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Coluna Vitor Vogas

Arquidiocese de Vitória faz manifesto contra projeto do Governo do Estado

Instância máxima de representação da Igreja Católica no ES lança manifesto veementemente contrário a plano de concessão de parques naturais estaduais, durante abertura da Campanha da Fraternidade e na presença do governador

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Momentos do lançamento da Campanha da Fraternidade, no Ginásio Dom Bosco, em Vitória. Fotos: Arquidiocese de Vitória

Momentos do lançamento da Campanha da Fraternidade, no Ginásio Dom Bosco, em Vitória. Fotos: Arquidiocese de Vitória

O lançamento da Campanha da Fraternidade de 2025 foi marcado por um protesto público da Arquidiocese de Vitória contra um projeto do Governo do Estado que tem dado o que falar. O evento de abertura da 62ª edição da campanha foi realizado na tarde de domingo (9), no Ginásio Dom Bosco, em Vitória. Ao final, foi lido um manifesto veementemente contrário ao plano de concessão dos seis parques naturais estaduais para exploração da iniciativa privada, defendido pelo secretário estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Felipe Rigoni (União Brasil).

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O governador Renato Casagrande (PSB) estava presente e ouviu a leitura do documento, feita por integrantes da Comissão de Promoção da Dignidade Humana e da Escola de Fé e Política da Arquidiocese. O manifesto também foi distribuído aos presentes em cópias impressas.

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O assunto tem relação com o tema da campanha deste ano: Fraternidade e Ecologia Integral. A pauta foi escolhida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) num momento em que eventos climáticos extremos se multiplicam pelo mundo.

O projeto defendido pela gestão do secretário Felipe Rigoni prevê a concessão para exploração econômica dos parques Mata das Flores e Forno Grande, em Castelo; Paulo César Vinha, em Guarapari; Itaúnas, em Conceição da Barra; Pedra Azul, em Domingos Martins; e Cachoeira da Fumaça, situado entre os municípios de Alegre e Ibitirama.

Os argumentos de Rigoni em defesa do projeto já foram amplamente detalhados aqui neste espaço, assim como os argumentos de entidades, ambientalistas e servidores do Iema contrários à proposta.

O lançamento da Campanha da Fraternidade foi o primeiro evento público com a participação do novo arcebispo de Vitória, Dom Ângelo Ademir Mezzari, que realizou a homilia, antes do momento mais político: a leitura do manifesto contra “a privatização dos parques”.

Intitulado “Manifesto da esperança: não à privatização dos Parques Estaduais”, o texto é assinado pelo Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica, representado pelo Padre Kelder Brandão, e pela própria Arquidiocese de Vitória, o que não deixa dúvida quanto ao endosso de D. Ângelo. Trata-se de um posicionamento da instância máxima de representação da Igreja Católica no Espírito Santo.

O documento foi inspirado na proclamação do Ano Jubilar em 2025, pelo Papa Francisco, trazendo como base um texto bíblico de Levítico, quando o povo israelita era orientado a praticar também um Jubileu. Isso importava em dar descanso à terra, perdoar dívidas etc.: “A terra não será vendida, pois a terra me pertence e vós sois para mim estrangeiros e hóspedes” (Lv 25, 23).

Um dos trechos do manifesto afirma:

“Deus criou a Terra para ser a Casa Comum de todos os seres viventes e, seguindo essa inspiração bíblica, o Ensinamento Social da Igreja tem como princípio basilar a destinação universal dos bens e não a sua apropriação privada e a sua espoliação. Tendo em vista as motivações da Campanha da Fraternidade 2025, nos juntamos aos ambientalistas, cientistas, comunidades tradicionais e demais segmentos da sociedade capixaba para nos manifestarmos contrários às iniciativas do Governo do Estado do Espirito Santo, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, com o objetivo de conceder à iniciativa privada autorização para explorar economicamente seis parques estaduais”.

No documento, a Arquidiocese diz querer que os parques e reservas ecológicas do Espírito Santo “sejam patrimônio de todos e todas”. O órgão da Igreja Católica defende que tais concessões “apresentam um elevado potencial de destruição do nosso patrimônio natural, logo uma maior degradação da nossa Casa Comum”.

O manifesto também recorre ao artigo 225 da Constituição Federal, o qual prevê que “o meio ambiente deve ser de uso comum do povo e que todos/as têm direito a ele, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

A Arquidiocese afirma que não é justo que os parques em questão “sejam tratados como mercadoria” e roga ao governo Casagrande que engavete a iniciativa:

“Como cristãos, afirmamos que nossos parques e reservas ecológicas são um dom de Deus para todos os capixabas e queremos que eles continuem assim, pertencendo a todas as pessoas. Não é justo que eles sejam tratados como mercadorias, explorados por grupos privados e que dificultem ou impeçam o acesso dos mais empobrecidos. Por isso, com este MANIFESTO, alimentamos a ESPERANÇA de que essas iniciativas sejam interrompidas imediatamente pelo Governo do Estado, estabelecendo um amplo diálogo com toda a sociedade capixaba, principalmente com os movimentos ambientais, a academia e as populações atingidas”.

A celebração

O evento de abertura da 62ª Campanha da Fraternidade da Igreja Católica foi todo voltado para o tema deste ano: Fraternidade e Ecologia Integral. O lançamento contou com a participação ativa das pastorais sociais da Arquidiocese de Vitória.

Crianças de projetos sociais mantidos pela Igreja entraram na quadra carregando uma grande réplica do globo terrestre, simbolizando a responsabilidade das novas gerações no cuidado com o planeta.

Os símbolos da água, terra e luz também foram introduzidos de maneira solene. Ao final da introdução dos símbolos, uma mulher grávida foi acolhida em lugar de destaque, “lembrando-nos que fazemos parte da criação e que nosso protagonismo está na responsabilidade de cuidar dela” – conforme notícia publicada na página oficial da Arquidiocese.

A água foi abençoada pelo novo arcebispo de Vitória, Dom Ângelo. Ele também abençoou as mulheres, que borrifaram a água nos participantes.

O arcebispo afirmou que este momento é um sinal de nossa corresponsabilidade no cuidado com a “Casa Comum”. “O nosso compromisso a partir de agora é cuidar da Casa Comum. As politicas públicas também devem ser pensadas em busca do bem comum. Deus nos confiou a criação e nós somos chamados a cuidar. Talvez sem querer, talvez querendo, talvez sem perceber, matando a terra, estamos matando a vida e todas as formas de vida”, disse o líder religioso.

Reações políticas

Representante do Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica, o Padre Kelder Brandão postou o “Manifesto da Esperança” em seu perfil no Instagram. Recebeu mensagens de apoio de políticos do Partido dos Trabalhadores (PT). Entre eles, o deputado federal Helder Salomão, os deputados estaduais Iriny Lopes e João Coser e a vereadora de Vitória Karla Coser.

O governador Renato Casagrande participou da missa e cerimônia de abertura da Campanha da Fraternidade ao lado dos aliados João Coser e Arnaldinho Borgo (Podemos), prefeito de Vila Velha. Os três são católicos.

Fundo Cidades

Pouco antes do Carnaval, o próprio Governo do Estado lançou o Fundo Cidades – Adaptação às Mudanças Climáticas, pelo qual serão repassados mais de R$ 200 milhões aos municípios para projetos de prevenção às consequências da emergência climática.