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Coluna Inovação | Falta gente para trabalhar nas empresas

Dados do IBGE e evasão em cursos técnicos expõem a falta mão de obra qualificada no país, pressionando empresas a buscar automação enquanto governos falham em políticas educacionais e inclusivas

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Falta de mão de obra qualificada. Foto: Freepik

Falta de mão de obra qualificada. Foto: Freepik

Não há reunião empresarial, em qualquer setor, em que não haja a constatação e reclamação da falta de trabalhadores. Pode ser na indústria, comércio, agronegócio ou serviços. Além disso, os que conseguem contratar reclamam da falta de comprometimento ou falta de preparo. As tentativas de explicar a situação são variadas. Muitos não querem mais a disciplina de trabalho diário, com horário. Preferem a informalidade com horário mais livre e sem imposto. Os dados apontam que os chamados trabalhadores “plataformizados” já representam 2,4% da força de trabalho brasileira. Pela primeira vez, o IBGE fez um levantamento dos brasileiros que trabalham para aplicativos. E encontrou 2,1 milhões de trabalhadores que obtêm sua principal fonte de renda nessas plataformas. Só o iFood aponta que o aplicativo teve 537,9 mil pessoas cadastradas como entregadores.

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Um grande problema é que apenas 35,7% dos profissionais que prestam serviços por aplicativo contribuem para a Previdência Social, patamar bem abaixo dos 61,3% registrado entre os demais trabalhadores brasileiros, formais e informais, do setor privado. Quem sustentará a velhice deles? Certamente todos os que pagam impostos.

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E a tecnologia que promete entregas por drones e veículos autônomos nos próximos anos, como impactará esses trabalhadores? Falta gente de um lado e vai sobrar de outro em algum tempo. E não é só lá. O setor de call center no Brasil tem cerca de 1,62 milhão de funcionários, incluindo operadores, supervisores, coordenadores e gerentes. A inteligência artificial será devastadora para o setor. Chat bots muito mais inteligentes que os atuais operarão 24/7 conversando como gente grande, entendendo o que queremos e dando solução. A IA promete acabar até com os próprios programadores – em breve.

Ao mesmo tempo, em 2024, o número de jovens “nem-nem”, que nem estudam, nem trabalham no Brasil era de 10,3 milhões, o que corresponde a 21,2% da população dessa faixa etária. Nesse número estão as adolescentes que engravidam, sem a informação que deveria ser dada nas escolas e nas famílias, os jovens recrutados pelo tráfico em comunidades onde o poder público não tem acesso e os que abandonam escolas precárias que não ensinam. Fora do mercado estão também as mães em geral sem acesso a creches e as mulheres que dedicam a vida a cuidar de idosos ou pessoas incapacitadas da família, sem apoio do estado.

Alguns trabalhadores evitam a contratação formal por medo de perder a Bolsa família, outros se acreditam capazes de empreender, outros dedicam o tempo se preparando para concursos públicos.

Há situações caricatas da chamada geração Z. Recentemente foi divulgado o caso de uma jovem que começou a trabalhar às 8 horas da manhã e pediu demissão às 9 porque a empresa não permitia o uso de celular.

No Espírito Santo, com a disparada do preço do café, faltam pedreiros, eletricistas, pintores ou padeiros que correm para ganhar muito mais com a colheita do café. A constatação para essas profissões também mostra que os filhos não querem seguir a carreira dos pais. Mesmo assim, faltam trabalhadores na agricultura em geral. O número de trabalhadores empregados no setor agrícola encolheu 16% entre 2012 e 2021 nacionalmente.

Qual a saída para as empresas? Alguns afirmam que o problema é que os empresários não querem pagar salários melhores. Muitos pagariam se pudessem repassar esse custo, mas o mercado comprador não aceita. A solução acaba sendo tecnologia, inovação e automação. Aí o problema é outro. Falta a competência técnica. O índice de evasão da educação superior no Brasil chega a 57,2% entre redes pública, privada e ensino presencial e a distância (EaD). Em 2023/2024, a taxa de evasão nos cursos de engenharia variou entre 25% e 80%. Nas instituições públicas, a taxa está entre 25% e 30%. Nas privadas varia de 40% a 50%. No ensino a distância (EaD), a taxa pode chegar a 80%. Vários são os motivos, mas a falta de base no ensino fundamental, principalmente a matemática, é uma explicação óbvia para os cursos de engenharia, fundamentais para a convivência com a velocidade da tecnologia.

O que vai acontecer com esse quadro no futuro? Todos vão trabalhar menos horas por semana? Haverá uma grande massa de inúteis como diz Yuval Harari? O problema da falta de gente agora para as empresas é grave, complexo, cheio de nuances e exige uma atenção especial dos governos federal, estaduais e municipais. O futuro é o próximo problema – e cada vez mais perto.
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Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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