Personagens
Pedreira capixaba constrói casas e precisa vencer preconceito até de mulheres
“Matando um leão por dia”, é assim que Giane define sua rotina. Com bom-humor, disposição e orgulho a autônoma prova que esses são o segredos da vida
Trabalhar em uma obra não é uma missão fácil. Visto como um ambiente bruto, muitas vezes esse trabalho é associado a homens, mas isso está mudando. Cada vez mais mulheres estão ocupando esses espaços, e nesta quarta-feira (08), Dia Internacional da Mulher, a pedreira Giane Hermisdolfh, de 41 anos, prova que de pouco a pouca as mulheres conquistam a possibilidade de trabalharem onde elas quiserem.
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Moradora do bairro Estrelinha, em Vitória, ela está no ramo da construção civil desde seus 25 anos. “Matando um leão por dia”, como ela define, Giane começou a colocar a ‘mão na massa’ quando morou nos Estados Unidos. No país norte-americano, ela trabalhou com revestimentos em uma construtora. E ao voltar para o Brasil, começou a trabalhar com reformas em geral, desde acabamentos, como instalação de porcelanatos, cerâmicas, instalação de bancadas e pinturas.
Com anos de experiência, Giane confessa já ter ouvido e passado por diversas situações de preconceitos. E perto do Dia Internacional da Mulher, a pedreira relata ter sofrido um episódio de discriminação nesta segunda-feira (06). “Outro profissional chegou na obra – acredito que nunca tinha visto uma mulher trabalhando – e me disse que tinha que nascer pra ver uma mulher na obra”, conta. Mas sempre com bom-humor, ela diz levar essas situações na esportiva, pois a admiração que recebe ganha do pré julgamento.
No entanto, Giane não está sozinha. Apesar de ainda ser minoria, a presença feminina na construção civil cresceu em 120% nos últimos anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2018, no Brasil o número subiu de 109.006 trabalhadoras registradas para 239.242.
A capixaba analisa como é ser mulher em uma profissão ainda tão masculinizada. Ela descreve as situações de preconceito que acontecem nas obras, mas a forma como lida com os comentários machistas são o que fazem a diferença no seu dia a dia. Giane aprendeu a passar por cima das dificuldades. “Geralmente o preconceito vem de homens que também trabalham no ramo, não dos clientes, tenho até fila de espera para fazer os serviços”, revela.
Ela lembra de um episódio que a marcou. Enquanto estava trabalhando em uma reforma de um apartamento, a arquiteta ignorava suas perguntas referentes ao projeto. “Quando ela me conheceu ficou ignorando as perguntas que eu fazia sobre o projeto de reforma, mas no final de tudo, ela acabou me indicando para clientes e ainda perguntou onde eu tinha aprendido tantas coisas sobre a construção”, relata.
E, se por um lado existem as dificuldades, por outro, o orgulho e amor pela ocupação são maiores. A autônoma diz não se enxergar trabalhando com outro ofício, cada reforma feita é um pedaço de sua história e suor, são suas obras de arte. Sua preocupação com cada detalhe a faz ser destacar nas empreitadas.
Giane dribla não só as atividades em seu trabalho, mas também em sua vida pessoal e seus medos. Com duas filhas de 11 e 16 anos, a pedreira se viu tendo de conciliar os afazeres domésticos, horário escolar e sua ocupação. E a ajuda das filhas foi crucial para dar conta de tantas tarefas. Além disso, ela também lida com as dores de ser mulher. Em seus dias de cólica, ela tem de passar por cima da dor, erguer a cabeça e continuar a pegar o peso dos azulejos e tijolos.
A pedreira acredita que com o passar do tempo a aceitação falará mais alto que o preconceito. E para aquelas mulheres interessadas nesse ramo, Giane aconselha a não ter medo da discriminação. “Não conheço pessoalmente mulheres que trabalham nesse ramo, mas, às vezes, fazer faxina é tão pesado quanto trabalhar em construção. Conseguimos fazer de tudo, podemos ser pedreiras, serventes e tocar obras sozinhas”.
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