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Coluna Vitor Vogas

Jack Rocha: “Sem recuo. PT terá candidatos nos 4 maiores municípios”

Contrariando prognósticos, presidente estadual reafirma que, no que depender dela, PT disputará prefeituras de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica

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Jack Rocha é a presidente do PT no Espírito Santo. Foto: Reprodução Facebook

Se a eleição municipal fosse hoje, o Partido dos Trabalhadores (PT) teria candidato ao cargo de prefeito nos quatro maiores municípios do Espírito Santo, concentrados na Região Metropolitana: Vitória (João Coser), Serra (Roberto Carlos), Vila Velha (Babá) e Cariacica (Célia Tavares). As duas primeiras, inclusive, já foram homologadas pela Executiva Nacional.

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Em primeira análise, parece muito difícil, muito pouco factível, que o PT mantenha todas essas candidaturas, por uma série de questões práticas. Do ponto de vista político, ou “geopolítico”, ter candidaturas próprias em praticamente todos os maiores municípios dificulta a construção de alianças com outros partidos. Do ponto de vista financeiro, como é que o PT do Espírito Santo vai distribuir os recursos do Fundo Eleitoral entre tantas candidaturas majoritárias?

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Em entrevista exclusiva à coluna, a deputada federal Jack Rocha, presidente estadual do PT, discorda enfaticamente dessa avaliação e avisa: “Não tem recuo, não tem por que ter recuo”.

Segundo a dirigente estadual, ela está defendendo a manutenção simultânea das quatro candidaturas majoritárias na Grande Vitória junto à Executiva Nacional – a quem compete, por resolução, a última palavra sobre as estratégias eleitorais em cidades com mais de 100 mil eleitores.

Para Jack Rocha, é importante a aprovação das candidaturas de Coser, Babá, Roberto Carlos e Célia não só porque todos farão a defesa do governo Lula e do próprio PT, mas também porque ajudarão a eleger vereadores. Hoje sem nenhum prefeito no Espírito Santo, o PT só tem um vice-prefeito (o da pequena Águia Branca) e somente 13 vereadores em todo o Estado, sendo apenas duas na Grande Vitória: Karla Coser em Vitória e Elcimara Loureiro na Serra.

Se for necessário, afirma Jack Rocha, o PT está disposto a ir para a disputa no 4G (os quatro grandes municípios capixabas) até sem coligação, contando apenas com o apoio dos dois partidos que compõem com ele a Federação Brasil da Esperança: PV e PCdoB. “É claro que estamos dispostos!”

Diga-se de passagem, é exatamente esse o quadro que hoje se desenha. A menos de três meses do registro das candidaturas e chapas, o PT não tem aliança com nenhum outro partido em nenhuma dessas quatro cidades. Como reconhece a própria deputada, 90% das composições já estão consolidadas a esta altura, e poucas surpresas são aguardadas nesse aspecto até o início da campanha. Por outro lado, o PT não transige em seu principal critério na seleção de aliados: “Não vamos caminhar com aqueles que querem esconder o Governo Federal”.

A presidente estadual ainda antecipa a estratégia de formar uma espécie de cinturão vermelho na Grande Vitória, uma “campanha metropolitana”, na qual os candidatos do PT vão se fortalecer mutuamente. “A manutenção das quatro pré-candidaturas para nós pode criar uma sinergia muito grande, quase de uma grande campanha unificada”.

Indo além, Jack Rocha diz acreditar até na possibilidade de o quarteto completo passar para o 2º turno nos respectivos municípios: “Os nomes que o PT apresenta são conhecidos das pessoas, mas o ciclo da política, para o campo progressista, está aberto. E quem se colocar nesse cenário tem a possibilidade muito grande de garantir a sua vaga no 2º turno. Então o que o PT vê é que não é a pesquisa em si que vai definir”.

A seguir, você pode ler na íntegra a entrevista de Jack Rocha.

Como presidente estadual do PT, a senhora considera realmente viável que todos essas pré-candidaturas se sustentem até o registro, principalmente nessas quatro grandes cidades da Região Metropolitana, ou, numa perspectiva mais realista, a senhora reconhece que até lá alguma dessas candidaturas, pelo menos uma, terá de ceder e ser retirada do processo?

Todo diálogo precisa existir. Estamos dentro de uma geopolítica e de uma federação composta também pelo PCdoB e pelo PV. Neste momento, quando reafirmamos as nossas pré-candidaturas, temos uma responsabilidade dividida com a direção nacional do PT quanto à definição das candidaturas majoritárias nas cidades com mais de 100 mil eleitores. Essas cidades foram avocadas para as Executivas Estaduais e a Executiva Nacional terem uma decisão conjunta. Nacionalmente, temos um governo de coalizão. Partidos que estão na base do presidente Lula, com ministérios, com pessoas que estão conosco neste processo de retomada olhando para 2024 e também para 2026, têm uma responsabilidade de fazer, principalmente nessas cidades acima de 100 mil eleitores, um espaço de atuação republicana e de fazer essa geopolítica funcionar. É só ver o que estão acontecendo nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, principalmente nessas capitais, e você vai ver por que Vitória entra para nós como uma prioridade, com a pré-candidatura do João Coser. Entretanto, a pré-candidatura da Célia Tavares, que já foi testada nas urnas, a do Babá e a do Roberto Carlos são companheiros que não só se disponibilizaram para defender esse projeto conosco, mas viemos conversando muito com a federação e buscando outros partidos aliados sobre esse processo que precisamos estabelecer de criar uma sinergia, eu diria um grande movimento para fortalecer esse projeto, para tentarmos, na disputa das cidades, ampliar a participação do PT nesse tabuleiro.

Mas a senhora acha, então, que será possível manter essas quatro simultaneamente?

Nós fizemos um grande esforço. Buscamos conversar com todos os nossos aliados. Até porque, quando falamos de Cariacica, o MDB [de Euclério Sampaio] participa do Governo Federal. Quando falamos de Vila Velha, o Podemos [de Arnaldinho Borgo] participa do Governo Federal. Quando falamos da Serra, o PDT [de Sérgio Vidigal e Weverson Meireles] participa do Governo Federal, com espaços importantes inclusive, e fizemos toda uma caminhada para criar um ambiente em que pudéssemos conversar sobre uma composição, uma aliança. Entretanto, quando isso vem para o Espírito Santo, muda a questão da geopolítica. Então, a nós resta a responsabilidade de atuarmos dentro do nosso campo mais progressista, até por entendermos que essas cidades têm dois turnos para o Executivo, o que permite que você apresente as suas ideias para a cidade e contribua para esse debate. Ao mesmo tempo, na eleição para vereadores, se precisamos ampliar a nossa participação nas Câmaras Municipais, as candidaturas majoritárias do PT passam a ter um papel fundamental não só para o PT como para a federação.

Então, na sua avaliação, manter essas pré-candidaturas ao Executivo dessas quatro cidades da Região Metropolitana é importante porque elas também tendem a cumprir um papel de ajudar os partidos da federação a eleger vereadores e resgatar seu espaço nas respectivas câmaras municipais?

Sem dúvida alguma.

Certamente esses candidatos, se estiverem mesmo no páreo, vão também cumprir o papel de defesa do legado do PT e do atual governo Lula…

Defender o governo Lula é defender uma frente ampla que está num processo de reconstrução do Brasil. E o PT está à disposição para fazer esse debate. Não vamos caminhar com aqueles que querem esconder o Governo Federal. Estão chegando aqui para o Espírito Santo cerca de R$ 206 milhões por mês só de Bolsa Família. Os recursos federais que chegam, mais um Instituto Federal, os programas que influenciam diretamente na vida das pessoas, o Desenrola Pessoa Física, o Desenrola Pessoa Jurídica, o apoio a crédito aos micro e pequenos empreendedores… Então, ter um palanque para o Governo Federal através das candidaturas municipais é também muito importante. A presença do Governo Federal será vocalizada sem dúvida alguma pelas nossas candidaturas majoritárias. E, mais do que defender o nosso projeto nacional e o governo do Lula, é também uma forma de fortalecer as nossas candidaturas proporcionais. Quando a pessoa vai lá e digita 13 para prefeito ou prefeita e digita o 13 para vereador ou vereadora, isso tem um peso muito grande. E o PT tem uma particularidade, porque o Lula é 13, o Lula é do partido, foi candidato à Presidência da República, e hoje a força do Governo Federal conta muito na eleição municipal. Em cada cidade da Grande Vitória, podemos apontar a presença do Governo Federal como um feito positivo. Acho que erra quem negligencia o papel do Governo Federal, principalmente os bons feitos.

Sendo bem pragmático: em pesquisas eleitorais – podemos citar as da Futura Inteligência publicadas há duas semanas pela Rede Vitória –, João Coser tem performado bem, inclusive com boas chances de ir para o 2º turno em Vitória, mas ele, pelo menos hoje, seria uma exceção entre os pré-candidatos do PT na Grande Vitória. Babá e Roberto Carlos terão certamente desafios muito grandes e a própria Célia terá um páreo muito duro porque o Euclério está muito bem avaliado. Isso posto, a senhora considera estrategicamente importante a manutenção desses três pré-candidatos, mesmo que tenham poucas chances de vitória nas urnas, até para ajudarem a resgatar a imagem do PT e a preparar o partido para as próximas eleições presidenciais, visto que 2024 é uma escala preparatória para 2026 e o PT perdeu as últimas duas para Bolsonaro no Espírito Santo?

Cada cidade tem uma realidade. Se formos olhar os últimos anos, em Vila Velha, se pesquisa ganhasse eleição, o atual prefeito não seria o atual prefeito. A mesma coisa quando a gente fala de Cariacica: ninguém imaginava que fôssemos levar a disputa de 2020, no meio de uma pandemia, para o 2º turno. Na Serra, tem um cenário ali diferente, porque existe um ciclo se fechando e outro se abrindo na política. Os nomes que o PT apresenta são conhecidos das pessoas, mas o ciclo da política, para o campo progressista, está aberto. E quem se colocar nesse cenário tem a possibilidade muito grande de garantir a sua vaga no 2º turno. Então o que o PT vê é que não é a pesquisa em si que vai definir. A pesquisa indica uma tendência.

Então, objetivamente, a senhora acha que dá para todos eles chegarem ao 2º turno nos respectivos municípios?

Eu acredito. Acredito que sim, dependendo do discurso, do diálogo com a população, a campanha sendo assertiva. Já tivemos experiências assim. Em Cachoeiro de Itapemirim, à época [2008], Carlos Casteglione tinha 3% das intenções de voto. Ele disputou com um grande nome da política, que foi o Theodorico Ferraço. João Coser [em 2004] tinha 4% nas pesquisas. Helder [em 2004] tinha 4% nas pesquisas. Então, a pesquisa é importante, até para podermos analisar e falar “por que não estamos conseguindo chegar?”, “como fazemos para chegar a esse eleitor e apresentar as nossas idas?”. Então a pré-campanha é isso, é um momento em que a gente testa e discute as nossas ideias. E hoje a manutenção das quatro pré-candidaturas para nós pode criar uma sinergia muito grande, quase de uma grande campanha unificada. O que não queremos é transformar a eleição em um plebiscito.

Uma campanha metropolitana?

Uma campanha metropolitana.

Com os quatro candidatos dialogando em si, um levantando a bola para o outro e puxando o outro para cima?

Exatamente.

Deputada, estou entendendo então que a senhora defende a manutenção dos quatro, inclusive junto à Executiva Nacional do PT?

Estou fazendo a defesa da manutenção, até por entender que, faltando quatro meses para a eleição, os movimentos que tínhamos que fazer para sinalizar para as outras legendas, os nossos diálogos, as agendas que foram postas desaguaram neste movimento praticamente pela unificação dessas candidaturas.

No que depender da senhora, não vai ter retirada? Não vai ter recuo?

Não tem recuo. A princípio não tem, não tem que ter recuo nesse cenário. As candidaturas existentes hoje na Região Metropolitana estão consolidadas, estão bem posicionadas. E cada uma está colocada dentro de um campo. Então é legítimo que, no 1º turno, cada um saia defendendo o seu projeto. É claro que nós temos uma priorização, que é a candidatura do João em Vitória.

A senhora confirma que a eleição do Coser em Vitória é prioridade até para a cúpula nacional do PT, em nível de Região Sudeste?

É claro! A pré-candidatura do João, para nós, na Região Sudeste, vocaliza um processo de retomada em cidades, principalmente em capitais. Em São Paulo, o PT referendou a candidatura do Boulos Guilherme Boulos, do PSol]. No Rio de Janeiro, tem uma discussão sobre apoio a Eduardo Paes. Em Belo Horizonte, tem a pré-candidatura do Rogério Correia colocada. No caso do Espírito Santo, não é uma posição de intransigência do PT frente à geopolítica nacional ou uma intransigência do PT frente à política local. Gostaria muito que o MDB, o PSB, o PDT, o Podemos, que os partidos inclusive de centro-direita caminhassem conosco em Vitória. E eu não vejo problema de isso acontecer, porque conseguimos fazer essa aliança em nível nacional. Na verdade, a aliança com que o Lula ganhou as eleições foi a maior que ele já teve: foram nove partidos coligados. Mas o PDT tem uma candidatura na Serra, que a gente respeita. Vila Velha tem a reeleição do prefeito que é do Podemos, que está no governo [Lula] e que a gente respeita. O MDB tem a candidatura de Euclério, que a gente respeita. E a gente respeita também o adversário que está em Vitória [Pazolini], que tem o direito de disputar a reeleição. Agora, não basta o PT fazer um gesto. Você não faz geopolítica com só um partido querendo fazer geopolítica. Para fazer geopolítica, os outros partidos precisam querer fazer geopolítica. Então o que estamos dizendo aqui é que, faltando quatro meses para as eleições, nós já temos aí um cenário que dificilmente vai mudar quanto à perspectiva de composições.

Na sua opinião, a esta altura, a política de alianças eleitorais no Espírito Santo já está praticamente cristalizada? Noventa por cento consolidada?

Eu diria que sim.

Pois é, aí quando pegamos esse cenário praticamente consolidado, vemos que, nessas quatro grandes cidades da Grande Vitória, o PT hoje está praticamente isolado porque só tem os partidos que estão com ele na federação (isso descontando divergências com os parceiros de federação em Cariacica e Vila Velha). A senhora diz que gostaria de atrair partidos até de centro-direita, não só do campo progressista, mas está meio difícil… Se isso não acontecer, o PT está disposto a ir para o pleito sem coligação em todas essas cidades? O PT se garante só com a força da militância e das bases sociais?

Eu acho que não é só “o PT se garante”. Não é uma questão de falar “olha, nós somos o melhor e sairemos sozinho”. Não é isso. Ao contrário. Nós só sairemos sozinhos se não forem apresentadas as condições de composição e de diálogo. O que temos hoje é que, por exemplo, no cenário desenhado em Vila Velha, quando olhamos as forças colocadas, é necessária uma candidatura do PT para defender o projeto do Lula, para defender o Governo Federal, para ajudar a eleger vereadores. A mesma coisa em Cariacica e a mesma coisa na Serra também, que são cenários hoje completamente diferentes, por exemplo, do que vem sendo discutido em Vitória. Não estamos mais naquele momento em que todos os partidos que estavam no governo podiam criar as condições para que cada um pudesse ter um candidato em um município da Grande Vitória, talvez como ocorria há dez anos. Hoje, não.

Então, se for necessário, vocês estão dispostos a ir para a disputa sem coligação, em todas essas cidades?

Claro! Eu acho que não é nem uma coisa de nós, do PT. Acho que todos os partidos estão olhando isso: a reafirmação dos seus espaços para a sua militância, para o seu público, para o projeto que se desenha, para o projeto de ocupação de espaço institucional. Para o PT, é muito importante termos as nossas pré-candidaturas na Região Metropolitana.


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