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Coluna Vitor Vogas

O “NÃO” do PDT ao PT e a contaminação ideológica da eleição na Serra

Apoio a Weverson recusado: a humilhação que faltava ao PT no ES. O que explica a posição do PDT, batendo a porta na cara de um aliado histórico na esquerda?

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Da esquerda para a direita: Lula (PT), Magno Malta (PL), Weverson Meireles (PDT) e Sergio Vidigal (PDT)

Da esquerda para a direita: Lula (PT), Magno Malta (PL), Weverson Meireles (PDT) e Sergio Vidigal (PDT)

É uma humilhação para o Partido dos Trabalhadores (PT). Não há como dizê-lo de outra forma. Não há outra maneira de definir o sentido e o peso do “não” categórico ouvido pelo PT do PDT na Serra. Imagine qualquer situação prosaica. Você oferece sua ajuda para um antigo conhecido atingir determinada meta: passar num exame, vencer uma competição esportiva, dar entrada na casa própria… E essa outra pessoa responde: “Não, obrigado. A sua ajuda eu não quero. O seu apoio eu prefiro não ter…” Como você se sentiria? Pois é.

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Foi exatamente o que o PDT fez ao PT, ao rechaçar, peremptoriamente, o apoio do partido de Lula a Weverson Meireles (PDT) no 2º turno contra Pablo Muribeca (Republicanos) na Serra.

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O PT teve candidato próprio a prefeito da cidade governada por Sergio Vidigal (PDT): o ex-deputado estadual Professor Roberto Carlos. No 1º turno, ele obteve somente 3,07% dos votos válidos (7.513 no total).

No último dia 8, dois dias após o 1º turno, a Executiva do PT na Serra se reuniu para deliberar sobre a posição do partido no 2º turno no município. Pouco antes, o próprio Roberto Carlos fez um post anunciando seu apoio pessoal a Weverson e dizendo que defenderia a tomada dessa posição oficial na reunião do partido.

A reunião ocorreu. Falando à coluna, o presidente do PT na Serra, Miguel Júnior, garantiu que a Executiva Municipal da legenda aprovou a decisão de orientar sua militância a votar em Weverson Meireles.

Para estupefação geral, no último sábado, dia 12, o PDT, partido de Weverson, divulgou uma nota, assinada pelo presidente do partido na Serra, Alessandro Comper, recusando categoricamente o apoio do PT ao candidato do prefeito Vidigal. O trecho principal diz o seguinte:

“Em resposta aos ataques infundados que circulam pelas redes sociais, o PDT da Serra esclarece que NÃO recebe apoio do PT no segundo turno da eleição municipal. Nossa única aliança formal foi estabelecida com o PSDB, consolidando nossa parceria com os partidos já integrantes de nossa coligação. Não buscamos, nem pretendemos formalizar alianças com outros partidos além dos que já fazem parte do nosso grupo”.

O “NÃO” já veio assim mesmo na nota, com tudo em letras maiúsculas.

É preciso salientar aqui: não estamos a tratar de dois partidos que não tenham absolutamente nada a ver um com o outro, pelo contrário. Nacionalmente, PT e PDT são aliados históricos no campo trabalhista e no campo progressista de esquerda. Essa proximidade se reflete no seio do governo Lula, no qual o PDT ocupa o Ministério da Previdência Social, com o ex-presidente nacional do partido, Carlos Lupi. Após perder a eleição presidencial com Ciro Gomes em 2022, o PDT apoiou Lula no 2º turno contra Jair Bolsonaro (PL).

O que é que pode explicar, então, essa recusa taxativa do PDT da Serra em face do PT?

Há duas explicações possíveis.

Rompimento local desde 2012

A primeira é a resposta oficial, colhida junto à assessoria de campanha de Weverson Meireles, a qual pode ser resumida assim: parceiros nacionais, sim; na Serra, não é bem assim. Segundo a assessoria do candidato pedetista, a aliança em âmbito federal não se aplica no município. Ao contrário, especificamente na Serra, PT e PDT estão rompidos desde 2012.

A eleição municipal daquele ano foi marcada pelo primeiro confronto direto nas urnas entre Sergio Vidigal e Audifax Barcelos (então no PSB). Até aquele momento, o PT fazia parte da administração de Vidigal, o incumbente e candidato à reeleição. Mas, em vez de renovar a aliança com Vidigal, o PT compôs com Audifax, o desafiante, indicando sua candidata a vice-prefeita, Lourência Riani, e deixando o PDT a ver navios.

Segundo a assessoria de Weverson, no pleito de 2012, o PT dormiu na administração de Vidigal e amanheceu na chapa de Audifax, vencedor desse primeiro duelo direto com o maior líder pedetista no Espírito Santo.

Quatro anos mais tarde, em vez de apoiar a volta de Vidigal à Prefeitura da Serra, em sua revanche eleitoral contra Audifax, o PT lançou candidato próprio a prefeito: o então petista Givaldo Vieira (hoje no PSB). Mas, naquela disputa municipal, boa parte da base do PT na verdade apoiou Audifax, até porque o partido de Lula dirigia secretarias na administração do então prefeito.

Durante a campanha, Vidigal foi hostilizado pela militância do PT, chamado de “traidor” e “golpista” por ter votado a favor da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) poucos meses antes, em abril de 2016 – contrariando, inclusive, diretriz da direção nacional do PDT. Pela Rede Sustentabilidade, Audifax se reelegeu, impondo a segunda derrota seguida a Vidigal em duelos diretos nas urnas.

Já na eleição municipal de 2020, o PT ficou neutro na disputa majoritária na Serra, não apoiando nem Vidigal nem o então vereador Fábio Duarte, candidato apoiado por Audifax.

Noves fora, PT e PDT não caminham juntos na Serra desde 2012. E, nas últimas três eleições municipais, o partido de Lula e Dilma não apoiou Vidigal. Agora, tudo isso estaria pesando na balança. O PDT avalia que não deve nada ao PT e que Weverson pode perfeitamente sagrar-se vencedor sem precisar contar com essa ajuda, na verdade nada bem-vinda: ter o PT em seu palanque poderia mais prejudicar que auxiliar o candidato do PDT.

Isso nos leva ao segundo ponto, que é o motivo não oficial, não admitido nem pelo PDT nem pela assessoria de Weverson, mas que certamente também foi levado em conta e ajuda a explicar esse “NÃO” do PDT para o PT.

Corra que o antipetismo vem aí!

Estas eleições municipais no Espírito Santo passaram longe de ser nacionalizadas, bem longe de ser influenciadas pela polarização ideológica nacional entre uma direita bolsonarista e uma esquerda lulopetista.

A tomada de decisão dos eleitores também passou ao largo disso, sendo majoritariamente orientada por outros critérios, muito mais atinentes ao dia a dia dos cidadãos em suas cidades. Quem apostou naquela estratégia de luta ideológica, de combate da direita contra a esquerda, de cruzada do “bem contra o mal”, fracassou de maneira clamorosa.

Ao mesmo tempo, a radicalização ideológica não foi o que orientou os debates, não foi o que ditou a agenda, muito menos o que determinou os resultados. Quem se pautou por essa estratégia encontrou, nas urnas, um fracasso retumbante.

Na Serra, porém, de maneira curiosa (e temerária), alguns agentes políticos estão buscando reeditar esse tipo de estratégia que já se mostrou equivocada no 1º turno.

A senha foi dada, involuntariamente, pelo Professor Roberto Carlos. Tão logo o petista publicizou seu apoio (uma posição individual e intransferível, como eleitor da Serra), adversários de Weverson começaram a usar isso contra ele, buscando direcionar ao candidato do PDT o sentimento antipetista nutrido por uma parcela dos eleitores serranos – ou seja, buscando voltar contra o pedetista o feitiço do antipetismo.

Professor Roberto Carlos foi o último entrevistado. Foto: Fernanda Côgo

Professor Roberto Carlos foi candidato a prefeito da Serra. Foto: Fernanda Côgo

Para completar, eis que na última quinta-feira (10), minutos antes da coletiva de imprensa em que Audifax Barcelos (PP) declarou sua neutralidade no 2º turno, entra em cena outro personagem importante nesta história: o senador Magno Malta, presidente do PL no Espírito Santo.

Em nota também firmada pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, Magno orientou, implicitamente, os eleitores e militantes do PL a apoiar Pablo Muribeca na Serra, contra Weverson. Por quê? Segundo a justificativa oficial, para “libertar o município do domínio da esquerda”.

Sem citar Muribeca, os dirigentes do PL afirmaram, ainda, que a cidade mais populosa do Espírito Santo “precisa de uma mudança verdadeira” e que eles não se opõem “ao apoio de quem compartilha a mesma luta contra o esquerdismo, focando na renovação e no futuro da Serra”.

Além da aliança nacional com o PT e da sua participação no governo Lula, o PDT foi o autor da Ação de Investigação Judicial Eleitoral contra Jair Bolsonaro que culminou com a condenação do ex-presidente à perda dos direitos políticos e à inelegibilidade por oito anos, por decisão do TSE, em julgamento no ano passado. Magno e Valdemar fizeram questão de lembrar isso aos eleitores serranos.

No mesmo dia, o Cabo Cassotto, policial militar e pastor que foi candidato a vice-prefeito de Igor Elson pelo PL, declarou voto em Pablo Muribeca. “Se nós da direita não nos movermos, a esquerda vai dominar a Serra por mais quatro anos”, justificou.

Ora, temos aí, senhoras e senhoras, a mais bem-acabada tentativa do PL de transformar em uma batalha ideológica uma disputa local na qual o PL não está. Isso foi dois dias depois da declaração de Roberto Carlos, que sem querer acendeu a primeira fagulha.

Com a nota de Magno, a gasolina foi ateada, e o fogaréu cresceu. Antes que virasse queimada e fugisse do controle, veio a nota do PDT, dois dias depois – em evidente contrarreação para abafar o incêndio acidental causado pelo PT e o intencional provocado pelo PL. Antes do “fogo morro acima”, o PDT veio com “água morro abaixo”.

Em tais circunstâncias, se Weverson, Vidigal e o PDT aceitassem o PT em seu palanque, ou o apoio formal do partido, isso poderia ser interpretado como “passar recibo”, “vestir a carapuça” de “esquerda no poder”.

Ao “gritar” por escrito seu reverberante “NÃO” ao PT, o QG de Weverson evita assumir a pecha de “esquerda a ser combatida” e de cair na perigosa armadilha da contaminação ideológica num momento em que o candidato da situação lidera a corrida – ainda que, logicamente, o PDT seja, SIM, um partido de esquerda, assim como sempre o foi Vidigal e como, por conseguinte, só pode ser o próprio Weverson, dada sua ligação orgânica com o partido e umbilical com o atual prefeito.

Weverson foi presidente estadual do PDT até março.

Carlos Lupi já foi até vice-presidente da Internacional Socialista.

Mas sobrou para o PT, que vive comprovadamente uma fase bem difícil no Espírito Santo, humilhado a nosso ver nesse episódio e rejeitado, agora, até por companheiros em âmbito nacional…

Presidente do PT na Serra: “O melhor para a cidade é a continuidade do PDT”

O presidente do PT na Serra, Miguel Júnior, confirma que, em reunião da Executiva Municipal realizada no dia 8 de outubro, os dirigentes locais decidiram orientar voto no candidato do PDT. O que significa exatamente “orientar voto”?

“Se a militância perguntar a qualquer dirigente em quem deve votar, respondemos que nossa orientação de voto é no candidato do PDT. Temos hoje quase 4 mil filiados na Serra”, explica o dirigente.

A decisão, inclusive, segundo Miguel Júnior, está mantida até segunda ordem, independentemente do posicionamento do PDT de “não receber” o apoio do PT:

“Com tudo o que o PDT coloca lá, nós entendemos que o melhor projeto para a cidade é a continuidade do PDT. Essa decisão pode ser alterada? Claro que pode. Mas, até o momento, está mantida”, afirma o presidente do PT na Serra. Ele conta que está convocando nova reunião da Executiva Municipal para a próxima segunda-feira (21).

Apesar da decisão tomada no dia 8, os petistas não chegaram a ir às ruas pedir votos para Weverson. Segundo Miguel Júnior, eles até pretendiam fazer isso, mas nem tiveram tempo: antes que pudessem, foram surpreendidos pela nota oficial do PDT da Serra. “Pretendíamos ir para a rua pedir voto. O caminho natural seria esse. Mas fomos surpreendidos no outro dia com a nota do PDT.”

Sobre eventual exploração do antipetismo por parte da campanha de Muribeca, Miguel cobra uma explicação do PDT. “Não vi manifestação do Pablo nesse sentido. Se houve, eu não vi. E, se é por isso que o PDT fez isso, eles têm que responder se é por isso.”

Quanto às alegações oficiais da campanha de Weverson (o caminho tomado pelo PT na Serra desde 2012), o dirigente do PT, curiosamente, não tira a razão do PDT:

“Se tem alguém que tem que esclarecer alguma coisa, é o PDT. Por que ele não quer o apoio do PT? Se for por isso que estão falando, ele está mais que certo. Em 2012, estávamos na administração do Vidigal. O PT dormiu com candidatura própria, que era a do Roberto Carlos, e amanheceu com a vice do Audifax, Lourência Riani. Em 2016, o PT não fez aliança com Vidigal, porque Vidigal tinha votado a favor do impeachment de Dilma. O PT então teve candidatura própria, com o Givaldo. Em 2020, lançamos chapa só de vereadores, e não apoiamos ninguém para prefeito nem no 1º nem no 2º turno. Se for por isso, eu entendo. Agora, se tem outras coisas, você tem que ligar pro Alessandro Comper e direcionar esses mesmos questionamentos para ele.”

Tirando por menos, Miguel Júnior afirma que a recusa do PDT não afeta em nada o PT:

“Na Serra, eu nunca tinha visto isso. Para o PT, não faz diferença. Nós estamos sós desde 2016. Faz diferença é para o PDT. Nós não estamos disputando eleição. Se o Roberto Carlos tivesse ido para o 2º turno, jamais o PT ia dispensar apoio de quem quer que fosse. Um candidato que dispensa apoio, isso quer dizer que ele está numa situação bem confortável na disputa…”, ironiza.

Miguel Júnior tem 52 anos, é filiado ao PT desde 2003 e preside o partido na Serra desde 2019. Tem mandato até julho de 2025.

O PT não faz parte da atual administração de Vidigal, mas a única vereadora do partido na cidade, Elcimara Loureiro, integra a base do prefeito na Câmara Municipal.


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