalmente, as articulações visando às vindouras eleições municipais.

Neio Lúcio afirma que sua chegada à presidência estadual do PCdoB não se deu propriamente por indicação de Nésio, mas em consequência de um acordo construído com a direção nacional da agremiação (da qual Nésio faz parte):

“Foi um acordo feito pela direção nacional, que veio aqui e conversou com os quadros do partido, para que eu pudesse dar uma reestruturada, um impulso no PCdoB num projeto que já foi orientado pela direção nacional e referendado pela nossa conferência estadual”, diz o novo presidente.

Os planos eleitorais do PCdoB

Esse projeto, é lógico, passa pelo crescimento do partido no Estado nas eleições municipais do ano que vem, ampliando o seu número de mandatários, hoje irrisório na soma dos 78 municípios.

No momento, em todo o Espírito Santo, o PCdoB só tem quatro vereadores: um em Aracruz, um em Pinheiros e dois em Baixo Guandu. Este último era, por sinal, o único município capixaba governado pelo PCdoB, com o então prefeito Neto Barros, cujo mandato se encerrou em 2020.

Hoje, o PCdoB não tem um só prefeito ou vice-prefeito em solo capixaba. Tinha o vice-prefeito de Pinheiros, no extremo norte, mas ele deixou o partido. “Temos dificuldade institucional e uma representatividade muito baixa”, admite Neio Lúcio.

Sonhando em aumentar esse número de mandatários, o PCdoB, afirma o novo presidente, pretende concentrar esforços nas cidades onde entende ter mais chances de fazer vereadores. Entre elas estão Cachoeiro de Itapemirim, Vila Velha, Cariacica (com o líder comunitário Palhinha) e, destacadamente, Vitória.

Na Capital – onde uma chapa completa terá 22 candidatos –, o partido pretende lançar dois “puxadores de votos” para atingir uma das 21 vagas que estarão em disputa: o jornalista Namy Chequer, vereador por muitos mandatos e presidente da Câmara no biênio 2015-2016, e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Espírito Santo (Sindsaúde-ES), Geiza Pinheiro Quaresma, primeira suplente da Federação Brasil da Esperança na Câmara dos Deputados (se Helder Salomão ou Jack Rocha, ambos do PT, por algum motivo interromperem o mandato, a vaga é dela).

A federação com o PT e o PV

A “Febrasil”, a propósito, é um ponto crucial nos planos do PCdoB. Desde o início do ano passado, os comunistas compõem nacionalmente essa federação com o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Verde (PV). Essa federação, por força de lei, deverá também vigorar nas próximas eleições municipais, em todo o território nacional.

Isso quer dizer que, na prática, não há que se falar agora em um PCdoB autônomo em termos eleitorais. Para a Justiça Eleitoral, as três siglas da federação são encaradas como se formassem um só partido, e assim se aplicam todas as normas da legislação eleitoral, incluindo as atinentes à formação de chapas proporcionais e majoritárias.

Nas eleições para vereadores, PCdoB, PT e PV terão de lançar uma só chapa em cada município, representando a federação no pleito. E, em cada cidade, as vagas dentro da chapa deverão ser distribuídas entre os três partidos proporcionalmente a seu tamanho e representatividade. O PCdoB e o PV, por óbvio, deverão ficar com bem menos vagas que o PT. Nenhum problema, segundo Neio Lúcio.

O mesmo vale para as eleições majoritárias. Nas cidades onde o PT tiver candidato a prefeito, este não será, tecnicamente, o candidato do PT, mas sim o da Federação Brasil da Esperança. Será portanto, necessariamente, o candidato do PCdoB.

Um exemplo concreto é a pré-candidatura do deputado estadual João Coser em Vitória, aprovada no dia 26 de outubro pela direção estadual do PT. “É claro! Com certeza ele terá o nosso apoio”, salienta Neio Lúcio. “É o companheiro com as melhores condições de garantir a vitória na Capital.”

Neto Barros de saída do PCdoB

Quem está de saída do PCdoB, quem diria, é justamente o comunista que alcançou maior projeção nas fileiras do partido e na política capixaba ao longo da última década: o ex-prefeito de Baixo Guandu José de Barros Neto, o Neto Barros, atualmente respondendo pelo cargo de subsecretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação no governo Casagrande III.

Segundo o novo presidente estadual do partido, Neio Lúcio, Neto quer voltar a governar Baixo Guandu, no noroeste do Espírito Santo. Para isso, decidiu-se a trocar de partido, “por pressão da sua base política”: “É aquela coisa do anticomunismo”, explica Neio. “Mas as vezes em que ele se elegeu foram sempre pelo PCdoB. Por outro partido, não conseguiu.”

Neto Barros é muito próximo ao governador Renato Casagrande. Tanto é que está no governo, no segundo escalão da secretaria chefiada pelo ex-deputado estadual Bruno Lamas (PSB). Em junho do ano passado, quando a Febrasil já estava formada e o PT ainda jogava com o possível lançamento do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta, Neto Barros divulgou uma carta pública defendendo o apoio da federação a Casagrande. O ex-prefeito era, então, o presidente estadual do PCdoB.

Segundo Neio Lúcio, o destino de Neto Barros ainda não está definido, mas ele irá, evidentemente, para outra sigla no campo da esquerda. O PSB de Casagrande até seria uma opção, não fosse por um rival respeitável em nível local: o líder do governo na Assembleia, deputado Dary Pagung, filiado ao partido do governador. A princípio, porta fechada para o ex-prefeito. “O PSB nunca o apoiou lá”, registra Neio Lúcio.

Em todo caso, seja qual for o destino de Neto Barros, o novo presidente estadual do PCdoB afiança que o ex-prefeito terá o apoio do partido para voltar à Prefeitura de Baixo Guandu: “Ele saiu numa boa. Será o nosso candidato lá”.

Neio Lúcio é eleito presidente do PCdoB no ES em conferência estadual do partido na última quarta-feira (15/11/2023). Foto: acervo de Neio Lúcio

Vila Velha: PCdoB vai apoiar Arnaldinho?

Neio Lúcio diz já ter tido “conversas informais” com o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), acerca do processo eleitoral na cidade.

Naquela que é seguramente a informação mais surpreendente do novo representante dos comunistas no Espírito Santo, o dirigente afirma que o PCdoB pode apoiar a reeleição do prefeito em 2024. “Isso está no tabuleiro para ser decidido. Mas só tivemos uma reunião da federação em Vila Velha até agora.”

Arnaldinho é um político de direita. Com alguma flexibilidade, está postado na centro-direita.

Quem é Neio Lúcio?

Natural de Porto Alegre (RS), Neio Lúcio tem 68 anos. Em 1981, formou-se em Medicina pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (atual UFCSPA). Dois anos antes, começou a militar no movimento estudantil e, em 1980, entrou para o PCdoB. Àquela altura, em plena ditadura militar, o partido estava na clandestinidade. Só tornaria à legalidade em 1985, com o fim da ditadura.

Foi vereador no município gaúcho de Gravataí por dois mandatos, de 1997 a 2004, e secretário municipal da Saúde da mesma cidade de 1998 a 2002.

Depois disso, foi diretor superintendente do Grupo Hospitalar Conceição do Ministério da Saúde em Porto Alegre, secretário de Estado do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul na administração de Tarso Genro (PT), presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul e secretário municipal de Saúde de Sapucaia do Sul (RS).

Em 2019, a convite de Nésio Fernandes, tornou-se diretor-geral da Fundação Estadual de Inovação em Saúde (iNOVA Capixaba) e, posteriormente, diretor-geral do Hospital Estadual Antônio Bezerra de Farias.

Atualmente, trabalha na Gerência de Planejamento da Secretaria Municipal de Saúde de Vila Velha. Entrou nos quadros da Prefeitura, como servidor concursado, em junho de 2021.

No PCdoB, já fez parte de direções municipais na Bahia e da estadual no Rio Grande do Sul. Já fazia parte da Comissão Política Estadual do partido no Espírito Santo, até tornar-se presidente na última quarta-feira (15).


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