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Coluna Vitor Vogas

Análise: o que explica a pré-candidatura da Cap. Estéfane em Vitória?

Para alguns, puro balão de ensaio de alguém que será mesmo é vereadora. Para os mais céticos, uma pretensão insustentável, fadada ao isolamento por falta de mínima estrutura. Para os entusiastas, uma candidatura que pode se sobrepor à de Luiz Paulo e ser interessante até para o Palácio Anchieta

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Capitã Estéfane entre o presidente estadual do Podemos, Gilson Daniel, e a presidente nacional, Renata Abreu. Foto: Assessoria do Podemos/ES

Das muitas pré-candidaturas lançadas ou ensaiadas desde o ano passado à Prefeitura de Vitória, nenhuma surpreendeu mais do que a da atual vice-prefeita, Capitã Estéfane. Filiada ao Podemos no limite do prazo para pré-candidatos se filiarem, na última sexta-feira (5), Estéfane foi ontem (9) a Brasília com o deputado federal Gilson Daniel, presidente estadual do partido, ao encontro de Renata Abreu, a presidente nacional, para anunciar a sua entrada na disputa pelo cargo atualmente ocupado pelo prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), notório desafeto dela.

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O lançamento da pré-candidatura da capitã da PMES era o segredo mais bem guardado pelo Podemos, por Gilson Daniel e pela própria Estéfane. Essa possibilidade já vinha sendo conversada entre eles há algum tempo, muito antes da filiação da vice-prefeita, consumada na sexta passada. O plano ganhou força de meados de fevereiro para cá, depois que outro oficial da PMES, o coronel Alexandre Ramalho, anunciou sua desfiliação do Podemos. Ramalho até então era a aposta do partido para disputar a Prefeitura de Vitória, mas decidiu entrar no PL para concorrer a prefeito de Vila Velha. Estéfane então passou a ser tratada a portas fechadas pelo Podemos como o plano B, a alternativa da sigla a Ramalho. A vice-prefeita já entrou no partido sabendo que seria lançada pré-candidata a prefeita da Capital. Ela não foi pega de surpresa, naturalmente.

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O mesmo não pode se dizer da maior parte do mercado político capixaba, incluindo alguns parceiros do Podemos, também integrados, como a sigla de Gilson Daniel, ao sistema partidário que gira em torno do governador Renato Casagrande (PSB).

Como explicar a inesperada pré-candidatura? E será ela realmente para valer ou não passará de um balão de ensaio? Para responder a tais perguntas, conversamos com fontes tanto do Podemos como de partidos aliados em Vitória. As respostas são muito divergentes. Atores do Podemos afirmam que a pré-candidatura não é blefe, enquanto muitos, incluindo aliados, não põem a menor fé nem na veracidade nem na sustentabilidade da pretensão.

Por que aliados do Podemos duvidam da candidatura de Estéfane?

Desde o mandato passado, o Podemos de Gilson Daniel faz parte do governo Casagrande e do movimento político liderado pelo governador no Espírito Santo. Especificamente, no processo eleitoral de Vitória, o partido caminha hoje muito próximo a outras agremiações de centro que, a priori, tendem a compor uma coligação eleitoral também de centro. Além do Podemos, essa frente em formação reúne o União Brasil, o MDB, o PSD, o PSB e o PSDB. Todos são aliados do governo Casagrande.

Nessa frente, já há três pré-candidatos a prefeito, representando os três últimos da lista: Gandini (PSD), Tyago Hoffmann (PSB) e Luiz Paulo (PSDB). Os três têm o pré-compromisso de afunilarem para uma só postulação que represente todo esse grupo, com o apoio dos outros dois que vierem a se retirar. Desse trio de pré-candidatos, o que parece mais sólido e determinado é Luiz Paulo. O ex-prefeito de Vitória até já fez evento de lançamento, no dia 1º de abril, na Assembleia Legislativa.

Pela voz de seu presidente estadual, Felipe Rigoni, o União já adiantou que ficará com Luiz Paulo. Comandado no Estado pelo vice-governador Ricardo Ferraço, um dos mais fiéis aliados de Casagrande, o MDB também tem maior propensão a apoiar Luiz Paulo, até por conta da excelente relação política entre o ex-prefeito e Ricardo, seu chefe até dia desses na Secretaria de Estado do Desenvolvimento (Sedes). Eis que de repente surge a pré-candidatura de Estéfane.

Mantendo um pé atrás, alguns integrantes desse frente duvidam da capacidade de sustentação dessa pré-candidatura do Podemos à Prefeitura de Vitória e a classificam como um balão de ensaio, por um motivo muito prático e singelo: se o Podemos, lá no “finalmente” (entre julho e agosto), decidir mesmo manter a candidatura de Estéfane a prefeita, o partido tende a ficar isolado no processo eleitoral. Simplesmente não terá estrutura para manter de pé uma candidatura majoritária.

Os atuais aliados, como assinalado acima, tenderão a marchar com Luiz Paulo ou quem quer que seja o candidato da frente. O Podemos pode até tentar convencer os partidos parceiros de que Estéfane pode ser exatamente essa candidata do grupo. Isso será muito difícil para alguém que acaba de se lançar candidata. Ela mal entrou nesse ônibus, enquanto Luiz Paulo já está sentado à janelinha, construindo a sua pré-candidatura desde meados do ano passado.

Outra hipótese é o Podemos tentar quebrar essa frente de centro em dois pedaços, deixando metade dos partidos do espólio com Luiz Paulo e levando a outra metade para fortalecer a candidatura de Estéfane. Isso também será muito difícil, pois, como vimos, o União já tem compromisso público de apoiar Luiz Paulo, enquanto o MDB, pelas mãos de Ricardo, e o PSB, pelas de Tyago Hoffmann e Casagrande, também tendem a seguir com o ex-prefeito. Restará ao Podemos o isolamento, se quiser mesmo bancar até o fim a candidatura de Estéfane.

Vozes dessa frente de centro afirmam que, embora o Podemos tenha total legitimidade para fazer seus próprios movimentos sem comunicar cada passo aos parceiros, o lançamento da pré-candidatura de Estéfane não foi combinado antes com eles. Quanto ao Palácio Anchieta, a informação apurada pela coluna é que o governador não estimulou esse movimento. Também no Palácio Anchieta a impressão é a de um balão de ensaio.

Por isso, a leitura de alguns parceiros do Podemos é a de que Estéfane, na hora da verdade, será mesmo candidata a vereadora – como chegamos a informar aqui. Seu lançamento a prefeita agora atenderia a dois objetivos. O primeiro, bom para o partido, é o de fortalecer o Podemos nas negociações eleitorais inclusive com o grupo de aliados elencados acima. O segundo, bom para ela mesma, é aumentar a sua visibilidade, trazendo-a de volta à cena a poucos meses da campanha. O espaço na mídia que a vice-prefeita ganha na reta final da pré-campanha como pré-candidata a prefeita pode ajudá-la, inclusive, numa candidatura a vereadora.

Já no Podemos, a conversa é bem diferente…

Para fontes do Podemos, em primeiro lugar, o partido considera e sempre considerou importante ter candidatura própria à Prefeitura da Capital. O que eles queriam era ter lançado Ramalho, mas esse trem já zarpou. Surgiu, então, o “Plano Estéfane”, que já vinha mantendo conversas sobre filiação com Gilson Daniel quando o Podemos sofreu a baixa do coronel. A vice de Pazolini passou então a ser enxergada como uma alternativa a Ramalho, e essa carta foi colocada na mesa de negociações com ela, que topou atuar na posição.

Segundo uma fonte do Podemos, pesquisas qualitativas obtidas pelo partido mostrariam certa dificuldade da pré-candidatura de Luiz Paulo em deslanchar. Esse é justamente o primeiro ponto em que o partido aposta: se, a partir do seu lançamento, Estéfane começar a crescer nas sondagens eleitorais e mostrar potencial de crescimento ainda maior, eles terão o melhor argumento para levar à mesa de negociação com os parceiros (PSDB, PSB, MDB, União, PSD) e buscar convencê-los de que ela tem condições, sim, mais até que o ex-prefeito tucano, de ser a candidata a prefeita dessa frente de centro. Se eles não se convencerem, o Podemos, afirma a mesma fonte, está disposto até a manter a candidatura dela mesmo assim, acreditando em sua competitividade.

Em todos os aspectos possíveis (físicos, biográficos, religioso, etário, étnico, biológico, ideológico etc.), Estéfane é quase um “perfeito oposto” de Luiz Paulo, a começar pelo mais aparente e evidente: ela é uma jovem mulher negra, de 33 anos, enquanto ele é um homem branco com o dobro da idade dela: 67 anos. De origem humilde, Estéfane nasceu em Minas Gerais, mas cresceu na região da Grande São Pedro, em Vitória, trabalhando como  manicure e atendente de telemarketing, antes de entrar na Polícia Militar, como soldado, aos 18 anos, e posteriormente tornar-se oficial.

É conservadora, de direita e evangélica até o último cacho de cabelo. Eleitora de Bolsonaro, chegou a “tietar” o então presidente, subindo no trio elétrico em que ele fez seu breve discurso na “Marcha para Jesus”, em Vitória, em 23 de julho de 2022. Luiz Paulo jamais faria isso: gosta de andar de moto como Bolsonaro, e é só. Passou longe do trio e da “marcha”. Três meses depois, Estéfane subiu ao palanque de Casagrande, no 2º turno contra Manato (PL), ao lado do próprio Luiz Paulo. O apoio a Casagrande é praticamente o único ponto em comum entre a atual vice-prefeita e o ex-prefeito. Uma visão crítica sobre a gestão Pazolini pode ser considerado o segundo.

É exatamente nesse perfil totalmente diferente que o Podemos está apostando. Vitória jamais teve uma candidata a prefeita com semelhante perfil, e “podemistas” acreditam que essa conjugação de características de Estéfane possa atrair eleitores de variados estratos, cada um deles identificado com um traço do perfil da candidata: mulheres, negros e negras, eleitores de baixa renda, evangélicos, conservadores, militares…

“Acreditamos que ela só não vá morder votos do João Coser [PT]. Mas ela pode morder votos, por exemplo, do Capitão Assumção [PL], pela questão do ‘militarismo’. Também poder morder votos do Pazolini, por ser conservadora, de direita, e porque as pessoas vão se lembrar da briga dele com ela, vitimada pelo prefeito”, formula um entusiasta da pré-candidatura da capitã.

Por esse ângulo, conseguindo realmente “morder” votos de Assumção e de Pazolini, eventual candidatura de Estéfane pode ser interessante até para o Palácio Anchieta. Se for de fato mais que um blefe e, em não sendo blefe, se conseguir ficar de pé.


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