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Coluna Vitor Vogas

Marcelo faz acordo com Gilson e decide ficar no Podemos. Xambinho também

Presidente da Assembleia flertou com MDB, UB e PSD, mas teve “Dia do Fico” a partir de “redesenho do Podemos”. Conheça os bastidores dessa articulação

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Xambinho, Gilson Daniel e Marcelo Santos firmam acordo: Foto: Instagram

Ao longo do ano, o deputado estadual Marcelo Santos, reeleito pelo Podemos em 2022, flertou com alguns outros partidos. Em conversas com dirigentes locais e/ou nacionais, ensaiou ir para o MDB, o PSD e o União Brasil – em movimentos registrados neste espaço. Presidente da Assembleia Legislativa desde fevereiro, Marcelo cresceu politicamente e suas ambições também, na mesma proporção: com a meta de se eleger deputado federal em 2026, ele queria ir para um partido que pudesse comandar no Espírito Santo ou no qual pudesse, no mínimo, exercer influência em seus rumos.

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No Podemos, ele não encontrava isso. Há algum tempo, já não escondia a insatisfação com o deputado federal Gilson Daniel, presidente estadual da sigla, e com o modelo de gestão praticado por Gilson, considerado centralizador por Marcelo e outros líderes do Podemos no Espírito Santo.

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Nesta segunda (23), porém, Marcelo voltou atrás e decidiu ficar.

Em reunião na Assembleia Legislativa, ele e Gilson Daniel fumaram o cachimbo da paz. Do acordo também participou o deputado estadual Alexandre Xambinho, que, mesmo liberado pela Justiça Eleitoral para sair do Podemos sem perder o mandato parlamentar, decidiu permanecer no partido, acompanhando a decisão de Marcelo.

O presidente da Assembleia confirma seu “Dia do Fico”: “Decidi permanecer no Podemos para fazer um processo de construção para as eleições de 2024 e para as eleições de 2026”.

O que fez Marcelo mudar (de ideia, de disposição) foi a mudança (de postura e de modelo de gestão) colocada em prática pelo próprio Gilson. Como informado aqui, pressionado por cima e por baixo (pela direção nacional do partido e por líderes locais como Marcelo), o presidente estadual do Podemos cedeu, aceitou abrir espaço e dividir poder na linha de comando do partido no Espírito Santo.

No dia 19 de setembro, Marcelo esteve em Brasília e levou pessoalmente as suas insatisfações à deputada federal Renata Abreu (SP), presidente nacional do Podemos, acompanhado do outro deputado federal do partido no Espírito Santo, Victor Linhalis – eleito com Gilson em 2022 na chapa do Podemos.

Diante da dirigente nacional, Marcelo ameaçou sair e chegou a lhe pedir liberação para não perder o mandato na Assembleia. Linhalis já havia levado a mesma insatisfação à sua colega na bancada do Podemos na Câmara, também acompanhada da ameaça de desfiliação.

Sentindo o tamanho do problema, Renata agiu para evitar a debandada. Dois dias depois desse encontro, ela, Gilson e Linhalis se reuniram no gabinete da liderança do Podemos na Câmara. E, desse momento em diante, as coisas começaram a mudar.

Nesse encontro, ficou decidido que, no Espírito Santo, o Podemos adotaria um novo modelo de direção, baseado no conceito de “governança compartilhada”. Na prática, o modelo até então mantido, com todas as principais decisões concentradas em Gilson, dá lugar a um formato em que tudo precisa passar pelo crivo não de um cacique, mas de um conselho de caciques locais: aí entram Marcelo, Linhalis e até Alexandre Ramalho, além do próprio Gilson – os quatro possíveis candidatos do Podemos a deputado federal em 2026.

Por “tudo” entenda-se, por exemplo, a escolha dos dirigentes municipais, a montagem das chapas de vereadores Estado afora em 2024, a definição das candidaturas majoritárias (a prefeito e a vice-prefeito)…

Somada a isso, veio a mais importante concessão de Gilson: uma autêntica “divisão territorial” do mapa político capixaba entre ele e os outros caciques estaduais. Na prática, Gilson dispôs-se a “redesenhar” o mapa do Podemos no Espírito Santo, isto é, “dividir” os 78 municípios entre ele, Marcelo, Linhalis e os demais.

Neste momento, estão sendo definidas as zonas de influência de cada um. O critério é a votação obtida nas eleições parlamentares de 2022. Cada qual tem a preferência para controlar os municípios onde tiver sido o mais votado do partido na disputa legislativa, com a prerrogativa de indicar os dirigentes e montar a Executiva em tais municípios.

Na já citada reunião de 21 de setembro, diante de Renata Abreu, Gilson e Linhalis abriram o mapa do Espírito Santo e já começaram ali mesmo a partilha, definindo os territórios de cada um. Marcelo entrou depois na brincadeira.

Nas declarações dadas por Marcelo à coluna nesta segunda, para explicar sua decisão de ficar, o presidente da Assembleia confirma tudo isso. Em seu discurso sobressaem expressões como “Podemos redesenhado”, “reinvenção do Podemos”…

Resumindo, segundo ele, sua decisão de ficar foi determinada, nesta ordem, por sua conversa com Renata Abreu, intermediação feita pela presidente nacional e as concessões feitas por Gilson, em demonstração de grande “humildade” – palavra que Marcelo fez questão de atribuir diversas vezes ao deputado federal, que segue na presidência estadual, mas agora com poderes moderados.

“O Podemos agora tem uma gestão compartilhada em um movimento que construímos com a direção nacional. De fato, eu estava dialogando com outras siglas, recebi convites. Mas, diante do que nós redesenhamos partidariamente, é importante fortalecer o partido para que possamos aumentar o nosso número de prefeitos, vices e vereadores, até porque 2024 é a antessala da eleição de 2026”, afirma Marcelo, que quer seguir colaborando nesse crescimento.

“Agora, toda tomada de decisão terá um compartilhamento conosco e com a direção nacional, na composição de Executivas provisórias, na distribuição dos recursos de campanha entre as candidaturas majoritárias em 2024 e também na eleição de 2026. Antes não era assim, porque o Podemos seguia o modelo praticado na maioria dos partidos. Esse debate de convites recebidos não só por mim acabou fazendo com que o Podemos, antes desentendido, hoje aglutine forças”, avalia o presidente da Assembleia.

Para bom entendedor: ameaçar ir para partido A, aproximar-se de B, ensaiar migrar para C, tudo isso foi também uma forma de pressionar Gilson Daniel a ceder espaço… e a estratégia surtiu efeito. Para não sofrer a sangria de quadros com potencial de crescimento (Marcelo, Linhalis, Ramalho…), a direção nacional interveio.

“Os diálogos que tivemos na Nacional e com o próprio Gilson Daniel fizeram com que pudesse despertar a compreensão de que modelo de administração do partido não estava indo ao encontro da maioria. Então, agora, com a participação da Nacional, o partido já começou a praticar uma gestão mais compartilhada”, afirma Marcelo.

“Se você quer fazer uma entrega maior de prefeitos, vices e vereadores, além de ampliar as nossas bancadas estadual e federal, sozinho não se chega a lugar algum. Você até chega a algum lugar, mas não chega aonde poderia chegar. Registrei para o Gilson Daniel que não estava satisfeito e que ia procurar a Nacional, como fiz. A Renata Abreu, uma figura espetacular, me disse que não seria empecilho para eu sair, mas que lutaria para eu ficar. Depois disso, o Gilson me procurou. Quero cumprimentá-lo publicamente pelo espírito e pela humildade dele em entender que estava fazendo um movimento equivocado e corrigi-lo.”

Marcelo termina de pintar assim, com tintas fortes, um quadro que viemos pincelando aqui nos últimos meses:

“O que não estávamos concordando era nomear dirigentes municipais sem dialogar. O Podemos não tem um dono, tem uma pessoa que dirige o partido no Espírito Santo. Isso eu registrei para a Renata e para o Gilson. Ele teve a humildade de entender isso, dizer que equivocadamente fez isso e vamos aqui redesenhar o Podemos.”

Não conseguimos contato nesta segunda-feira com Gilson Daniel. O deputado não atendeu às nossas ligações nem retornou as nossas mensagens.

O caso de Cariacica

Um exemplo da nova partilha territorial do Podemos está na Grande Vitória. Gilson manteve Viana; Linhalis e Arnaldinho Borgo ficaram com Vila Velha; Ramalho, com Vitória; a direção da Serra foi oferecida agora por Gilson a Xambinho; e Cariacica ficou nas mãos de Marcelo, que terá autonomia para montar a nova Executiva Municipal Provisória em seu próprio reduto.

A situação em Cariacica ilustra bem as desavenças existentes no Podemos até pouco tempo atrás. Na própria cidade de Marcelo, o presidente do partido não era um aliado do deputado, que não tinha influência direta sobre as decisões municipais.

“O presidente não era alguém da minha relação política íntima. Partido tem que ser alguém em quem você confie, não alguém que você encontre esporadicamente na rua ou num café. Agora, vou escalar alguém da minha relação direta.” Em princípio, adianta Marcelo, esse alguém será o vereador Edson Nogueira (Podemos), antigo aliado dele na cidade.

Cidades do interior

O presidente da Assembleia tem a expectativa de também assumir a direção do Podemos, por interpostas pessoas, em muitos municípios do interior, fiando-se no critério de maior votação nas eleições parlamentares de 2022.

Em números absolutos, ele foi o candidato a deputado (estadual ou federal) do Podemos com mais votados em 26 dos 78 municípios. Ou seja, como candidato a deputado estadual, Marcelo teve mais votos que qualquer candidato a federal do Podemos (Gilson, Linhalis, Ramalho), apesar de a concorrência para deputado estadual ser muito maior. “Se calcularmos a votação proporcional, levando em conta a relação candidato/vaga, fui o mais votado do Podemos em cerca de 60 cidades.”

Ele cita alguns exemplos concretos: “Fui o mais votado em Presidente Kennedy, em São Mateus, em Conceição da Barra… Naturalmente vou ter o comando do partido nessas cidades. Fui o mais votado em Brejetuba. Fica comigo também. Em outras, teremos parceria com o mesmo prefeito. Nada impede de eu ter sido o mais votado e ter uma aliança lá com o Gilson, com o Dr Victor. Isso tudo foi traçado na mesa.”

Xambinho à frente do Podemos na Serra

Xambinho não retornou os contatos da coluna nesta segunda, mas Marcelo falou por ele: “O próprio Xambinho, com a minha decisão, também decidiu permanecer. Hoje ele fica no Podemos e vai comandar o partido na Serra”.

Segundo Marcelo, Gilson Daniel assumiu diante de ambos o compromisso de passar para Xambinho a presidência na Serra, reduto do deputado.

Xambinho realmente firmou-se como um dos maiores aliados de Marcelo na Assembleia. No período de eleição da Mesa Diretora, foi um dos primeiros a fechar com Marcelo – muito antes da entrada do governador na campanha – e não abriu até o fim.

Nessa possível troca de partido, Xambinho realmente estava acompanhando o movimento de Marcelo: possivelmente, iria para onde ele fosse. Como Marcelo resolveu ficar, ele também ficou, sob as novas condições.

Nos últimos dias, segundo fontes próximas a Xambinho, ele esteve muito perto de migrar para o União Brasil. O presidente estadual do União, Felipe Rigoni, desmentiu conversas recentes com Xambinho nesse sentido. Mas o presidente do União na Serra é o vice-prefeito Thiago Carreiro, que, segundo Rigoni, será candidato a prefeito pela legenda se assim quiser.

O que causa certo espanto no caso de Xambinho é que ele decidiu ficar no Podemos após ter movido ação de justificação de desfiliação partidária justamente para poder sair da agremiação sem perder o mandato na Assembleia. E pior: ele realmente obteve a liberação.

A ação foi movida pelo deputado em julho. Na semana passada, por unanimidade, o TRE reconheceu a justa causa e decidiu que ele poderia migrar sem problemas. Tudo por nada.

É impossível não ficar a imaginar o que deve passar pela cabeça do relator da ação, Lauro Coimbra, dos outros seis juízes que analisaram o caso, do representante do Ministério Público Federal que opinou no processo, dos advogados do Podemos, enfim… a ação acabou “perdendo o objeto” depois de ter sido julgada e se revelando um grande desperdício de tempo, recursos e esforços.

Adeus, MDB, União, PSD…

Marcelo Santos flertou com o MDB, com o PSD e com o União Brasil. Perguntamos a ele o que deu errado em cada caso.

“Não deu errado, não”, respondeu.

“No MDB, o presidente nacional, Baleia Rossi, me convidou para ir para o partido no intuito de eu estar lá e, lá na frente, a gente discutir liderança. Você vai entrar num partido cheio de confusão para arrumar mais confusão?!? Já tenho confusão demais na minha vida! No União, tinha um problema judicial. No PSD, o Renzo de fato chegou a me convidar, me disse para a gente ir lá conversar com o Kassab… mas, para mim, a melhor solução de fato era buscar uma solução caseira. Veio esse processo de reinventar o Podemos no Espírito Santo. Aí, para mim, valeu a pena. Esse modelo de gestão compartilhada será um modelo para o Podemos em outros estados.”

As perspectivas de crescimento: três federais em 2026

Nas últimas eleições municipais (2020) e estaduais (2022), o Podemos saiu-se bem no Espírito Santo. Hoje, na Grande Vitória, tem os prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, e Viana, Wanderson Bueno. Tem dois deputados federais e, com a permanência de Xambinho, quatro estaduais (ele, Marcelo, Lucas Sacaramussa e Allan Ferreira). Os dois últimos devem ser candidatos a prefeito, respectivamente, de Linhares e Cachoeiro de Itapemirim.

Assim, Marcelo acredita que, em 2024, o Podemos pode reeleger os prefeitos de Viana e de Vila Velha, e eleger os de Linhares e Cachoeiro, além de outros pelo Estado. Em 2026, ele acredita que a chapa do partido tem condições de emplacar até três deputados federais – se ele, Gilson, Linhalis e Ramalho unirem forças.