fbpx

IBEF CQC

Agronegócio brasileiro – Dados e Perspectivas

Publicado

em

Por Marcelo Moro

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

O Brasil tem especial vocação ao agronegócio. Ao lado dos Estados Unidos e da China, configura-se como uma das maiores potências no setor. Segundo pesquisa recente da Embrapa, estima-se que o Agro brasileiro alimenta em torno de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo, ou o equivalente a 10% da população mundial. Motivo de orgulho registrado em nosso hino, no qual se faz menção à riqueza oriunda do nosso solo: “teus risonhos, lindos campos têm mais flores, nossos bosques têm mais vida”. Vamos explorar juntos neste artigo os motivos do sucesso e os desafios para o setor.

Os dados do agronegócio brasileiro não param de bater recordes. Somente no primeiro trimestre de 2021, o crescimento do PIB do setor foi de 5,70%, sendo a principal alta quando se olha todos os indicadores (Crescimento consolidado 1° Tri/2021: +1,20%; demais setores: Indústria +0,40%; Serviços +0,40%; FBCF +4,60%; Cons. Famílias -0,10%; Cons. Governo -0,80%). O setor movimentou mais de R$ 348 bilhões, uma representatividade de 26,60% de toda riqueza produzida no país. Quando se analisa, por exemplo, a produção de grãos, a expectativa é que 2021 bata o recorde de safra pelo quarto ano consecutivo: 260,50 milhões de toneladas contra 254,10 milhões de 2020, segundo dados do IBGE.

Os números acima apresentados corroboram para os resultados positivos da balança comercial. Com isso, vimos nos últimos dez anos as exportações do agro saltarem de 20,6 bilhões para 100 bilhões de dólares. Claro que a desvalorização cambial do real frente ao dólar também favoreceu o superávit, uma vez que tornou nosso produto mais competitivo; no entanto, houve também muitos ganhos de eficiência e produtividade. Ao entrar no detalhamento das exportações, dos dez principais produtos brasileiros exportados, sete deles têm ligação com o agronegócio.

Na tabela abaixo, vemos os principais produtos exportados, volume financeiro, representatividade, principais destinos, e os principais estados exportadores dos produtos brasileiros:

Alguns fatores explicam o sucesso histórico do agronegócio brasileiro: além de abarcar um vasto território e clima favorável, o país conta com tecnologia de ponta no setor. Nesse contexto, destaca-se o papel fundamental da Embrapa, que concede apoio à sustentação e ao desenvolvimento do agronegócio. Essa respeitada entidade foi fundada em 1973 pelo governo federal da época com o objetivo de resolver problemas específicos de abastecimento, e no intuito de expandir e diversificar as exportações. Hoje ela é reconhecida internacionalmente como centro de pesquisa e ciência. No entanto, ainda temos muito a avançar, visto que apenas 1,20% dos recursos do PIB são destinados à pesquisa do agronegócio, percentual abaixo do mínimo de 2% recomendado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para manter o protagonismo mundial no setor, é necessário investir mais e melhor, uma vez que – como já sabemos – esse é um investimento com retorno certo, tanto em termos econômicos como sociais.

Apesar dos excelentes números, destacamos outros desafios do agronegócio: segundo dados do CEPEA/USP, a renda real do segmento primário agrícola recuou 20% entre os anos de 2017 a 2019, mesmo com a produção tendo crescido quase 20% no período devido ao movimento desfavorável de preços. Isso ocorre porque, em muitos casos, as modalidades de comercialização envolvem venda antecipada, ou seja, nessas situações o produtor não aproveita a forte alta de preço no período, como a ocorrida em 2020. Outro ponto importante a se destacar é que no último ano os custos de produção também subiram, muito embora em proporções menores em relação ao preço.

Somando-se a isso, não podemos deixar de mencionar aqui que a principal demanda do produtor rural brasileiro, segundo CNA (Confederação Nacional da Agricultura), é a necessidade de crédito. Somente a partir da década de 70 houve uma política de crédito que permitisse a industrialização e a mecanização do campo. Segundo dados do (BACEN), no ano de 2020 foram liberados mais de 206 bilhões de reais para o financiamento das atividades agrícolas; contudo, esse volume de recursos parece ser insuficiente, visto que a burocracia e as garantias exigidas acabam por travarem o acesso, não democratizando esse importante recurso aos produtores.

Outro gargalo importante do agronegócio é o fator logístico e de infraestrutura. O Brasil apresenta problemas visíveis nesses aspectos, que vão desde a movimentação dos grãos da colheita na fazenda até as cooperativas, armazéns e embarques nos portos, o que ocasiona a elevação dos custos do produto e a diminuição da competitividade internacional em exportações, isso por conta das perdas dos produtos em rotas de escoamento. Para darmos um exemplo qualitativo, observamos que as perdas podem ser iniciadas em um mero detalhe durante a colheita, como a umidade da soja acima do recomendado: se não tratada, pode incorrer em perdas severas de qualidade no processo de armazenagem. Por outro lado, além do alto custo da nossa principal matriz modal — o transporte rodoviário —, no aspecto quantitativo esse modal acaba provocando, em muitos casos, o “escorrimento” de grãos durante o transporte da safra devido aos seus problemas crônicos.

Segundo a CONAB (2018), as perdas no transporte de grãos nacional estão abaixo do nível tolerado de 0,25%. O milho é o grão que mais possui perdas, com valores estimados de até 0,1%. Para o trigo e arroz em casca, são indicados, respectivamente, valores de 0,17% e 0,13%. Essas porcentagens em tonelada transportada equivalem a 1,2 kg/tonelada para o milho, 1,7 kg/tonelada para o trigo e 1,29 kg/tonelada para o arroz em casca; com isso, as perdas chegam respectivamente a R$ 0,51/tonelada, R$ 1,4/tonelada e R$ 1,3/tonelada. A sugestão dada pelo órgão para reduzir essas perdas é a integração modal, o que necessariamente requer maiores níveis de investimentos. As recentes e bem-sucedidas concessões e privatizações, que foram iniciadas em 2019, podem acelerar esse processo, gerando ganhos de eficiência no pós-colheita, o que permitirá melhores resultados em toda a cadeia, incluindo preços mais acessíveis na mesa do consumidor, bem como maiores margens de lucros.

Vejamos que, apesar do sucesso do agronegócio brasileiro, ainda temos muito espaço para expandir e evoluir. Para que o setor continue batendo recordes de produção, continuando a surpreender, é preciso manter políticas públicas que proporcionem sustentação aos produtores rurais, além da integração com centros de pesquisa que gerem inovação. Tudo isso pode permitir ganhos de eficiência e produtividade, aumento nos níveis de investimento, bem como ampliação de linhas de crédito.

Longe de querer esgotar o assunto, esse artigo buscou trazer algumas contribuições para o setor. Acreditamos que o Brasil está no caminho certo no que diz respeito ao agro, e também apto a assumir, num futuro próximo, a liderança como maior produtor de alimentos do mundo.

Sobre o autor

Foto: Marcelo Moro/Divulgação

Foto: Marcelo Moro/Divulgação

Marcelo Moro é bacharel em Contabilidade e Finanças, mestrando em Administração de Empresas pela Fucape e especialista em Seguros. Atualmente é sócio da Leevre Corretora. É Associado ao IBEF ES e Membro do Comitê de Conteúdo de Economia e Desenvolvimento Econômico do IBEF ES.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

IBEF CQC

Os Comitês Qualificados de Conteúdos ou CQC’s são grupos qualificados e técnicos do IBEF-ES para geração de conteúdo mensal e tem como objetivo promover o debate sobre o desenvolvimento econômico e social no ecossistema de economia, finanças e gestão empresarial capixaba.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.