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Coluna Vitor Vogas

“Vitória elege pessoas de centro para esquerda”, afirma João Coser

Em entrevista ao EStúdio 360, ex-prefeito diz que sonha em ter Casagrande em campanha aberta por ele, dá sua classificação ideológica para Pazolini, revela aproximação com Luiz Paulo, projeta “uma grande unidade” contra o atual prefeito e coloca um grande “mas” sobre ele e Camila Valadão “cruzando votos” no 1º turno

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João Coser quer voltar a governar Vitória. Foto: Assessoria

Quando esteve no EStúdio 360, telejornal da TV Capixaba, a deputada estadual Camila Valadão havia acabado de ter sua pré-candidatura a prefeita de Vitória aprovada em congresso estadual do PSol. Era o fim de setembro. Perguntamos a ela, então, se essa candidatura não pode prejudicar a própria esquerda, na medida em que ela e João Coser (PT) podem vir a dividir entre si os votos do mesmo segmento do eleitorado, o que, numa disputa possivelmente pulverizada no 1º turno, pode em tese impedir que um dos dois chegue ao 2º.

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Em outras palavras, a pergunta foi se essa estratégia não poderia se revelar uma autossabotagem do campo progressista, favorecendo involuntariamente o adversário em comum dos dois, Lorenzo Pazolini (Republicanos).

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Camila respondeu que não enxerga as coisas assim; que ela e João Coser na certa têm eleitores com perfis diferentes (os dela, muito mais jovens e preocupados com questões identitárias); e que, no 2º turno, os dois com certeza estarão juntos (caso um deles avance de fase).

Na última segunda-feira (20), foi a vez de João Coser ser entrevistado no EStúdio 360, em circunstâncias bastante parecidas: no dia 26 de outubro, o deputado e ex-prefeito de Vitória teve sua pré-candidatura ratificada pela Executiva Estadual do PT. Na entrevista, fizemos a ele exatamente a mesma pergunta que fizéramos a Camila Valadão.

A resposta de Coser foi diferente.

Ele não foi tão assertivo – até porque esse não é o seu estilo. Mas, enviesadamente, deu a entender que prefere fazer um acordo com Camila para que os dois estejam juntos desde o 1º turno, ou seja, para que ela retire a pré-candidatura e apoie desde início seu retorno à Prefeitura de Vitória. Para isso, Coser deve dialogar bastante com a psolista e colega na bancada da esquerda na Assembleia, a fim de convencê-la desse tese.

“É natural que a Camila, que foi uma excelente vereadora e uma deputada muito bem votada, se coloque com a perspectiva de ser candidata à prefeita. É meio que o desejo ou o sonho de todo político de Vitória ou da sua cidade. Ela tem uma legitimidade na sua candidatura, até pela forma como vem chegando. Disputou várias eleições, ganhou uma primeira e ganhou uma segunda. Então ela tem um processo de ascensão na política, o que é bacana.”

Feitas todas as ressalvas e elogios, veio o “mas”:

“É lógico que uma candidatura como a de Camila é colada com a minha. Os votos se cruzam. Uma só candidatura levaria uma quantidade de votos muito maior, naturalmente. Mas temos que compreender que isso faz parte da vida e do projeto. […] Acho que tem voto para todo mundo. Tem 100% para você dividir. O nosso sonho é que a gente consiga fazer mais da metade e, no 2º turno, essa mais da metade se junte para fazer o prefeito.”

Construir uma grande unidade”

Coser afirma que ele e Camila e um terceiro deputado, Tyago Hoffman (PSB), estão juntos, no mesmo campo, e que têm conversado muito sobre as eleições em Vitória. Tyago é o pré-candidato a prefeito do PSB, partido do governador Renato Casagrande. O ex-prefeito trabalha com a perspectiva de “construir uma grande unidade em algum momento” visando derrotar o adversário em comum, Lorenzo Pazolini:

“Converso muito com a Camila, como companheira de trabalho, como deputada e amiga. Ela tem muita responsabilidade e compreensão do tempo que estamos vivendo, como eu também tenho. Também converso muito com o deputado Tyago. Nós temos conversado muito sobre este momento. O tempo de bater martelo não é agora. Agora é o tempo de cada um se fortalecer no seu projeto, no seu partido, buscar se consolidar como candidato e ali na frente ver o que é necessário fazer para ganhar a eleição. Nós temos uma disputa com o campo de extrema direita. Naturalmente, a minha disputa não é com o centro, não é com a esquerda. Nós estamos juntos. E minha expectativa é que a gente consiga construir uma grande unidade em algum momento.”

Coser e Luiz Paulo no mesmo palanque?

Esses diálogos no interior da constelação de aliados de Casagrande visando à construção dessa “grande unidade” contra Pazolini inclui, segundo Coser, o também ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), seu antecessor na cadeira de prefeito, de 1997 a 2004. Num passado não tão distante, os dois foram grandes adversários no contexto municipal. Para chegar à Prefeitura, Coser derrotou em 2004 o candidato de Luiz Paulo, o então tucano César Colnago.

A rivalidade foi acentuada no auge da polarização entre PT e PSDB (do governo FHC ao impeachment de Dilma). Porém no presente, indica Coser, ele e Luiz Paulo estão muito mais próximos não só por estarem integrados à já citada “constelação casagrandista” como em razão do contexto eleitoral da Capital, com o já devidamente sublinhado adversário em comum. Comenta Coser a respeito de uma união de forças no 2º turno contra o atual prefeito:

“Essa formulação se dá naturalmente pela política, porque você tem um campo que vai da centro-direita até a esquerda consolidado neste debate. Isso gira em torno do mandato do governador Renato Casagrande. Todos estão lá contribuindo com o governo. Eu converso muito com o Luiz Paulo. Ele formula isso, e talvez seja a formulação mais correta, ou, pelo menos, a mais desejada por todos nós. Sempre na política a pergunta é a seguinte: vocês vão ter capacidade de construir isso?”, formula o petista, antecipando a pergunta e já emendando a resposta:

“Eu acho que vamos ter! Nós temos adversários. O próprio prefeito é um adversário. E tenho a impressão que a gente consiga fazer um grande movimento de centro, de centro-esquerda, para fazermos uma boa candidatura de 2º turno. Ninguém trabalha hoje com a expectativa de ganhar no 1º turno e nem acho que outro vai ganhar no 1º turno.”

A propósito, Coser e Luiz Paulo já subiram no mesmo palanque uma vez: foi exatamente ao lado de Casagrande, na campanha do 2º turno contra o bolsonarista Manato (PL), em outubro do ano passado, num comício em Vitória. No mesmo palanque subiram o ex-prefeito Luciano Rezende (Cidadania) e a atual vice-prefeita, Capitã Estéfane. 

Pazolini e Assumção: “No mesmo campo”

Coser não titubeia em classificar Pazolini como pertencente ao mesmo campo ideológico do quarto deputado estadual pré-candidato a prefeito de Vitória, Capitão Assumção (PL), situando o atual prefeito também na direita bolsonarista. “Pra nós, na política, sim. Os dois estão no mesmo campo.”

Para o ex-prefeito, no entanto, com a vitória de Lula sobre Bolsonaro na última corrida presidencial, o Brasil está bem mais distensionado, o que o leva a crer que o próximo pleito municipal não será tão invadido por um debate marcadamente ideológico: “A ideologia conta, sim. Nós somos seres ideológicos. Mas, no debate direto, contam mais as propostas para a cidade.”

Vitória vota na centro-esquerda”

João Coser refuta categoricamente a conclusão apressada de que o eleitor de Vitória é predominantemente de direita, com base nos resultados das duas últimas eleições: no último pleito municipal, em 2020, o eleitor da Capital deu a vitória a um deputado de direita; no último presidencial, em 2022, deu 55% dos votos válidos para Bolsonaro contra Lula (PT), no 2º turno.

Contra a análise de curto alcance, baseada nessa história recente, Coser também recorre ao passado, mas expandindo bastante o recorte histórico. Lembra que, antes da eleição de Pazolini, a população da mesma cidade elegeu em sequência nada menos que cinco prefeitos de esquerda, que exerceram oito mandatos seguidos, de 1989 a 2020, por 32 anos ininterruptos.

“Isso não é real! As pessoas dizem que o eleitor de Vitória é de direita, mas isso não é real. Olha só: Vitor Buaiz, do PT. Paulo Hartung foi eleito, não era de direita. Luiz Paulo foi eleito, não era de direita. João Coser não era e Luciano não era. E agora veio o Pazolini. A cidade de Vitória elege pessoas de centro para esquerda. Teve essa exceção com o governo do Bolsonaro. Quando o Bolsonaro era presidente, aqui se elegeu um governo de direita”, afirma Coser, atribuindo parte do sucesso eleitoral de Pazolini (contra ele próprio, em 2020) à influência do cenário nacional naquele pleito.

Se essa tese estiver correta, pela mesma lógica da influência do cenário nacional, Coser estará mais bem posicionado para encarar o pleito de 2024 do que esteve em 2020, agora com o poder central de volta às mãos de Lula e do PT, além de Bolsonaro inelegível.

Vitória está paralisada”

Coser não faz rodeios: sabe que não é tão simples, respeita o tempo do governador, mas quer contar com o apoio dele. O petista aproveitou essa parte da entrevista para alfinetar Pazolini:

“Acredito, sim, não só no apoio e numa presença grande do Governo Federal, mas também do governador Casagrande e das pessoas que estão no seu entorno no Governo do Estado. Nós sabemos que o governador tem uma relação difícil com a gestão municipal e que isso traz uma prejuízo grande para Vitória. Enquanto Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana estão recebendo muitos recursos e estão com muitos investimentos, Vitória está paralisada. Para quem gosta de Vitória, isso não faz bem.”

Arrogando-se elevada “capacidade de articulação e de relacionamento político”, o ex-prefeito insinuou que o atual não exibiria as mesmas qualidades:

“Vou voltar no passado: o que fiz em Vitória contava muito com essa capacidade de articulação. Primeiro era o governador Paulo Hartung, depois o governador Casagrande, e no Brasil foi praticamente o governo do Lula. Todas as grandes obras e grandes projetos foram com recursos dessa parceria. Tudo foi feito em função dessa boa relação com os entes federados.”

O entrevistado afirmou que sonha em ter Casagrande não só o apoiando, mas fazendo “campanha de peito aberto” para ele em Vitória daqui a nove meses.

“Nós somos dois amigos e dois companheiros de caminhada desde quando ele foi deputado estadual e depois vice-governador [de Vitor Buaiz, governador do PT, de 1995 a 1998]. A minha relação com Renato é pessoal e política. Então, nesse ponto, torço muito para que ele possa vir me ajudar abertamente, entrar na campanha de peito aberto, ir para a rua. Esse é meu sonho, naturalmente. Se eu negar isso, não estou sendo honesto com ninguém. Mas isso se dará no tempo dele, não no meu tempo. E temos que respeitar a pré-candidatura do PSB e as de outros aliados que também o ajudaram a ganhar as eleições. Como prefeito, já tive sete partidos comigo e depois 14. Sei que essa relação precisa ser de muito respeito, mas tem que ser de solidariedade.”

Lulou”: filho, pai, avô…

Arriscando uma metáfora bem ao estilo de Lula, Coser ressaltou a importância de os prefeitos cultivarem boa relação com quem quer que esteja no Governo Estadual e na Presidência:

“Como se fosse um filho que quer dar certo na vida, o prefeito depende do pai e do avô. O pai tem um potencial, o avô, um potencial maior ainda, e o filho está começando sua caminhada. Então nós, que somos o menor dos entes federados, mas o mais importante porque nós é que cuidamos da vida das pessoas, precisamos dessa proteção do Estado e da União. Acho que isso eu faço com uma certa propriedade, porque já nos mandatos passados mostrei essa capacidade de articulação.”