Coluna Vitor Vogas
Tyago Hoffmann: “Vou atrapalhar todo mundo pois vou ganhar a eleição”
O primeiro grande desafio do pré-candidato do PSB a prefeito de Vitória, o discurso com que ele entra na corrida e como a sua entrada embola o jogo
Ainda no camarim, quando eu abordava com ele amenidades como o dress code da entrevista, Tyago Hoffmann não resistiu a um chiste: “Já vim até vestido de ‘azul candidato’! (risos)”. No ar, durante sua entrevista ao EStúdio 360 Segunda Edição exibida na noite de ontem (14), o deputado estadual do PSB tratou de verbalizar o que já indicava a escolha da cor de sua camisa social: “Estou aceitando o desafio”.
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O “desafio” é assumir a pré-candidatura do PSB, partido do governador Renato Casagrande, à Prefeitura de Vitória, não só confirmada como praticamente lançada por ele nas respostas a mim e ao colega Kaká em nossa sabatina no EStúdio. A um ano do início da próxima campanha, Tyago não só entra para valer na corrida eleitoral como o faz vendendo autoconfiança: “Vou atrapalhar todo mundo, porque vou ganhar a eleição”. Só isso.
Na entrevista, Tyago deu a ver parte da estratégia planejada para ele pelo seu grupo político, profundamente entranhado no Palácio Anchieta.
Desta vez, a disputa eleitoral em Vitória foi deflagrada de maneira especialmente prematura. Da esquerda à extrema direita, pré-candidaturas têm brotado por toda parte. Já há várias lançadas ou fortemente cotadas.
Nesse cenário, para não perder o timing e ficar para trás, o PSB resolveu também entrar agora no jogo – até porque, nas maiores vitrines da Grande Vitória, o partido do governador só pode jogar de fato na Capital, em razão dos compromissos já firmados com Arnaldinho (Podemos), Euclério (UB) e Vidigal (PDT) em apoiar a reeleição dos respectivos prefeitos de Vila Velha, Cariacica e Serra. Ora, quem tem projeto eleitoral precisa ter um candidato, uma cara para esse projeto. E o nome escolhido é o de Tyago.
“O PSB, como partido do governador e como o maior partido do Espírito Santo, tem não só a legitimidade como a obrigação de discutir um projeto para Vitória. […] Obviamente um projeto como esse, quando tem um nome à frente, uma candidatura à frente, ganha corpo e musculatura”, disse ao EStúdio o agora pré-candidato.
De início, entrar na pré-campanha em Vitória não estava nos planos do deputado estadual em princípio de primeiro mandato. Em fevereiro, ele chegou a me dar uma entrevista revelando que seu projeto era concorrer à Câmara dos Deputados em 2026: “Não pretendo ser candidato em 2024. Se eu for candidato a prefeito, só se for a prefeito de Vitória. A depender de determinada conjuntura, posso até ser. Não descarto totalmente, mas diria que a chance é muito baixa”, declarou na ocasião.
Convencido pelo PSB, o deputado topou mudar o plano de voo, e a “chance muito baixa” virou “vou ganhar a eleição”.
“Essa candidatura não era o meu projeto inicial. Mas, desde o início do debate, o partido vem me provocando nesse sentido, da importância de termos alguém que represente esse projeto. O partido entendeu que o meu nome é o que tem mais força e musculatura para liderar esse processo político-eleitoral em Vitória. E eu estou aceitando esse desafio, para que a gente possa construir esse projeto nos próximos 12 meses e ter uma candidatura competitiva.”
O primeiro grande desafio
O PSB agora deve começar a fazer uma superexposição da imagem do deputado, e ele mesmo deve começar a circular muito mais por Vitória (e menos pelo interior do Estado), para ganhar projeção e aumentar seu recall entre os eleitores da Capital. Tornar-se mais popular é justamente o primeiro grande desafio.
Bastante conhecido pela imprensa e por agentes políticos, o ex-articulador de Casagrande teve votação muito boa para deputado estadual em 2022, logo na primeira eleição disputada por ele. Foi o melhor resultado entre os debutantes nas urnas. Mas seus votos foram bastante espalhados pelos municípios capixabas. Em Vitória mesmo, não chegaram a 4 mil.
A título de comparação, somente na Capital, Camila Valadão (PSol) teve 16.541 votos para deputada estadual; Capitão Assumção (PL), 16.311; João Coser (PT), 15.114. São três potenciais concorrentes ao mesmo cargo.
A meta do PSB, indica minha apuração, é fazer com que Tyago chegue a abril com pelo menos 10% de intenção de votos. Se der certo, ele será mantido. Se não, eles vão reavaliar. Até lá, de todo modo, com um nome para valer na roda, o PSB amplia o próprio poder de fogo nas negociações com os aliados.
Adversários íntimos
A entrada de Tyago Hoffmann embola bastante um meio de campo que já estava congestionado, principalmente, por pré-candidatos pertencentes à frente ampla do governo Casagrande.
Pelo PT, há o deputado e ex-prefeito João Coser. Já pela Federação PSDB/Cidadania, hoje Luiz Paulo está um passo à frente, mas também são sempre lembrados o também ex-prefeito Luciano Rezende, o ex-deputado Sergio Majeski e os deputados estaduais Mazinho dos Anjos e Fabrício Gandini (este em busca de outra sigla). O governo Casagrande não pode melindrar tais aliados.
Não por acaso, Tyago é muito cauteloso ao comentar essas pré-candidaturas de integrantes da mesma coalizão no plano estadual.
O deputado faz questão de ressaltar a legitimidade de todas elas e seu respeito pelas “várias pré-candidaturas debaixo do guarda-chuva do projeto político liderado pelo governador Casagrande”. Para não ferir suscetibilidades de aliados estratégicos, reconhece a importância do PT e da Federação PSDB/Cidadania na reeleição do governador em 2022. Os petistas abriram mão de candidato ao Palácio Anchieta e ao Senado; os tucanos têm o vice-governador Ricardo Ferraço.
“Jamais faria esse movimento sem o consentimento do governador, mas é importante dizer que o nosso governo é um governo de uma frente ampla de partidos e de aliados”, diz Tyago. “O deputado João Coser é um grande aliado do governo na Assembleia Legislativa e foi muito importante, tanto ele quanto o PT, na eleição do governador, assim como a Federação PSDB/Cidadania, que também tem a pré-candidatura do ex-prefeito Luiz Paulo.”
Perguntamos a Tyago se há espaço para tantos aliados de Casagrande na mesma disputa, ou se eles podem acabar brigando entre si, dividindo os mesmos votos e “se acotovelando”, favorecendo, em última análise, a reeleição do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), adversário em comum dos casagrandistas.
“Sempre digo que não cabem todas”, opina o deputado, lembrando que, na extensa pré-lista, quatro nomes hoje pertencem à mesma federação: “Por óbvio, da Federação do PSDB com o Cidadania só sairá uma candidatura, como pode sair uma do PT e pode não sair também, e pode sair também uma do PSB”.
Todas, não; uma só, tampouco. O ex-secretário estadual de Governo acredita em pelo menos dois aliados de Casagrande na disputa contra Pazolini: “Lá na frente, os partidos vão dialogar, e nós podemos ter várias dentro do mesmo campo, mas acredito eu que uma só, com certeza, não teremos”.
Eleição de dois turnos: todos contra Pazolini
Ecoando uma opinião corrente, o representante do PSB acredita que a eleição em Vitória irá necessariamente para o 2º turno. E aí, sim, os aliados deverão se juntar no mesmo palanque: “Todas as candidaturas que estiverem no mesmo campo da aliança política que o governador lidera provavelmente confluirão para uma disputa com o prefeito, caso o prefeito chegue ao 2º turno. Ou, se ele não chegar ao 2º turno, aí essas candidaturas disputarão [entre si]”.
A participação de Casagrande na campanha
Exatamente por conta do grande número de concorrentes aliados e da necessidade de preservação da “frente ampla” no governo estadual, Tyago diz não esperar que Casagrande entre em sua campanha desde o 1º turno: “Não, não espero. Espero e vou lá pedir o voto dele. […] Sei que o governador tem responsabilidade em governar o Estado a partir de uma aliança ampla de partidos. Então não nutro essa expectativa”.
Essa declaração de Tyago é muito importante porque, por óbvio, todos os seus movimentos são friamente calculados e combinados com o próprio Casagrande. Se ele está dizendo isso, é porque realmente sabe que a resolução do governador é a de não se envolver pessoalmente na campanha em Vitória no 1º turno, mantendo equidistância republicana entre os seus dois, três ou mais aliados no páreo.
“Cotoveladas”, não. Mas críticas…
“Da minha parte, jamais haverá cotovelada. Não vou entrar no processo eleitoral para dar cotovelada em ninguém, nem em adversário, muito menos em aliado. Quero discutir propostas e projetos para a cidade”, prometeu Tyago Hoffmann, na entrevista ao EStúdio.
A promessa solene não o impediu de, durante a própria entrevista, desfiar as suas primeiras críticas à gestão de Pazolini, agora falando na condição de concorrente direto do prefeito.
Crítica 1: “cidade estagnada”
Mestre em Economia, Tyago apontou “um grande problema da cidade de Vitória”: “Sinto a cidade absolutamente estagnada, perdendo dinamismo econômico, perdendo participação relativa tanto na política quanto na economia, quando comparo com as demais cidades da Grande Vitória”.
Crítica 2: falta de planejamento
A segunda crítica também foi bem direta: “Vitória hoje não tem um planejamento que aponte para onde a nossa cidade está indo, aonde nós pretendemos chegar, que tipo de movimentação econômica queremos fazer dentro da cidade”.
Crítica 3: saúde e educação
“Vitória sempre foi vista como uma cidade referência em educação e saúde. E hoje vejo a cidade patinando nessas áreas. São debates que vamos precisar fazer.”
Crítica 4: isolamento de Vitória
Já a quarta foi mais sutil, mas tem a ver com a referida “perda de participação relativa na política”. Ao responder sobre os desafios da mobilidade urbana, o deputado insinuou que o atual prefeito está isolando politicamente a Capital: “Precisamos debater isso de maneira metropolitana, com a presença do Governo do Estado, sem isolar Vitória em relação ao Governo do Estado, muito pelo contrário: interagir com o Governo do Estado e com as demais cidades metropolitanas”.
Como ele vai se vender?
Na entrevista, Tyago, 43 anos, também revelou um pouco a imagem que pretende vender. Economista por formação, homem público por vocação e opção, gestor público testado, jovem na idade, mas experiente na administração pública: é como ele pretende se apresentar “para disputar os corações e mentes” do eleitorado de Vitória.
“Tenho uma formação adequada em gestão. Já fui testado em gestão porque passei pelo Governo do Estado por muito tempo. Fui secretário de diversas pastas. Enfrentamos desafios muito importantes à frente das pastas por onde passei. Tenho capacidade de liderança. Como economista, tenho uma visão de desenvolvimento. Escolhi a vida pública por vocação.”
Coser ou Pazolini? De quem ele tira mais votos?
Um grande ponto de interrogação que entra com Tyago no mapa eleitoral de Vitória é se sua candidatura, caso concretizada, tem mais potencial para tirar votos de Coser ou de Pazolini. Eu diria que talvez um pouco dos dois.
Sim, o deputado é do PSB, partido de centro-esquerda, e é do grupo de Casagrande, adversário de Pazolini. Por esses dois vieses, quem vota em Pazolini não vai migrar o voto para Tyago. Então, em primeira análise, o socialista representa uma ameaça maior para Coser…
Por outro lado, é preciso salientar que, apesar do partido, Tyago Hoffmann não tem muito de esquerda, não. Faz parte de uma ala mais jovem do PSB do Espírito Santo que, em contraponto a dirigentes mais antigos, exibem uma “pegada” muito mais liberal nas questões econômicas. Sem falar que está longe de ser um simpatizante do PT, com quem já teve sérios desentendimentos de bastidores.
Na verdade, Tyago e o PSB entram nessa corrida apostando no filão do centro e na possibilidade de roubar votos dos dois lados: do eleitor insatisfeito com Pazolini, mas que não vota no PT; e do eleitor que não gostaria de reconduzir o PT à Prefeitura de Vitória, mas que não vota em Pazolini de jeito nenhum. É uma aposta na via do centro, semelhante à feita por Luiz Paulo. Pode ser isso, também, o que Tyago quer dizer com “Vou atrapalhar todo mundo porque vou ganhar a eleição”.
PT com as barbas de molho
É claro que Pazolini não tem a menor influência sobre as decisões do PSB de Casagrande, com quem não se senta à mesa para discutir política. Agora, nesta história, quem tem motivo para estar contrariado é o PT – e, naturalmente, João Coser. Os dirigentes petistas consideram ter sacrificado muito por Casagrande em 2022, para verem agora a sigla do governador criar, potencialmente, uma dificuldade extra para o retorno de Coser à Prefeitura de Vitória.
Quebra da polarização
O lançamento de Tyago a esta altura também responde a dois objetivos táticos. Em primeiro lugar, muita gente acredita que o cenário dos sonhos para Pazolini é reeditar a polarização de 2020 com Coser. Devido à rejeição ao PT, que se acredita ainda grande em Vitória, seria mais fácil para ele derrotar o petista. Por esse raciocínio, lançar alternativas ao centro dificultam mais as coisas para o atual prefeito.
Ação de bloqueio ao PP
Ao mesmo tempo, o lançamento de Tyago agora também pode ser lido como uma ação do PSB para bloquear a aproximação explícita do PP com o grupo do prefeito, puxada pelos deputados federais Da Vitória e, acima de tudo, Evair de Melo. Aliados de Pazolini trabalham para atrair o PP para a administração do prefeito e para que o partido anuncie em breve uma aliança eleitoral com Pazolini.
O argumento do PP estava pronto: “Com o PT não dá pra ir”. Mas e agora, com um candidato do PSB no jogo? Como um partido com lugar cativo no secretariado de Casagrande poderá deixar de apoiar o nome com o selo do Palácio Anchieta para apoiar um adversário do Palácio?
A entrada de Tyago na brincadeira deixa bem mais complexa a definição do PP.
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