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Coluna Vitor Vogas

O futuro político de Sérgio Borges após se aposentar do TCES

Em uma rara entrevista desde que chegou à Corte, conselheiro revela seus planos políticos e profissionais e opina sobre nomes cotados à sua sucessão

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Sérgio Borges está prestes a se aposentar do TCES. Foto: TCES

No dia 8 de janeiro, após pouco mais de uma década na Corte, o conselheiro Sérgio Manoel Nader Borges será aposentado, compulsoriamente, do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES), por completar 75 anos. Cobiçadíssima no meio político capixaba, a vaga dele será preenchida pelo candidato escolhido pela Assembleia Legislativa, em votação secreta, após o recesso parlamentar.

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Falando com exclusividade à coluna, em uma muito rara entrevista desde que chegou ao TCES, o ex-deputado estadual, filho de uma tradicional família política capixaba, revela o que planeja fazer após a aposentadoria. De imediato, abrirá uma empresa de consultoria. Mas está aberto a voltar para a política, ocupando cargos públicos e quem sabe até disputando mandatos eletivos (mas não já em 2024). “Não, não descarto, porque quem traça o meu destino é Deus. E Ele me dá missões. Então, esse negócio de dizer que não vai beber dessa água… daqui a pouco você bebe a água toda!”

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Para isso, Borges terá de se filiar novamente a um partido político. Ele revela predileção pelo MDB, sigla pela qual exerceu seus quatro mandatos na Assembleia. Assim que estiver oficialmente aposentado, pretende ter uma conversa com o vice-governador Ricardo Ferraço, presidente estadual do MDB desde outubro.

O conselheiro também descreve o perfil que defende para seu sucessor – uma mistura de capacidade técnica com experiência política – e opina sobre os nomes mais fortemente cotados para serem “o candidato do Palácio Anchieta”, com o apoio do governador Renato Casagrande (PSB): o secretário-chefe da Casa Civil, Davi Diniz, principal articulador do governo com a Assembleia desde 2019, ou a chefe de gabinete, Valésia Perozini (PSB), antiga e leal conselheira política de Casagrande desde seu primeiro mandato, como deputado estadual, em princípios dos anos 1990.

Os dois são nomes de extrema confiança do governador, que deve buscar influenciar a escolha nos bastidores (como todos fazem), embora a vaga seja de indicação do Legislativo Estadual. “Isso é natural”, opina Borges.

Confira a entrevista completa do conselheiro quase aposentado.

Qual é o perfil que o senhor defende para o seu sucessor ou sucessora no cargo de conselheiro?

O Tribunal de Contas é uma casa aonde vem todo o sistema financeiro do Estado, de recursos públicos. Acho que temos que ter muita tranquilidade, uma assessoria competente e bom-senso. Acho que a Assembleia vai procurar uma pessoa com esse perfil, porque é a característica da casa.

Um perfil de profundo conhecimento técnico?

Conhecimento político e técnico.

Tem que mesclar, na sua avaliação?

Tem que mesclar, porque o bom-senso é necessário. É importante ter convivido na política e ter uma boa capacidade de relacionamento político. E saber bem o que é ser um gestor, porque, do outro lado lá, a gente legisla, mas nem todos foram gestores. O gestor tem uma alta responsabilidade com os recursos públicos do Estado.

O senhor entrou aqui como deputado estadual, em novembro de 2013, na vaga que era de Marcos Madureira, com a aposentadoria dele. Era o líder do primeiro governo Casagrande na Assembleia. A indicação competia à Casa, e o senhor foi escolhido pelos colegas na votação em plenário. Agora, sua vaga voltará a ser preenchida pela Assembleia. O senhor defende que seu sucessor seja preferencialmente um deputado?

Não posso ter preferência. Fui deputado. Sou conselheiro. E tenho certeza que a Assembleia vai escolher uma pessoa boa.

A vaga é da Assembleia, mas todos os governadores tradicionalmente buscam influenciar o processo, e é legítimo que o façam, “patrocinando” politicamente um nome…

Isso é natural, né?

Dessa vez não há de ser diferente. O governador deve apoiar um nome. Fala-se muito em Valésia Perozini e Davi Diniz. Como o senhor avalia esses dois nomes?

São duas pessoas íntegras e competentes. Convivi muito com eles nesse período todo. Acho que têm qualidades para ser conselheiro. Mas respeitando sempre que quem decide são os deputados. E pode ser um deputado, porque nós temos muitos deputados que merecem.

O senhor destaca algum nome?

Destaco todos.

O senhor vai apoiar pessoalmente um nome?

Não.

E qual será sua participação nesse processo?

Não voto. Serei um ouvinte.

E daqui para a frente, conselheiro Sérgio Borges? Temos um exemplo recente do ex-conselheiro, ex-deputado e atual prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos. Quando deixou o TCES, ele voltou a fazer política e disputar mandatos. Voltou a ser deputado estadual. Tudo bem que, no caso de Enivaldo, ele era mais jovem e antecipou a aposentadoria do tribunal. Mas o senhor também veio da política e tem uma longa trajetória…

Eu nasci em berço político, de pai e mãe. O meu tio Adalberto Simão Nader era deputado federal, meu pai era deputado estadual e a família toda passou por cargos públicos. E eu defendo sempre que a gente possa participar do serviço público do Espírito Santo, carreando os benefícios maiores com os recursos estaduais para aqueles que mais precisam. Então sou dessa linha. Vou fazer uma consultoria para mim, tentar aconselhar…

O senhor pretende abrir uma empresa particular de consultoria?

É, uma PJ. Sou “mandado” pelo meu filho. É ele quem vai abrir para mim.

Que tipo de consultoria?

Na área política, técnica e empresarial.

Mas o senhor tem planos de voltar para a política, conselheiro, seja do ponto de vista partidário, seja até mesmo na disputa e no exercício de mandatos?

O ano que vem tem eleição e eu não sou candidato. Dois mil e vinte e seis está longe. Primeiro eu tenho que cuidar da minha saúde, reinventar o caminho, comparecendo em todos os lugares em que sempre fui prestigiado. E lá na frente eu vou ver, porque possibilidade sempre tem.

Então o senhor não descarta voltar para a vida pública?

Não, não descarto, porque quem traça o meu destino é Deus. E Ele me dá missões. Então, esse negócio de dizer que não vai beber dessa água… daqui a pouco você bebe a água toda!

E quanto a partido? O senhor pretende se filiar? Já tem algum em vista?

Eu tenho uma tradição de MDB. Fui deputado estadual quatro vezes pelo MDB. Fui do Diretório e da Executiva do partido. Participei quando era garoto, levado pelo meu pai. E tenho um carinho enorme pelo MDB.

O senhor quer voltar para o MDB? É o que manda seu coração?

Meu coração não manda em mim. Nós temos que fazer alguns avanços.

Ricardo já conversou com o senhor?

Não. Eu vou ter uma conversa com Ricardo depois que eu sair do tribunal, porque antes eu estou impedido mesmo de falar sobre isso e quero cumprir meu compromisso até o último dia.

E se o senhor receber algum convite para exercer cargo público, no Governo Estadual ou em qualquer outra instância? Na sessão especial de despedida do TCES em que o senhor foi homenageado, no dia 7 de dezembro, o governador afirmou que o senhor “vai continuar contribuindo com o Espírito Santo, onde estiver, com ou sem cargo, com ou sem mandato, porque tem espírito público”.

Vou analisar e ver em que posso contribuir. Se for só para ter um cargo, não é preciso.