Coluna Vitor Vogas
Magno para evangélicos: “Ou reagimos ou teremos igrejas fechadas”
Em comício organizado por pastores nesta quinta (1º), ex-senador afirmou que foi ele quem desenhou o Auxílio Brasil para Bolsonaro, que passou da hora de Alexandre de Moraes sofrer impeachment e que, se voltar ao Senado, vai convocar um ministro do Supremo por dia para depor

Magno Malta durante comício promovido pela Fenasp
Como um “profeta do Apocalipse”, com a plateia inteiramente dominada, o candidato faz o alerta, usando uma metáfora bíblica: “Nós estamos à beira de um abismo! Ou nós reagimos ou iremos para a Babilônia. Ou reagimos ou teremos igrejas fechadas e o aborto legalizado. Vão acabar com o agronegócio, disse o Lula. ‘Ah, mas eles plantam até o que não deve’. Não! O agronegócio no Brasil não planta maconha nem cocaína! Planta só o que dá! Eles dizem que vão acabar com a moral católica…”
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O “profeta” em questão é o ex-senador Magno Malta (PL). Em campanha para voltar ao Senado, após o revés sofrido em 2018, o candidato proferiu essas palavras para um público bastante amigável, formado por simpatizantes e apoiadores fervorosos, durante um comício organizado por pastores que representam o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp).

Guerino abraça candidatura de Magno
O evento foi realizado no Espaço Patrick Ribeiro (Novo Aeroporto de Vitória) na noite desta quinta-feira (1º) e também contou com a participação de dois candidatos a governador: Carlos Manato (PL) e Guerino Zanon (PSD). Os três se dizem representantes da direita conservadora cristã, apoiam Jair Bolsonaro (PL) e são apoiados pela Fenasp (também partidária de Bolsonaro). Durante o comício, Manato e Guerino anunciaram que estarão juntos em eventual 2º turno contra o governador Renato Casagrande (PSB). O ex-prefeito de Linhares também expressou apoio a Magno para o Senado.
A fala de Magno reforça rumores infundados em circulação durante este período de campanha. Em certos meios evangélicos – inclusive no comício em questão –, tem sido difundida entre fiéis uma onda de medo relacionada a um suposto risco de “fechamento de igrejas” em caso de vitória nas urnas de candidatos de esquerda.
Por sinal, o enfrentamento à esquerda e a necessidade de “apeá-la do poder” no Espírito Santo deram a tônica do discurso de Magno – que superou em muito os 20 minutos previstos para ele –, marcado pelo corte ideológico entre a direita conservadora cristã e a esquerda, notadamente o PT.
Destacando as “lutas incessantes” de seus 16 anos de mandato no Senado (2003-2018) e suas “lutas contundentes em favor da fé”, o ex-senador reavivou itens de uma pauta de campanha sem nenhuma base fática, mas que repercutiu bastante entre eleitores evangélicos na eleição de 2018: “Se não fosse a guerra que fizemos [no Congresso], aborto já estaria aprovado, ideologia de gênero já estaria aprovado e crianças de seis anos já estariam recebendo kit gay nas escolas”, afirmou, sob aplausos de um auditório hipnotizado.
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O “desenhista” do Auxílio Brasil
Em alguns momentos, Magno também fez afirmações bastante duvidosas, como a de que o Brasil teria “a gasolina mais baixa do mundo”. Chegou a se apresentar como idealizador do Auxílio Brasil, programa de transferência direta de renda do governo Bolsonaro para as famílias mais pobres: “Eu tive a alegria de desenhar o Auxílio Brasil para o presidente. Se hoje o Brasil tem o Auxílio Brasil, agradeça ao povo do Espírito Santo. Nós criamos o Auxílio Brasil!”
“É a igreja que decide a eleição!”
Notório encantador de plateias – com o dom da oratório lapidado em mais de 30 anos na política –, Magno conferiu evidente tom religioso ao seu pronunciamento, condizente com o evento e com o público muito favorável a ele: “A igreja no Brasil não ganha eleição. Mas é a igreja que decide. É a igreja que decide! A igreja não elege um governado aqui no Espírito Santo. Mas é a igreja consciente que vai decidir a eleição”.
“Trincheira cristã”
Diante de alguns candidatos a deputado, Magno os conclamou a exercer mandatos voltados para a defesa dos princípios cristãos: “Nós não somos nada sem nossa fé, sem os nossos princípios. E entendam os senhores, que são candidatos a deputado estadual e federal, que a tribuna da sua Câmara Estadual ou Federal se torne uma trincheira de defesa de valores, de princípios!”
Moraes: “encarnação da fake news”
Boa parte do discurso de Magno foi dedicado a críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) – destacadamente, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news –, em consonância com a retórica bolsonarista que encontra forte aderência entre pastores e seguidores de igrejas neopentecostais. O ex-senador chegou a chamar Moraes de “encarnação da fake news”:
“Não existe Constituição no Brasil. O que existe no Brasil é um ativismo judicial. O senhor Alexandre de Moraes está apaixonado por mim. Ele tem agora o inquérito das fake news. Se a fake news morreu, encarnou e o espiritismo está certo, Alexandre de Moraes é a encarnação da fake news!”
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Moraes: “Passou da hora de ser impichado”
Ele também afirmou que, se voltar ao Senado, vai convocar um ministro do Supremo por dia para depor na Casa. Disse, ainda, que “já passou da hora” de Moraes sofrer impeachment.
“É preciso que o Senado tenha consciência da sua legitimidade”, opinou o ex-senador, narrando que, quando lá esteve, o STF determinou a prisão de três senadores: Renan Calheiros (MDB), Delcídio Amaral (PT) e Aécio Neves (PSDB).
“Mandaram prender. O Senado só avalizou a prisão do Delcídio, embora eu também tenha votado a favor da prisão do Aécio. Havia crime. […] Se um ministro do tribunal superior pode mandar prender um senador, por que 81 senadores não têm coragem de convocar um ministro do Supremo para ir depor no Senado? Se eu estiver lá, eu vou convocar um por dia! E o Alexandre de Moraes já passou da hora de ser impichado. Já passou todos os limites!”
Mandato de oito anos no STF
Ainda sobre o Supremo, Magno adiantou que, se eleito, vai trabalhar para mudar as regras (constitucionais) de indicação e sabatina dos ministros:
“Ninguém vai calar minha boca! Ninguém vai me calar! Eu vou voltar para fazer com que o Senado cumpra a Constituição e ponha os ministros do Supremo Tribunal Federal para estar dentro do título que eles receberam. Qual é o título? Guardiões da Constituição. Eles não estão lá para pisar na Constituição, cuspir na Constituição e ter uma Constituição própria. É para isso que eu estou voltando: para mudar as regras da indicação e da sabatina de ministros do STF.”
Ele também quer mudar as regras de investidura dos ministros no cargo, introduzindo mandatos de oito anos para cada um: “Eles não são Deus e não têm que ser eternizados ali”.
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“Bolsonaro será eleito com 70% dos votos”
Sempre em sintonia com a retórica de Bolsonaro, Magno sugeriu que existe risco de o processo de votação ser fraudado. E fez uma projeção completamente surreal, sob qualquer ângulo de análise: “As eleições não serão tomadas na marra. Na marra, ninguém vai levar. No tapetão, não vai levar. Porque, em havendo eleições limpas, Jair Bolsonaro é presidente no 1º turno, com 70% dos votos do povo do Brasil”.
Na maior parte das pesquisas eleitorais, feitas por diversos institutos, Bolsonaro aparece com mais de 50% de rejeição. Mesmo nos levantamentos que trazem o presidente mais bem posicionado, ele não chega, hoje, a 40% das intenções de voto.
A indireta de Magno para Rose
Magno respondeu a uma das críticas mais comuns que pesam contra ele: a de que, preocupado demais com a agenda de costumes da bancada da Bíblia no Congresso, muito pouco teria feito para ajudar o Espírito Santo, ajudando a liberar investimentos, a destravar pautas logísticas e a promover o desenvolvimento econômico e social do estado. Essa é, em contrapartida, uma atuação sempre destacada pela senadora Rose de Freitas (MDB), principal concorrente de Magno no momento segundo pesquisas eleitorais, quando ela enaltece a si mesma.
“Alguns dizem ‘Esse cara passou tanto tempo no Senado, não fez nada pelo meu município’. Eu podia ter trazido a relação dos milhões que eu mandei para todos os municípios. Só que eu mandava e proibia os prefeitos de dizer meu nome. Nunca fui numa ordem de serviço. Nunca fui numa inauguração, porque o município não me deve nada, não tem que colocar um trator na praça com uma faixa com meu nome durante 30 dias. Não! Sou eu que devo ao município, que votou em mim, acreditou em mim. Essa lógica infame tem que acabar!”
Rose de fato, literalmente, recebe faixas de prefeitos por pequenas entregas no interior. E sempre faz questão de ressaltar os recursos que direciona para esses municípios.
A senadora também andou mandando as suas indiretas para Magno em eventos públicos.
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