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Coluna Vitor Vogas

Choque: Coronel Ramalho bate de frente com ex-vice-governadora

Candidato a prefeito de Vila Velha e secretária estadual das Mulheres discutiram pelas redes sociais. Pano de fundo é a condenação do ex-chefe da Sesp ao PSB e ao governo Casagrande

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Coronel Ramalho e Jacqueline Moraes

Coronel Ramalho e Jacqueline Moraes

Por 13 meses, de janeiro de 2023 a janeiro deste ano, os dois foram colegas no secretariado do governo Casagrande: ele, como secretário de Segurança Pública; ela, como secretária das Mulheres. Antes disso, também se sentavam em volta da mesma mesa no gabinete do governador Renato Casagrande, mas ela, então, era vice-governadora. Agora, o ex-secretário estadual de Segurança, Coronel Alexandre Ramalho (PL), candidato a prefeito de Vila Velha, e a secretária de Estado das Mulheres, Jacqueline Moraes (PSB), estão batendo de frente.

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“Bater de frente” é força de expressão. Não há contato físico. Os dois se chocaram, com estrondo, nas redes sociais do primeiro.

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Tudo começou em razão de uma postagem de Ramalho: um vídeo em que o candidato bolsonarista, sem citar o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), nem o presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti (MDB), insinua que o primeiro teria traído o segundo na escolha do próprio candidato a vice-prefeito.

Lorenzutti era tido como o favorito para completar a chapa do atual prefeito, de quem é antigo aliado político. Mas Arnaldinho preferiu escalar seu ex-secretário de Planejamento Cael Linhalis (PSB), indicado pelo PSB do governador Renato Casagrande.

O próprio Lorenzutti não engoliu muito bem o fato de ter sido preterido. Como registrado aqui, no mesmo dia, chegou a repostar mensagem de um amigo, falando em Judas e em “traição”.

No vídeo, o coronel da reserva da PMES declara:

“No meio militar, a traição é inconcebível, porque é no front da batalha que nós reconhecemos e valorizamos quem são os nossos verdadeiros amigos. A velha política de Vila Velha mostra com muita clareza que, neste meio perverso, não existe lealdade, companheirismo, amizade, mas, principalmente, gratidão. Na hora de escolher quem vai caminhar ao seu lado, a escolha caminha pelo interesse do poder. É a velha política, perpetuada nesse sistema que visa única e exclusivamente a manutenção do poder. E a manutenção do poder hoje em Vila Velha passa pela esquerda, com a indicação na cabeça de chapa do PSB como vice-prefeito da atual gestão.”

Como se vê e como já se esperava, o fato de Arnaldinho ter escolhido um vice do PSB, partido de esquerda, foi imediatamente explorado nas redes sociais por Ramalho, alimentando a sua estratégia de tachar Arnaldinho como “representante da esquerda” em Vila Velha, conforme tem repetido nos últimos meses. Até aí, nada de novo no “front de batalha”.

Eis que Jacqueline Moraes, “soldado do partido”, resolve chamar para si essa batalha. Tomando as dores do PSB, a ex-vice-governadora respondeu ao post de Ramalho.

Começou sublinhando algo que não só ela tem apontado: a incoerência do ex-chefe da Sesp em criticar tanto um governo do qual ele mesmo fez parte (com protagonismo) de abril de 2020 a janeiro deste ano (com um intervalo para a campanha a deputado em 2022), e mais: em condenar o governo Casagrande, por ser de esquerda, tendo ele mesmo colaborado por tanto tempo com esse mesmo “governo de esquerda”.

A secretária estadual das Mulheres ainda sugeriu que Ramalho está se mostrando capaz de tudo pelo poder e que está “se enquadrando nas próprias palavras”.

O comentário de Jacqueline na íntegra é reproduzido abaixo, só com algumas adequações ortográficas e gramaticais para facilitar o entendimento:

A lógica da política segue a mesma do caráter das pessoas que a compõem. Com todo o respeito que tenho ao senhor, Coronel Ramalho, respeito esse que lhe disse várias vezes, eu lhe afirmo: suas palavras são incoerentes.

O PSB é o partido do governador que lhe deu as melhores oportunidades de trabalho. O PSB criou o maior programa de redução da criminalidade, o ESTADO PRESENTE, que o senhor liderou e por MUITAS vezes elogiou. O PSB governa o ES pelo terceiro mandato, com números incríveis de desenvolvimento econômico e social. O governo do PSB fez o maior volume de investimentos na cidade de VILA VELHA. O maior programa de macrodrenagem da história dessa cidade. Eu poderia aqui listar as conquistas de um governo que o senhor fez parte e defendeu.

Eu, como militante e dirigente, me sinto na obrigação de defender meu partido que só fez o BEM para o senhor e para sua CIDADE. Fica então a pergunta pro senhor: é “VALE TUDO” pelo poder, e o senhor está se enquadrando nas suas próprias palavras????? Afirmo sem medo de errar… NÃO VALE NÃO. Bom dia.

A invertida de Ramalho

Não deixando por menos, o próprio Ramalho replicou o comentário da ex-colega de secretariado. Recapitulando sua ficha funcional, disse que, mesmo como secretário, sempre atuou de maneira técnica, que não deve nada ao PSB e que nunca teve o trabalho reconhecido pelo grupo político de Jacqueline (leia-se o de Casagrande, a quem ele chegou a dar uma “banana” em recente live). A réplica é transcrita abaixo:

Não creio que esse espaço seja o mais adequado para isso, mas me sinto na obrigação de responder. E assim vos digo:

Sou Servidor Público de Carreira. Trabalhei por 35 anos na Segurança Pública. Comandei o 1º Batalhão, Batalhão de Missões Especiais, Comando de Policiamento da Grande Vitória, fui Comandante Geral da Polícia Militar, Secretário de Segurança de Viana e Vila Velha. Por fim, Secretário de Estado da Segurança Pública por duas oportunidades.

Fui chamado para ser Secretário no início da pandemia e quando os índices de segurança estavam elevadíssimos. Trabalhei muito, teve dia que trabalhei por 24 horas ininterruptas. Com intensa dedicação das nossas Polícias, prendemos todas as lideranças do tráfico de entorpecentes. Com isso, sob a minha liderança, entregamos o melhor resultado dos últimos 28 anos, que perduram até os dias de hoje.

Importante você saber que todas as funções que ocupei nunca foram por questões partidárias ou ideológicas. Ocupei essas funções pelo que trabalhei e lhe digo: foi muito trabalho. Trabalho este que nunca foi reconhecido por seu grupo político. Politicamente, sempre deixei claro que era de Direita. Não devo nada ao seu Partido. Nunca me relacionei com o seu partido. Portanto, não confunda política com Quadro Técnico. Pedi para sair do Governo e saí de cabeça erguida, pela mesma porta que entrei. Assim que saí, busquei um projeto político e lhe afirmo: estou muito satisfeito com a missão que me foi dada.

Segue seu caminho na esquerda e me deixe na Direita.

Reflexões do colunista

Sem dar razão a ninguém nessa contenda, o que não me cabe, penso que uma constatação se impõe: toda vez que tenta se desvencilhar totalmente de Casagrande e argumentar que nada tem a ver com o “governo de esquerda” do governador, ou quando condena o PSB como no vídeo (associando o partido à “velha política”), Ramalho precisa recorrer a exercícios de contorcionismo retórico.

Certo, ele não teve nem tem nada a ver com o PSB, partido de Casagrande… mas como negar ter cultivado relações políticas com o governador… cujo partido vem a ser o PSB? Como negar ter declarado voto no candidato do PSB a governador, como ele fez de maneira pública e espontânea, contra o do PL (Manato), no 2º turno da eleição estadual em 2022? Então ele era aliado político e votou no candidato de um partido que é da “velha política”? Data venia, fica difícil sustentar isso.

Além disso, é imperioso esclarecer, de uma vez por todas, uma questão que está meio distorcida nesta discussão.

Cargos de secretários de Estado podem (e devem) ser ocupados por pessoas com perfil altamente técnico, experiência e notório saber específico naquela área, reconhecida capacidade para o exercício daquela função… É bom e recomendável que assim seja. Mas nem por isso esses cargos deixam se ser, essencialmente, políticos. Repito: por sua própria natureza, secretários de Estado são, antes de tudo, cargos políticos. Uma coisa não invalida a outra.

O secretário pode ser técnico. O cargo de secretário é político.

Ninguém presta concurso público para ser secretário de Estado. É um cargo em comissão, de livre nomeação. O governador nomeia e exonera quem ele quiser. Não é obrigado a nomear ninguém, por mais elevada que seja sua capacidade técnica para chefiar aquela pasta, assim como ninguém é obrigado a aceitar eventual convite para ser secretário de Estado.

No caso concreto, Casagrande não era obrigado a nomear Ramalho para esse cargo de livre provimento, em abril de 2020. Ramalho, por sua vez, não era obrigado a aceitá-lo.

Deixo aqui estas ponderações porque, por vezes, a argumentação de Ramalho dá até a entender que ele teria assumido a “missão” de comandar a Sesp por obrigação funcional, imposição da sua carreira militar, como se tivesse sido forçado a isso e colaborado com o governo Casagrande só porque esse era o seu “dever” como militar e servidor de carreira do Estado. E a vontade pessoal? Não jogou nenhum papel nessa opção?

Essa noção distorcida associada a uma “escolha forçada” fica evidente em alguns comentários de apoiadores ao post de Ramalho. Um deles chega a afirmar que, como “militar da ativa”, o coronel “seguia ordens”. Ora, que “ordens” ele seguiu ao aceitar se tornar secretário? E que “ordens” teria seguido ao aceitar voltar a ser secretário, em dezembro de 2022, após o insucesso na eleição para deputado federal?

Em abril de 2020, ao dizer sim ao convite de Casagrande, ele já havia trocado a farda pelo terno. De novo: aceitou o convite por livre arbítrio.

É óbvio que, em seus cerca de três anos à frente da Sesp, Ramalho aproveitou a oportunidade, provou sua competência técnica, fez um trabalho bem avaliado e de fato entregou bons resultados. Ninguém pode tirar isso dele, como ninguém pode negar o empenho e a abnegação dedicados por ele a um cargo dos mais desafiadores e exigentes, conforme ele mesmo destaca.

Mas também me parece muito óbvio que seus anos à frente da Sesp, com toda a visibilidade proporcionada pelo cargo, fizeram muito bem às pretensões políticas e à embrionária carreira política do agora ex-secretário, a ponto de ele (ainda como aliado de Casagrande) ter sido candidato a deputado federal em 2022 e, agora, se candidatar a prefeito de Vila Velha.

O silogismo insofismável

Por mais que meditemos sobre esta questão, não é possível, por uma questão de pura lógica aplicada, escapar ao inescapável silogismo:

Casagrande é um governador de esquerda.

Ramalho colaborou (porque quis) com o governo de Casagrande.

Logo, Ramalho colaborou (porque quis) com o governo de um governador de esquerda.

Mas qual é o problema, afinal?!? Talvez essa seja a pergunta-chave.

Errata

No texto original, publicamos, com erro, que Ramalho foi para a reserva da PMES ao deixar o cargo de comandante-geral, no fim do governo Paulo Hartung, em 2018, e que portanto já estaria na reserva ao assumir a Sesp a convite de Casagrande, em abril de 2020. Na verdade, ao assumir a Sesp, ele ainda era coronel da ativa. Só foi para a reserva em novembro de 2020. A informação foi corrigida no texto.


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