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Coluna Inovação

Indústria é tech, indústria é pop, indústria é tudo

Enquanto o apagão de engenheiros estrangula a inovação, a indústria brasileira busca soluções urgentes para evitar o colapso no desenvolvimento econômico

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Robótica, siderurgia, logística: setores críticos travados pelo apagão de engenheiros no Brasil. Foto: Freepik

Robótica, siderurgia, logística: setores críticos travados pelo apagão de engenheiros no Brasil. Foto: Freepik

Chegamos ao fundo do poço na falta de engenheiros no país. A curva da formação de engenheiros tem que achar logo seu ponto de inflexão. Mário Henrique Simonsen dizia que a inflação aleija, mas o câmbio mata. Vou me permitir usar analogia semelhante para dizer que apagão de mão de obra em geral aleija, mas o apagão de engenheiros mata. Mata a capacidade do país de se desenvolver, de criar produtos competitivos, de multiplicar empregos de alto nível. Inovação tecnológica não é sinônimo de startup. Tem muita inovação que vem da engenharia. Os EUA e o Japão têm 25 engenheiros para cada mil trabalhadores e a França, 15 por mil. O Brasil tem 9 engenheiros para cada mil trabalhadores. Isso por enquanto, porque o fechamento de cursos de engenharia e a evasão matam o que resta. Coréia do Sul e Estados Unidos formam 20 vezes mais engenheiros que advogados.

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No Brasil, a proporção de graduados de Engenharia versus Direito era de 1,3 em 2018. Salva-se a engenharia de software, ilusão de que é a única engenharia ligada ao futuro. Não é. Um robô para dar saltos e cambalhotas como vemos na internet precisa de muita mecânica. O que seria um carro autônomo sem engenheiros mecânicos? Uma linha de transmissão de energia para a transição energética precisa de engenheiros eletricistas, uma rede de satélites precisa de engenheiros de telecomunicações, uma fábrica de computadores precisa de engenheiros de hardware. Engenheiros de transportes são fundamentais para o tão necessário crescimento da malha logística do país. Como pretender ter uma indústria naval sem engenheiros navais? A Embraer só existe devido à competente formação de engenheiros aeronáuticos no ITA. A indústria do aço precisa da engenharia de materiais para desenvolver novos tipos de aço. E tem a engenharia de minas, a fundamental engenharia ambiental, a de produção e mais algumas. Vamos depender de importação por falta de engenheiros?

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O Espírito Santo é hoje o quinto estado mais industrializado do país. O segmento industrial representa 29,7% da participação no PIB capixaba. O Estado possui mais de 20,4 mil indústrias, que geram quase 272 mil empregos formais diretos. Precisamos de engenharia na siderurgia, mineração, celulose e em todas as indústrias, inclusive na agroindústria. Podemos ser referência na utilização do aço na construção, considerando a presença de uma ArcelorMittal por aqui, mas também toda essa rede de fornecedores que usa o aço como a Cedisa, a RDG,  a Brametal, a Perfilados Rio Doce, Sampaio e mais uma porção de gente. O crescimento da rede logística de galpões para atender o explosivo comércio eletrônico pode usar aço. E muito mais pode acontecer com a implantação do Laminador de Tiras a Frio, sob ameaça da importação chinesa subsidiada na origem.

Mas como desenvolver isso tudo sem engenheiros? O Brasil carece de puxar isso da base. Precisa de focar na educação STEM(Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática) para despertar o interesse pela engenharia. O nosso fundo soberano poderia separar um pedaço para esse apoio à formação de engenheiros. A abertura recente de um fundo para descarbonização precisa mostrar que provavelmente quem vai mais provocar impacto nessa área é a indústria. A descarbonização do setor de energia do Brasil exigirá investimento de mais de US$ 1,3 trilhão em soluções com baixa emissão de carbono durante o período de 2024 a 2050, incluindo US$ 500 bilhões em fontes renováveis, estima relatório da Bloomberg.

Se o agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo, é porque soube investir em gente e tecnologia e soube vender adequadamente essa tese aproveitando as vantagens comparativas do Brasil, porém com muito trabalho, com a agroindústria e com equipamentos produzidos pela indústria.  Vantagem comparativa na indústria pode ser criada com esforço, foco, inteligência e muita engenharia.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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