Coluna Vitor Vogas
Os bastidores da convenção do PT no Espírito Santo
Teve candidato cortado em cima da hora, protesto, discurso crítico de Neto Barros a Casagrande, um líder ausente pelo filho, um marxista elogiando o candidato do Novo e até outro candidato ao governo “invadindo” a convenção para disputar a militância de esquerda

Mesa de representantes de PT, PV e PCdoB na convenção da federação Brasil da Esperança (04/08/2022). Foto: Pablo Gonçalves/Divulgação
Na convenção estadual da federação Brasil da Esperança, além de homologar suas candidaturas a deputado estadual e federal, PT, PCdoB e PV oficializaram o apoio ao governador Renato Casagrande (PSB), tendo Ricardo Ferraço (PSDB) como vice, na disputa pelo Palácio Anchieta, e o apoio a Rose de Freitas (MDB) na eleição ao Senado.
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Mas, para além das decisões oficiais, a convenção dos três partidos de esquerda, realizada na noite de quinta-feira (4) na Assembleia Legislativa, foi marcada por bastidores, discursos e polêmicas que apresentamos a seguir:
André Lopes cortado da chapa
Se não houvesse dissidência, não seria um evento do PT. Durante boa parte da convenção, um grupo de militantes de Cariacica ficou protestando aos gritos e cobrando da presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, direito a fala (não concedido). Jackeline explicou à coluna que o protesto se deveu a insatisfações por conta de pré-candidatos que acabaram cortados da relação final das chapas proporcionais, por excesso de nomes.
A coluna apurou que o motivo específico do protesto foi a não inclusão do vereador de Cariacica André Lopes (PT), que era pré-candidato a deputado estadual. Ele acabou cortado da composição final da chapa (não ficou entre os 14 nomes do PT).
A relação do vereador com o atual comando estadual do PT não é boa há algum tempo.
A divisão das vagas
A divisão das vagas nas chapas proporcionais entre os três partidos da federação ficou assim:
Na chapa de federais, o PT emplacou sete candidatos, o PCdoB dois e o PV os dois restantes (7 + 2 + 2 = 11).
Na chapa de estaduais, 14 candidatos são do PT, nove do PV e oito do PCdoB (14 + 9 + 8 = 31).
Lula pode vir aí
De acordo com Jackeline Rocha, Lula pode vir ao Espírito Santo em campanha, no mês de setembro.
A mensagem de Gleisi
Na convenção, foi exibido num telão um depoimento da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Ela fez um “agradecimento especial” ao senador Fabiano Contarato, cuja candidatura a governador foi limada por determinação da cúpula nacional. “Muito obrigada pelo seu apoio, pela sua compreensão e por toda a sua presença nesse processo.”
Contarato não compareceu à convenção.
Gleisi também reafirmou o apoio do PT a Casagrande e a Rose de Freitas, respectivamente para o governo estadual e o Senado: “Vamos aí com o PSB de Casagrande, vamos com a Rose de Freitas e vamos com as nossas chapas de candidatos a deputado federal e estadual”.
O depoimento de Casagrande
O governador não compareceu à convenção dos aliados à esquerda, mas se fez representar pelo ex-prefeito de Muqui Frei Paulão, também do PSB, e enviou um depoimento em vídeo. Também dirigiu um agradecimento especial a Contarato e reafirmou seu compromisso com causas comuns ao campo democrático progressista: “[Temos] compromisso com a democracia, com o respeito às instituições, com o combate às desigualdades e com os direitos humanos”.
Compromisso do PSB com Lula
Em sua fala, o representante do PSB, Frei Paulão, assumiu o compromisso do partido com a eleição do “nosso irmão, o companheiro Lula” e com a reeleição do “nosso governador Renato Casagrande”. “Meu agradecimento a vocês por estarmos juntos neste trabalho eleitoral.”
Neto Barros: apoio crítico
O PV foi representado pelo vice-presidente estadual, Nilson Freire. O presidente, Fabrício Machado, mandou um vídeo. O PCdoB se fez presente na pessoa do presidente estadual, Neto Barros, que tentará voltar à Assembleia. Seu discurso se destacou, por denotar um apoio crítico à reeleição de Casagrande, na linha “de todos, o menos ruim” ou “dos males, o menor”. Apoio sim, mas com ressalvas:
“Faz 20 anos que o [movimento empresarial] Espírito Santo em Ação é um dos principais partícipes da agenda pública do Estado. Foi assim com o Paulo [Hartung]. É assim com o Renato. Precisamos de um governo melhor daqui para a frente, mais inclusivo e que dialogue melhor com os movimentos sociais e sindicatos”, defendeu o comunista. “Renato Casagrande é o melhor candidato porque, do lado de lá, é a direita ou extrema direita que tenta chegar ao Palácio Anchieta colando sua imagem à de Bolsonaro”.
Neto defende Lula e Rose
Neto também defendeu a eleição de Lula para a Presidência: “Temos 59 dias para pintar este estado de vermelho e fazer uma grande eleição aqui para o presidente Lula. Esse projeto nacional é a salvação deste país”.
De igual modo, apoiou a reeleição de Rose para o Senado: “A gente há de convir que o cenário não anda nada bonito. O Senado pode ficar ainda pior do que já está. A candidatura de Rose é a única que representa o campo democrático. Então a gente entende que, neste momento, é importante fortalecer essa candidatura”.
Só para lembrar…
Nessa federação de esquerda, após o PV, o PCdoB foi a segunda sigla a defender publicamente a adesão ao palanque de Casagrande – posição contrária ao lançamento de Contarato ao governo estadual. No dia 6 junho, muito antes de o PT fechar questão, Neto Barros divulgou uma resolução em defesa dessa tese.
Filósofo na disputa
Filiado ao PT há cerca de 30 anos, o escritor, educador popular e professor de Filosofia da Ufes Maurício Abdalla disputará pela primeira vez um mandato eletivo. Ele será um dos 14 candidatos do partido a deputado estadual. Ex-seminarista e colega de longa data do teólogo Leonardo Boff, Abdalla concentrará sua campanha em movimentos de base de igrejas evangélicas históricas e, principalmente, da Igreja Católica, nos quais o PT tem forte inserção.
Contarato virou aluno
Só para registrar a coincidência, o professor de Filosofia da Ufes está estreando no mundo eleitoral, enquanto Fabiano Contarato, também do PT, não estará nas eleições desta vez, mas reestreou no mundo acadêmico. Como publicamos aqui, o senador começou a fazer justamente o curso de Filosofia na Ufes. A esta altura, está concluindo o primeiro de oito semestres.
Trocou a convenção pela colação
Falando em universitários, João Coser (PT) faltou à convenção. Mas foi por um motivo justo: no mesmo horário ocorria a formatura de seu filho em Medicina. Sem mandato desde 2012, o ex-prefeito de Vitória é candidato a deputado estadual e vice-presidente do PT no Espírito Santo. Sua outra filha, Karla Coser, é vereadora de Vitória e formada em Direito.
O dobro dos votos?!?
À mesa dos dirigentes na convenção, Neto Barros lia a relação de candidatos a deputado estadual na chapa da federação, com os respectivos números de urna. O nome do ex-vereador de Cachoeiro Alexandre Bastos (PV) apareceu duas vezes, em sequência. Surpreso, Neto pilheriou: “Tá duas vezes aqui. Duas vezes é bom, hein, Alexandre!”
“Candidato invasor”
Quem também compareceu à convenção do PT foram os candidatos do PSTU, Capitão Sousa (governo) e Felipe Skiter (Senado). Sousa explicou que foi “disputar a militância da esquerda”, já que o PT optou, segundo ele, por apoiar “um candidato da direita” (Casagrande), posição essa que ele condenou.
O capitão manifestou, contudo, respeito ao PT, partido pelo qual militou até entrar no curso de formação de soldados da Polícia Militar do Espírito Santo, em 2008. “O PT é um partido importante, apesar das nossas diferenças. Somos da esquerda revolucionária, enquanto eles representam a esquerda reformista.”

Capitão Sousa na convenção do PT. Foto: Vitor Vogas
Marxista elogia liberal
Da série “cenas que você não espera ver”: o marxista Capitão Sousa elogiou a entrevista concedida pelo liberal Aridelmo Teixeira, candidato ao governo pelo Novo, ao telejornal EStúdio 360, da TV Capixaba. “Ele foi bem. Fez bem em dizer que vai acabar com o Fundo Soberano”.
No plano ideológico, PSTU e Novo são diametralmente opostos. Mas (quem diria?), pelo jeito, convergem em críticas ao governo Casagrande.
Um novo tempo: há quatro anos…
Há exatos quatro anos, no início de agosto de 2018, fui cobrir pelo jornal A Gazeta a convenção do PT no Espírito Santo. Creio que cabe um registro como testemunha ocular que fui de ambas: a mudança de ambiente é radical.
Em 2018, o PT estava na lona. A convenção não foi propriamente um evento, mas uma reunião a portas fechadas, restrita às poucas dezenas de membros do Diretório Estadual, com poder de voto, realizada na sede do PT-ES, no alto da ladeira Graciano Neves, no Centro de Vitória.
Dali saiu a decisão de que Jackeline Rocha, então completamente desconhecida pelo público, seria a candidata do partido ao governo estadual. Foi uma cena melancólica, realizada na calada da noite e testemunhada por muito pouca gente, traduzindo bem o estado de ânimo do partido naquele momento.
… já agora
Já a convenção de 2022 foi aberta ao público, encheu um auditório e meio da Assembleia Legislativa (simbolicamente, a Casa do Povo) e teve até um artista circense andando de pernas de pau.
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