Coluna Vitor Vogas
Análise: Manato é o “grande vencedor” do 1º turno e Casagrande terá problemas no 2º
Candidato do PL chega ao 2º turno fortalecido politicamente. Mesmo atrás de Casagrande, ele passa à próxima fase em viés de alta, empurrado pelo bom resultado de Bolsonaro no ES e com o apoio já certo ou provável dos outros adversários do governador

Manato em coletiva de imprensa após a apuração dos votos no 1º turno. Foto: Assessoria do candidato
Pode parecer uma contradição, mas, mesmo tendo chegado em 2º lugar, o ex-deputado federal Carlos Manato (PL) é certamente o grande vencedor do 1º turno na eleição a governador do Espírito Santo.
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Com cerca de 38,5% dos votos, ante aproximadamente 47% de Renato Casagrande (PSB), ele conseguiu, neste histórico domingo (2), fazer o que não ocorria neste estado desde 1994: levar para o 2º turno a disputa pelo comando do Palácio Anchieta.
Além disso, repetindo 2018, o candidato bolsonarista conseguiu obter, nas urnas, uma votação superior ao que indicavam sondagens dos últimos dias. Há quatro anos, conseguiu dobrar seu desempenho (pesquisa do Ibope na véspera lhe dava 14%, mas ele chegou perto dos 28%). Naquela ocasião, porém, seu desempenho não foi o suficiente para ele ir ao 2º turno contra Casagrande. Desta vez, sim.
Mais importante de tudo: Manato não só chega ao 2º turno como chega fortalecido politicamente. Embora tenha ficado atrás de Casagrande, ele passa para a próxima fase em viés de alta, enquanto o atual governador perdeu fôlego nesta reta final do primeiro escrutínio.
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Como a campanha de Casagrande tinha a grande expectativa de vencer o pleito já neste domingo, é natural que bata certo desânimo no lado governista neste primeiro momento, do imediato pós-apuração, em contraste com a euforia de Manato e seus aliados.
Mas não se trata apenas de uma questão anímica. Trata-se, antes de tudo, de “matemática eleitoral”. Pode soar como outra contradição, mas não ter resolvido a parada agora, mesmo tendo chegado tão perto, pode se converter em um problemão para Casagrande. Um raciocínio imediatista pode nos levar a indagar: mas como “problemão”, se ele só precisa de mais três pontinhos para vencer Manato no 2º turno, enquanto o bolsonarista precisa de mais de dez?
O xis da questão aqui é: onde se encontra esse “estoque de votos”? E aí, quando olhamos para onde foram os votos não recebidos nem por Casagrande nem por Manato, os olhos do segundo podem brilhar: Guerino (7%), Audifax (6,5%) e Aridelmo (0,76%) perfazem, juntos, mais de 14 pontos percentuais, um número que na certa será decisivo no 2º turno, dependendo da destinação desses votos.
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Ocorre que todos eles – Guerino, Audifax e Aridelmo –, assim como Manato, são adversários de Casagrande e foram candidatos de oposição a seu governo. Mais até do que o candidato do PL, os três passaram o 1º turno inteiro fazendo críticas duríssimas ao atual governador. Portanto, é um movimento natural e lógico que os três declarem apoio a Manato nos próximos dias.
Guerino, aliás, já o fez. Em nota divulgada na noite deste domingo o ex-prefeito de Linhares confirmou seu apoio a Manato – mantendo-se fiel a um compromisso que ele já tinha anunciado no início de setembro, de ladear-se com o candidato do PL contra Casagrande se não chegasse ao 2º turno. Assim como Manato, Guerino está alinhado ao bolsonarismo.
Audifax e Aridelmo ainda não se pronunciaram, mas, em entrevistas concedidas à coluna na reta final do 1º turno, ambos declararam o que já era esperado: com Casagrande, não ficariam de jeito nenhum. Logo, por eliminação…
Manato inclusive já marcou, para esta segunda-feira (3), às 8 horas da manhã, reunião com Aridelmo na Fucape, a faculdade dirigida pelo político do Novo em Vitória. É um típico gesto de cortesia (humildemente, ele irá à “casa” do candidato com menos de 1% dos votos), para lhe pedir apoio. É possível que desse encontro já saia o anúncio da parceria. Em um 2º turno equilibrado contra Casagrande, esses décimos de Aridelmo podem fazer toda a diferença.
Não existe relação determinista quanto à transferência de votos que nos permita dizer que esses mais de 14% dos votos válidos de Guerino, Audifax e Aridelmo migrarão em sua totalidade para Manato só porque eles vão (ou podem) apoiar o candidato bolsonarista. O eleitor – como prova mais uma vez este domingo – tem suas próprias razões, insondáveis. Mas podemos afirmar, aqui e agora, que a tendência é que a maior parte deles sejam absorvidos pelo candidato de oposição a Casagrande.
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Isso coloca o atual governador naquela complexa, delicada e meio paradoxal situação de ter batido na trave, ter ficado por uma braçada para vencer a prova em 1º turno, mas agora entrar no 2º praticamente nas cordas (para usar três metáforas esportivas). O desafio para ele: de onde é que ele vai arrancar esses três pontinhos que lhe faltaram???
Como se não bastasse, a configuração desse 2º turno no Estado, combinado com a do 2º turno presidencial, coloca Casagrande, forçadamente, no lugar (ou na armadilha) que ele evitou a todo custo ao longo do 1º turno estadual: uma disputa pela faixa de presidente tão polarizada entre Lula e Bolsonaro como já foi a do 1º turno tende a se radicalizar ainda mais ao longo de outubro. Isso fará com que ela necessariamente desça para todos os estados, contaminando também o 2º turno aqui em terras capixabas.
E aí, por mais que tenha se esforçado para fugir dessa armadilha até aqui, não tem jeito: Casagrande terá que se posicionar – de maneira mais explícita – no “time do Lula”, isto é, no rol de aliados do ex-presidente contra Bolsonaro. Se ele não o fizer por conta própria, Manato e sua campanha tratarão de fazer isso por ele, colando ao máximo em Casagrande o PT, Lula, Dilma etc. Será uma eleição em que será praticamente impossível não assumir um lado contra o outro.
Por que isso pode se tornar um problema adicional para Casagrande? Porque neste domingo não foi só Manato quem deu sinais de força política. Acima de tudo, Bolsonaro provou que ainda é muito forte no Espírito Santo e que o Estado de fato se consolidou como um colégio eleitoral muito permeável ao bolsonarismo.
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Mais uma vez, assim como em 2018, Bolsonaro teria vencido a corrida presidencial em 1º turno se o Espírito Santo fosse o Brasil, tendo obtido mais da metade dos votos válidos dos capixabas.
Como se não bastasse, o desempenho de candidatos a deputado bolsonaristas no Espírito Santo foi muito bom – vide as votações expressivas, por exemplo, de Capitão Assumção para seu segundo mandato seguido na Assembleia e de Gilvan da Federal para a Câmara dos Deputados. Os dois são do PL de Manato, e Assumção inclusive esteve ao lado dele na primeira coletiva de imprensa do candidato a governador após a totalização dos votos. Isso sem falar, é claro, no retorno de Magno Malta ao Senado, também pelo PL.
Com cinco deputados estaduais eleitos, o partido de Manato e Bolsonaro fez a maior bancada da próxima legislatura na Assembleia.
Enquanto isso, o PSB de Casagrande não foi tão bem nas eleições parlamentares no Estado. Com um federal reeleito (Foletto) e três deputados estaduais, o partido teve desempenho abaixo das expectativas.
Manato entra neste 2º turno ancorado em Jair Bolsonaro e empurrado pela força do bolsonarismo, do qual se estabelece mais que nunca como principal representante no Estado. Sua eventual chegada ao Palácio Anchieta significará a chegada do bolsonarismo ao poder no Espírito Santo.
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