Coluna Vitor Vogas
PSDB lança Luiz Paulo a prefeito de Vitória e o trata como prioridade
Presidente nacional da sigla garantiu apoio total à campanha, em ato de lançamento marcado por críticas à polarização rasa e promessa de frente ampla

Da esquerda para a direita: Vandinho Leite, Marconi Perillo, Mazinho dos Anjos e Luiz Paulo Vellozo Lucas. Foto: Vitor Vogas
“A candidatura do Luiz Paulo é uma das nossas prioridades. Estou aqui em nome da Executiva Nacional para mais uma vez convocá-lo para representar bem o partido.” As palavras são do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo. Governador de Goiás por quatro mandatos, o dirigente máximo do partido prestigiou o evento de lançamento da pré-candidatura do ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas à Prefeitura de Vitória na noite de ontem, na Assembleia Legislativa, e reforçou que o projeto de voltar a comandar a capital capixaba tem total apoio da direção nacional.
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“Luiz Paulo não só está à nossa disposição como pré-candidato como nos ajudou recentemente presidindo uma comissão criada especialmente para debater as cidades brasileiras. Junto com outros prefeitos, ele foi o responsável pela elaboração de um programa nosso para as eleições deste ano”, contou Perillo. Segundo ele, o PSDB deve lançar entre oito e dez candidatos a prefeituras de capitais, e Luiz Paulo, reforça, será tratado como um dos prioritários.
No Espírito Santo, pelas contas do presidente estadual, Vandinho Leite, o PSDB já tem pré-candidato a prefeito ou a vice-prefeito em praticamente metade dos 78 municípios.
Para passar a se dedicar integralmente à segunda e decisiva fase da pré-campanha, de agora até as convenções partidárias (entre 20 de julho e 05 de agosto), Luiz Paulo entregou ontem o cargo de subsecretário estadual de Integração e Desenvolvimento Regional, ocupado por ele desde o início do ano passado no governo Casagrande (PSB), de quem é aliado.
Ele pediu exoneração ao vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), seu superior imediato na pasta, como secretário estadual de Desenvolvimento. “A partir de amanhã [hoje], estarei exclusivamente dedicado à segunda fase da pré-campanha”, informou o ex-prefeito.
Em entrevista coletiva que precedeu o ato de lançamento, Luiz Paulo afirmou que seu objetivo é construir e apresentar aos cidadãos “um projeto transformador para Vitória”. Bastante usado por Luiz Paulo, o adjetivo desponta desde já como o mote da campanha do ex-prefeito tucano.
“Estamos trabalhando no sentido de construir uma frente ampla, representativa de um projeto transformador para Vitória. Fazer um projeto transformador não é a mesma coisa que fazer um bom governo. É muito mais. Para fazer um projeto transformador, é preciso uma aliança ampla e é preciso ter liderança junto às forças de mercado, às forças da sociedade, e se trazer daí as energias necessárias para projetos ambiciosos e transformadores, como foi o Projeto Terra”, afirmou.
Luiz Paulo destacou o projeto de urbanização de morros e da região noroeste da ilha de Vitória, carro-chefe de sua administração (por dois mandatos, de 1997 a 2004), como exemplo de “projeto transformador” que precisa ser retomado e expandido levando-se em consideração a realidade atual.
“Saí da prefeitura há 20 anos e até hoje o Projeto Terra é a política pública mais lembrada em todas as pesquisas públicas que se faz, porque ele ajudou a transformar a cidade. Ele não transformou sozinho, mas criou as condições. Na Ilha das Caieiras, por exemplo, não foi a prefeitura que fez a Ilha das Caieiras, foi o povo da região que despertou para o empreendedorismo. O pescador, o catador de caranguejo, virou empresário, dono de restaurante. E aquilo virou o principal polo cultural e gastronômico do nosso estado. Isso é exemplo de uma administração transformadora.”
Em seu pronunciamento à militância, da tribuna, Luiz Paulo sustentou que o PSDB fez uma “administração transformadora, que mudou a cara da cidade”, nos 12 anos consecutivos em que governou Vitória (de 1993 a 1996 com Paulo Hartung e de 1997 a 2004 com ele). Disse ainda que, em nível federal, durante a presidência de FHC (de 1995 a 2002), o partido fez uma “administração transformadora”.
Em crítica muito sutil ao prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), Luiz Paulo prometeu fazer, se eleito, “data maxima venia, uma administração muito melhor que essa que está aí”. “Os vídeos do Vinicius mostram isso com muita clareza”, completou ele, em alusão a postagens feitas nas redes sociais pelo vereador de oposição Vinícius Simões, do Cidadania (partido federado ao PSDB), expondo problemas da cidade.
A política de alianças partidárias
Quanto à “frente ampla” defendida por Luiz Paulo, o governador Renato Casagrande (PSB) cumprirá papel importante, não entrando na campanha pessoalmente no 1º turno – até porque há outros pré-candidatos pertencentes à sua coalizão, como o deputado estadual João Coser (PT) –, mas ajudando o PSDB a construir uma boa coligação formada por partidos posicionados mais ao centro do espectro ideológico.
Na tarde de ontem, Luiz Paulo foi com Vandinho Leite e Marconi Perillo ao encontro do governador, no Palácio Anchieta. E, segundo ele, ouviu de Casagrande incentivo: “Ele nos hipotecou solidariedade a esse projeto. E estamos muito animados com essa caminhada que estamos só começando”, afirmou o ex-prefeito, que preside desde o ano passado o PSDB em Vitória. “Espero contar com o apoio de um leque amplo de partidos que hoje fazem parte da aliança que hoje apoia o governo Casagrande.”
Cauteloso, Luiz Paulo preferiu deixar que “eles anunciem isso”, referindo-se aos respectivos dirigentes. Mas podemos adiantar que, hoje, o PSDB integra uma frente de centro composta também pelo PSB de Casagrande (centro-esquerda), pelo MDB de Ricardo Ferraço (centro), além do PSD, do Podemos e do União Brasil (os três últimos, de centro-direita).
Dos cinco, o único que já anunciou apoio a Luiz Paulo foi o União, na pessoa do seu presidente estadual, Felipe Rigoni. O secretário estadual do Meio Ambiente inclusive compareceu ao lançamento da pré-candidatura do tucano na Assembleia.
“Temos uma expectativa bastante ambiciosa. Temos muitas outras possibilidades de alianças. Podemos fazer uma frente bastante ampla”, anteviu Luiz Paulo, otimista.
Nessa aglutinação de seis partidos que podem se coligar, existem hoje duas outras pré-candidaturas a prefeito da Capital: as dos deputados estaduais Tyago Hoffmann (PSB) e Fabrício Gandini (PSD). Mas, após seu pré-lançamento em agosto do ano passado, os movimentos de Tyago aparentemente têm esfriado, enquanto os de Gandini nem sequer começaram de verdade. O deputado do PSD não está dando a menor pinta de que será mesmo candidato novamente ao cargo, após ter tentado sem sucesso em 2020.
O acordo de bastidores entre esses três pré-candidatos é que apenas um deles será mesmo postulante à Prefeitura de Vitória, com o apoio dos outros dois. Ao que tudo indica, Luiz Paulo largou na frente. É quem tem se mostrado mais motivado para isso e feito os movimentos públicos mais fortes, sendo o evento de ontem a maior prova disso até agora.
Críticas à polarização entre o petismo e o bolsonarismo
O ato de lançamento de Luiz Paulo também foi dominado por críticas à polarização política entre o lulopetismo e a extrema-direita bolsonarista, bem como ao debate ideológico raso que tem assolado o Brasil nos últimos anos. A crítica esteve presente nas falas de Vandinho Leite, do deputado estadual Mazinho dos Anjos, de Luiz Paulo e de Marconi Perillo.
Luiz Paulo discursou:
“Foi essa situação descrita por muitos que me antecederam, da política esvaziada, apequenada, ocupada por homúnculos, por personagens fictícios, por mentiras, por radicalismos, por ódios que nada constroem… Foi isso que me motivou a disputar uma eleição na minha cidade, a cidade onde nasci e que tive a oportunidade de governar por oito anos. Foi o difícil que me atraiu.”
Em outro ponto do discurso, Luiz Paulo assim traduziu a esterilidade de um debate ideológico que é um fim em si mesmo: “Chuva e alagamento não é [sic] nem de esquerda nem de direita. Causam prejuízo para todo mundo… para quem é evangélico, para quem é católico, para quem não tem religião”.
Luiz Paulo ainda defendeu a necessidade de governantes que liderem a sociedade “na direção da transformação”:
“Tem gente que acha que governar o município, o estado, o país é gastar o dinheiro que está no Tesouro, nomear os amigos e perseguir os inimigos. Às vezes é isso. Mas não pode ser só isso. Para se fazer uma administração transformadora, a principal característica do prefeito, do governador, do presidente, é ser líder, é liderar a sociedade na direção da transformação, porque a transformação não depende só do dinheiro que está no Tesouro. Ela depende do empresariado, depende das outras instituições, depende de energias que não estão ao alcance da canetada e que precisam ser despertadas e lideradas.”
Ele prometeu a todos os tucanos, da militância presente ao presidente nacional da sigla: “Vou me dedicar integralmente a esse desafio. Eu imaginava que não teria mais essa oportunidade”.
“A palavra-chave é…”: o maior desafio eleitoral de Luiz Paulo
Como reiterado acima, a campanha de Luiz Paulo Vellozo Lucas nasce sob a égide da “transformação”, ou da promessa de “transformação da cidade”.
Ser “transformador”, “inventivo” ou “disruptivo” não tem necessariamente a ver com idade nem está condicionado a fatores como “quilometragem” na política e na vida pública. Tem muito mais a ver com a mentalidade do homem público e com sua capacidade (ou não) de propor mudanças reais e efetivamente implementá-las, transformando-as em realidade na vida dos cidadãos.
Isso posto, parece-me evidente que o maior desafio de Luiz Paulo será o de convencer o eleitorado de Vitória – sobretudo o de 40 anos ou menos, que ou não viveu ou mal se lembra de sua passagem pela prefeitura – que é ele o candidato mais talhado para realizar a “administração transformadora que ora propõe, do alto de seus 67 anos e já tendo governado Vitória por duas vezes e há tanto tempo, além de ter perdido a eleição para o mesmo cargo em 2012.
É um desafio prático, que ele e sua campanha terão de enfrentar a partir de agora, se quiserem de fato investir no mote da transformação.
