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Coluna Valor em Foco

Economia da Argentina vai ao médico

Após um ano de ajustes severos, a economia argentina registra queda na inflação, aumento de reservas cambiais e superávit fiscal inédito desde 2010

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Economia argentina mostra sinais de recuperação após reformas liberais de Milei. Foto: Casa Rosada Presidencia

Economia argentina mostra sinais de recuperação após reformas liberais de Milei. Foto: Casa Rosada Presidencia

Quem poderia prever as consequências do amargo remédio das reformas aplicadas à moribunda Argentina? A eleição de Milei foi a última tentativa de reerguer uma nação à beira da hiperinflação, a partir de uma severidade que só foi aplicada durante o governo de Pinochet. Se, no Chile, a repressão social podia ser acionada para manter o tratamento, na Argentina o presidente sequer tinha maioria no parlamento. O trunfo capaz de fazer o governo permanecer de pé seria um rápido resultado social de suas medidas, que ele entregou no primeiro ano: em 2023, havia 19,4 milhões de argentinos na pobreza, já em 2024 esse número caiu para 17,9 milhões.

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Fazendo um retrospecto, quando a líder da esquerda Cristina Kirchner saiu do poder após dois mandatos, Macri assumiu como a opção à direita para levar fôlego à Argentina que já sofria com os problemas crônicos da falta de dólares e alta da inflação. Contudo, não houve coragem política, suas medidas para conseguir acordos com o FMI não seriam suficientes (inclusive deixando de pagar parte da dívida pública ao final do mandato) e as tímidas políticas de liberalização só pioraram a situação. As urnas responderam e a esquerda voltou ao poder, foi receitado um medicamento fraco e o paciente procurou outro consultório.

Alberto Fernández, marionete de Cristina Kirchner, é eleito em 2019 herdando o capital político e representando suas ideias heterodoxas. Essas mesmas teorias econômicas que na primeira década do século 21 canalizaram os dólares para políticas públicas em vez de criar uma sólida reserva cambial.

A partir de 2010, quando a economia mundial começou a reduzir sua demanda pelos produtos exportados pela Argentina, o fluxo de dólares diminuiu e a impressão de moeda junto à emissão de dívida tomou lugar como instrumento de financiamento do estado, gestando um processo inflacionário. De volta ao comando, a equipe econômica kirchnerista persistiu em suas teorias econômicas heterodoxas e conduziu um aumento de impostos para reduzir o déficit, além do congelamento de preços para conter a inflação; ao contrário de evitar o colapso, isso o impulsionou. A saúde do paciente já estava ruim, e a pandemia de 2020 tornou a situação ainda mais crítica, a Severa Gripe levou o país para a UTI, porém, um tratamento alternativo se apresentou no horizonte.

Em 2023, a eleição vinha com o seguinte prontuário para o próximo médico: 14 anos seguidos com o governo gastando mais do que se arrecadava, uma moeda desacreditada (a população guardava cerca de 200 bilhões de dólares em casa), a dívida pública era de 156% do PIB e uma inflação de 211% ao ano.

Diante desse quadro clínico, uma medicina econômica alternativa ganha a eleição sob o seguinte discurso: realizar cortes profundos na máquina pública, acabar com o controle de preços e estabilizar o câmbio. Porém, no primeiro momento, o paciente teve um apagão econômico, com aumento da pobreza, desemprego e decrescimento econômico, mas o tratamento continuou. O choque liberal não escondia que levaria a economia para o vale da morte, mas prometia trazer de volta uma economia saudável.

O quadro de saúde em 2024 é este: redução de 58% da inflação em relação a 2023; aumento de 28% das reservas cambiais e pela primeira vez desde 2010 o governo voltou a gastar menos do que arrecada. Quem reconheceu a transformação foi o FMI, que apesar dos históricos calotes multibilionários, mais uma vez firmou um acordo de empréstimo com o país sul-americano. Continuemos na sala de espera, aguardando as próximas notícias do estado de saúde.


*Mateus Rios é formando em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atua como assessor de investimentos na Valor Investimentos.

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