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Não é um simples Cafezinho!
Por Luana Nandorf
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A maioria dos brasileiros começa o dia com um bom e forte café, não é mesmo? Mas o consumo desse tipo de bebida quente está diferente.
Como descendente de produtores de café desde meu tataravô (imigrante italiano em 1895) e consumidora diária da bebida — desde quando me entendi por gente pensante e entrei na faculdade de Contabilidade —, passei a me questionar: o que tem de tão especial em uma bebida extraída de um simples grão, de modo a exercer tanta influência na economia mundial? Tudo bem que ela é maravilhosa, mas não é algo essencial a nós, tal como uma “comida de panela”, por exemplo.
Meu pai, produtor dos cafés Arábica e Conilon – assim como seus antepassados – sempre teve a economia pautada na cafeicultura, mas esse relacionamento teve algumas crises no decorrer das décadas. Nessa longa história, tivemos muitas fases; em uma dessas — apesar do não conhecimento sobre custos do meu pai — meu pai percebeu que o Arábica não apresentava lucratividade.
Fato certo é que, quem já viu um produtor adubando, colhendo e carregando sacas de café nas montanhas capixabas, percebe que sua produção está mais ligada a uma cultura do que propriamente a uma simples atividade econômica. O café, por si só, demanda força, investimento, mão de obra, pós-colheita demorada e custosa, armazenagem… Devido a tudo isso, não se espanta gerar uma baixa lucratividade (ou até prejuízo) em sua venda desesperada para que aquilo vire dinheiro em si.
Estamos no momento dos cafés especiais, e vemos acontecer o mesmo movimento que o vinho e a cerveja tiveram. Parece que a pandemia do Covid-19 acelerou esse processo: se antes parávamos naquela cafeteria especial, agora, com ela fechada, somos obrigados a comprar aquele bom café para criar um momento especial na casa. Passamos a olhar mais o rótulo, analisar de onde é, quem o produziu, acessar as redes sociais próprias de determinada marca, e comprar não simplesmente pelo produto em si, mas pelo universo envolvido e criado em torno dele.
Já faz algum tempo que esse movimento de tornar a commodity um produto especial permite aos pequenos produtores (grande maioria, cafeicultores do ES) melhorar o preço de venda e buscar qualidade, não quantidade. Parece “Merchant”? Pois não é! Na verdade, não é uma opção. Se não temos área, escala e mecanização, não há possibilidade de ganhar por volume produzido. Esse é o movimento atual: a busca por qualidade e entrega, com menos atravessadores envolvidos.
Hoje, o pequeno produtor de café acima de 80 pontos (considerado especial) pode ganhar, por saca in natura, cerca de 3 vezes o valor convencional. Em contrapartida, podemos – a cada dia – ter em nossas xícaras (ou copos americanos) bebidas com notas específicas e aromas mais agradáveis do que os práticos solúveis. Enquanto o crescimento no consumo do café tradicional é de 1.5% ao ano, para os cafés especiais, segundo o diretor presidente do INCAPER Antônio Machado, esse aumento chega a 15%.
Você sabia que nosso país é o maior produtor e exportador de café do mundo? E que, no Brasil, o estado do Espírito Santo é o segundo maior produtor da variedade Arábica e o maior em Conilon? 33% da população e 30% do PIB de nosso estado estão ligados a essa atividade tão especial.
Em maio, observamos dados muito interessantes neste mercado, de acordo com o Conab: (1) a produção nacional tem previsão de queda de 22% comparado ao ano passado; (2) em 2021 já tivemos um aumento das exportações do produto em 24%; (3) o preço do café Arábica teve uma valorização no mercado mundial no último mês, e que deve se manter nesta safra.
Não é em vão que amamos tanto um bom cafezinho. Não é por acaso que devemos torcer por ele, e conhecer sempre um pouquinho mais sobre o assunto. Até a próxima!
Sobre o autor
Luana Nandorf é bacharel em Ciências Contábeis e especializada em Gestão Empresarial e de Negócios. Atualmente é Gerente de Relacionamento do Sicoob e voluntária na área de Educação Financeira pelo Instituto Sicoob.
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