Coluna Vitor Vogas
Goggi x Piquet: “Vou pra dentro dele”, avisa presidente da Câmara de Vitória
Atual presidente explodiu durante sessão plenária e “mandou recado” para seu antecessor no cargo. Entenda aqui o contexto e as razões da reação

Leandro Piquet x Anderson Goggi
O presidente da Câmara de Vitória, Anderson Goggi (PP), fez um pronunciamento duro na sessão plenária da última quarta-feira (12), diretamente endereçado ao seu antecessor no cargo, o delegado Leandro Piquet (PP). Os dois são do mesmo partido. Em conversa com a coluna, Goggi subiu ainda mais o tom contra Piquet: “A hora que ele intervir [sic], eu vou pra dentro dele!”
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O estopim da reação foi uma nota publicada no mesmo dia pela coluna Plenário, do jornal A Tribuna, dando conta de duas mudanças na composição da administração da Câmara de Vitória, em cargos de direção ligados à Mesa Diretora.
O servidor Swlivan Manola, comissionado na Câmara desde 2013 e procurador-geral da Casa durante a gestão de Piquet (2023/2024), deixa a função para assumir um cargo no Tribunal de Contas do Estado (TCES). De acordo com a nota, a nomeação no TCES “teria sido uma indicação de Piquet”.
Enquanto isso, Goggi nomeou Lara Rodrigues Ferreira Araújo para o cargo de diretora de Processo Legislativo, com remuneração total de R$ 8.079,28 (sem contar o auxílio-alimentação) e jornada de 40 horas semanais.
Lara é esposa do deputado estadual Pablo Muribeca (na verdade, Pablo Aurino Ramos Araújo). De fevereiro de 2023 a abril de 2024, ocupou o cargo comissionado de assessora no gabinete de Piquet, que era aliado de Muribeca e correligionário dele no Republicanos, até migrar para o PP, em março do ano passado. Lara deixou o cargo ganhando remuneração bruta de R$ 6 mil.
Durante a sessão de quarta-feira, dizendo querer “mandar um recado” (para Piquet), Goggi fez uma fala incisiva mirando seu antecessor no cargo e tocando em outras questões acumuladas que o vinham incomodando desde que assumiu a presidência e que ele aproveitou a ocasião para extravasar.
Além de uma suposta tentativa de Piquet em interferir em nomeações ligadas à Mesa Diretora, o atual presidente se queixou de problemas relacionados a contratos firmados (ou não firmados) pela gestão anterior.
“Vou mandar um recado agora! Pega a visão! Ex-presidente e ex-namorado que tentar prejudicar… porque ex-namorado é o seguinte: termina com a mulher e quer continuar tendo contato com a mulher. Então, ex-presidente, você pega a visão, você fica esperto, não venha atrapalhar o trabalho desta Casa, porque, diga-se de passagem, Vossa Excelência, quando foi presidente, deixou várias cascas de banana pra gente aqui: renovou contrato de empresa que não está pagando direitos a trabalhador, deixou o ar-condicionado desta Casa sem funcionar, vereador sem gabinete… Pra cima de mim isso não vai funcionar!”
Goggi também fez uma fala em defesa de Lara Araújo, esposa de Pablo Muribeca – mas, ao mesmo, deu um recado também para ela, dirigindo-se diretamente à servidora.
“Queria aqui fazer um registro em público: nós contratamos a servidora Lara, que está aqui. Não é porque a pessoa é esposa, é parente, é alguém de algum deputado, de alguma pessoa importante. […] Lara, eu queria falar que eu convidei você pra compor a nossa equipe aqui pra nos ajudar no plenário, mas comigo não tem acordo de negociar diretoria, comigo não tem acordo de as pessoas ficarem dentro de casa e não trabalhar. O compromisso que temos aqui com você é que você venha e nos ajude no plenário. Inclusive diretor tem ponto livre, mas você tem uma carga horária muito maior do que os servidores que estão aqui”, afirmou o presidente, passando-lhe um recado que não pode ser entendido de outra forma: ela não será uma funcionária fantasma. Nem ela nem ninguém.
“Então esse é o recado que passo pra sociedade. Na nossa presidência não vai ter brincadeira, não. E eu não vou permitir que agentes externos venham prejudicar o bom andamento desta Casa”, concluiu Goggi.
A explosão do presidente pegou até colegas de surpresa.
Piquet não se pronuncia. Goggi detalha os motivos
Procurado pela coluna, Leandro Piquet preferiu não responder às declarações de Goggi. Limitou-se a registrar que não teve nada a ver com a ida de Swlivan para o TCES, que tem ótima relação com Goggi e que tudo provavelmente não passou de um grande ruído.
O ex-presidente da Câmara não disputou a reeleição no ano passado (foi o único vereador de Vitória a não o fazer) e, portanto, está sem mandato. Retomou as funções como delegado de carreira da Polícia Civil do Espírito Santo e, desde janeiro, está à frente da Delegacia Especializada de Proteção ao Meio Ambiente.
Já Anderson Goggi detalhou os motivos de sua bronca.
Com relação aos contratos administrativos, o presidente reclamou do fato de ter assumido a presidência da Câmara sem contrato de ar-condicionado, o que teria obrigado os vereadores a realizar as primeiras sessões do ano, em fevereiro, enfrentando o calor em plenário. Em contrapartida, queixou-se de um contrato herdado que, a seu ver, não deveria ter sido renovado no fim do ano passado, com uma empresa encarregada de gerir a recepção da Casa, mas que, segundo ele, viria atrasando o pagamento das recepcionistas.
Quanto aos cargos comissionados da alta administração da Câmara, Goggi apontou pressões externas por parte de Piquet, por intermédio de pessoas ligadas a ele. “Ele está começando a querer interferir de fora. Fica se metendo na Câmara. Ele tem que entender que foi presidente e deu a contribuição dele. Então mandei meu recado para ele, curto e grosso.”
Ainda segundo a versão de Goggi, Piquet tentou manter ocupantes de cargos de chefia ligados a ele, em janeiro, logo após a eleição do novo presidente. “Em janeiro ele tentou indicar pessoas dele. Mas não aceitei, cortei logo. Mandei embora no dia seguinte”, diz o atual presidente, citando a ex-subdiretora-geral, Ingrid Zouain Vargas.
No Diário Oficial da Câmara, consta que a servidora em questão foi “exonerada a pedido” em 2 de janeiro, dia seguinte à eleição e à posse de Goggi na presidência.
Me dê motivo…
Mas o motivo maior da entornada do caldo foi a saída de Swlivan Manola, xará (apesar da grafia diferente) do compositor Michael Sullivan, máquina de hits da MPB nos anos 1980 e 1990 – entre os quais “Me dê motivo”, canção consagrada na voz de Tim Maia. Swlivan, o servidor, é bacharel em Direito pela Unesc e pós-graduado em Processo Legislativo.
Segundo Goggi, o até então procurador-geral da Câmara lhe informou ter passado num processo seletivo para ingressar no TCES.
Questionado pela coluna, o próprio Swlivan, pivô involuntário da explosão do presidente, confirmou a informação: “Participei de um processo seletivo e fui selecionado após análise de currículo, entrevista e prova escrita”. Ele tomou posse no TCES na última quarta.
O cargo de procurador-geral é cobiçado e, aberta a vacância, passa a ser bastante concorrido. A remuneração total, contando o auxílio-alimentação, é de cerca de R$ 15 mil. Mas não é só isso. Seu ocupante exerce notável influência sobre a tramitação dos processos legislativos e administrativos da Câmara. O subprocurador-geral, substituto imediato de Swlivan, é Marco Antonio Guerra, ligado a Leandro Piquet. Mas Goggi afirma: “Para a vaga do Swlivan, estou cogitando outros nomes”.
O presidente diz que fará um “processo seletivo” para preenchimento da vaga. Não será um concurso público, por certo, já que o cargo é em comissão. Ele diz que irá ao mercado e analisará currículos e referências. Quanto a Marco Guerra, deve permanecer como subprocurador. “Enquanto estiver respondendo à altura, ele ficará como sub.”
Já com relação à esposa de Muribeca, Goggi diz que decidiu dar uma oportunidade para ela e que ela terá de mostrar serviço como todos os outros diretores.
“Ela veio por já ter trabalhado na Casa. Trabalhava no gabinete do Piquet. Estou dando uma oportunidade a ela. Nomeei ela para assessorar no rito da sessão, no plenário. Ela veio e já está trabalhando. O que não aceitarei é que coloquem de forma pejorativa, querendo desqualificar a pessoa. Isso eu não aceitarei. Se ela tiver todos os pré-requisitos, ela continua no cargo, assim como todos os diretores. Não tenho acordo com ninguém pra lotear diretoria e ninguém tem nada garantido. Os diretores que não atenderem às nossas expectativas, nós mandaremos embora.”
