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Coluna Vitor Vogas

Magno recebe do partido 20 vezes mais recursos de campanha que Manato

Fundo Eleitoral é a fonte do dinheiro repassado pela Direção Nacional do PL. Candidato ao Senado também aparece no lugar de Manato na propaganda dos candidatos a deputado do partido. Confira as explicações dos dois

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Os dois são filiados ao Partido Liberal (PL). Os dois apoiam Bolsonaro, são apoiados por ele e concorrem a cargos majoritários no Espírito Santo pela sigla do presidente da República. Mas, em termos financeiros – ou, para ser mais preciso, em termos de financiamento de campanha –, as semelhanças entre os dois se transformam em diferença gritante. Até agora, a 17 dias do 1º turno, Magno Malta recebeu 20 vezes mais recursos da Direção Nacional do PL para custear sua campanha de retorno ao Senado do que recebeu Manato para bancar sua campanha a governador do Estado.

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Na prestação de contas parcial dos candidatos, disponível para consulta no site do TSE desde quarta-feira (14), Magno declarou ter recebido R$ 2 milhões da Direção Nacional do PL, enquanto Manato foi contemplado com somente R$ 100 mil. Esta é rigorosamente a mesma cifra repassada pelo órgão partidário a quase todos os candidatos a deputado federal do PL no Espírito Santo.

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Assim, o candidato do PL a governador recebeu até agora, da direção partidária, os mesmíssimos R$ 100 mil repassados aos candidatos que disputam uma vaga na Câmara pela sigla na bancada capixaba.

Os números se referem aos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (vulgo Fundão), dinheiro público que as direções nacionais e estaduais das siglas podem distribuir entre seus candidatos aos diversos cargos em disputa no país inteiro.

A maneira como a cota de cada partido é dividida entre os vários candidatos segue critérios próprios dos respectivos dirigentes, obedecendo aos tetos de gastos estabelecidos pela Justiça Eleitoral. É bem comum que, no mesmo estado (e às vezes concorrendo ao mesmo cargo), alguns recebam mais que outros… Mas a discrepância entre as duas candidaturas majoritárias do PL no Espírito Santo é tão grande que chama a atenção.

Para se ter uma ideia da desproporção, no Espírito Santo, o teto de despesas de um candidato a governador no 1º turno é de R$ 7.115.522,46. O de um candidato a senador é de R$ 3.811.887,03 (pouco mais da metade). Já um candidato a deputado federal pode gastar até R$ 3.176.572,53. Portanto, pela lógica, até a Justiça Eleitoral espera que uma campanha a governador seja mais cara que uma campanha a senador e muito mais custosa que uma campanha a deputado federal.

Magno Malta é o presidente do PL no Espírito Santo e, há muitos anos, é quem comanda o partido no Espírito Santo. Pelo PL (antigo PR), exerceu seus dois mandatos no Senado, entre 2003 e 2018, e está filiado à legenda há muito mais tempo que Manato e que o próprio Bolsonaro. O presidente entrou em novembro do ano passado na sigla presidida nacionalmente pelo ex-deputado federal Valdemar Costa Neto. Já Manato filiou-se em fevereiro deste ano, na esteira de Bolsonaro.

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As explicações dos dois

Procurado pela coluna para explicar a diferença de valores, Magno Malta respondeu, por meio de sua assessoria, que os critérios para distribuição dos recursos do Fundo Eleitoral foram combinados previamente entre ele e Manato, quando esse entrou no partido. Ou seja, Manato não foi pego de surpresa.

Via assessoria de imprensa, Magno afirmou que lá atrás, antes de o presidente Bolsonaro ir para o PL, o partido só possuía um candidato majoritário no Espírito Santo: ele próprio. Como Bolsonaro entrou no PL, Manato também quis se filiar, já que eles têm uma história e uma ligação política. Ficou combinado, então, que o dinheiro do Fundo Eleitoral ficaria para a candidatura de Magno ao Senado e para os candidatos proporcionais do partido no Estado. E Manato assumiu a responsabilidade de viabilizar a própria campanha financeiramente.

Magno Malta e Manato se abraçam em evento em Cachoeiro (04/06/2022)

Por meio de nota, a assessoria de Manato confirmou a versão de Magno:

“O candidato a governador Manato tem feito uma campanha enxuta do ponto de vista financeiro. E é muito grato ao candidato Magno Malta (com quem acertou tudo previamente) por tê-lo recebido no PL. Como o próprio ES360 registrou, Manato deu um salto relevante nas últimas pesquisas, o que mostra que estamos no caminho certo, tanto no que diz respeito à austeridade quanto ao posicionamento da campanha.”

Segundo a assessoria de Magno, não há nenhuma previsão de novos repasses da direção nacional, para nenhum dos dois candidatos, até a votação em 1º turno, no dia 2 de outubro. A ver.

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Imagem? Só a de Magno

Outro ponto que precisa ser sublinhado, pois prova de maneira incontestável a priorização da campanha de Magno sobre a de Manato no PL, é um caso único nesta eleição no Espírito Santo:

No horário eleitoral gratuito exibido no Estado, Manato é o único candidato a governador que não aparece nas vinhetas dos candidatos a deputado estadual e federal do próprio partido. No lugar dele, nas inserções dos candidatos do PL, é exibida a foto do Magno, com nome e número de urna, ao lado da foto de Bolsonaro, no canto dela.

Para efeito de comparação, nas inserções dos candidatos a deputado de todos os partidos que compõem a coligação do governador Renato Casagrande (são 11), aparece ao fundo o nome dele, o do seu candidato a vice, Ricardo Ferraço, e o número de urna da chapa.

Nas dos candidatos da coligação de Audifax, ocorre a mesma coisa, assim como nas dos poucos candidatos do PSD de Guerino Zanon. O Novo só tem uma candidata a deputada federal, Patricia Bortolon, mas lá estão o nome e o número de Aridelmo.

A coligação de Manato e Magno é formada pelo PL e também pelo PTB. Os candidatos a deputado desse último partido exibem a imagem de Manato. Só os do PL é que não.

Indagada pela coluna, a assessoria de Magno explicou que também isso foi fruto de acordo prévio entre ele e Manato:

“Quanto ao uso da imagem de Magno nas inserções dos candidatos proporcionais, foi um trato entre Magno e Manato também.”

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Os números da discrepância

Na prestação de contas parcial ao TSE, a Direção Nacional do PL declarou R$ 327,7 milhões em recursos partidários, sendo R$ 268,1 milhões oriundos do Fundão. O dinheiro foi distribuído a candidatos do partido pelo Brasil.

Em sua própria prestação de contas parcial, Magno declarou R$ 2.122.792,00 em receitas para a campanha. Desse montante, R$ 2 milhões foram repassados pela Direção Nacional em uma única transferência eletrônica, feita no dia 24 de agosto.

Magno já contratou despesas que totalizam R$ 1.830.393,01.

Desse total, R$ 1.264.169,83 já foram efetivamente pagos (tudo com dinheiro do Fundão). Falta pagar R$ 566.223,18.

Com produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, a campanha de Magno já gastou R$ 257.440,00.

Já em sua prestação de contas, Manato declarou uma receita total de R$ 127.310,00, sendo R$ 100 mil do Fundão, repassados pela Direção Nacional em uma transferência eletrônica feita no dia 26 de agosto.

Manato, porém, já contratou despesas que superam em seis vezes o valor já arrecadado por ele. Até agora, sua despesa total contratada chega a R$ 759.025,50, mas a efetivamente paga fica em R$ 83.731,00 (tudo com recursos do Fundão).

O total de despesas ainda não quitadas é de R$ 665.294,50. Ele ainda não pagou um centavo pela produção de programas de rádio, televisão ou vídeo.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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