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Coluna André Andrès

Vinhos de ‘terras estranhas’ invadem o mercado

Ganham cada vez mais espaço, nas lojas e sites, rótulos vinhos de países menos tradicionais quando se fala na produção mundial de vinhos

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Vinhos de ‘terras estranhas’ invadem o mercado. Foto: @wavebreakmedia_micro/Freepik

Um verso muito conhecido de Caetano Veloso é, normalmente, entendido de forma equivocada. Ele aparece lá pela metade de “Sampa”: “À mente apavora o que ainda não é mesmo velho”. Na maioria das vezes, a crase passa despercebida e a frase fica assim: “A mente apavora o que ainda não é mesmo velho”. É um equívoco brutal, porque, dessa forma, a mente estaria provocando pavor em algo. A crase é fundamental. Aliás, neste caso, é uma aula sobre como usá-la. A intenção é mostrar como “o que ainda não é mesmo velho” (ou seja, algo novo) traz pavor “à mente”. As novidades realmente assustam. E, ao mesmo tempo, podem ser fascinantes. O universo do vinho fascina porque é um convite constante a novas experiências. Mas mesmo num mundo tomado pelas novidades, alguns rótulos causam uma estranheza inicial, com toques de desconfiança, até a garrafa ser aberta e o vinho, provado. Aí, a mente se abre para um novo prazer…

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Isso tem acontecido com brancos e tintos vindos de terras pouco tradicionais quando se fala em produção vinícola. Eles chegaram de forma tímida, chamando a atenção pela beleza exótica dos rótulos e pelo fato de terem vindo de países como Moldávia, Bulgária, Romênia, Geórgia e outras regiões produtoras do Leste Europeu (não, não se tem notícia de rótulos vindos da Eslováquia. Pelo menos até esse momento, não…). Aos poucos, foram ganhando espaço em degustações e também nas prateleiras dos pontos de venda. Logo a seguir, vieram os influenciadores digitais, falando de uvas de nomes estranhos, como Melnik ou Saperavi. E a combinação de exotismo da região, beleza dos rótulos e, principalmente, boa qualidade dos caldos acabou ganhando espaço considerável no mercado.

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A maioria dos rótulos hoje no mercado é formada por tintos capazes de agradar o paladar. São vinhos fáceis de beber. Sem acidez acentuada, equilibrados, alguns com um toque adocicado, eles acabam compondo bem o cenário na hora da degustação. Porque a incerteza inicial é substituída pela surpresa de se estar bebendo um vinho avaliado, por muitos degustadores após a prova, como cativante. E o fato de ele ter vindo de “terras estranhas” passa a ser uma qualidade. É a mente se acostumando com aquilo que já não é mais velho. E o corpo experimentando um novo prazer…

ATÉ R$ 100

Puklavec & Friends Rosé de Pinot Noir. Foto: Divulgação

Puklavec & Friends Rosé de Pinot Noir. Foto: Divulgação

Puklavec & Friends Rosé de Pinot Noir
Feitos na Eslovênia, os vinhos da Puklavec foram, talvez, os desbravadores dessa leva de rótulos vindos do leste europeu. Chegaram por aqui pouco antes da pandemia, e fizeram sucesso por conta de sua variedade. Os brancos têm boa qualidade e, talvez por isso, passaram a ser um pouco mais difíceis de serem encontrados. Como diz o rótulo, a casta usada, neste caso, é a conhecidíssimas Pinot Noir. Vale pelo pioneirismo do vinho. E, também, por ser um rosé leve e fácil de beber.

ATÉ R$ 150

Georgian Sun Saperavi. Foto: Divulgação


Georgian Sun Saperavi

Vinho produzido na Geórgia, numa região apontada como berços da viticultura. Há registros de produção de vinho nessa área, entre Europa e Ásia, de mais de 8.000 anos antes de Cristo. Saperavi também está nas relações das castas mais antigas usadas pelo homem para a produção de tintos. É uma uva capaz de render vinhos encorpados, escuros, estruturados, com boa capacidade de envelhecimento. Neste caso, o mosto passou quatro meses em barrica. Esse período acentuou as características da casta, com o surgimento de muitas notas de frutas vermelhas.

ATÉ R$ 170

Imperial Vin Reserve. Foto: Divulgação

Imperial Vin Reserve. Foto: Divulgação

Imperial Vin Reserve
O vinho tem feito sucesso por aqui. Note seu rótulo. Ele traz uma ânfora de barro. É uma referência ao sistema de produção, chamado “qvevri”, comum no leste europeu. São grandes ânforas de barro enterradas no solo, onde as uvas e o mosto são fermentados e envelhecidos. O Imperial é produzido na Moldávia com a Cabernet Sauvignon. Passa por estágio de 12 meses em barrica de carvalho francês. Apresenta notas de muita fruta vermelha e toques de especiarias.

Logodaj Melnik 55

Logodaj Melnik 55. Foto: Divulgação

Logodaj Melnik 55. Foto: Divulgação

O nome oficial da casta é Siroka Melniska. Mas ela é mais conhecida por Melnik em seu país de origem, a Bulgária. Há quem garanta ser esta uma das castas preferidas por Winston Churchill, um hipermaratonista quando se fala de vinhos, champanhes e outras muitas bebidas. Voltando ao tinto produzido pela vinícola Logodaj, ele passou oito meses por barricas de carvalho francês e mais oito em garrafa antes de chegar ao mercado. Vinho estruturado, corpulento. Merece ser decantado para mostrar todas as suas qualidades.

ATÉ R$ 300
Dracula Dominion Merlot DOC

Dracula Dominion Merlot DOC. Foto: Divulgação


Sim, estamos falando dele, o príncipe Vlad Tepes (Vlad III), ou Vlad Drácula. Vlad nasceu em 1431 e governou com enorme crueldade grande parte do território correspondente à atual Romênia, onde é produzido esse Merlot. (Só por curiosidade: ‘Dracula’ é diminutivo de ‘Dracul’. O príncipe recebeu essa denominação por conta do pai, Vlad ‘Dracul’. Vlad era chamado de ‘Dracul’ devido à sua ligação com a ordem de cavaleiros conhecida como Ordem do Dragão. Dragão em romeno é ‘drac’. E a mesma palavra é usada para definir o diabo…). O vinho é produzido pela enóloga Aurelia Visinescu, uma  das principais figuras da vinicultura romena. Parte dele (40%) passa entre três a quatro meses em barricas de carvalho francês e americano. É um tinto redondo, macio, estruturado e muito carnudo, bastante gostoso. Dos melhores dessa safra de ‘invasores’. E não tem nada de terrível, como pode sugerir o seu nome…

Alguns dos locais onde esses vinhos podem ser encontrados: Domus Itálica, Wine Vix, Uvino (site).


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

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