Coluna Vitor Vogas
Número de assassinatos cresce no ES em fevereiro. Ramalho justifica
No acumulado de 2023, somando homicídios dolosos ocorridos em janeiro e fevereiro, o número também supera o do mesmo período do ano passado. Meta é encerrar o ano com menos de 1 mil, mas o começo inspira dúvidas

De costas, da esquerda para a direita: o comandante-geral da PMES, Douglas Caus, o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho, e o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda. Foto: Sesp
O Espírito Santo fechou o mês de fevereiro com um preocupante aumento no número de assassinatos registrados no Estado, na comparação com o mesmo mês do ano passado.
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Em fevereiro de 2022, foram registrados 69 homicídios dolosos (quando há intenção de matar). No mesmo mês deste ano, foram 85.
No acumulado de 2023, somando assassinatos ocorridos em janeiro e fevereiro, o número também supera o do mesmo período do ano passado.
No primeiro bimestre de 2022, o Espírito Santo registrou 165 assassinatos. Já no primeiro bimestre deste ano, foram praticados 181.
Portanto, na comparação ano a ano, houve crescimento tanto em relação a fevereiro como em relação ao primeiro bimestre.
Em contrapartida, se excluído 2022, o Espírito Santo obteve as melhores marcas da série histórica iniciada em 1996.
Os 85 assassinatos registrados em fevereiro são o segundo índice mais baixo para o segundo mês do ano desde 1996, atrás apenas de fevereiro de 2022.
De igual modo, os 181 homicídios dolosos ocorridos no primeiro bimestre deste ano são o segundo melhor resultado da série histórica, atrás somente do primeiro bimestre do ano passado.
É a clássica situação do copo meio cheio ou meio vazio.
O governo estadual, é claro, prefere enxergar o copo meio cheio. Na tarde desta quinta-feira (2), a página oficial da Secretaria de Estado de Segurança Pública publicou (Sesp) uma matéria destacando justamente que o “Espírito Santo tem bimestre com segundo menor número de homicídios em 27 anos”.
Atendendo à coluna, o secretário estadual de Segurança, Alexandre Ramalho (Podemos), ressaltou os aspectos positivos do resultado. Ele tem uma explicação na ponta da língua para o incremento do índice em fevereiro deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado: a volta do carnaval às ruas.
Ponto fora da curva
Superado o pior período da pandemia do novo coronavírus e com a vacinação massificada (apesar de todos os esforços em contrário por parte de certas ex-autoridades públicas), o carnaval neste ano pôde voltar a ser festejado plenamente, sem restrições sanitárias, em blocos de rua, festas, shows etc., o que não ocorria desde 2020.
A ausência dessa realidade no carnaval do ano passado fez com que fevereiro de 2022 fosse um mês bastante incomum, estabelecendo um patamar de óbitos atipicamente muito baixo (69) para o mês do carnaval; uma marca, segundo o secretário, que a Sesp já sabia ser muito difícil de igualar em fevereiro deste ano, com o carnaval de volta às ruas.
“Nós sabíamos que o mês de fevereiro seria um desafio enorme, porque fevereiro de 2022 foi o melhor resultado da série histórica e um número muito importante para o Espírito Santo, com apenas 69 homicídios. Esse dado nos lançava um desafio. Não tivemos o carnaval neste período no ano passado. Não tivemos as festividades que tivemos neste ano. Desta vez tivemos que nos dividir em desfiles e ensaios de escolas de samba, o litoral que teve o policiamento reforçado em todo o Estado, na Operação Verão.”
Para Ramalho, “o dado histórico é que é o importante”:
“Temos que ter o cuidado de não avaliar só mês a mês. Foi o segundo melhor resultado em 26 anos.”
Meta para 2023
Em 2022, o Espírito Santo encerrou o ano com 998 homicídios dolosos. Foi a segunda vez que o Estado terminou um ano com menos de 1 mil assassinatos desde a inauguração da série histórica, em 1996 (a primeira foi em 2019).
“É claro que a gente busca sempre a redução, mas o sarrafo está alto”, afirma Ramalho.
“O nosso objetivo é voltar a encerrar o ano com menos de 1 mil homicídios, mas você sabe muito bem que muitas outras questões permeiam a segurança pública e principalmente esse dado. Hoje quem está morrendo e matando no Espírito Santo são jovens de 14 a 28 anos ligados diretamente ao tráfico de entorpecentes que representam 80% das mortes dentro do Espírito Santo. Então, há também um conjunto de ações para alcançar esses indivíduos.”
Promessa de campanha
Na campanha à reeleição em 2022, o governador Renato Casagrande (PSB) afirmou que sua principal meta na área de segurança pública é encerrar o atual governo, no fim de 2026, com o Espírito Santo posicionado entre as cinco unidades federativas com a menor taxa de assassinatos por 100 mil habitantes.
A meta consta inclusive no plano de governo apresentado por Casagrande à Justiça Eleitoral (está na página 39).
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Espírito Santo encerrou 2021 como a 15ª unidade federativa mais violenta do país, tomando por critério o número de homicídios dolosos por 100 mil habitantes.
Queda em latrocínios e assassinatos de mulheres
No primeiro bimestre, o Espírito Santo registrou queda nos latrocínios e no número de mortes violentas de mulheres em relação ao mesmo período do ano passado.
Em janeiro e fevereiro de 2022, foram cometidos 11 latrocínios (roubos em que as vítimas são assassinadas). No mesmo período deste ano, foram registrados três. A queda é de 73%.
Quanto às mortes violentas de mulheres, houve 21 casos no primeiro bimestre do ano passado. Neste ano, até agora, foram 16 ocorrências desse tipo, uma redução de 23,8%.
Já o número de feminicídios (assassinatos de mulheres motivados especificamente por sua condição de gênero) foi igual ao do primeiro bimestre de 2022, com cinco casos em cada ano.
