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Coluna André Andrès

Vinhos da Luiz Argenta equilibram forma e conteúdo

Vinícola busca atrair consumidor com belas garrafas, mas tenta mantê-lo fiel com a evolução da qualidade de seus vinhos

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Sempre citado nos períodos de Copa do Mundo, Nelson Rodrigues foi, além de espetacular cronista esportivo, um grande leitor do comportamento humano. Isso não o afastava das polêmicas, ao contrário: muitas vezes sua opinião o colocava no centro delas. Entre a beleza e a inteligência, ele não tinha muitas dúvidas, principalmente em relação às mulheres. “A beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: – ‘Ser bonita não interessa. Seja interessante!'” A frase de Nelson contém, como é habitual, seus exageros. Porque há muitas mulheres dotadas de enorme beleza e grande inteligência. Equilibram forma e conteúdo. Um equilíbrio às vezes difícil de se obter…

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Essa dificuldade para alcançar o ponto ideal de equilíbrio não assusta Edegar Scortegagna. Há 14 anos comandando os trabalhos da excelente vinícola Luiz Argenta, Edegar está à frente de um catálogo com garrafas de formatos atraentes e de conteúdos muito “interessantes”. Ele não nega suas intenções ao colocar nas prateleiras uma linha extremamente ousada em suas formas. E sabe da responsabilidade oculta nessa estratégia. “De nada adianta eu chamar a atenção para uma garrafa incomum, de design exclusivo, se não oferecer um bom vinho. Se cometer esse erro, a pessoa vai provar uma vez e não vai querer mais saber de nossos rótulos”, resume Scortegagna. E o objetivo do enólogo é fazer a pessoa evoluir para vinhos mais trabalhados.

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As garrafas da Linha Jovem da Luiz Argenta têm realmente um desenho marcante. E são vinhos capazes de oferecer uma qualidade superior ao seu preço. Ou seja, não são apenas um formato bonitinho, têm conteúdo… No entanto, o brilho maior do trabalho de Scortegagna está em seus tintos e brancos mais elaborados, principalmente da linha Cuvée. Parte do belo trabalho do enólogo foi apresentada em noite recente na Wine Garden, excelente casa na Praia do Canto, conduzida por Silvestre Tavares, grande entendedor de vinhos e de gastronomia.

O enólogo detalhou, principalmente, a técnica de inspiração italiana, com as uvas passando por um processo de breve desidratação depois da colheita. As características das castas ficam ainda mais marcantes. Esse método de produção resulta na linha Cave, de excelente qualidade. E de apresentação mais clássica, com garrafas tradicionais e rótulos discretos. O resultado de tudo isso é uma linha completa, capaz de atrair e convencer pelos mais diferentes sentidos. Edegar Scortegagna foi eleito o enólogo do ano em 2020 pela Associação Brasileira de Enologia. Segundo informações, ele foi surpreendido quando trabalhava na vinícola, em Flores da Cunha (RS), com a entrega do prêmio, feita por representantes da ABE. O título coroa o trabalho de alguém capaz de aliar beleza e qualidade, graças ao seu conhecimento e ousadia. Tudo com equilíbrio e inteligência. Convenhamos, isso é para poucos. E bons.

Vinhos Luiz Argenta Gewurztraminer e Sauvingon Blanc - Luiz Argenta.

VINHOS DA LINHA JOVEM LUIZ ARGENTA – GEWURZTRAMINER E SAUVIGNON BLANC

As garrafas-irmãs resumem boa parte da produção básica, a linha Jovem, da Luiz Argenta. São vinhos bem feitos, ousados na forma e também pelo fato de apostar em uma uva menos conhecida, como a Gewurztraminer. Os vinhos não são parecidos apenas na garrafa: da colheita à filtração e envase, os processos de produção são praticamente idênticos. como resultado, até a graduação alcoólica é igual, ou seja, 12,5%. Brancos muito frescos, saborosos. Ótimos para acompanhar pratos de frutos do mar e, no caso da Gewurztraminer, dá até para arriscar uma harmonização com pratos orientais. Preço: em torno de R$ 120.

Vinho brasileiro Rosé da linha Jovem - Luiz Argennta

LUIZ ARGENTA JOVEM ROSÉ

Uma combinação incomum, feita com duas uvas cheias de caráter: Pinot Noir e Shiraz. Como todo bom rosé, é um vinho leve, com 12% de álcool, mas saboroso. Apresenta muitas notas de frutas vermelhas. É ideal para “abrir os trabalhos”, por conta de sua frescura. Vai muito bem com algumas entradinhas, como camarões gralhados, por exemplo. E há quem goste de harmonizar rosés com a culinária japonesa, sempre um pouquinho complicada por conta do molho shoyu, salgado e muito potente. Preço: em torno de R$ 120.

 

Espumante brasileiro Luiz Argenta Shiraz.

LUIZ ARGENTA JOVEM SHIRAZ

A Syrah ou Shiraz (ela muda de nome conforme o produtor ou a região do planeta) é uma das castas mais antigas da história. Muitos historiadores garantem ter sido feito com ela o vinho servido na Última Ceia de Cristo. Talvez por estar há tanto tempo entre nós ela também seja uma das uvas mais confiáveis do mundo vinícola. É  bastante difícil encontrar um tinto ruim produzido com essa casta. O Luiz Argenta Shiraz, de garrafa belíssima, não foge à regra. É tinto de boa presença, ótima companhia para uma carne gralhada. Tem graduação alcoólica de 12,3%. Preço: em torno de R$ 116.

Espumante brasileiro Luiz Argenta Cave.

ESPUMANTE LUIZ ARGENTA CAVE BLANC DE NOIR

Tradicionalmente, os espumantes são feitos com a mescla de castas brancas e tintas, como Chardonnay e Pinot Noir, por exemplo. Quando um espumante ou um champanhe é produzido só com uva branca, como é o caso da Chardonnay, ele ganha a qualificação de Blanc de Blanc. Se o produtor usa apenas a polpa, sem a casca, de uma uva tinta, como a Pinot Noir, ele faz um Blanc de Noir. Ou seja, ou espumante é claro (“Blanc”), porque é feito só com a parte interna da fruta, sem contato com a casca, apenas de a casta ser escura (“Noir”). Este é o caso deste Luiz Argenta. Segue a linha dos ótimos espumantes nacionais. Delicioso. Preço: em torno de R$ 190.

Vinho brasileiro Luiz Argenta Cave Chardonnay

LUIZ ARGENTA CAVE CHARDONNAY

As garrafas da linha Cave são bem mais tradicionais. E os vinhos são mais complexos. houve quem, na noite de apresentação dos rótulos na Wine Garden, considerasse esse branco o melhor rótulo da noite. Diferentemente da linha Jovem, os vinhos dessa linha têm passagem por barricas de carvalho. O Chardonnay, por exemplo, passa oito meses amadurecendo em contato com carvalho francês. O resultado é um branco estruturado, denso, muito saboroso. Uma beleza de vinho. Por conta de sua estrutura, vai muito bem com bacalhau. Preço: em torno de R$ 140.

Vinho brasileiro Luiz Argenta Cabernet Franc

LUIZ ARGENTA CAVE CABERNET FRANC

É uma história conhecida, mas é sempre bom relembrá-la: a Cabernet Franc, uma das uvas fundamentais da produção francesa, é “mãe” da casta mais famosa do planeta. Há bom tempo, produtores juntaram a Cabernet Franc com a Sauvignon Blanc e criaram a Cabernet Sauvignon. Normalmente ela é usada em mesclas com outras uvas. Mas produtores têm cada vez mais apostado em tintos produzidos apenas com ela. É este o caso dessa rótulo da Luiz Argenta. É um vinho corpulento, com bastante estrutura, fruto de seus estágios por 12 meses em barricas de carvalho francês e mais um ano em garrafa, antes de ser colocado no mercado. Um grande vinho! Preço: em torno de R$ 140.

Vinho brasileiro Luiz Argenta Cabernet Franc

LUIZ ARGENTA CUVÉE

Em algumas regiões da Itália, as uvas passam por um processo de apassimento, depois de terem sido colhidas e antes de seguirem para produção. As uvas são colocadas em esteiras para perder um pouco de seu líquido e ganhar um pouco mais de dulçor. Se elas ficassem lá por mais tempo, virariam passas. Isso ajuda a explicar o processo e também o nome dado a ele. A técnica usada por Edegar Scortegagna para produzir esse tinto espetacular tem como referência o apassimento. As uvas (60% Merlot, 25% Cabernet Franc e 15% Petit Verdot) passam por um período de desidratação, depois seguem para maturar em barricas de carvalho francês por 24 meses e, finalmente, ficam um ano em garrafa, na cave, com controle rígido de temperatura e umidade. Scortegagna tem enorme orgulho desse seu vinho. E tem razão: é espetacular. Preço: entre R$ 400 e R$ 480.


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

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