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Coluna Vitor Vogas

Polícia esclarece disparos durante carreata de Muribeca na Serra

“Não houve atentado político nem qualquer tentativa contra a vida do candidato”, afirma delegado Sandi Mori. Confira aqui, em detalhes, a versão oficial da Polícia Civil, com base nas investigações sobre a ocorrência registrada por Pablo Muribeca ontem à noite, durante carreata de campanha em Central Carapina

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José Darcy Arruda e Rodrigo Sandi Mori em coletiva de imprensa na sede da Polícia Civil

José Darcy Arruda e Rodrigo Sandi Mori em coletiva de imprensa na sede da Polícia Civil do ES (24/10/2024)

A Polícia Civil do Espírito Santo elucidou, na tarde desta quinta-feira (24), a ocorrência em que disparos foram realizados por um indivíduo durante carreata do deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos), candidato à Prefeitura da Serra, no bairro Central Carapina, na noite dessa quarta-feira (24).

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Por volta das 19 horas, Pablo Muribeca cruzava uma rua do bairro, acenando para a multidão na carroceria de uma caminhonete, enquanto membros de sua comitiva acompanhavam o veículo a pé. Na carroceria, ao lado do candidato, também estavam sua esposa, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e um apoiador.

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Conforme registrou Muribeca em Boletim de Ocorrência, em dada altura da carreata, eles foram alertados por um dos seus apoiadores que, no meio da multidão, havia uma pessoa com arma de fogo em punho. Segundo consta no B.O., um dos apoiadores de Muribeca se atracou com o indivíduo armado. Este então fugiu, efetuando disparos durante a fuga.

Em coletiva de imprensa, o delegado Rodrigo Sandi Mori, encarregado das investigações, e o delegado-geral da Polícia Civil do Espírito Santo, José Darcy Arruda, descartaram veementemente a hipótese de tentativa de homicídio contra Muribeca, ou de atentado político contra o candidato.

“Não teve atentado político. Podemos asseverar que em momento algum houve qualquer tentativa contra a vida do deputado ou de qualquer pessoa que estava com ele na comitiva. Foi um ataque entre gangues que atuam naquela região”, enfatizou Arruda. “Ficou claro que não houve nenhuma intenção de atingir a campanha ou de atingir o candidato”, completou o chefe da Polícia Civil.

Sandi Mori também foi veemente: “Podemos afirmar com absoluta certeza, diante das imagens e dos depoimentos colhidos, inclusive o do deputado [Muribeca], que não houve qualquer tipo de tentativa de homicídio ou atentado contra o deputado, contra o prefeito [Pazolini] ou contra qualquer membro da comitiva. Foi uma disputa entre gangues rivais, que gerou um fato isolado e já resolvido.”

Segundo Sandi Mori, o B.O. de Muribeca no qual se basearam as investigações policiais, registrado pelo candidato na Terceira Delegacia Regional da Serra, não contém a palavra “atentado” ou algo equivalente. A ocorrência, de acordo com o delegado, foi registrada como “disparo de arma de fogo”.

No entanto, o B.O. enviado pela assessoria do candidato à coluna, por volta das 23 horas dessa quarta-feira, tem teor diferente. O incidente foi registrado como “crimes contra a pessoa: tentativa de homicídio por arma de fogo”. No relato, Muribeca registrou ter sido a “vítima” e “o alvo do autor [dos tiros]”.

Além disso, em vídeo publicado pelo próprio Muribeca em seu Instagram, em frente à delegacia, por volta da meia-noite, o candidato também deu versão um pouco diferente, afirmando que o autor dos disparos teria ido em sua direção e atirado contra sua comitiva:

“Fomos surpreendidos por um indivíduo armado, com arma em punho, vindo em nossa direção. Uma das nossas pessoas tentou segurar esse homem. Ele levantou e saiu disparando contra o nosso time”.

Então o que aconteceu, afinal? O delegado Sandi Mori explicou.

A versão oficial da Polícia Civil

Segundo Sandi Mori, titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, Central Carapina é um bairro no qual duas gangues rivais disputam o controle do tráfico de drogas: a da Favelinha e a da Vala.

Por volta das 19 horas dessa quarta-feira, a carreata de Muribeca atravessava a Rua Distrito Federal. De acordo com o delegado, essa é, precisamente, a zona limítrofe entre as duas gangues rivais, a rua que delimita o território dominado por cada uma e que não pode ser atravessada por membros da outra. “É a divisa da área de conflito, onde uma gangue não pode passar e ultrapassar os limites da outra”, explicou Sandi Mori. “É o limite de uma área conflagrada.”

Exatamente no momento em que passava a comitiva de Muribeca, dois membros da Gangue da Favelinha passavam por ali de bicicleta.

Durante a passagem da carreata, os dois avistaram, no meio da aglomeração, um integrante da gangue inimiga. Um dos dois, então, percebendo ali uma “oportunidade”, encaminhou-se em direção ao rival, levando um revólver em punho, com o objetivo de executá-lo. “Ele aproveitou a aglomeração. Visualizou o rival e a oportunidade de matá-lo”, relatou o delegado.

Ao avistar esse indivíduo armado, um apoiador de Pablo Muribeca, de alcunha Camarão, engalfinhou-se com ele – possivelmente temendo que o alvo da ação criminosa fosse o candidato. Os dois, então, entraram em luta corporal.

O indivíduo conseguiu se desvencilhar e fugiu do local. Para abrir caminho, efetuou disparos para o alto. Em momento algum, ele atirou na direção de Muribeca ou de qualquer membro da comitiva do candidato. Durante a fuga, o criminoso foi alvejado na coxa direita por um disparo de arma de fogo. Segundo Sandi Mori, a Polícia investiga a hipótese de que o tiro tenha partido de algum membro da comitiva do candidato.

Atingido na perna, então, o traficante da gangue da Favelinha, pivô de toda a confusão, deu entrada com o ferimento na UPA de Carapina, de onde foi transferido para o Hospital Jayme Santos Neves, também na Serra.

Durante as investigações, iniciadas imediatamente por ordem de Arruda, o delegado Sandi Mori chegou até esse indivíduo, internado no Jayme, reconhecido por meio de imagens registradas por câmeras de vigilância durante a ocorrência. Ele foi autuado em flagrante por disparos de arma de fogo ilegal (um revólver dourado, calibre 38) e está preso. Seu nome não foi informado, mas Sandi Mori revelou que ele tem 32 anos e já cumpriu condenação no sistema prisional por tráfico de drogas.

O depoimento do traficante já foi tomado e, somado ao de testemunhas do episódio, deu à Polícia Civil a certeza de que tudo não passou de um “crime de oportunidade” envolvendo integrantes de gangues rivais em um dos bairros mais violentos do município da Serra. “O indivíduo confessou e falou a verdade. O depoimento dele está em perfeita consonância com os das demais testemunhas, inclusive com depoimento do deputado [Pablo Muribeca]”, relatou Sandi Mori.

Outra peça do quebra-cabeça foi o depoimento do próprio candidato, colhido pelo delegado por volta do meio-dia desta quinta-feira (24). Segundo Sandi Mori, Muribeca confirmou que não foi efetuado nenhum tiro contra ele ou alguém de sua comitiva. “Perguntamos a todas as testemunhas se em algum momento esse indivíduo apontou a arma em direção ao deputado ou ao prefeito e atirou. Todos foram unânimes em afirmar que não”, reiterou o delegado.

“Aí vocês podem me perguntar: mas por que ele [Muribeca] fez vídeo dizendo ter sido vítima de atentado?”, questionou Sandi Mori.

Arruda respondeu por ele: “Não vamos responder pelo vídeo feito pelo candidato. Ele é responsável pelo que ele fala. O que podemos dizer é: foi uma briga entre desafetos de gangues rivais. Para nós, é um fato isolado”.

O prefeito Lorenzo Pazolini também deve ser ouvido por Sandi Mori em depoimento, possivelmente amanhã, como testemunha citada no Boletim de Ocorrência de Pablo Muribeca.

A Polícia Civil não localizou nem identificou o membro da Gangue da Vala – o rival que seria assassinado pelo membro da Gangue da Favelinha, na origem de toda a confusão. Certo é que, por obra do acaso, ele possivelmente escapou de ter sido baleado, graças à intervenção do apoiador de Muribeca que se atracou com o outro traficante. Possivelmente está vivo e passa bem.

De quase assassino a vítima?

No fim das contas, o homem que está preso passou de potencial assassino a vítima de disparo de arma de fogo, já que, na tentativa de fuga, foi atingido pelo tiro que o levou a ser hospitalizado. A polícia ainda investiga quem foi que disparou contra o traficante em fuga, mas trabalha com a suspeita de que tenha sido um dos integrantes da comitiva de Muribeca. “Alguém que estava no meio da comitiva possivelmente o acertou na coxa direita. Estamos apurando.”

Segundo Sandi Mori, Muribeca confirmou, em depoimento, que algumas pessoas de sua comitiva estavam armados. Um deles, segundo o delegado, pode ter atirado no traficante em fuga. Mas a hipótese carece de confirmação: “Ouvimos alguns apoiadores do candidato que estavam lá. Todos negam que estivessem armados”.

De quase homicida, então, o primeiro sujeito (o que está preso) pode ter passado a vítima de tentativa de homicídio? “Não posso afirmar. O disparo que o acertou pode ter sido em legítima defesa”, responde o delegado.

Em conclusão…

O homem disparou. Mas não contra Pablo Muribeca…


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