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Coluna Inovação | O que fazer?
Até poucos anos atrás a discussão de política industrial estava bloqueada pelo argumento de que a globalização exigia que cada país se especializasse no que fosse mais competente

Algumas empresas brasileiras conseguiram inclusive se instalar no exterior como multinacionais. Foto: Reprodução
É voz corrente que o Brasil só resolve suas crises quando o problema chega no limite. Foi assim para se tornar independente no petróleo, para se livrar da ditadura e foi assim com a inflação. A crise das tarifas com o governo Trump pode ser a oportunidade para deslanchar a economia de forma sustentável. Várias situações nos últimos anos sinalizaram a necessidade de um desenvolvimento que não fique dependente do exterior. Na pandemia, o mundo inteiro percebeu a dependência de insumos farmacêuticos e que quase a totalidade desses insumos eram fabricados em pouquíssimos países, principalmente na China. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a dependência de fertilizantes foi exposta com clareza. O desenvolvimento do mundo digital e o estresse geopolítico nos mostram a dependência em microeletrônica. Agora, os arroubos tarifários de Trump nos deixam vulneráveis, principalmente a indústria, considerando que a exportação de produtos industrializados é maior para os EUA do que para a China, por exemplo, mas no agronegócio há também um baque importante.
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Não se trata de fechar o país, mas administrar o problema estrategicamente. Até poucos anos atrás a discussão de política industrial estava bloqueada pelo argumento de que a globalização exigia que cada país se especializasse no que fosse mais competente. Esse raciocínio perdeu adeptos visivelmente nos artigos de opinião de economistas.
Diversificar mercados para exportação, fazer acordos bilaterais ou regionais de comércio, investir em tecnologia e inovação, ampliar a complexidade industrial passaram a fazer parte das propostas de política industrial.
Algumas empresas brasileiras conseguiram inclusive se instalar no exterior como multinacionais e ficam imunes de restrições de exportação por tarifas ou cotas, pelo menos em parte. É o caso da Weg, da Gerdau, da JBS, da Marco Polo, entre outras.
Um caminho importante para o Brasil seria aproveitar o enorme desenvolvimento da agropecuária para criar uma agroindústria nacional de equipamentos e insumos que ganhasse o mundo. A NIB-Nova Indústria Brasil, a nova política industrial, vai nessa linha em um dos seus aspectos.
Na crise do petróleo na década de 1970, o Brasil quase não produzia petróleo. O choque induziu a criação do Pro-álcool, um caso de sucesso. Um grande projeto seria expandir pelo mundo o consumo de biocombustíveis, em parcerias com outros países. A grande produção de petróleo também é filha da crise. Hoje o país é exportador, com chances de se tornar dos maiores. A bioeconomia, dentro do capital natural, é oportunidade de ouro pela diversidade e pela imensa base florestal.
Falta resolver a macroeconomia. Uma queda dos juros e queda do risco país traria enorme quantidade de recursos do exterior e modificaria a tendência de investimento em renda fixa. Em 2018, com a acentuada queda dos juros, esse movimento ficou muito claro com IPOs na Bolsa e a busca por investimentos produtivos. Mas não pode ser na marra como aprendemos no governo Dilma. Tem que haver corte de gastos do governo, que não precisa ser no social, mas exige um esforço de grupos de interesse em abrir mão de vantagens atuais em troca de vantagens futuras. A crise do tarifaço pode ser oportunidade para resolver isso com um acordo. A compensação viria pelo crescimento e geração de empregos qualificados e pagando bem, o melhor programa social que existe.
Quando a poeira do tarifaço baixar se mostrará importante ter um projeto de desenvolvimento organizado.
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