Coluna Vitor Vogas
Contarato e Casagrande “frente a frente” para selar aliança do PT com o PSB no ES
Os dois devem se encontrar virtualmente nesta terça com Gleisi Hoffmann, Carlos Siqueira, Jackeline Rocha e Helder Salomão. Na prática, candidatura Contarato já era: PT vai negociar os “termos de rendição” para retirá-lo e apoiar a reeleição de Casagrande

Fabiano Contarato vai se reunir com Gleisi Hoffmann e com Renato Casagrande para selar rumo eleitoral do PT no ES
Pela primeira vez desde o início das articulações eleitorais, o governador Renato Casagrande (PSB) e o senador Fabiano Contarato (PT) podem ficar “frente a frente” nesta terça-feira (5), e seus respectivos partidos podem enfim assinar um “tratado de união de forças” na disputa pelo governo do Espírito Santo. Está prevista para o fim da tarde uma reunião virtual com a participação de Casagrande, Contarato, o presidente nacional do PSB, Carlinhos Siqueira, e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, para tratar especificamente de uma definição no Espírito Santo.
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É altíssima a probabilidade de os dois partidos fecharem um acordo em que o PT aceitará desistir da candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta para apoiar a reeleição de Casagrande.
Inicialmente, a reunião estava marcada para ocorrer nesta terça em Brasília, com a participação presencial de Casagrande. Nesta segunda, porém, o governador anunciou que testou positivo para Covid-19, o que obrigou os dirigentes envolvidos a alterar os planos. Gleisi e Siqueira devem se encontrar pessoalmente em Brasília, enquanto Casagrande deve participar remotamente, por videoconferência.
A presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, também deve participar do encontro decisivo. Quem também vai participar, virtualmente, é o deputado federal Helder Salomão, que também integra a comissão do PT do Espírito Santo encarregada de conduzir as articulações eleitorais com outros líderes partidários. Assim como Casagrande, Helder foi diagnosticado com Covid-19.
A programação pode sofrer alterações.
Quanto ao desfecho das negociações, dificilmente haverá mudanças em relação ao previsto. Na prática, como temos sustentado neste espaço desde junho, a pré-candidatura de Contarato a governador já era.
O que compete ao PT agora é negociar os “termos de rendição” ao PSB de Casagrande no Espírito Santo. O partido, é claro, não quer ceder seu apoio ao socialista de graça: espera um espaço na chapa majoritária encabeçada pelo governador, participação na formulação do plano de governo e, acima de tudo, demonstrações substanciais de apoio de Casagrande ao ex-presidente Lula, durante o período oficial de campanha.
No último sábado (2), conforme antecipamos aqui, 138 representantes do PT no Espírito Santo aprovaram por unanimidade uma resolução reafirmando a manutenção da pré-candidatura de Contarato ao Palácio Anchieta, durante o Encontro Estadual de Tática Eleitoral.
O documento, contudo, é praticamente pró-forma. Conforme sustentamos aqui, pode ser considerado um modo de os dirigentes estaduais do PT marcarem posição e darem uma resposta à militância que anseia pela candidatura de Contarato, provando que foram até onde puderam para concretizá-la, mesmo cientes de que a resolução está fadada a ser revertida pela direção nacional do PT. O efeito prático será nulo.
Não é essa a vontade da direção nacional do PT, a quem cabe a palavra final sobre definições dos palanques nos estados. A orientação da nacional é de aliança com o PSB na eleição ao governo do Espírito Santo.
Nesse caso, o apoio à reeleição de Casagrande entra num pacote bem maior, como uma das compensações do PT ao PSB, em troca do maior sonho de consumo dos petistas no momento: o recuo de Márcio França em São Paulo. Se o ex-governador aceitar desistir de concorrer de novo ao governo para se candidatar ao Senado e apoiar o petista Fernando Haddad na corrida ao Palácio dos Bandeirantes, o PSB deverá ser recompensado em outros estados, como o Espírito Santo.
O PSB terá poder de barganha de sobra para exigir que o PT apoie seus candidatos ao governo em outras plagas, como Casagrande no Espírito Santo.
Operação França quase concluída
No último domingo (3), petistas e socialistas deram um passo enorme nessa direção. Em sua residência em São Paulo, Márcio França recebeu Lula, Haddad e Geraldo Alckmin (PSB) – o vice de Lula – para um almoço. No encontro, França começou a negociar os “termos da rendição” do PSB em São Paulo, os quais, como dito acima, pressupõem a “rendição” do PT ao PSB em estados como o Espírito Santo.
Nesta segunda-feira (4), portais nacionais noticiaram em peso que França saiu desse encontro predisposto a aceitar o acordo e recuar para apoiar Haddad. Lula quer anunciar a aliança com o PSB em São Paulo durante um grande evento popular em Diadema, na Grande São Paulo, no próximo sábado (9).
A bem da verdade, França já vem dando sinais de predisposição a recuar desde a semana passada. Em reunião realizada em Brasília no último dia 27, da qual participou Casagrande, o ex-governador admitiu a dirigentes do PSB que poderia desistir se não atraísse outros partidos a apoiar sua candidatura ao governo – o que de fato não ocorreu. Na última quinta-feira (30), a decisão do apresentador de TV José Luiz Datena de desistir de disputar o Senado abriu um caminho descampado para França se lançar a senador por São Paulo, com o pleno apoio do PT.
Alberto Gavini: “Está no hora”
O presidente do PSB no Espírito Santo, Alberto Gavini, afirma que sua expectativa é que PT e PSB selem mesmo essa aliança no Espírito Santo já na reunião prevista para esta terça-feira:
“Acho que está na hora. Seria muito importante. Minha expectativa é a de que tudo se resolva, sim, nesta terça. Já foram feitas demonstrações dos dois lados para se ajustar isso. Já demos muitos passos interessantes para olharmos para a frente, para todo mundo poder opinar no plano de governo [de Casagrande]. Vindo com a gente, o PT vai nos ajudar também no plano de governo. Temos muito a fazer. Mas, se não fecharmos nesta terça, temos tempo ainda”, atenua o dirigente socialista.
Gavini concorda que França hoje tem fortíssima propensão a ser candidato a senador em São Paulo e que isso, por tabela, facilita imensamente a reprodução da coligação nacional com o PT também no Espírito Santo, mas com o PSB na cabeça da chapa:
“Acho que o França vai vir mesmo a senador, e essa coisa está se resolvendo. A saída do Datena abriu um horizonte para que a gente possa ir vencendo todas as etapas, também aqui em nosso estado. Isso nos ajuda bastante no Espírito Santo. É um obstáculo a mais tirado do caminho. Ajuda muito na composição.”
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