Coluna Vitor Vogas
“O Velho e o Novo”: a estratégia de Vidigal para eleger Weverson na Serra
Poção que está sendo bem mexida no caldeirão da maga do marketing Jane Mary Abreu mistura a juventude e a “renovação” simbolizada por Weverson com a experiência e a “segurança” transmitida por Vidigal. Estratégia lançada no sábado (16) é detalhada aqui
Discursos e entrevistas coletivas no ato do último sábado (16) em que o prefeito Sérgio Vidigal (PDT) lançou Weverson Meireles (PDT) à Prefeitura da Serra evidenciaram a estratégia formulada por eles dois e pela experiente marqueteira Jane Mary Abreu para convencer o eleitorado serrano a votar no jovem candidato de Vidigal e derrotar adversários que largam com recall e intenções de voto certamente maiores.
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Como restou cristalino, a ideia central é fundir o “novo” e o “velho”, apresentando Weverson como uma esperança de renovação política a uma população sedenta por mudança e cansada da alternância de Vidigal com Audifax Barcelos (PP) no poder.
Mas atenção: por essa perspectiva, não se trataria do “novo pelo novo”, de uma renovação qualquer, por ela mesma, sem experiência nem preparo técnico para governar a maior cidade capixaba.
Como criador e criatura não se fartaram de repetir, a ideia de “renovação”, neste caso, seria acompanhada pela ideia de “segurança”, lastreada não só no currículo do próprio Weverson (apesar de ser estreante nas urnas, ele já exerceu cargos na administração pública municipal, estadual e federal, sempre à sombra de Vidigal) como também na presença ubíqua de Vidigal e de sua imagem na campanha. A ideia é que o prefeito opere não só a transferência de seus votos para Weverson, mas também a dos seus predicativos.
Como grande fiador político da candidatura do seu chefe de gabinete, Vidigal fará tudo para infundir sua experiência à imagem do candidato, abrindo o caminho para ele, apresentando-o ao eleitor pessoalmente, fazendo campanha lado a lado com ele e buscando tranquilizar o serrano que pode ficar receoso em confiar seu precioso voto a alguém que mal conhece.
O candidato não será o Weverson. Será o Weverson do Sérgio Vidigal. A ideia geral é: “o candidato do Vidigal é novo, e você talvez não o conheça, mas é o candidato do experiente Vidigal, e este você conhece bem”. Por isso, expressões como “renovação segura” e até “renovação experiente” foram usadas à exaustão pelos dois:
“Uma renovação segura, uma renovação experiente, uma renovação com a sabedoria de tocarmos a gestão do maior gestor do Brasil, Sérgio Vidigal”, discursou Weverson à militância que lotou o cerimonial no bairro Jardim Limoeiro para assistir à despedida antecipada do prefeito ao seu público.
Ao mesmo tempo, ficou patente que a maior preocupação da campanha de Vidigal & Weverson tem nome e sobrenome (aliás, apelido): sem ser citado nominalmente em nenhum momento, o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos) é nitidamente encarado como a maior ameaça eleitoral ao grupo do prefeito da Serra, mais até que Audifax.
Também ficou evidente a estratégia escolhida para tentarem neutralizar Muribeca: associá-lo à ideia de “retrocesso”, ameaça e insegurança. Enquanto Weverson representaria a tal “renovação segura”, Muribeca seria um arquétipo da ideia oposta: representaria uma renovação perigosa e enganosa.
“Temos condições de discutir essa renovação com segurança. Quando damos à cidade a certeza de que é uma renovação ao lado da experiência desse que continua sendo um grande gestor, é a segurança de ter a experiência ao lado da juventude tocando a maior cidade do Espírito Santo”, declarou Weverson.
Ele e Muribeca têm a mesma idade: Weverson completa hoje 33, um a mais que o deputado originário da zona rural da Serra. Mas, enquanto um teria currículo a exibir como gestor, o outro seria vazio de conteúdo e dono de uma popularidade construída à base das redes sociais, conforme a campanha de Weverson já começou a pregar:
“Sou formado em Administração pela Ufes. Eu não sou formado em Instagram e pós-graduado em TikTok”, ironizou Weverson, em seu discurso.
Como dito, a estratégia é associar Muribeca a “retrocesso”. Mas por que “retrocesso”? Em dado momento, ainda que muito sutilmente, Weverson pareceu associar o adversário até a possíveis ilegalidades: “Tenho no meu currículo experiências de gestão. Eu não tenho no meu currículo uma ficha corrida”.
Bandeira de paz para Audifax
Nesse mesmo sentido, como parte da estratégia maior, Weverson e Vidigal fizeram um aceno fortíssimo a Audifax. Admitiram que querem conversar com o ex-prefeito sobre o processo eleitoral, visando, quem sabe, construir algum tipo de aliança, sempre em nome do “combate ao retrocesso” (causa maior que, por essa via de raciocínio, deveria uni-los).
“Acho até que era um bom momento de a gente se unir para fazer a virada de chave no município da Serra. Não é para derrotar o Muribeca, é para que a Serra não retroceda. Quando eu falo em ‘se unir’, é porque acho que o interesse da cidade é maior que o nosso nesta história”, disse Vidigal à imprensa, praticamente agitando a bandeira de paz a sua nêmesis.
Também falando a jornalistas, Weverson chegou a elogiar as administrações do adversário: “Não podemos permitir retrocesso na cidade. A Serra representa muito para nós, serranos, mas representa muito para o estado do Espírito Santo. Brincar com o futuro da Serra é brincar com o futuro do nosso Estado. […] Por isso, não está descartado dialogar com o Audifax, porque ele fez, sim, uma boa gestão, independentemente dos posicionamentos políticos, até porque o Audifax saiu da mesma escola pela qual estou sendo apresentado agora.”
Para Vidigal, o seu passo atrás, permitindo que Weverson seja o candidato e conduza as articulações daqui para a frente em seu próprio nome, facilita a atração de novos aliados. Isso inclui aqueles que têm questões mal resolvidas com o atual prefeito e que jamais se sentariam à mesa para discutir eleições com o PDT caso fosse ele mesmo o candidato, como notoriamente é o caso do próprio Audifax.
Vidigal explicitou esse pensamento. Ele já havia concedido sua entrevista coletiva à imprensa, mas fez questão de interromper a de Weverson para acrescentar:
“Qual é a vantagem do Weverson? Primeiro que ele não tem nenhuma obrigação de fazer o que eu quero e de atender a mim. O Weverson pode neste momento articular com forças políticas que têm problemas comigo, mas que podem conversar com ele. […] O Weverson é uma sinalização de abertura de espaço para novas lideranças da Serra. Em 2026 tem eleição. Weverson terá autonomia total no que ele se comprometer em fazer. A única coisa que colocamos na conversa é somente não retroceder. Mas, no restante, ele tem autonomia total. Até porque como é que eu vou querer um prefeito que não tem desejo próprio nem autonomia para fazer? Isso não seria bom para a cidade.”
Ou seja, ceder o lugar para Weverson também atende a esse objetivo de facilitar a chegada de novos aliados (Weverson também citou Vandinho Leite, do PSDB) e até a atração de antigos adversários, especialmente o próprio Audifax. Dar a vez para o chefe de gabinete propicia a formação de uma aliança mais ampla na coligação liderada pelo PDT. Tudo isso, repito, com o objetivo maior de bloquear o crescimento de Muribeca.
Portanto, o receio inspirado por Muribeca e o foco total em neutralizá-lo se manifestaram tanto no aceno explícito a Audifax como nos mísseis teleguiados endereçados ao deputado bolsonarista.
Uma questão que se levanta desde já é: sendo “o candidato do Vidigal”, Weverson já tem pela frente o desafio de provar que pode mesmo representar o “novo”. Se Audifax eventualmente se juntar a esse movimento e Weverson tiver em seu palanque os dois prefeitos que governaram a Serra nos últimos 28 anos, o conceito de “renovação política” não fica ainda mais comprometido?
No momento, a poção está sendo bem mexida e fervida em fogo alto no caldeirão da maga do marketing Jane Mary Abreu. É uma mistura da juventude e da “renovação” simbolizada por Weverson com a experiência e a “segurança” transmitida por Vidigal.
A ideia é servir o elixir resultante a conta-gotas ao eleitorado serrano, até ele começar a apreciar o sabor. Os próximos meses dirão se a inusual combinação de ingredientes aparentemente opostos, mas quiçá complementares, funcionará e convencerá o eleitor.
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