Coluna João Gualberto
Coluna João Gualberto | A eleição presidencial de 2026
As eleições presidenciais 2026 redefinem alianças: direita oscila entre trumpismo e novas figuras, enquanto a esquerda capitaliza discurso nacionalista. Cenário ainda em ebulição
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O alinhamento entre apoiadores de Bolsonaro e Trump ganha destaque no cenário pré-eleições presidenciais 2026, enquanto a direita busca renovação com figuras como Nikolas Ferreira. Foto: Reprodução
Passadas as escolhas dos presidentes do Senado e da Câmara Federal, o movimento da política nacional começa a se dar, a partir de agora, em função das eleições nacionais do ano que vem, sobretudo as presidenciais, e seus desdobramentos regionais. É claro que vários fatos importantes vêm acontecendo desde o final do ano passado, mas é agora que eles se tornam mais explícitos e mais visíveis para todos.
Novidades se apresentam mais claramente neste início de ano político. A primeira delas é internacional e decorre do alinhamento da direita brasileira com o novo presidente dos EUA, Donald Trump, e suas consequências para nossa política. A cúpula do bolsonarismo estava em peso em sua posse, demonstrando alinhamento, com exceção do próprio Bolsonaro, que não pôde viajar por imposição do STF. Produziu, entretanto, cenas cheias de emoções e sentimentos na despedida da esposa no aeroporto, onde quase chegou às lágrimas, para mostrar ao seu público o quanto lastimava não poder viajar. Bolsonarismo e trumpismo bebem na mesma fonte.
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A expectativa dos conservadores brasileiros é a de que a nova gestão vai produzir efeitos positivos na direita mundial, e consequentemente na brasileira, aumentando em especial o seu poder eleitoral. Entretanto, as medidas que Trump vem tomando parecem ter impacto não só positivos aqui, porque elas podem afetar os interesses brasileiros no campo econômico. Isso ainda não está totalmente claro, porque ainda não foram adotadas tais medidas, mas parece evidente que essa lógica de imposição da força através da taxação de produtos a serem importados do Brasil está por vir. Nada sinaliza que será diferente em o nosso país, diante do que já está acontecendo em outros. Daí a mudança de comportamento de algumas lideranças da nossa direita, pois esse tipo de ação protecionista pode afetar perigosamente setores gigantes da nossa economia, causando significativos transtornos regionais e setoriais.
Como registrou com argúcia o estudioso das redes sociais Sérgio Denicoli em artigo publicado no Estadão recentemente, o bolsonarismo fez esforços para importar a estética do trumpismo. Isso pode acabar por criar uma imagem de subserviência a um projeto político estrangeiro, que vê o Brasil de forma inferiorizada e dependente. O patriotismo que era ostentado em verde-amarelo nas manifestações de rua da direita sai agora de cena para dar espaço a uma espécie de veneração a outro país que, por sua vez, nos prejudica. Esse é ponto.
Analisa Denicoli que, curiosamente, a esquerda tem sabido capitalizar essa brecha, apresentando-se como defensora dos interesses do país. Assim preconiza a estampa do boné azul com a inscrição “O Brasil é dos brasileiros” usado por Lula, seus ministros e aliados, como forma de buscar aproximação com os moderados, que serão a força decisiva nas próximas eleições. Esse é um dos movimentos que afetarão a nossa política agora, por isso precisam ser acompanhados de perto.
Existe também uma movimentação interna muito intensa na nossa direita, produto de outros fatores além desse, que parecem levar a um certo envelhecimento das lideranças muito próximas a Bolsonaro. É o que se deduz de uma pesquisa da Genial/Quaest publicada nos primeiros dias de fevereiro. Ela aponta para uma liderança esperada do presidente Lula na corrida eleitoral de 2026, mas também um surpreendente posicionamento tanto de Gustavo Lima como de Pablo Marçal que aparecem do mesmo tamanho do governador Tarcísio de Freitas ou do deputado Eduardo Bolsonaro. Isso mostra uma grande migração de votos do bolsonarismo tradicional para novas lideranças mais distantes das narrativas de sustentação de uma ditadura militar ou de atos de força. Crescem novos atores e outros mais antigos começam a reduzir sua força.
Os brasileiros mais jovens não gostam do sistema político. São mesmo antissistema. Nesse ponto, parecem mais preocupados com seu próprio destino, com empreender, por exemplo, do que com gestões que remetem ao passado, a comportamentos masculinos tóxicos. Essa nova onda certamente vai emparedar as lideranças que saíram vitoriosas das eleições de 2018, envelhecendo muito rapidamente suas narrativas. A direita que parece que vai ganhar protagonismo tem Nikolas Ferreira e Pablo Marçal como ícones, além de um novo entrante, que é Gusttavo Lima. São ainda magmas de um vulcão em erupção que vão se cristalizar ao longo do processo, e podem produzir um presidente hoje inesperado.
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