Coluna Vitor Vogas
Governador anuncia o substituto de Philipe Lemos na Secretaria de Turismo
Ao substituir jornalista por ex-prefeito no comando da secretaria, o governo Casagrande mata dois coelhos com uma cajadada
Confirmando uma tendência publicada aqui na manhã desta terça-feira (4), o governador Renato Casagrande (PSB) confirmou a nomeação de Victor Coelho (PSB), ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, como novo secretário estadual de Turismo. Victor assumirá a pasta no lugar de Philipe Lemos (PDT).
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Em nota publicada no X, o governador agradeceu a Philipe Lemos pelo “excelente trabalho” à frente da Setur. Sobre o futuro dele, disse. De maneira imprecisa: “Estamos dialogando sobre seus novos projetos”. Segundo a apuração da coluna, o governador pretendia oferecer a Philipe a possibilidade de seguir colaborando no governo, em um cargo menor. Ainda não há definição quanto a isso.
A nomeação do ex-prefeito Victor Coelho para o comando da Setur é uma forma de o governo, sem trocadilho, matar dois coelhos com uma só cajadada.
O primeiro coelho: apesar do teor cavalheiresco da nota de Casagrande, o Palácio Anchieta já queria substituir Philipe na Setur. Na decisão, pesaram uma questão partidária e, principalmente, a avaliação do desempenho do secretário.
Tendo assumido a pasta em dezembro de 2023, Philipe não estava bem avaliado pelo setor – o famoso “trade turístico”. Internamente, parte dos servidores da pasta também não estavam satisfeitos. Há algum tempo, o governador vinha sendo muito pressionado para substituí-lo.
Com menor peso, a questão partidária é que, embora sem militância no PDT, Philipe é filiado ao partido (desde 2022). Com a iminente chegada de Sérgio Vidigal ao cargo de secretário de Desenvolvimento, o PDT passaria a somar três secretários de Estado, sendo um deles o principal líder estadual do partido. O chefe da Casa Civil, Junior Abreu, também é pedetista. Assim, tirar Philipe do secretariado é uma maneira de reduzir a presença do PDT no alto escalão, desproporcional ao espaço de outros partidos importantes da coalizão de Casagrande.
O segundo coelho: nomear Victor para a Setur resolve plenamente a necessidade do governo e, principalmente, do PSB de encaixar num bom espaço político o ex-prefeito de Cachoeiro. Após dois mandatos seguidos e oito anos governando a maior cidade do sul do Espírito Santo, Victor é tratado nos círculos do PSB como uma das principais apostas da chapa de candidatos a deputado federal da legenda em 2026.
De modo mais específico, ele é tido, potencialmente, como o maior colhedor de votos da chapa em todo o sul do Estado, “cobrindo” esse território onde o partido do governador não tem nenhum outro pré-candidato forte. O norte já tem o deputado federal Paulo Foletto (de Colatina) e o presidente do DER-ES, Freitas (de São Mateus); a Grande Vitória tem o secretário estadual de Saúde, Tyago Hoffmann (que também circula bem pelo interior).
Só tem um detalhe: Victor acaba de ficar sem mandato nem cargo público. Incorporá-lo agora ao governo, ainda mais no primeiro escalão, é uma maneira de manter o ex-prefeito em evidência, debaixo de alguns holofotes, no relativamente curto espaço de tempo que nos separa do próximo processo eleitoral. Pode não ser muito, mas, para quem tem pretensões eleitorais, é bem melhor que ficar ao relento. Ao mesmo tempo, com sua experiência em gestão pública, o governo aposta que Victor possa chegar dando mais musculatura às ações da Setur.
O PSB reivindicava a Casagrande esse espaço para Victor no secretariado. O próprio ex-prefeito, inicialmente, nutria preferência pessoal pela Secretaria de Esportes (Sesport). Mas ali era impossível mexer, pois trata-se da cota do PT, com o secretário José Carlos Nunes.
Philipe Lemos na vida pública
Após muitos anos apresentando telejornais da Rede Gazeta, o jornalista Philipe Lemos decidiu mudar de ares e ingressar na vida pública – desde o início, como aliado de Casagrande. Em 2022, por orientação do governador, entrou no PDT para disputar a sua primeira eleição, para deputado federal.
Teve até um desempenho respeitável, colhendo 45.260 votos – mais que Messias Donato (Republicanos), que entrou. Na chapa do PDT, ficou atrás apenas de Sueli Vidigal (58.251 votos). Mas, mesmo com a votação de ambos, a chapa careceu de outros candidatos competitivos, não atingiu o quociente eleitoral e não elegeu ninguém.
Philipe seguiu próximo a Vidigal e, no começo de 2023, o então prefeito da Serra o nomeou como secretário municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer. Em meados daquele ano, Philipe chegou a ser especulado (e considerado de verdade) como possível aposta de Vidigal para a própria sucessão. Esse plano não vingou. Decidido a passar o bastão, Vidigal optou por Weverson Meireles, também do PDT, para ser seu herdeiro político.
Operou-se, então, uma curiosa troca. Desde janeiro de 2023, por indicação de Vidigal, Weverson era o secretário estadual de Turismo. Mas, no fim daquele mesmo ano, o então prefeito da Serra pediu Weverson “de volta” a Casagrande, isto é, pediu ao governador para liberar Weverson. Este de fato foi exonerado por Casagrande.
Para preparar a candidatura de Weverson a prefeito, Vidigal o nomeou como seu chefe de gabinete, colado a ele, na Prefeitura da Serra. E, para cobrir o lugar deixado vago por Weverson na Setur, o então prefeito da Serra indicou Philipe Lemos, que ocupava cargo equivalente na sua administração municipal. Casagrande aceitou a troca.
Philipe, assim, chegou à Setur no fim de 2023 e sai agora, no começo de 2025. Ficou por pouco mais de um ano no cargo.
Setur… seu turno
Não que estejamos defendendo Philipe Lemos ou quem quer que seja, mas é fato: existe ali um problema crônico, que não tem a ver com o desempenho pessoal desse ou daquele secretário que por ali tenha passado, mas diz muito mais sobre a maneira como o Governo do Estado encara tal secretaria.
Quando olhamos em retrospecto o que foi a Setur nos últimos anos, não encontramos uma secretaria prioritária, que cuida de uma área considerada como uma das esperanças do Espírito Santo para alavancar a arrecadação e compensar perdas de receitas nos próximos anos, decorrentes da reforma tributária. Negativo. O que vemos é uma secretaria que está sempre no fim da fila, usada pelo Palácio Anchieta para resolver questões políticas e abrigar aliados partidários.
A rotatividade de secretários ali é impressionante. Não há como se esperar planejamento de longo prazo e continuidade na execução de projetos. A Setur está sempre recomeçando.
Foi assim em governos passados. É assim, novamente, agora. Se Victor for mesmo candidato a deputado federal, a Setur terá, pelo menos, quatro secretários diferentes nos quatro anos do atual governo Casagrande.
Weverson ficou menos de um ano. Philipe, por pouco mais de um. Agora, Victor até poderá dar uma boa arrumada na casa, mas já chegará à secretaria com prazo de validade bem curto: em abril do ano que vem, terá de se desligar do cargo para poder disputar as eleições, em obediência à legislação eleitoral. Então outro secretário, o quarto, deverá tocar a Setur por nove meses, até dezembro de 2026.
Fica parecendo turismo político.