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Coluna Vitor Vogas

Contarato é candidato à reeleição e quer Helder para governador (com condições)

De maneira relativamente surpreendente, ele não vê problema algum uma eventual composição com Casagrande e Ricardo Ferraço numa mesma chapa majoritária. Opina que o PT pode apoiar Ricardo para governador, “desde que haja reciprocidade”

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Quem é a prioridade do PT na eleição de 2026 no Espírito Santo? Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Quem é a prioridade do PT na eleição de 2026 no Espírito Santo? Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Fabiano Contarato garante: é candidatíssimo à reeleição no ano que vem. A garantia, segundo o senador, não é só dele. Também lhe é dada pela direção estadual do PT, pela cúpula nacional do partido e pelo próprio presidente Lula.

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“Nossa candidatura à reeleição está efetivamente sacramentada pela direção local e nacional, independentemente de arranjos políticos. Arranjo político vai ter para outras coisas […]. Para senador, não”, afirma o delegado licenciado da Polícia Civil do Espírito Santo, eleito para o atual mandato (seu primeiro) em 2018, pela Rede.

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Na disputa majoritária, além da própria candidatura ao Senado, prioritária para o partido, Contarato defende entusiasticamente que o PT do Espírito Santo lance o deputado federal Helder Salomão ao Governo do Estado – mas não a qualquer preço.

Estudante do curso de graduação em Filosofia na Ufes desde 2022 – assiste às aulas só nas noites de quinta e sexta-feira –, o senador cita o famoso imperativo categórico* do iluminista alemão Immanuel Kant ao defender a sua tese: “Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal”.

Em linguagem do dia a dia, o senador não deseja para Helder o que não deseja para si. Quer muito que o companheiro seja candidato a governador pelo PT, mas não que ele entre numa roubada.

“O Helder topa entrar numa candidatura ao Governo do Estado se tiver uma grande articulação e a aquiescência do PT nacional e do próprio presidente Lula para dar viabilidade à candidatura dele. De outra forma, ele irá para a reeleição na Câmara. Essa é a análise que eu faço. Ele coloca o nome para vir ao Governo do Estado se tiver essa ‘unção’, essa energia convergindo para dar viabilidade a esse projeto”, afirma Contarato.

Na opinião do senador, o PT só deve concorrer ao Palácio Anchieta se o candidato for Helder. Se não for, de maneira relativamente surpreendente, ele não vê problema algum – na verdade, até vê com bons olhos – uma eventual composição com Renato Casagrande (PSB) e Ricardo Ferraço (MDB) numa mesma chapa majoritária: ele e o governador seriam candidatos ao Senado; Ricardo, ao Governo do Estado. Isso, segundo ele, desde que haja “reciprocidade”, “uma via de mão dupla” e um “acordo bilateral”.

“Isso é um exercício que tem que ser feito, sim. […] Não vejo como algo impossível, porque é no mesmo campo, é no campo progressista, e podemos, sim, caminhar lado a lado”, avalia o senador, que completa: também não vê nenhum problema em estar, com o PT, no projeto de Casagrande e Ricardo. Vale dizer que o PT, para ele, pode até apoiar a postulação do atual vice-governador. De novo: “desde que haja reciprocidade”.

Leia abaixo a entrevista completa do senador petista.

Qual deve ser a prioridade do PT no Espírito Santo nas eleições gerais de 2026?

Não tenho dúvida de que a nossa reeleição ao Senado é a prioridade do presidente Lula, do PT nacional e do PT estadual. Vamos lutar para efetivamente manter o mandato. Isso está muito bem sedimentado. Mas é claro que temos que fazer uma articulação de como vamos caminhar nesse cenário. Por exemplo, o PT terá também candidato ao Governo do Estado? Essa é uma pergunta para a qual ainda não tenho resposta.

Qual é a sua opinião? O senhor defende que o PT tenha candidato ao governo, além da sua candidatura à reeleição?

O deputado Helder Salomão topa entrar numa candidatura ao Governo do Estado se tiver uma grande articulação e a aquiescência do PT nacional e do próprio presidente Lula para dar viabilidade à candidatura dele. De outra forma, ele irá para a reeleição na Câmara. Essa é a análise que eu faço. Sou da opinião de que o PT não deve lançar um candidato próprio ao governo se não for o Helder. Mas isso não é uma coisa sobre a qual eu tenha o poder de decisão. É só a minha opinião. O Helder coloca o nome para vir ao Governo do Estado se tiver essa “unção”, essa energia convergindo para dar viabilidade a esse projeto.

A sua candidatura à reeleição no Senado independe de outros arranjos partidários em nível estadual e nacional? Não pode ser sacrificada, por exemplo, se a direção do PT decidir levar o partido no Espírito Santo para esse ou aquele palanque, essa ou aquela coligação?

Isso está fora de cogitação. O PT vai lançar a nossa reeleição ao Senado. Isso é uma questão sine qua non, que nem se discute mais. O próprio Lula defende: onde o PT já tem senador, vamos lutar para manter. E é claro que o partido tentará ampliar sua base em outros estados da federação. Nossa candidatura à reeleição está efetivamente sacramentada pela direção local e nacional, independentemente de arranjos políticos. Arranjo político vai ter para outras coisas, para deputado federal e estadual, por exemplo. Isso é legítimo. Para senador, não.

O PT, na sua avaliação, precisa ter um palanque majoritário no Espírito Santo para fortalecer a candidatura de Lula à Presidência em 2026?

Immanuel Kant fala muito de “imperativo categórico”: “Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal”. Eu jamais poderia querer para um companheiro do partido algo que não quero para mim. Pragmaticamente, seria cômodo para mim dizer: “Ah, não, o PT tem que lançar um candidato ao governo”. Mas eu não estaria sendo ético comigo mesmo se quisesse que o Helder se lançasse de qualquer maneira, sem uma grande composição para dar sustentação e viabilidade a esse projeto no Espírito Santo, porque aí correríamos o risco de perder um deputado federal, por sinal o mais votado do Estado na eleição passada, em 2022. Eu não falaria isso para mim, então não falaria para ele. Faço votos de que ele possa ser candidato ao Governo do Estado, mas que isso ocorra em um terreno fértil para essa candidatura.

E quais são as condições para isso?

Acho que o presidente Lula tem que olhar olho no olho e dizer “Helder, você é o meu candidato. Vou percorrer o Espírito Santo com você”. O presidente nacional do PT, que no momento é o senador Humberto Costa, também precisa garantir a ele que o partido vai efetivamente investir e dar viabilidade a essa candidatura. Então é preciso um movimento de viabilização nesse sentido, um reforço da direção nacional no sentido de que lançar Helder ao Governo do Estado é algo prioritário para o Governo Federal e para o PT nacional, como é a minha candidatura à reeleição no Senado. Se não for assim, eu mesmo já falei para o Helder que eu não faria isso.

Em 2018, o senhor veio candidato ao Senado numa conjuntura muito diferente. Foi candidato pela Rede, na coligação que tinha a então senadora Rose de Freitas como candidata ao Governo do Estado, pelo Podemos. O PT concorreu ao Palácio Anchieta com Jack Rocha e não apoiou a candidatura de Renato Casagrande. Já em 2022, o PT apoiou a reeleição do governador Renato Casagrande, na aliança com o PSB, e atualmente faz parte do governo dele, comandando a Secretaria de Esportes e espaços no segundo escalão. O senhor entende que, estrategicamente, o PT-ES deve priorizar a manutenção da aliança com Casagrande, ou não necessariamente? Isso vai depender de quê?

Eu acho que isso é uma construção que passa pela direção do partido, conversando com o PSB e com outros partidos que tenham afinidade com o PT. Hoje eu estaria sendo leviano se falasse algo, porque isso ainda não foi debatido, pois é uma questão de diálogo para se chegar a esse entendimento se vamos ou não caminhar juntos. Mas julgo importante lembrar que, em 2022, eu era pré-candidato ao governo, figurando em segundo lugar nas pesquisas, e retiramos a nossa candidatura para aderir ao projeto do governador Renato Casagrande. Isso tem que ser visto como um ativo, um esforço que o partido fez naquele momento, em nome da defesa da democracia. Pela manutenção de um governo mais democrático, no campo progressista, achamos por bem retirar a candidatura para apoiar Casagrande. É verdade que agora o contexto é outro. Isso precisa ser conversado tanto internamente pela Jack Rocha como nacionalmente com o PSB e com outros partidos que porventura possam se juntar ao projeto.

Começamos falando da sua candidatura à reeleição, confirmada enfaticamente pelo senhor. Depois passamos pela possível candidatura de Helder a governador, defendida pelo senhor, mediante condições. Mas, dentro do movimento político liderado por Renato Casagrande, o próprio governador tem grandes chances de ser candidato a senador. Ele também terá um candidato próprio ao Governo do Estado, lançado e apoiado por ele. O nome trabalhado hoje pelo Palácio Anchieta é o do vice-governador Ricardo Ferraço, um político bem mais de direita. É claro que este é só um exercício especulativo, mas o senhor considera possível a presença do PT nesse movimento, com uma chapa majoritária que tenha Ricardo Ferraço para a sucessão de Casagrande, o senhor como um dos candidatos ao Senado e um segundo candidato que pode ser o próprio Casagrande? Sua candidatura “caberia” em eventual coligação nesse formato?

Isso é um exercício que tem que ser feito, sim. Não vejo isso como algo que pode ser descartado. É claro que estamos fazendo um exercício de futurologia, mas não vejo como algo impossível, porque é no mesmo campo, é no campo progressista, e podemos, sim, caminhar lado a lado. Isso ainda não foi debatido no PT e é uma construção. Depende de um interesse recíproco e de um acordo bilateral. Não basta haver o interesse de um lado se, do outro, não houver essa disposição. Em mais de seis anos no Congresso, aprendi que, na política, o ótimo é inimigo do bom. Temos que analisar o que é melhor para o Espírito Santo e para a manutenção do campo progressista, de uma sociedade que respeita direitos humanos, luta contra as desigualdades e por mais direitos sociais.

Se a candidatura de Helder ao governo não vingar e se o candidato a governador do grupo de Casagrande for mesmo Ricardo Ferraço, o senhor avalia que o PT pode apoiar Ricardo? Vale lembrar que ele é o presidente estadual do MDB, partido que tem ministérios e dá sustentação política ao governo Lula…

Isso tudo é um trabalho de suposição e é um trabalho de construção entre ambos. Eu, pessoalmente, não vejo problema algum em estar nesse projeto, com o nome do Ricardo Ferraço. Não vejo nenhum problema. O que nós temos que fazer é superar etapas. Primeiro ponto fundamental: candidatura ao Senado. Segundo ponto fundamental: viabilizar Helder para o governo. Se isso não acontecer (e não defendo outro nome do PT para o governo, para não enfraquecer a nossa chapa de deputados), aí sim podemos debater a construção desse projeto com Ricardo Ferraço. Pessoalmente, não vejo problema algum, desde que haja reciprocidade. Volto a lembrar da retirada da minha candidatura ao governo em 2022. É preciso haver um interesse mútuo, uma via de mão dupla. É possível o PT aderir a esse projeto, em havendo esse acordo bilateral. Esse é um jogo de xadrez que precisa ser muito bem jogado.

No próximo mês de julho, o PT realizará o PED (Processo de Eleição Direta) para escolha da nova Executiva Nacional e do novo presidente, no lugar de Gleisi Hoffmann. Também haverá o PED para eleição de dirigentes nos estados e municípios. Desde 2019, a presidente no Espírito Santo é a deputada federal Jack Rocha. O senhor hoje é a figura mais proeminente do PT capixaba. Será candidato à presidência estadual?

Não. Não penso em colocar meu nome à presidência do partido. Mas penso que o partido precisa fazer uma autoanálise. O PT precisa ser fortalecido nos 78 municípios capixabas. Temos que fortalecer as nossas candidaturas, inclusive municipais, para prefeito e vereador. Se a Jack vai vir ou não para a reeleição, não vou entrar nesse mérito. Mas vou lutar para que quem quer que esteja à frente do partido, ela ou algum outro companheiro, promova esse fortalecimento. Eu sinto muita falta de o partido ser mais propositivo diuturnamente. Acho que temos que estar falando sempre com a militância, com os jovens, os negros, as mulheres. Precisamos fazer mais debate político com a sociedade, a todo momento. Sinto falta disso.

* O “imperativo categórico” de Kant é uma obrigação incondicional que deve ser seguida em todas as circunstâncias. É uma forma de avaliar as motivações para a ação e de determinar o que é moralmente correto.