Coluna Vitor Vogas
Irmão de Gilson Daniel troca governo Casagrande por Pazolini
Não é só uma questão de incremento salarial. No tabuleiro de xadrez político jogado no ES, Casagrande e Pazolini estão em lados opostos. Gilson preside o Podemos e está no governo Casagrande… mas se aproxima do outro lado

Erick Musso e Gilson Daniel
Uma troca inesperada chamou a atenção na tarde desta sexta-feira (14), não tanto pelo servidor em si, mas pelo seu parentesco com um deputado federal e pelo pano de fundo da “transação política”.
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Marcelo Henrique Batista é irmão do deputado federal Gilson Daniel (nome completo: Gilson Daniel Batista). O deputado é o presidente do Podemos no Espírito Santo. O Podemos apoia e integra o governo de Renato Casagrande (PSB).
Até quinta-feira (13), Marcelo Henrique ocupava o cargo em comissão de assessor especial nível I na Casa Civil do Governo do Estado, com salário de R$ 5.184,65. Comandada por Júnior Abreu (PDT), a Casa Civil é responsável pela articulação política do governo Casagrande. Assinada por Júnior Abreu, a exoneração foi feita a pedido e publicada no Diário Oficial do Estado na quinta-feira.
Nesta sexta-feira, veio o surpreendente complemento: o irmão de Gilson Daniel foi nomeado pelo prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), para exercer o cargo comissionado de assessor adjunto na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. O decreto foi firmado pelo próprio Pazolini e publicado no Diário Oficial do Município. Para exercer o novo cargo comissionado na Prefeitura de Vitória, Marcelo Henrique receberá o vencimento total de R$ 8.079,21 por mês.
Mas não é só uma questão de incremento salarial. O pano de fundo da troca é político e eleitoral. No tabuleiro de xadrez jogado no Espírito Santo, Casagrande e Pazolini estão em lados opostos, tendo em vista, inclusive, as próximas eleições estaduais. Casagrande terá um candidato seu à sucessão no Palácio Anchieta. Hoje, a principal aposta de seu grupo é o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Já o grupo de Pazolini, concentrado no Republicanos, prepara a pré-candidatura do prefeito a governador.
Onde entra Gilson Daniel nesse contexto? Aí é que está.
Como registrado acima, o Podemos segue apoiando o governo Casagrande. Foi o que o próprio Gilson Daniel frisou em entrevista a este espaço, no início de fevereiro. Na mesma entrevista, porém, ele não firmou o compromisso de manter o Podemos no movimento eleitoral liderado por Casagrande em 2026.
Desde as últimas eleições municipais, o presidente estadual do Podemos tem mantido conversas políticas com Pazolini e, principalmente, com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, articulador político do prefeito e, desde janeiro, secretário de Governo de Vitória.
A nomeação do irmão de Gilson Daniel no cargo de livre provimento na Secretaria Municipal de Esportes é fruto dessa aproximação política entre Gilson (leia-se o Podemos) e o grupo de Pazolini e Erick – adversários de Casagrande.

Marcelo Henrique Batista (à direita) é irmão de Gilson Daniel
Analisada por esse ângulo, a migração do irmão do deputado do governo Casagrande no Estado para a administração de Pazolini em Vitória é sintomática.
Como ele mesmo já declarou à coluna, Erick Musso trabalha para construir uma frente eleitoral de direita no Espírito Santo que reúna, no mínimo, Republicanos, PL e PSD. Mas também busca atrair, para essa frente, partidos de centro-direita hoje posicionados no governo Casagrande: o PP, o União Brasil e o Podemos.
Evidentemente, convencer o Podemos a “mudar de lado” exigirá uma construção muito maior.
Mas dar uma mão ao irmão ajuda.
ENQUANTO ISSO…
Marcos do Val erra o partido pelo qual se elegeu senador
O senador Marcos do Val gravou um vídeo, que circula entre seus contatos e grupos no Whatsapp, para afirmar que não tem qualquer ligação política com o governador Renato Casagrande (PSB), nem com o governo dele nem com qualquer partido ou força política de esquerda.
Até aí, tudo bem.
Mas o que mais chama a atenção no vídeo é que o senador demonstra não saber (ou não lembrar) o partido pelo qual ele mesmo foi eleito em 2018.
“Ele [Casagrande] viabilizou a cadeira para que eu fosse candidato. Assim que eu fui candidato, fiquei acho que uns seis meses como senador, pelo PSB, e em seguida eu fui pro Podemos e estou até hoje, há mais de seis anos, no Podemos”, afirma ele no vídeo.
Do Val foi eleito em 2018 pelo Cidadania – não pelo PSB. No ano seguinte, ele de fato se filiou ao Podemos.
O Cidadania é um partido de esquerda. Trata-se do antigo Partido Popular Socialista (PPS), fundado em 1992, a partir de uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 2022, o Cidadania passou a compor uma federação partidária com o PSDB.
Para ser candidato a senador em 2018, em sua primeira eleição disputada, Do Val se filiou ao Cidadania a convite do então prefeito de Vitória, Luciano Rezende, e do hoje deputado estadual Fabrício Gandini. Eram, respectivamente, o principal líder e o presidente estadual do Cidadania no Espírito Santo. Os dois garantiram a legenda para Do Val concorrer a uma das duas vagas em disputa no Senado naquele pleito.
O Cidadania compôs com o PSB a coligação majoritária encabeçada por Renato Casagrande, candidato a governador vitorioso em 2018. Portanto, a candidatura de Do Val foi abrigada pela coligação de Casagrande e apoiada por este. O outro candidato ao Senado pela mesma coligação foi Ricardo Ferraço (então no PSDB).
No voto popular, Do Val e Fabiano Contarato (então na Rede) ficaram com as duas vagas pelo Espírito Santo.
Não é exagero dizer que Do Val fez seu ingresso na política, em 2018, como aliado de Casagrande e incentivado por este e seu grupo. No início do governo passado de Casagrande e do mandato de Do Val no Senado, em 2019, o senador ainda mantinha proximidade com o grupo político de Casagrande no Espírito Santo. Da pandemia em diante, eles passaram a se distanciar. E é fato que, hoje, estão totalmente afastados politicamente.
Um último registro é que, em setembro de 2023, num movimento mal calculado, Do Val chegou a anunciar que se filiaria ao PSDB. Mas até dirigentes estaduais e nacionais do partido foram pegos de surpresa com o anúncio e barraram a filiação do senador. Este, assim, permaneceu no Podemos, onde se encontra até hoje.
