Capixaba aposta na fotografia como ferramenta para chamar atenção para população de rua

Para alguns, eles são invisíveis; para outros, inconvenientes. Para muitos, são lembrados e merecedores de afeto apenas no inverno, quando as baixas temperaturas aquecem o debate e trazem à tona a questão da situação dos moradores em situação de rua. Contudo, logo depois, a invisibilidade e a indiferença tendem a retornar. Na contramão, a fotógrafa capixaba Tatiana Pezzin apostou na fotografia como ferramenta para chamar atenção de forma sensível para essa desigualdade social.

Fotógrafa profissional há mais de 10 anos, Tatiana Pezzin tem um portfólio extenso no voluntariado. De maneira artística, já retratou cenas do cotidiano de crianças e adolescentes que estavam nos serviços de acolhimento de Vitória, compondo a exposição “Olhos que Acolhem”. Com sensibilidade e leveza, presenteou pacientes em tratamento de câncer de mama e também aquelas que venceram a doença com um ensaio fotográfico.

> Solidariedade une pessoas para atender população em situação de rua em Vitória

Esse olhar para a fotografia como uma ferramenta social na vida de Tatiana surgiu com o Fotomental. O projeto foi desenvolvido há mais de 10 anos com o objetivo de mostrar como a limitação do ser humano influencia no processo criativo da fotografia. A ideia é que com uma câmera na mão, as pessoas possam mostrar suas percepções, pontos de vista e experiências.

 

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Há três dias, a fotógrafa se deparou com mais uma oportunidade de usar suas lentes para servir ao próximo. “Eu andava pela pracinha de Jardim da Penha, em Vitória, onde há muitas pessoas em situação de rua, e vi uma câmera, dessas analógicas antigas muito próxima a eles. Eu perguntei pra eles se alguém tinha doado ou perdido. Eles disseram que simplesmente alguém deixou ali. Ver a câmera ao lado deles me tocou muito. Eu entendi como um chamado, que eu precisava dar visibilidade para eles. Era algo que já falava em meu coração”, lembra Tatiana.

Enquanto passeava com o filho na mesma praça, se deparou com a história de Janine Alves dos Santos, uma moradora em situação de rua que anda acompanhada pelo cachorro Scooby. Com carinho e sensibilidade, a fotógrafa abordou a mulher e ofereceu um ensaio fotográfico para a dupla. Além de lindas fotos e muitos abraços, um pedido chamou a atenção de Tatiana. Em vídeo, Janine abriu o coração e lamentou toda humilhação que a população de rua sofre.

“Nós não somos bicho. Nós somos seres humanos. Nós sempre vamos ser seres humanos. Vamos ser guerreira na vida. Hoje nós estamos aqui. Amanhã a gente pode estar lá, de pé. Então, quem tem o coração bom, não humilha os moradores em situação de rua”, pediu Janine.

 

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E é para dar visibilidade a esse pedido, que a fotógrafa se dispôs a publicar o vídeo e abraçar mais essa causa. “Minha ideia é usar a fotografia para captar a história deles, revelar essas imagens e entregar para eles como um presente. Muitos deles já não se vêem no espelho há muito tempo, talvez já não sabem nem como são. Eu acredito que as lentes tem esse poder de fazer com que eles se sintam enxergados”, pontuou Tatiana.

Para a fotógrafa, gestos de carinho como esses devem ser multiplicados, mas a população não deve esquecer que, além de respeito, os moradores em situação de rua também precisam de doações de roupas, calçados, comida e ração para seus animais. O vídeo publicado no Instagram da fotógrafa rendeu mais de 765 curtidas e 313 comentários até esta segunda-feira (18).

A fotógrafa Tatiana Pezzin com o filho e Janine – moradora em situação de rua. Foto: Arquivo Pessoal

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