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Coluna Vitor Vogas

Única vereadora trans do ES é filiada ao “verdadeiro partido conservador do Brasil”

Sequestrada e libertada na última segunda-feira (22), Lari Camponesa é filiada a partido comandado por muitos líderes evangélicos, refratários à pauta da identidade de gênero  

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Lari Camponesa é única vereadora trans de todo o Espíriito Santo

Lari Bortolote Marcon é a única vereadora transgênero eleita em todo o Espírito Santo. Na última segunda-feira (22), a parlamentar de Rio Novo do Sul foi vítima de um sequestro, em um caso que ganhou repercussão nacional. Por ação da Polícia Civil, ela foi libertada do cativeiro na noite de segunda mesmo. Dois dos quatro sequestradores foram detidos. Os quatro criminosos envolvidos no sequestro são suspeitos de fazer parte de uma quadrilha do tráfico de drogas em Cachoeiro. A polícia descarta motivação política para o crime.

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A “motivação política” desta coluna é um detalhe que causou surpresa ao colunista: Lari Camponesa, como é mais conhecida a única vereadora trans de todo o Estado do Espírito Santo, é filiada ao Republicanos (antigo PRB), um partido absolutamente conservador nos costumes e cujos líderes nacionais e regionais são, em grande parte, refratários à pauta relacionada a identidade de gênero (chamada por eles de “ideologia de gênero”) e a bandeiras das minorias LGBTQIA+.

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Em inserções partidárias veiculadas na TV em abril, o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente nacional da legenda, afirmou para o povo brasileiro que “o Republicanos é o verdadeiro partido conservador do Brasil”.

Trata-se de uma observação política que não desmerece em nada a própria vereadora, mas que chama a atenção por dois motivos:

1. É mais uma evidência de como nosso sistema partidário (com 32 siglas oficialmente registradas no TSE) é marcado por profundas incoerências, com filiados, mandatários e até dirigentes partidários destoando dos princípios dos próprios partidos ou ignorando-os como algo menor, secundário ou até irrelevante. Isso não vale só para o Republicanos;

2. É uma prova de que a direção nacional do Republicanos exagerou na reação contrária à fatídica entrevista de Sérgio Meneguelli a esta coluna, publicada aqui em 11 de junho, na qual o ex-prefeito de Colatina declarou: “De conservador, não tenho nada”.

Até parece que os dirigentes do partido ficam fazendo “cara, crachá” de cada filiado ou candidato lançado pela sigla (incluindo, no caso em apreço, “crachá” com nome social)… Até parece que exigem que todos os seus filiados, inclusive os investidos de mandato, rezem rigorosamente pela cartilha do partido (estatuto, programa etc.)…

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Se assim fosse, a conclusão incontornável seria que uma vereadora como Lari Camponesa não se encaixa muito bem em uma sigla como o Republicanos.

Lari tem 27 anos e elegeu-se vereadora de Rio Novo do Sul em 2020, pelo mesmo partido, com 266 votos. Está entre os 2.251 vereadores filiados ao Republicanos no Brasil inteiro, número encontrado na página oficial da agremiação.

Crivella contra HQ

Nascido do seio da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o Republicanos tem muitos pastores evangélicos entre seus líderes. O ex-ministro da Pesca e ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella é uma das suas principais referências nacionais. Em 2019, quando governava a capital fluminense, Crivella chegou a ordenar o recolhimento, na Bienal do Livro, de exemplares de uma revista em quadrinhos que continha o desenho de um beijo entre dois homens.

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A definição de Erick Musso

Em entrevista publicada aqui no dia 8 de maio, pedimos ao presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), para explicar o conceito de conservadorismo na perspectiva do partido. Erick era, então, pré-candidato a governador. Agora é candidato a senador. Eis a definição que ele deu:

“Vou te explicar com base no estatuto do Republicanos. Ser conservador é respeitar a opção das pessoas, mas defendendo o conservadorismo do que nós entendemos como princípio bíblico. Ser conservador é ter pai e mãe. Ser conservador é termos banheiros para homens e mulheres dentro da escola. É não termos política de ideologia de gênero dentro das escolas. Ser conservador é respeitar a opção sexual das pessoas, mas não comungar com casamento homossexual.”

Documentos oficiais:

Os documentos oficiais do Republicanos valorizam muito a família, mas sempre no sentido de família tradicional. Sua missão declarada: “O Republicanos existe para vocalizar os valores do conservadorismo de costumes”. Um de seus valores: “A defesa do conservadorismo e da família”.

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Na apresentação do partido, lê-se: “O Republicanos é um movimento político conservador, fundamentado nos valores cristãos, preservando a soberania nacional, a livre iniciativa e a liberdade econômica”.

No programa do partido (“Programa Brasil 2022: Proclamação de uma Nova Independência”), “Família e Tradição” é um dos dez pilares defendidos pelo partido: “Nós, os Republicanos, acreditamos que a família é o alicerce da sociedade e a principal instituição de preservação e continuidade das tradições que performam o conjunto de valores em que acreditamos”. Entre tais valores estão “o apoio ao casamento tradicional” e “o respeito à fé e às tradições na discussão das pautas”.

No manifesto do partido, assinado por Marcos Pereira, está escrito: “Nossa postura é fundamentada nos valores cristãos, temos a família como alicerce da sociedade”.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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