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Coluna Vitor Vogas

Análise: o que realmente está em jogo na disputa pelo comando da Ales

Governo Casagrande quer à frente da Assembleia alguém que esteja 100% comprometido com esse projeto de manutenção do poder no Espírito Santo

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Os 30 deputados estaduais votarão, no dia 1º de fevereiro, para escolher o próximo presidente da Assembleia Legislativa, aquele que comandará a Mesa Diretora pelo próximo biênio, até 31 de janeiro de 2027. A esta altura dos acontecimentos, na metade de janeiro, a disputa atrás das cortinas é polarizada pelos mesmos dois deputados que protagonizaram a eleição passada, em janeiro de 2023: o atual presidente, Marcelo Santos (União), e seu desafiante, Vandinho Leite (PSDB).

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No backstage, os dois têm contatado colegas individualmente e feito uma movimentação intensa, mas discreta. Marcelo é candidato assumido, desde que se declarou “inclinado” a buscar a reeleição, na coletiva de imprensa concedida por ele na Assembleia no dia 11 de dezembro. Vandinho não se declara assim publicamente, mas, nos bastidores, a quem lhe pergunta, não esconde o desejo de galgar à presidência, após ter chegado muito perto em 2023. Ressalvada uma possível surpresa, a definição da presidência, hoje, está entre Marcelo e Vandinho. Ponto.

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No entanto, Marcelo, Vandinho, o colunista e todo mundo tem a mesma convicção: essa eleição não depende da vontade de nenhum dos dois. Nem dos outros deputados, aliás. Como sói ocorrer, está nas mãos do governador. Os 30 deputados são os votantes, mas o principal eleitor, influencer maior do processo, chama-se José Renato Casagrande. Historicamente, desde os tempos de Hartung e até antes dele, o governador do Espírito Santo exerce uma influência fortíssima na escolha do presidente do Poder Legislativo Estadual.

Se restava alguma dúvida quanto a isso, o próprio Casagrande tratou de dissipá-la no processo eleitoral passado. Até então, a influência do chefe do Executivo era notória, mas velada. Quebrando esse paradigma, Casagrande interferiu de maneira explícita na definição do atual presidente – de maneira traumática para Vandinho.

Faltando poucos dias para a eleição interna, o presidente do PSDB no Espírito Santo já havia reunido 24 assinaturas, consolidando larga maioria para garantir sua vitória em plenário. Mas eis que Casagrande virou a mesa e apontou Marcelo Santos, até então quase isolado, como o seu candidato e o do governo – temendo sobretudo eventual espaço ocupado por opositores numa Mesa comandada por Vandinho. O acordo então foi feito com Marcelo, que, como candidato do Palácio Anchieta, venceu com sobras, à frente de chapa única.

Agora, superado o paradigma (e o pudor de interferir abertamente), o governo não fará diferente. Todos têm a consciência de que aquele que Casagrande escolher estará virtualmente eleito – até porque o governo tem maioria ampla em um plenário onde opositores de verdade mal enchem os dedos de uma mão. Assim, Marcelo e Vandinho até se movimentam, conversam com colegas, fazem lobby em causa própria… Mas, acima de tudo, esperam a decisão do governador. E buscam persuadi-lo.

O lobby maior, portanto, é feito junto ao próprio Casagrande, com quem ambos têm conversado com frequência. Marcelo já foi pessoalmente ao encontro de Casagrande, a convite dele, para tratar especificamente do tema. Vandinho tem sido visto assiduamente – muito mais que Marcelo, aliás – em eventos do governo Estado afora, e tem falado a todo instante com o governador, inclusive sobre a eleição da Mesa.

Se a conduta do governador desta vez não será diferente – no que se refere à interferência aberta –, a estratégia mudou drasticamente em relação à eleição passada da Mesa. Casagrande e seu núcleo duro parecem ter aprendido com o que pode ser avaliado como um erro de cálculo político naquela disputa. No começo de 2023, o governador “deixou” as rédeas do processo com os deputados da base e de repente, a poucos dias da votação, vendo Vandinho cercado de oposicionistas, viu-se “forçado” (muitas aspas) a dar um cavalo de pau a favor de Marcelo. Ficaram sequelas, é claro – além da exposição de uma mão pesada explícita. O deputado Hudson Leal (Republicanos), então principal apoiador de Vandinho, falou até em “estupro político”, em entrevista à coluna.

Desta vez, a ordem do governador, via Casa Civil, veio clara para todos os membros da base desde meados de setembro: ninguém assume compromisso algum, declara apoio a ninguém, muito menos assina lista de quem quer que seja, até que Casagrande entre pessoalmente no processo e dê a sua orientação à base (isto é, até que ele escolha quem é o seu candidato e, assim, o próximo presidente do Parlamento).

Casagrande, portanto, resolveu segurar as rédeas desde o começo desta vez – o que não deixa de ser uma interferência ainda maior por parte do chefe do Executivo. O questionamento pode ser este, quanto à intromissão indevida do ponto de vista republicano (separação dos Poderes às cucuias, independência idem), mas o resultado é infalível: o governo não tem a menor chance de perder nem de sofrer qualquer surpresa.

Nos próximos dias, Casagrande deve passar a ouvir um a um os deputados. Ao fim dessa etapa, anunciará sua decisão. E o que pesará nela? Chegamos, aqui, ao ponto mais importante desta análise.

A sucessão estadual em 2026

Em primeiro lugar, pesarão os fatores de sempre: garantia de governabilidade, estabilidade institucional, tranquilidade na relação entre os Poderes. Se a isso se puderem agregar fatores políticos, como proximidade, lealdade e confiabilidade, tanto melhor. O candidato ideal é, antes de tudo, aquele que inspire no governo a certeza de que não terá de lidar, nos próximos dois anos, com sobressaltos vindos da Assembleia.

Mas esta é uma eleição diferente, pois precisamos sempre ter em mente: este é um momento diferente. Estamos praticamente à beira da sucessão de Casagrande no Governo do Estado e do fim do seu longo ciclo (12 anos, somando os três mandatos) no Palácio Anchieta. Todas as movimentações políticas do Estado, a partir de agora, giram em torno das eleições de 2026. Com a eleição da Mesa não é diferente. Será a última antes das próximas eleições gerais e da sucessão de Casagrande.

Por isso, aos “fatores de sempre”, enumerados acima, soma-se excepcionalmente aquele que, nesse contexto, vem a ser o mais importante para Casagrande e seu grupo no poder: o grau de comprometimento dos candidatos com o projeto político-eleitoral liderado pelo governador tendo em vista a própria sucessão no ano que vem. O Palácio Anchieta quer à frente da Assembleia alguém que esteja 100% comprometido com esse projeto de manutenção do poder no Espírito Santo.

E que projeto vem a ser esse, hoje, de maneira mais objetiva?

Em entrevistas concedidas no fim do ano passado, o próprio governador até citou outros nomes como potenciais candidatos à sua sucessão com seu apoio – Arnaldinho Borgo (Podemos), Sérgio Vidigal (PDT) e Euclério Sampaio (União), este último muito mais por deferência a um importante aliado.

Mas, por um conjunto de declarações, inclusive do próprio Casagrande, bem como uma soma de gestos, fica mais cristalino a cada dia: o governador e o grupo sob sua batuta possuem um Plano A, que atende por Ricardo Ferraço (MDB).

Como sabe a torcida inteira do Flamengo (e pode-se acrescentar a do Botafogo de Casagrande), o plano prioritário do governador para ele mesmo em 2026 é ser candidato a senador. Ele tem dito e repetido que pode também, perfeitamente, não ser candidato a nada e ficar no governo até o fim para “conduzir sua sucessão”, mas muito sinceramente? Se isso se concretizar, é porque algo terá dado muito errado, fugido muito do script traçado por eles.

Muito bem. Para Casagrande ser candidato a senador, terá de renunciar ao atual mandato até abril de 2026. Nesse caso, quem assumirá o cargo de governador? Ricardo Ferraço.

Investido do cargo, Ricardo se torna automaticamente o “candidato natural” à sucessão de Casagrande, conforme expressão usada pelo próprio governador. E assim realmente o será, até porque chegará ao período eleitoral de 2026 como o governador de fato e de direito, com legitimidade para pleitear a reeleição por mais quatro anos (e fazendo a “fila sucessória” andar mair rápido em 2030). “Ricardo tem de se preparar”, afirmou Casagrande em entrevista à Rádio BandNews, no fim do ano.

Atento ao “chamado”, Ricardo não se tem feito de rogado. A virada do ano parece ter marcado também uma virada de chave, no comportamento do vice-governador. Saindo da “bolha da Sedes”, mais ativo nas redes sociais, mais presente e falante ao lado de Casagrande em inúmeras cerimônias do governo, sobre os temas mais diversos, Ricardo parece ter adentrado o novo ano determinado a realizar a “marcha da viabilização”. Está fazendo sua parte para chegar competitivo em abril de 2026, dando a Casagrande a mínima tranquilidade necessária para levar adiante aquele “Plano A”.

Voltando à eleição da Assembleia…

E então tornamos à eleição da presidência da Assembleia. O que o governador está sopesando neste momento é: qual candidato me desperta a maior segurança de que estará 100% alinhado com esse projeto de eleger Ricardo?

Por esse prisma, a definição é, estrategicamente, fundamental: o escolhido será o presidente durante todo o processo eleitoral de 2026. Um presidente do Poder Legislativo que não apoie Ricardo e que eventualmente se volte contra o candidato governista pode se tornar um problema maiúsculo para o Palácio Anchieta e contribuir para melar seus planos. Pode gerar dificuldades políticas e institucionais para o governo, na iminência de um processo eleitoral. No limite, pode até fazer Casagrande se ver impelido a ficar no cargo.

O governador sabe bem disso, a partir de uma experiência vivida na pele há pouco mais de dez anos. Em 2014, era ele o candidato à reeleição, e o presidente da Assembleia era Theodorico Ferraço – por ironia, pai de Ricardo. Com a eleição batendo à porta, Ferraço, até então aliado de Casagrande, aproximou-se de Paulo Hartung, ajudando-o a desbancar o então governador.

Casagrande não quer correr nenhum risco desse tipo com o próximo presidente da Assembleia.

E aqui voltamos a Marcelo e a Vandinho, e à comparação de perfis, numa análise dos prós e contras de cada um, começando pelo atual presidente.

Marcelo Santos: as complicações

Ora, quanto aos “fatores de sempre”, não resta a menor dúvida de que, nos últimos dois anos, desde que levado por Casagrande à presidência da Assembleia, Marcelo soube bem retribuir, garantindo ao Palácio Anchieta estabilidade política e institucional no relacionamento com a Casa. Mais importante ainda: governabilidade. Sob a presidência de Marcelo, todo projeto vital para o governo Casagrande passou em plenário, passou bem, passou rápido e, não raro, passou com Marcelo passando o trator por cima sem a menor cerimônia (acelerando votações e até contagens de votos).

Restringindo a análise a esse campo, Marcelo foi um bom presidente para o governo Casagrande. Quem disser o contrário está mentindo. Isso é uma coisa.

O problema – ou melhor, a dificuldade para o próprio Marcelo – “está naquele fator excepcional”, justamente o que mais tem peso agora. Governabilidade: check. Estabilidade: check. Mas, quando entramos na coluna “compromisso com o projeto Ricardo”, a verdade é que o governo tem dúvidas, sérias dúvidas, com relação a Marcelo Santos, suscitadas pelo próprio devido a uma série de movimentos extra-Assembleia realizados por ele ao longo de 2024, nos terrenos político, partidário e eleitoral.

Aí é que ele pode se complicar.

É isso, apenas isso, que explica o fato de Marcelo, sendo aliado do governo e querido por todos os pares, não poder dizer que possui, a esta altura do processo, faltando menos de três semanas, uma reeleição tranquila e segura pela frente. É só isso que pode em tese lhe custar uma reeleição que, em qualquer outro contexto, estaria resolvida sem crise com bastante antecedência.

Marcelo, por um conjunto de movimentos próprios, inspirou dúvidas quanto à própria lealdade e ao nível do seu compromisso com a eleição de Ricardo (ou de quem quer que Casagrande apoie) em 2026. Ponto. Não dá para o negar.

O primeiro episódio ocorreu entre janeiro e fevereiro do ano passado, na sucessão de Sérgio Borges como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES). A vaga era da Assembleia, mas o candidato do Palácio Anchieta era o então chefe da Casa Civil, Davi Diniz. O acordo que conduziu Marcelo um ano antes à presidência da Ales passava por ele não se candidatar a essa vaga no tribunal.

Mas Marcelo esticou a corda, deixando correr a tese, defendida por deputados aliados, de que o conselheiro teria de ser um deles (o próprio Marcelo, no caso). Conselheiros do TCES chegaram a fazer lobby em favor do presidente da Assembleia, nos bastidores, até que este fechou acordo e declarou apoio a Davi Diniz.

O segundo episódio foi a tentativa de Marcelo tomar de Felipe Rigoni a presidência estadual do União Brasil, entre abril e julho, articulando-se diretamente com os caciques nacionais do partido em Brasília.

O avanço sobre o União, às vésperas do pleito municipal, só foi frustrado (ao menos temporariamente) por intervenção de Casagrande, que meteu o pé na porta junto a Antonio de Rueda e manteve o grande partido nas mãos de Rigoni, seu aliado e secretário do Meio Ambiente. Ninguém duvida que, passada a eleição da Assembleia, Marcelo possa fazer nova investida nesse sentido.

Aí veio o pleito municipal e, com ele, as maiores complicações. Alguns movimentos solo de Marcelo colidiram com o projeto eleitoral do governo Casagrande em cidades estratégicas, notadamente na Serra (onde Marcelo perdeu com Muribeca e o governo ganhou com Weverson) e, acima de tudo, em Vitória (onde Marcelo ganhou com Pazolini e o governo perdeu com Luiz Paulo e João Coser).

No topo de tudo isso, pesa o fato de que Marcelo, ao contrário de Vandinho, não tem relação estreita com Ricardo. Mais que isso: muito se comenta, a bocca chiusa, que o presidente da Assembleia expressava sérias dúvidas quanto à viabilidade eleitoral do vice-governador, até perto do fim do ano passado.

Uma jogada de Marcelo no início de setembro deu a exata dimensão de como ele mesmo já tinha àquela altura a convicção de não ser o “candidato natural” do governo Casagrande. Um projeto de resolução de sua autoria, aprovado a toque de caixa e sem a menor publicidade, mudou as regras da eleição da Mesa, passando o número de membros de uma chapa de sete para dez e obrigando todos os membros a votar na respectiva chapa. Para todos os efeitos, ficou a sensação de que Marcelo estava se precavendo, buscando se proteger e facilitar a própria reeleição. Em tese, o primeiro a construir uma chapa já estaria muito perto da vitória.

Foi exatamente aí que o governador entrou em cena, após ouvir Vandinho Leite. Rapidamente, antes que qualquer deputado pudesse assinar lista de apoio ou algo assim, mandou seu chefe da Casa Civil, Junior Abreu, espalhar a ordem do “modo estátua”: ninguém faz nenhum movimento até o governador se pronunciar. Todos parados até segunda ordem. E assim eles estão até o momento.

Bem, para convencer Casagrande então a renovar seu apoio a ele, o que precisa fazer Marcelo? Precisa, antes de mais nada, persuadi-lo de que, não obstante alguns desencontros e rotas desalinhadas em 2024, ele está fechado e não abre com o seu projeto eleitoral em 2026, garantindo apoio a Ricardo (ou a quem quer que venha a ser o candidato governista). Vale dizer: nada de levar o seu apoio ao polo que está sendo constituído por Pazolini, Paulo Hartung, entre outros.

Sabendo jogar o jogo e ciente dessa condição, Marcelo se apressou em fazer a devida “correção de rota”: no dia 11 de dezembro, aproveitou a coletiva de imprensa para renovar suas juras de lealdade a Casagrande. Afirmou categoricamente que estará no projeto de sucessão liderado pelo governador. Fez questão de dizer que seu apoio a Pazolini não foi além da disputa em Vitória: passada a eleição municipal, acabou seu compromisso com o prefeito. Sublinhou à exaustão a “estabilidade” proporcionada por ele ao governo.

Em suma, Marcelo deu toda a impressão de ter convocado a coletiva para transmitir recados principalmente a Renato Casagrande. Ato contínuo, seguiu para o Palácio Anchieta, onde foi recebido pelo próprio no tradicional almoço de fim de ano oferecido pelo governador aos deputados. Na ocasião, ao lado de Casagrande e de Ricardo e diante dos colegas, desdobrou-se em elogios ao vice-governador.

E quanto a Vandinho Leite?

Vandinho tem trabalhado, junto a Casagrande, exatamente com esses argumentos, que podem ser assim resumidos: o de ele que seria hoje, para o governo, a melhor alternativa, por ser um aliado bem mais confiável que Marcelo para presidir a Assembleia. Enquanto o atual presidente inspiraria dúvidas e suspeitas – pelos motivos expostos acima –, ele, ao contrário, teria total proximidade com Ricardo e, portanto, compromisso absoluto e inquestionável com o projeto eleitoral prioritário do governo.

Faz sentido, pois não há que se negar a proximidade entre ambos. Por algum tempo (quando Ricardo ainda era senador e entre 2020 e 2022), os dois foram colegas de partido no PSDB, presidido no Espírito Santo por Vandinho.

Um outro argumento favorável a Vandinho é que ele, ao contrário de Marcelo, ter-se-ia mantido governista apesar de ter sido preterido por Casagrande (traumaticamente) na eleição passada da Mesa. Por esse ângulo, enquanto Marcelo teria atraído desconfianças apesar do apoio do governo para chegar à presidência da Assembleia, Vandinho ter-se-ia provado leal apesar do não apoio.

Contrariamente a Vandinho, pesa o fato de que nem sempre foi assim… Após ter sido do PSB e feito parte do governo Casagrande I (2011-2014), como secretário de Esportes, Vandinho foi um dos principais deputados de oposição ao governador no início do governo Casagrande II (2019-2022). Entre 2019 e 2020, fez alguns pronunciamentos duríssimos contra a gestão de Casagrande, da tribuna da Assembleia. Depois, voltou a compor com ele.

Segundo um aliado de Vandinho, águas passadas, que não estão sendo usadas nem mesmo por Marcelo, até porque essa postura ficou no começo do mandato anterior e se deveu a insatisfações pontuais relativas a não atendimento partidário: ele queria mais espaços no governo e acabou contemplado.

O custo político para tirar Marcelo vs. o custo para mantê-lo

A favor de Marcelo, é preciso ainda ponderar um último fator: o “custo político” dessa eleição para Casagrande.

Pragmático que só ele, o governador sabe avaliar politicamente o custo-benefício de cada situação. Sempre busca o menor custo político e prefere, ao confronto, a conciliação de interesses.

Ora, tirar Marcelo da presidência implica um custo político muito alto, bem mais alto do que deixá-lo no comando da Casa.

No curto prazo, a opção mais cômoda para o governo, de engenharia política bem mais simples, é avalizar a permanência de Marcelo. Nesse caso, não é preciso fazer nada. Basta selar um bom acordo com ele, deixando-o onde está e tudo como está. De imediato, o custo é zero. Marcelo, se for apoiado, já estará em grande lucro. Não está em condições de exigir nada. E Vandinho, se for de novo preterido, vai poder exigir o quê? Será o “curso normal das coisas”.

O risco para o governo, nesse caso, poderá aparecer mais à frente. Para não ter trabalho agora, o governo terá de assumir o risco de eventual guinada de Marcelo…

Já se quiser tirar Marcelo e bancar a eleição de Vandinho, a engenharia é bem mais complexa.

Em primeiro lugar, Marcelo não aceitará placidamente perder a presidência e voltar a ser só mais um deputado em plenário, até porque tem altas pretensões eleitorais: quer ser deputado federal. Se perder o comando da Assembleia, perderá uma máquina política com orçamento de mais de R$ 200 milhões por ano até a próxima eleição. Terá de ser prodigamente contemplado e compensado – no mínimo, com uma secretaria de alta visibilidade, e não há muitas sobrando neste momento no governo Casagrande…

Do contrário, sem nada a perder, um cara influente como Marcelo, na condição de ex-presidente enjeitado e ejetado, ficará plenamente à vontade para se tornar um deputado independente e dirigir seu movimentos eleitorais para o polo em formação de Pazolini, Paulo Hartung e companhia E é aí que não terá mais nada mesmo que o impeça de tentar tomar a presidência do União Brasil, levando o grande partido para esse polo eleitoral que deve agregar Republicanos, PSD e (talvez) PP no Espírito Santo. Deixar Marcelo solto e insatisfeito é um risco grande para o governo Casagrande.

Além disso, há as centenas de comissionados mantidos na Assembleia, em cargos ligados à Mesa, por Marcelo e os deputados mais próximos a ele. Com um novo presidente, tudo isso muda, e muita gente perde. Sentindo-se igualmente contrariados, aliados de Marcelo que perderem espaço nessa “nova ordem” da Assembleia também podem criar problemas para o Executivo, despejando essa insatisfação em plenário, nas votações de interesse do governo.

Enfim, ao contrário da opção “manter Marcelo”, tirá-lo não é nada fácil. Tem um custo. E o custo é elevado.


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