Coluna Vitor Vogas
“Desumano”: Guerino e Audifax intensificam fogo contra Casagrande
Pondo em xeque a capacidade e até a humanidade do atual governador, ex-prefeitos de Linhares e da Serra estão usando estratégias parecidas para miná-lo. Coluna analisa as semelhanças e as pequenas diferenças
A dez dias da votação em 1º turno, os principais adversários de Casagrande – Manato, Guerino e Audifax – estão intensificando as críticas ao atual governador. A constatação vale principalmente para os ex-prefeitos de Linhares e da Serra. Com sutis variações, os dois estão utilizando estratégias bem parecidas para minar Casagrande. Tanto em postagens como em entrevistas e no horário eleitoral gratuito, ambos têm classificado o socialista como “desumano”.
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As estratégias dos dois ex-prefeitos partem da mesma premissa: a de que Casagrande, segundo eles, fez questão de guardar no caixa estadual um dinheiro que deveria ter sido gasto para fazer frente aos problemas atuais que afligem a população mais vulnerável e demandam soluções urgentes – destacadamente, o aumento da pobreza, da extrema pobreza e da fome. Audifax fala em R$ 6 bilhões. Guerino, em R$ 10 bilhões.
Audifax e Guerino batem nisso e ainda dizem que Casagrande não foi um gestor competente para resolver esses “velhos problemas”. Ambos se apresentam como esse gestor mais qualificado. Na sua entrevista à BandNews, dada na última terça-feira (20), o ex-prefeito da Serra repetiu diversas vezes que Casagrande “não é gestor”. Em seu programa eleitoral de rádio e TV, o de Linhares repete que o Espírito Santo precisa de “gestão de verdade”.
Uma pequena nuance é que Audifax se fixa mais em dizer que Casagrande “está há oito anos no governo” (se não fez em oito anos, não vai fazer agora nem nos próximos quatro anos), enquanto Guerino se concentra mais no argumento de que o governador deixou para fazer investimentos somente neste ano eleitoral (se teve quatro anos para fazer, por que deixou para fazer só agora? Por que não antes, no auge da pandemia?).
“O atual governador fala em responsabilidade fiscal, mas as contas dele não batem. Não se sacrifica o povo quando as pessoas mais precisam, para gastar o dinheiro em ano de eleição”, lê-se em um post publicado por Guerino há dois dias em suas redes sociais.
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Outra gritante semelhança é que os dois ex-prefeitos se apresentam como “a mudança segura”. Em sua entrevista à BandNews na última terça-feira (20), Audifax conclamou os ouvintes: “Vamos trocar com responsabilidade. Não vamos trocar por trocar. Vamos trocar por quem já foi gestor […] Estou preparado para ser governador do Estado”.
No mesmo dia, em um vídeo publicado em suas redes sociais, Guerino disse algo muito similar: “Nós precisamos agora fazer uma mudança segura, com uma gestão de verdade”.
No dia seguinte, quarta-feira (21), Audifax fulminou Casagrande em sua propaganda de TV: “São R$ 6 bilhões guardados, e o povo correndo risco de morte todo dia. Além de um mau gestor, o governador é desumano”.
Antes, na segunda-feira (19), também no horário eleitoral, Guerino apresentou a história de dona Luzinete, uma senhora que vive na extrema pobreza (ou miséria), como “gancho” para introduzir o seu programa ICMS Social, que promete devolver às famílias de mais baixa renda o imposto pago na aquisição de itens da cesta básica.
Ao apresentar o programa, o candidato do PSD também fuzilou Casagrande, atribuindo-lhe “desumanidade”:
“Hoje temos um governo desumano, que guarda dinheiro para investir só em ano de eleição. Enquanto isso, mais de um milhão de capixabas, como dona Luzinete, estão na pobreza ou na extrema pobreza. Isso vai mudar. […] Já chega de um governo que não se importa com as pessoas. Com uma gestão de verdade, vamos melhorar a vida de muita gente.”
Essa fala de Guerino na última segunda-feira foi particularmente curiosa porque seu programa foi exibido logo após o de Casagrande. O atual ocupante do Palácio Anchieta acabara de aparecer na tela defendendo que “um governador precisa ter empatia”.
“Empatia” é justamente a capacidade de se colocar no lugar das outras pessoas e de se solidarizar com elas, inclusive no sofrimento e na dor: uma característica essencialmente humana. Chamou a atenção o contraste entre a autoimagem de Casagrande e o modo como ele é enxergado pelo seu adversário eleitoral.
E aí? Empático ou desumano? Qual deles está certo? Cabe ao eleitor decidir.
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“Isso é maldade!”
No já citado vídeo, postado na terça-feira (20), Guerino atribuiu a Casagrande comportamento maldoso:
“Guardar dinheiro na pandemia com comércio e igreja fechados, trabalhador sendo demitido e família vivendo de doação de cesta básica… Isso não é responsabilidade fiscal. Isso é maldade!”
Audifax critica o “fica em casa”
Falando em pandemia, em um recente post em suas redes sociais, Audifax chegou a criticar até medidas de isolamento social decretadas pelo governo Casagrande no auge da pandemia, entre 2020 e os primeiros meses de 2021: “Lembra do ‘fica em casa’?”, pergunta o ex-prefeito da Serra. Ele acrescenta que, enquanto o governo estadual proibiu o funcionamento de setores econômicos (notadamente, o comércio), a construção civil não parou e os ônibus seguiram circulando lotados.
“Ele agiu com dois pesos e duas medidas, e quem saiu perdendo foi a população. Agora chegou a nossa vez de deixar ele em casa”, arremata o candidato da Rede.
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Resposta da campanha de Casagrande
Até agora, a campanha de Casagrande não gastou um segundo de propaganda de rádio e TV (e olha que ele tem tempo de sobra!) para rebater diretamente essas críticas formuladas por adversários. Perguntamos ao coordenador da campanha, o secretário estadual de Educação, Vitor Amorim de Angelo, se isso vai mudar até semana que vem (a última do 1º turno), ou se Casagrande continuará ignorando as falas dos concorrentes.
“O governador não está ignorando”, respondeu De Angelo. “Ele só não está usando dessa estratégia. Ele tem sido questionado em sabatinas sobre esses pontos e, sempre que questionado, coloca seus argumentos de maneira muito clara, sem se esquivar e com uma postura propositiva. Nossa campanha não tem feito ataques. Até aqui, não usamos essa estratégia de rebater ataques no horário eleitoral. Agora, como em qualquer outro assunto, essas coisas são avaliadas diariamente e estão sujeitas a alterações.”
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