O Avesso da Pele: entenda a polêmica do livro censurado nas escolas

O Avesso da Pele trata de temas como o racismo. Foto: Reprodução

O livro “O Avesso da Pele”, escrito por Jeferson Tenório e ganhador do Prêmio Jabuti 2021, causou polêmica depois de ser escolhido pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para ser usado por professores e estudantes de escolas públicas em todo o Brasil.

A confusão começou quando a diretora de uma escola no Rio Grande do Sul publicou um vídeo criticando o livro. Janaina Venzon mostrou partes do “O Avesso da Pele” que ela considerou ter palavras “ruins”.

Ela escreveu na legenda do vídeo: “Lamentável o Governo Federal através do MEC adquirir esta obra literária e enviar para as escolas com vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio […] Solicito ao Ministério da Educação buscar os 200 exemplares enviados para a escola. Prezamos pela educação dos nossos estudantes e não pela vulgaridade”.

É importante destacar que os livros passam por uma análise técnica, física e educacional feita por especialistas, além de serem revisados por professores. O diretor da escola também tem um papel na escolha dos livros que serão usados na escola.

Estados censuram

No Rio Grande do Sul, o livro foi retirado de 18 cidades, mas isso durou pouco tempo. A 6ª Coordenadoria Estadual de Educação anunciou que ia tirar o livro, mas a Secretaria de Educação do RS disse que a decisão não era válida.

> Mulheres pretas e pardas fazem mais serviços domésticos no ES

Em Goiás, a Secretaria de Educação decidiu retirar o livro das escolas estaduais. De acordo com a Seduc, o livro apresenta palavras, expressões e cenas de sexo que não são apropriadas para menores de 18 anos.

No Mato Grosso do Sul, o governador Eduardo Riedel (PSDB) também mandou retirar o livro das escolas estaduais. Isso aconteceu depois de enviar cópias para 75 das 349 escolas e receber críticas parecidas.

O Paraná seguiu a mesma decisão e retirou os livros das escolas estaduais de ensino médio. Mesmo reconhecendo que o tema do livro é importante para a educação, a alegação é de que algumas informações não são apropriadas para menores.

Associação ao governo

Parlamentares conservadores, como a deputada estadual Kelly Moraes (PL-RS) e os deputados federais Zé Trovão (PL-SC), Marcelo Moraes (PL-RS) e Bia Kicis (PL-DF) chegaram até a associar o livro ao governo do PT. Porém, o livro foi incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) por meio de portaria publicada em setembro de 2022, ainda durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Autor se pronunciou

O autor da obra, Jeferson Tenório, se pronunciou sobre o ocorrido. “As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de “baixo calão” e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo,  a violência policial e a morte de pessoas negra”, escreveu no Instagram.

> “Quanto mais escura é a cor da pele, mais intenso é o racismo”, diz doutora em Diversidade da Ufes

“Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, ressaltou.

Sinopse do livro

“O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos”.

“O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade. Com habilidade incomum para conceber e estruturar personagens e de lidar com as complexidades e pequenas tragédias das relações familiares, Jeferson Tenório se consolida como uma das vozes mais potentes e estilisticamente corajosas da literatura brasileira contemporânea”.