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Coluna Vitor Vogas

Arcebispo e bispos da Igreja Católica no ES assumem posição firme sobre o 2º turno 

Em carta endereçada a fiéis, eles criticaram duramente “as mentiras sobre fechamento de Igrejas, o medo, o ódio e a violência”. Missiva pode ser interpretada como condenação implícita à campanha de Bolsonaro e alguns de seus apoiadores

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Dom Dario Campos é arcebispo de Vitória desde 2018. Foto: Divulgação

As cinco maiores autoridades da Igreja Católica no Espírito Santo divulgaram, nesta quinta-feira (20), uma carta em que assumem posições firmes a respeito do segundo turno das eleições para governador do Estado e presidente da República. Eles não citam nem expressam apoio a nenhum candidato, mas criticam duramente as fake news sobre fechamento de igrejas que têm inundado esse processo eleitoral, bem como o medo, o ódio e a violência política que, na visão dos religiosos, não podem calar a verdade sobre os problemas mais profundos do país, como a fome e o empobrecimento da população. 

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A carta é assinada pelo arcebispo metropolitano de Vitória, Dom Dario Campos, pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória, Dom Andherson Franklin Lustoza de Souza, e pelos bispos das três dioceses do Espírito Santo: Dom Paulo Bosi Dal’Bó (São Mateus), Dom Luiz Fernando Lisboa (Cachoeiro de Itapemirim) e Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa (Colatina). 

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Segundo eles, “as mentiras sobre fechamento de Igrejas, o medo, o ódio e a violência política que são disseminadas pelas ruas e pelas mídias sociais não podem calar a verdade do empobrecimento e da fome que a realidade nos mostra, orientando, assim, o agir e o voto dos cristãos”.

Os cinco signatários também afirmam que o Espírito Santo não pode retroceder em aspectos fundamentais: “Não podemos admitir que o nosso Estado retroceda na garantia de direitos, na confiança e seriedade das instituições, no combate a toda forma de violência que provoca tanto prejuízo, dor e sofrimento ao povo, principalmente aos pequenos e empobrecidos”.

Dom Dario e os quatro bispos que o acompanham conclamam os católicos a agir comprometidos com a verdade, a justiça e a paz, na defesa da vida e da dignidade de todas as pessoas:

“Neste segundo turno eleitoral, o futuro do nosso Estado, aquilo que desejamos para nossas crianças, jovens, adultos e idosos, está sendo moldado. Por isto, todos nós devemos agir sempre comprometidos com a verdade, a justiça e a paz, na defesa da vida e da dignidade de todas as pessoas, especialmente os mais pobres e vulneráveis, que sofrem ao longo dos anos, com a ausência de políticas públicas voltadas para o seu bem-estar integral, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja. A verdadeira cidadania cristã exige diálogo, respeito, solidariedade e repúdio a toda e qualquer forma de violência, que fere a vida e a dignidade das pessoas.”

Ainda de acordo com os cinco líderes católicos, o voto deve ser iluminado não pela mentira e pelo medo, e sim pela fé e a razão: “Quando o voto é iluminado pela fé e a razão e não pela mentira e pelo medo, realiza-se um pacto com os governantes, pelo nosso futuro e pelo futuro de quem amamos, como uma manifestação de nossa vontade de viver num Estado que gera e faz a vida crescer”. 

Interpretação da carta

Embora não haja na carta citação a nenhum candidato, qualquer um que esteja ciente do contexto eleitoral brasileiro e em dia com o noticiário político durante o período de campanha pode extrair do texto algumas indiretas a Bolsonaro e a bolsonaristas. 

Em primeiro lugar, é a campanha do próprio presidente que tem propagado, desde antes do 1º turno, a mentira de que, se o ex-presidente Lula (PT) for eleito, fechará templos religiosos. Alguns líderes religiosos (católicos e evangélicos) e alguns políticos que apoiam o presidente, como o senador eleito Magno Malta (PL), também têm alardeado esse “risco” em cultos e comícios, não raro fazendo paralelismos com o presidente ditador da Nicarágua, Daniel Ortega. O TSE já determinou a remoção de posts de aliados de Bolsonaro que ligam Lula a Ortega. 

A informação falaciosa obviamente gera medo entre os fiéis e rejeição ao adversário, mobilizando votos em Bolsonaro por temor à “ameaça religiosa” que o outro candidato representaria. Mas não resiste, para citar um trecho da carta dos bispos, ao que “a realidade nos mostra”. Em 13 anos e quatro meses na Presidência (sendo oito anos de governo Lula), o PT não fechou uma só igreja no país. 

Ao contrário, em seu primeiro ano de governo (2003), Lula sancionou a lei nº 10.825, a chamada Lei da Liberdade Religiosa, garantindo que instituições de qualquer religião sejam criadas no país, sem que o Estado possa negar seu registro, como “pessoas jurídicas de direito privado”. Além disso, a Constituição Federal assegura a liberdade religiosa no artigo 5º, incisos VI, VII e VIII. 

Os governos de Lula e de Dilma foram apoiados no Congresso por muitos políticos cristãos, incluindo evangélicos, como o já citado Magno Malta e o então senador Marcelo Crivella.

Na manhã desta quarta-feira (19), em encontro com eleitores evangélicos, Lula divulgou uma carta de compromisso com os eleitores evangélicos, que, na sua maior parte, indicam preferência por Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Na carta, o candidato petista se compromete com a liberdade de culto e de religião e também elenca políticas voltadas às igrejas adotadas durante os seus dois governos. 

Violência e assédio em igrejas

Esta é uma campanha eleitoral que tem sido marcada, de maneira sem precedentes, por violência política motivada por crenças religiosas (muitas vezes incitada por quem deveria promover a paz), exploração e manipulação da fé alheia com fins eleitoreiros, assédio político de líderes religiosos sobre seus rebanhos e até profanação política de templos. 

Um exemplo gritante e lamentável foi o episódio, ocorrido no último dia 12, em que o presidente Bolsonaro transformou em evento de campanha sua ida à missa no Santuário de Nossa Senhora de Aparecida. Uma série de atitudes do presidente e de seus apoiadores foram vistas como desrespeitosas.

Além de desrespeito ao momento da Consagração, jornalistas foram atacados e apoiadores do presidente bebiam até cerveja no local, em um clima que em nada lembrava o de um dia santo para os católicos.

Até o Papa Francisco tem sido ofendido nas redes sociais por bolsonaristas, que o chamam de “comunista”, entre outros termos mais grosseiros. 

Enquanto tais condutas têm merecido a condenação de alguns líderes espirituais, outros tantos têm incentivado e praticado o mesmo comportamento em suas pregações e nas redes sociais. 

Na carta de Dom Dario e dos quatro bispos do Espírito Santo, eles optam pela pregação da paz. Citando Jesus em passagem do Evangelho de João (“Deixo-vos a Paz, a minha paz vos dou!”), dirigem-se aos “caros irmãos e irmãs”, dedicando-lhes “graça e bênção da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Príncipe da Paz”. 

A carta foi escrita por eles em Roma, onde fica o Vaticano, sede da Igreja Católica, e onde estão participando da visita aos túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo. Eles se encontraram com o Papa Francisco.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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