O Gestor
Juarez Gustavo: o que a montanha ensina sobre limites e liderança
Juarez Gustavo, diretor executivo da Summit Planejamento Imobiliário, foi o convidado do podcast “O Gestor” e trouxe analogias entre subir o Everest e empreender

Juarez Gustavo foi o convidado. Foto: Reprodução/Youtube
O podcast “O Gestor”, apresentado por Bruno Rigamonti e Gabriel Feitosa, recebeu Juarez Gustavo, diretor executivo da Summit Planejamento Imobiliário. O podcast vai ao ar toda segunda-feira pelo youtube.
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O especialista na área de planejamento de estruturação de projetos imobiliários é o décimo brasileiro a completar o Projeto Sete Cumes e o 24º a fazer a subida do Monte Everest.
Início do montanhismo
- Juarez começou no montanhismo aos 30 anos, durante uma fase de questionamentos pessoais e profissionais. Nesse período, descobriu uma expedição ao Pico da Neblina, ponto mais alto do Brasil, em plena floresta amazônica.
- A viagem coincidiu com seu aniversário de 30 anos e marcou sua percepção sobre natureza e isolamento. Durante a expedição, conheceu uma pessoa que compartilhava histórias de trekking e mencionou a subida ao Kilimanjaro.
- Ao voltar da Amazônia, pesquisou sobre o Kilimanjaro e encontrou o Projeto Sete Cumes, que propõe escalar a montanha mais alta de cada continente. No entanto, a ideia parecia impossível física, técnica e financeiramente naquele momento.
- Mesmo assim, viu no Kilimanjaro uma possibilidade real de começar, por ser considerado o mais acessível do projeto. A partir daí, iniciou sua jornada nas montanhas, sempre com foco na próxima escalada. Ao todo, foram 21 anos para completar os Sete Cumes.
Não depender apenas de você
- A expedição ao Everest exige cerca de 60 dias, demandando planejamento intenso e de longo prazo. Como empresário, Juarez destaca que a preparação não envolve apenas o que vai ser enfrentado na montanha, mas também o que fica para trás.
- Ao chegar na montanha, o que pode tirar alguém da jornada são lesões ou doenças, que podem surgir não só por fatores externos, mas também pela forma como o corpo e a mente lidam com o estresse prolongado.
- A ansiedade, o medo e a pressão de 60 dias sob condições extremas são grandes desafios. O maior aprendizado, segundo Juarez, é lidar com o que não se pode controlar.
- Como empresário, Juarez associa a vivência nas montanhas com a ilusão de controle no mundo corporativo. Ele ressalta que o líder geralmente acredita que deve prever, antecipar e controlar todas as variáveis, mas isso é impossível.
- A montanha escancara essa realidade, ensinando a aceitar os limites e a imprevisibilidade. Reconhece que, até aprender isso, se erra e sofre muito, mas é parte do processo. Para alcançar o cume, é preciso passar por um momento de entrega, em que se reconhece: “Isso não depende de mim”.
Sob pressão extrema
- Juarez destaca que tomar decisões a grandes altitudes, como a 8.000 metros no Everest, é extremamente desafiador. Nessa altura, o chamado “ar rarefeito” afeta diretamente o funcionamento do cérebro, que exige muito oxigênio para operar bem. O resultado é um estado mental comparável à embriaguez, com um grande intervalo entre o pensamento e a ação.
- Esse efeito compromete a capacidade de julgamento e aumenta os riscos de erro — o que pode colocar em risco não só a própria vida, mas também a do time, da empresa e da carreira.
- Diante dessas condições, Juarez defende que decisões críticas devem ser tomadas com antecedência. Esse foi, inclusive, o tema de sua tese acadêmica: decisões inegociáveis precisam ser pré-estabelecidas.
- Um exemplo claro é o horário de descida do cume do Everest. Independentemente de ter chegado ao topo ou não, é preciso descer no horário planejado. O maior desafio é lidar com o conflito entre a perseverança — característica essencial ao sucesso — e a imprudência.
- Segundo ele, é nesse momento que a determinação pode se confundir com a irresponsabilidade, se não houver clareza prévia sobre os próprios limites.
Limites
- Ao refletir sobre o impulso de chegar ao cume da montanha, Juarez passou a considerar o que poderia funcionar como freio para essa busca. Para ele, essa lógica se aplica tanto à escalada quanto ao mundo empresarial.
- Na montanha, o limite é a segurança — ou seja, voltar vivo. Nos negócios, é o que garante a permanência no jogo. Segundo Juarez, o erro mais grave é “morrer no caminho”, seja literalmente ou simbolicamente, como a falência da empresa.
- Outro fator essencial é a ética, que envolve os valores pessoais e empresariais. Ele defende que o resultado precisa ser buscado com atenção ao caminho percorrido, às ferramentas utilizadas e à forma como se age.
- Mais do que chegar ao cume, importa com quem e como se chega — e principalmente, quem você se torna ao voltar. Juarez afirma que é com essa versão de si mesmo que cada um conviverá pelo resto da vida.
Enfrentar grandes desafios
- Para Juarez, encarar um grande desafio — seja ele uma montanha literal ou simbólica — inevitavelmente traz à tona verdades inconvenientes. Segundo ele, tudo aquilo que foi escondido “debaixo do tapete” aparece quando se está diante do que realmente assusta. A maior dessas verdades, geralmente, é o medo.
- O medo, explica Juarez, nem sempre é claro. Ele surge em camadas. No Everest, por exemplo, achava que temia a Cascata de Gelo de Khumbu, um dos trechos mais perigosos da montanha. Mas ao olhar mais fundo, percebeu que o medo real era fracassar ou ser julgado.
- Paralelo com o ambiente corporativo, Juarez vê nessa vivência uma analogia de exigência constante por resultados podendo levar a colapsos emocionais, como burnout, ou a consequências físicas.
Projeto de vida em família
- Juarez Gustavo acredita que grandes projetos — sejam profissionais ou de vida — só funcionam quando envolvem quem está ao nosso lado. Para ele, a família precisa estar junto nas escolhas importantes.
- Hoje, ao olhar para sua trajetória, o empresário vê que cada experiência — nas montanhas ou nos negócios — o ajudou a ajustar rotas e prioridades.
- Depois de cumprir um período de não competição, ele optou por sair do varejo imobiliário e focar naquilo que realmente o motiva: o planejamento estratégico e a estruturação de negócios.
- Essa nova etapa, segundo Juarez, reflete uma escolha consciente sobre onde investir tempo e energia.
- Hoje, ele atua em um segmento mais estratégico e personalizado, oferecendo soluções imobiliárias que respeitam o tempo e o contexto de cada cliente.
- Por isso, ouvir, compreender e respeitar o tempo de decisão se tornou parte central do seu método. Juarez explica que tempo e paciência são ativos escassos no mercado imobiliário, onde prazos e metas dominam o dia a dia.
Montanhas com os filhos
- Com todas as montanhas do mundo ao alcance, ele podia escolher qualquer destino e criar um novo projeto com total autonomia. A partir disso ele pensou no projeto Montanhas e Meninos com a ideia de escalar as 10 montanhas mais altas do Brasil junto com os filhos.
- “Eu não queria perder esse vínculo emocional”, conta Juarez. A solução foi convidá-los para subir montanhas juntos. Para sua surpresa, eles aceitaram — e gostaram. Assim como nos Sete Cumes, uma montanha foi puxando a outra.
- Mais do que o desafio esportivo, o projeto cumpriu seu papel principal: manter o vínculo afetivo entre pai e filhos e criar memórias que vão durar a vida toda. “Eu pensava: que lembrança eu gostaria que meus filhos tivessem de mim? E concluí que o pai da montanha era mais legal que o pai da planície”
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