Coluna Vitor Vogas
A secretaria a ser comandada por Cris Samorini no governo Pazolini 2
E mais: onde entra a vice-prefeita eleita na construção que agrega Paulo Hartung e Lorenzo Pazolini tendo em vista as eleições de 2026
Se não ocorrer um grande plot twist ou uma mudança radical de planos até o anúncio da nova equipe, já está definido o papel a ser exercido por Cristhine Samorini (PP) na próxima administração do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) em Vitória, adicionalmente ao de vice-prefeita. Para Cris, como é mais conhecida, está reservado o comando da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec). A pasta hoje é chefiada pelo secretário Luciano Forrechi. Em 2025, seu orçamento será de R$ 57,1 milhões.
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A Sedec é considerada uma pasta estratégica na estrutura da Prefeitura de Vitória. Basta pensarmos, por exemplo, na projeção alcançada pela então titular da secretaria, Lenise Loureiro, durante o governo de Luciano Rezende (Cidadania), antecessor de Pazolini, de 2013 a 2020.
Mais que um braço direito operacional de Luciano, Lenise, à frente da Sedec, chegou a ser a segunda figura daquela gestão municipal em proeminência, a ponto de ter sido a primeira escolha de Renato Casagrande (PSB) para ser sua candidata a vice-governadora na eleição estadual de 2018 – o que acabou não dando certo, fazendo com que Casagrande optasse no fim das contas por Jacqueline Moraes (PSB).
Ao tomar posse na próxima quarta-feira (1º) como vice-prefeita de Vitória, Cris Samorini exercerá o primeiro mandato eletivo de sua vida, estreando, assim, na vida pública. No pleito municipal deste ano, ela debutou em disputas eleitorais. Acumular o exercício do cargo de vice-prefeita com o comando de uma secretaria destacada é algo condizente não só com o perfil de Cris (que não teria entrado nessa para ser “decorativa”), mas também com os planos do grupo de Pazolini para ela, conferindo-lhe maior projeção política.
As funções de vice-prefeita, convenhamos, são meramente institucionais e nem um pouco “executivas”. Conforme a atual ocupante do cargo, Capitã Estéfane (Podemos), chegou a se queixar publicamente, o vice ou a vice-prefeita de Vitória não tem direito nem sequer a uma estrutura própria de trabalho, com garantia de um corpo de assessores para auxiliá-la no dia a dia. Não existe essa previsão legal.
Na prática, o espaço e a estrutura dispensados à vice ficam a critério do prefeito. E, como a experiência do atual mandato também tratou de provar, se o prefeito assim quiser, a vice pode ser escanteada, ficando sem participação alguma no dia a dia da gestão nem voz ativa nas decisões do Executivo.
Se fosse “apenas vice”, Cris certamente teria mais espaço na próxima gestão do que foi dado, na atual, à Capitã Estéfane, haja vista os acordos pré-eleitorais firmados entre ela, Pazolini e os respectivos partidos, Republicanos e PP. Mas, com ela à frente da Sedec, seu espaço será seguramente maior.
É possível traçar um paralelo, por exemplo, com o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). No Governo do Estado, às atribuições institucionais como vice, Ricardo alia o comando da Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes), desde o início do atual governo Casagrande . Guardadas as devidas proporções, é só trocar Estado por Capital e o s no fim de “Sedes” pelo c no fim de “Sedec”. Até porque, assim como Ricardo, Cris pode vir a assumir o lugar do chefe em cerca de 15 meses.
A visibilidade de Cris
Aos 46 anos, completados no dia da eleição, Cris vem do mundo empresarial – especificamente, do setor gráfico. Por quatro anos, de 2020 a 2024, presidiu a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), tendo sido a primeira mulher na história a chefiar a entidade fundada em 1958. Como ex-presidente, ela é considerada presidente emérita da federação.
Em 25 de julho deste ano, Cris passou o bastão ao aliado e sucessor, Paulo Baraona – eleito três meses antes, como candidato único –, em ótimo timing: vinte dias depois, em 14 de agosto, ela foi anunciada por Pazolini como sua companheira de chapa na eleição à Prefeitura de Vitória. Para viabilizar a candidatura, a empresária trocou o Republicanos, partido de Pazolini, pelo Progressistas (PP), no início de abril.
No dia 6 de outubro, ao lado de Pazolini, Cris elegeu-se vice-prefeita, no 1º turno. A locução adverbial de lugar, neste caso, pode ser tomada ao pé da letra. Quase sempre literalmente “ao lado de Pazolini”, ela foi uma candidata a vice bastante presente e atuante na campanha, acompanhando-o em muitas atividades de rua e eventos eleitorais, além de aparecer constantemente, com o candidato a prefeito ou sozinha, na propaganda de rádio e TV de Pazolini.
Essa grande visibilidade dada a Cris pela equipe de campanha de Pazolini se intensificou após a vitória eleitoral. Ainda na condição de “vice-prefeita eleita”, ou “futura vice-prefeita”, a empresária passou a se portar e a ser tratada internamente como se já fosse a vice-prefeita de fato. A de direito, vale lembrar, ainda é a Capitã Estéfane, e assim será até a próxima terça-feira (31).
Na prática, Cris já preencheu internamente o espaço de nº 2 na cadeia de comando – espaço esse, logicamente, concedido pelo próprio Pazolini, com quem exibe grande entrosamento.
Desde meados de outubro, Cris tem participado de uma maratona de agendas externas e internas com o prefeito. Além disso, foi designada para coordenar uma insólita Comissão de Transição. O “insólito” está no fato de que o prefeito seguirá sendo o mesmo. Para além de questões técnicas, o objetivo da medida também foi conferir a Cris maior projeção política, antes mesmo da diplomação e da posse.
O lugar de Cris Samorini na construção que agrega Pazolini e Hartung
Por que tamanha visibilidade?
Aí precisamos relembrar aquilo que já tantas vezes ressaltamos neste espaço: Pazolini está sendo lapidado por seu grupo político para ser candidato a governador em 2026. Tal grupo hoje reúne, principalmente, Republicanos e PP, com a possível adesão do PSD. Durante a campanha, sempre que indagado sobre isso, ele não excluiu a hipótese. Deixou-a em aberto.
Se o delegado licenciado for mesmo candidato ao Palácio Anchieta, terá de renunciar ao segundo mandato de prefeito até abril de 2026. Sua então vice-prefeita, ela, Cris Samorini, ascenderá ao cargo de prefeita. Governará por quase três anos e poderá buscar a reeleição em 2028.
Não é demais lembrar que esse grupo, ao qual pertencem Pazolini e agora Cris Samorini, não faz parte do mastodôntico movimento político estadual liderado pelo governador Renato Casagrande.
O grupo que hoje está no poder em Vitória, ao qual a vice eleita se agregou, se move de maneira independente do Palácio Anchieta – aliás, derrotou-o, com autoridade, nas últimas eleições na Capital. Quem tiver alguma dúvida sobre isso, leia aqui o que diz o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, sobre os planos político-eleitorais do partido conservador no Espírito Santo.
Ultimamente, também tem chamado atenção a proximidade do ex-governador Paulo Hartung com esse mesmo grupo, ora parecendo um aliado, incentivador e entusiasta de Pazolini, ora parecendo mais um conselheiro ou mentor político.
No primeiro caso, por exemplo, tão logo foi confirmada matematicamente a vitória de Pazolini no 1º turno, na noite de 6 de outubro, Hartung fez um post no Instagram registrando sua “alegria” com a reeleição do prefeito e atribuindo ao fato um sentido maior: “Se consolida uma nova liderança no Espírito Santo”. Sublinhe-se: “no Espírito Santo”.
No segundo caso, um bom exemplo foi fornecido pela própria Cris. Na manhã do dia 14 de novembro, ela reuniu-se com Hartung em local simbólico – a sede da Findes – e postou a foto do encontro em seus stories, enaltecendo os ensinamentos recebidos de Hartung: “Sempre um grande aprendizado”.
Por um conjunto de sinais emitidos por ele próprio, o ex-governador está preparando sua volta à vida pública e ao cenário político-eleitoral do Espírito Santo, após um longo período sabático, que completa seis anos na próxima quarta-feira (1º). Desde que encerrou seu último governo, no fim de 2018, ele não disputou nenhum cargo eletivo e tem se dedicado à iniciativa privada (como presidente da Ibá e membro do Conselho de Administração da mineradora Vale).
Durante esse tempo, quando falou, escreveu e opinou sobre questões políticas, ateve-se a pautas nacionais. Pouco participou de questões políticas locais. E, pelo menos de público, quase nada falou sobre a agenda política do Espírito Santo. Agora, isso começa a mudar.
No último sábado (28), o presidente nacional do Partido Social Democrático (PSD), Gilberto Kassab, confirmou, em um post no Instagram, que Hartung se filiará ao partido no próximo mês de abril, após encerrar seu mandato como conselheiro da Vale.
Pela sigla de centro-direita, Hartung é cotado para ser candidato a um destes dois cargos majoritários que estarão em disputa em 2026: ou a governador do Estado ou a senador da República. Nos dois casos, ele teria o apoio de Pazolini e do grupo do prefeito. A diferença fundamental é que, no segundo caso, se Hartung for candidato a senador por essa aliança, Pazolini é quem será o candidato a governador do mesmo grupo, com o apoio do ex-governador. Nesse caso, voltando a Cris, ela assumirá o cargo de prefeita de Vitória.
De todo modo, nessa construção, o que está se desenhando é uma possível coligação majoritária de partidos do centro para a direita em 2026 no Espírito Santo, formada por Republicanos, PP e PSD, com candidato próprio ao Governo do Estado (Pazolini ou Hartung) e ao Senado (Hartung ou outro nome).
É desse movimento que Cris participa, inicialmente como vice-prefeita de Vitória e secretária municipal de Desenvolvimento da Cidade e Habitação.
O que faz a Sedec
Em 2025, dos R$ 3,4 bilhões de receita total prevista no orçamento de Vitória, a Sedec receberá R$ 57,1 milhões.
A secretaria a ser dirigida por Cris planeja ações estratégicas que promovam os desenvolvimentos econômico e social de Vitória, a redução do deficit habitacional e a regularização fundiária.
A Sedec é responsável pela gestão urbana, realizando a análise de novos empreendimentos e a fiscalização de obras, calçadas e posturas. Além disso, a secretaria faz projetos que visam à mobilidade em um âmbito global e planeja projetos de revitalização dos imóveis históricos e do Centro de Vitória.
Outras atribuições são conceder licenciamentos para a realização de eventos de pequeno a grande porte na capital e acompanhar a evolução da ocupação urbana e a aplicação das normas urbanísticas dispostas no Plano Diretor Urbano (PDU).
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