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Coluna Vitor Vogas

As surpresas reveladas (ou não) na declaração de bens dos candidatos

Declarações sobre o próprio patrimônio, apresentadas à Justiça Eleitoral por candidatos a prefeito no ES, trazem uma série de dados inusitados (para dizer o mínimo)

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Dados dos Estados Unidos gerou caos no mercado financeiro. Foto: Jcomp/Freepik

Notas de dólares. Foto: Jcomp/Freepik

A cada eleição, todos os candidatos, ao pedir o registro de candidatura à Justiça Eleitoral, são obrigados a apresentar uma declaração oficial de bens. A declaração de cada um, com item por item discriminados, fica disponível à consulta pública na página do TSE. Esse material costuma ser um banquete de curiosidades. O deste ano não decepcionou. As declarações registradas pelos candidatos a prefeito nas maiores cidades do Espírito Santo oferecem uma série de dados surpreendentes (para dizer o mínimo).

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Devido à abrangência das eleições municipais, o recorte da nossa análise foi específico. Passamos o pente fino nas declarações dos 53 candidatos a prefeito nas dez cidades mais populosas do Espírito Santo: Serra, Vila Velha, Cariacica, Vitória, Cachoeiro, Linhares, Colatina, Guarapari, São Mateus e Aracruz.

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Tem candidato que sofreu uma impressionante “perda patrimonial” em tempo recorde; tem prefeito candidato à reeleição podendo escolher onde morar; tem candidato milionário guardando quase R$ 2,5 milhões em dinheiro vivo; e outros que, mesmo com salário de deputado, “declaram não ter nada a declarar” (ou quase nada).

A primeira grande surpresa vem de Cachoeiro de Itapemirim.

Ferração “perde” quase R$ 2 milhões em dois anos

A julgar pela declaração do patrimônio de Theodorico Ferraço (PP), o deputado estadual e ex-prefeito “perdeu” quase R$ 2 milhões num intervalo de dois anos.

Em 2022, em sua última campanha a deputado, Ferraço declarou um total de bens que somavam R$ 6.565.888,51.

Agora, a soma dos seus bens totaliza R$ 4.693.522,71.

Perguntamos ao candidato como se explica essa “perda patrimonial” impressionante em tão curto espaço de tempo. Por meio de sua assessoria, Ferraço respondeu que não comenta sobre sua vida financeira e que os dados declarados por ele ao TSE também constam na base de dados da Receita Federal.

Nada a declarar”: Libardi abre o bloco

Ainda em Cachoeiro, o advogado Diego Libardi (Republicanos), ex-aliado de Ferraço e agora seu adversário nas urnas, declarou não ter nem sequer um bem a declarar. Absolutamente nada: nem um imóvel, nem um carrinho ou uma moto… Nem um centavo em nenhuma conta.

Quando foi candidato a deputado federal em 2022, Libardi declarou ter R$ 45 mil. Quando se candidatou a prefeito pela primeira vez, dois anos antes, declarou R$ 54,3 mil.

Além de advogado, Libardi foi secretário de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória por cerca de um ano, até abril passado.

Mas ele não está sozinho nessa.

Muribeca: não declarou nem o chapéu

Candidato a prefeito da Serra, o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos), cuja marca maior é o indefectível chapelão, também declarou não ter bem algum a declarar. Fez o mesmo em sua campanha a vereador em 2020 e a deputado estadual em 2022. Nem um centavo na conta.

Muribeca é deputado estadual desde fevereiro de 2023, com salário bruto de mais de R$ 30 mil.

A assessoria do deputado confirmou que é isso mesmo: “Ele não tem bens. Mora de aluguel, e o carro é da esposa”.

Se é mesmo assim, o deputado pode tirar o chapelão da cabeça e sair a passá-lo por aí.

Assumção: nem R$ 10 mil

Já o deputado Capitão Assumção (PL), candidato a prefeito de Vitória, declarou a irrisória quantia de R$ 9.132,21, dividida em quatro aplicações e quatro depósitos bancários.

Quando se candidatou a deputado estadual em 2022, ele declarou possuir apenas uma moto (Yamaha, não Kawasaki), no valor de R$ 50 mil. Desta vez, nem isso.

Hoje não teria recompensa

Em setembro de 2019, seu primeiro ano na Assembleia, Assumção ofereceu, da tribuna, a recompensa de exatos R$ 10 mil para quem matasse o assassino de uma cidadã em Cariacica. A oferta gerou perplexidade, repercussão nacional e um processo contra ele na Corregedoria da Casa (arquivado). Agora, a julgar por sua própria declaração, a recompensa teria de ser revista.

Euclério, o rei dos imóveis

No nosso recorte, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), é o segundo mais “rico”, a julgar pelas declarações de bens. No total, seu patrimônio declarado perfaz R$ 10,5 milhões.

Mas o que mais chama a atenção, neste caso, é a diversidade e a multiplicidade dos bens declarados. Para começar, Euclério pode escolher à vontade onde morar (inclusive o município).

Ele declarou ser o proprietário de nada menos que nove apartamentos, sendo um em Vitória, três em Cariacica e cinco em Vila Velha. No total, eles valem quase R$ 5,5 milhões. Só um deles, em Vila Velha, é estimado em R$ 3,3 milhões. Os outros oito, somados, valem R$ 2.171.000,00.

Há vagas

Na pré-campanha à Prefeitura de Cariacica, a vaga mais disputada foi a de vice na chapa de Euclério. Ficou com Shymenne de Castro (PSB).

Mas o prefeito de Cariacica também declarou ser dono de nove vagas de garagem em Vila Velha, que totalizam R$ 460 mil. Entre outros bens, também tem crédito de R$ 400 mil decorrente de empréstimo e de R$ 2,3 milhões decorrente de alienação.

O mais afortunado

Mas o mais afortunado nesse recorte é, com sobras, justamente o maior azarão na disputa mais importante: o empresário Du (Avante), candidato a prefeito da Capital. Sua fortuna é inversamente proporcional às suas chances de êxito nas urnas no dia 6 de outubro.

A soma dos bens declarados por Du perfazem um total de R$ 20,7 milhões.

Quase R$ 2,5 milhões em espécie!

O ponto que mais chama a atenção é que o representante da marca de motocicletas Kawasaki no Espírito Santo declarou guardar, em espécie, a incrível soma de R$ 1.903.243,00. Quase R$ 2 milhões em dinheiro vivo! E isso somente em moeda nacional.

O empresário também declarou manter, em espécie, quase 50 mil dólares, além de 26.850,00 euros. No câmbio do dia, dá aproximadamente mais R$ 432 mil em dinheiro vivo. São quase R$ 2,5 milhões no total, “parados”.

Precisa de um aí?

Além disso, Du declarou ter quase R$ 2,9 milhões a receber, relativo a cinco empréstimos.

Se alguém aí precisar de um emprestado, já sabe a quem recorrer.

Du da… Kawasaki?

E é claro: não poderiam faltar motocicletas. Nesse aspecto, porém, Du não se mostra fiel ao produto que vende. Ele possui quatro motos: três Honda e uma Yamaha. Nenhuma delas é da Kawasaki.

A Turma do Dinheiro em Espécie

O mais rico neste nosso ranking tem vários companheiros na turma do dinheiro em espécie. O segundo lugar nesse quesito é o ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos (PSD). O candidato a prefeito de Colatina declarou ter nada menos que R$ 1.456.000,00 em espécie.

Também em dinheiro vivo, guardado em casa ou sabe-se lá onde, o atual prefeito de Linhares e candidato à reeleição, Bruno Marianelli (Republicanos), declarou R$ 300 mil. Em ordem decrescente, eis os outros membros do Clube da Grana no Colchão:

. Coronel Ramalho (PL), candidato a prefeito de Vila Velha: R$ 100 mil

. Igor Elson (PL), candidato a prefeito da Serra: R$ 70 mil

. Guerino Balestrassi (MDB): prefeito e candidato à reeleição em Colatina: R$ 65 mil

. Rodrigo Borges (Republicanos), candidato a prefeito de Guarapari: R$ 60 mil

Também concorrendo em Guarapari, Artur Pereira (PRTB) declarou ter R$ 10 mil em espécie, “para uso particular”. E foi tudo o que declarou.

Causa espécie”…

Por que alguém guarda dinheiro em espécie em casa, no cofre ou debaixo do colchão, sujeito à desvalorização inflacionária, e não em uma aplicação bancária, é algo realmente “de causar espécie”.

Maurício Gorza: apego ao fixo

Inusitadamente, o candidato do PSDB à Prefeitura de Vila Velha, Maurício Gorza (PSDB), incluiu em sua declaração de bens um telefone residencial no valor de R$ 400,00.

Se já é difícil alguém hoje em dia possuir um telefone fixo em casa, que dirá declarar esse bem…