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Excepcionais, sim. Super-humanos, não. Como funciona o corpo de um atleta olímpico
Superação dos limites está associada ao comprometimento dos atletas. Mas anos de treinamento deixam marcas em seus corpos
Para um atleta de alto rendimento, o brilho de uma medalha olímpica é sinal de objetivo cumprido. Subir ao pódio é o último esforço de uma longa jornada iniciada anos antes daqueles degraus. Mas nas fotos e vídeos que registram essas comemorações estão estampados apenas os sorrisos. As imagens escondem o peso que os atletas carregam em suas costas e as cicatrizes que permanecerão para sempre em seus corpos.
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Que eles são excepcionais, não restam dúvidas. Mas especialistas da área discordam do título de super-humanos. Ângelo Borgo Neto, educador físico com especialização em fisiologia e treinamento esportivo, destaca que algumas características genéticas podem sim privilegiar os atletas. Porém, é o respeito diário por suas rotinas que os tornam indivíduos diferenciados.
“Na maioria das vezes, a preparação começa ainda na infância. Diariamente esses atletas se submetem a longos treinos. E isso é o que vai impactar suas performances. Alguns são privilegiados com um biótipo propício para determinadas modalidades. E existem também as questões fisiológicas e metabólicas individuais. Mas se tudo isso estiver desassociado dos treinamentos, dificilmente veremos esses indivíduos performarem como deveriam”, defende o educador físico.
O esforço de um ginasta. Por Caio Souza.
📸 Gaspar Nóbrega/COB pic.twitter.com/qlUTKhMNJq
— Time Brasil (@timebrasil) July 28, 2021
Mas o que acontece de tão especial nesses treinamentos? Você deve estar se perguntando. Assim como todo o músculo submetido a um esforço repetitivo, ele se desenvolve. Os treinos ainda estimulam o hormônio do crescimento. E, segundo a cardiologista pós graduada em medicina esportiva, Rovana Agrizzi, até mesmo o coração se adapta.
“O corpo de um atleta, principalmente os músculos, incluindo o coração, respondem e se modificam para dar conta do esforço aos quais são submetidos. O organismo, então, passa a se adaptar. No caso do coração, por exemplo, e dependendo da modalidade praticada pelo atleta, ele pode bater mais devagar, de forma mais econômica durante o repouso. E, durante o esforço, está adaptado a bombear muito mais sangue”, ressalta a médica.
Fome de medalhas! Saiba o que comem os atletas olímpicos
Fatalmente você já ouviu aquela velha expressão “saco vazio não para em pé“. E para os esportistas de alto rendimento, o ditado é uma máxima. De acordo com Thierry Lemos, nutricionista esportivo do jogador de vôlei de praia Alison Mamute, a alimentação é fundamental para as adaptações pelas quais os músculos passam. “O alimento é quem da energia para o corpo desempenhar melhor determinada função e ajuda ainda na recuperação após os treinos. Ele é um dos pilares fundamentais na carreira de qualquer atleta”, disse o nutricionista.
A braba! @italoferreira 🥇🌊
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Por esse motivo, o cardápio deve ser mais que especial, certo? Errado. Um prato ideal é composto por ingredientes básicos como da brasileira, como o arroz, feijão, frango, purê de batatas, brócolis, cenoura, beterraba, alface e tomate.
“O cardápio é basicamente o mesmo, o que mudam são as quantidades. Um homem comum costuma ingerir entre 2 mil e 2,5 mil calorias por dia. Um atleta de alto rendimento que treina até quatro horas por dia pode consumir entre 4 mil e 6,5 mil calorias. Se levarmos em conta que uma refeição completa tem em média 500 calorias, é quase impossível atingir essa meta apenas com a comida. Por esse motivo, determinados atletas compensam essa diferença com suplementos alimentares”, explicou Thierry.
Vale lembrar também que aqueles esportes com maior duração, como o ciclismo, a corrida, e a natação de longa distância, têm um gasto energético maior. Portanto, cada atleta precisa seguir um plano alimentar personalizado. Alison, por exemplo, treina pelo menos quatro horas e faz seis refeições ao dia.
“Pela manhã ele come pão, ovo, frutas e suco natural. Após o primeiro treino, ingere um suplemento, mais uma banana ou ovo. No almoço, come arroz, feijão, carne e salada. Antes do seu segundo treino, toma um shake de açaí com banana, suco de uva e tapioca com queijo. Depois de malhar, come um sanduíche de frango ou ovo e suco de uva. E para o jantar, repete novamente o arroz, feijão, carne e salada ou então carboidratos como macarrão e batatas”, contou o nutricionista.
As mudanças no corpo e a hora da aposentadoria
Em Tóquio, vimos a pequena Rayssa Leal, de apenas 13 anos, ganhar a medalha de prata pelo Brasil no Skate. Mas temos exemplos também de atletas mais velhos, como a Formiga, de 43 anos, da seleção feminina de futebol; e o velejador Robert Scheidt, de 48 anos. A diferença de mais de 30 anos entre a jovem skatista e seus colegas é uma ponte imensa, principalmente quando se avalia o esforço que seus corpos sofreram durante a carreira.
Segundo Ângelo Borgo Neto, as consequências, na maioria das vezes, estão dentro do próprio processo de treinamento. “Isso ocorre quando não se tem um controle adequado das cargas, expondo os atletas a lesões articulares e musculares. Além disso, dependendo da modalidade, eles estão passíveis de acidentes e lesões sérias. O Guga, por exemplo, sofreu por muitos anos com uma lesão no quadril e acabou abreviando sua carreira por esse motivo”.
Mas se engana quem pensa que os treinos acabam ao final de uma carreira. O educador físico explica que após tantos anos treinando, os organismos passam por uma série de adaptações metabólicas e fisiológicas. Por isso, no momento da aposentadoria, precisam passar por um processo de “destreinamento”.
“A carga e o esforço devem regredir aos poucos para evitar sequelas. É comum ver jogadores de futebol ganharem muito peso quando deixam de jogar rapidamente. Eles são indivíduos que durante tantos anos foram expostos a um volume de treinos tão alto, que atingiram uma demanda energética muito alta. E quando se aposentam abruptamente, acabam pagando o preço”, disse Borgo.
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