Coluna Vitor Vogas
João Coser versus Pazolini: quatro certezas a respeito desse embate
Ao voltar a usar a tribuna da Assembleia, Assumção deverá intensificar ataques contra o prefeito, enquanto Coser também seguirá subindo o tom

João Coser e Lorenzo Pazolini
Inaugurando uma nova fase de sua pré-campanha a prefeito de Vitória, agora sob direção do marqueteiro Fernando Carreiro, o deputado estadual João Coser (PT) subiu muito o tom contra o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) e partiu para o ataque contra seu aguardado adversário nas urnas, em discurso proferido da tribuna da Assembleia Legislativa na última segunda-feira (26).
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O estopim (ou pretexto) para a ofensiva de Coser foi um post feito por Pazolini na última sexta-feira (23), celebrando o fato de Vitória estar muito bem ranqueada no Censo 2022 do IBGE na categoria “esgoto coletado e tratado”. É a capital com a maior cobertura do país.
Coser acusou Pazolini de “plágio” e disse que o prefeito “se apropria do que não é realização dele”. Alegou que, ao fim do seu governo, em 2012, deixou Vitória em condições de recolher e tratar 100% do esgoto produzido na cidade. Reivindicou, portanto, os créditos pela autoria de um trabalho pesado, politicamente desgastante e apenas herdado por Pazolini. Chamou o prefeito de “aproveitador” e, apontando falta de diálogo com a sociedade, insinuou que a gestão Pazolini pratica uma “autocracia” em Vitória. Também falou em “política de baixo nível”.
Vice-líder do governo Casagrande e também pré-candidato a prefeito, Tyago Hoffmann (PSB) fez coro: “O atual prefeito não colocou sequer um cano nesta cidade, nem de drenagem, muito menos de tratamento de esgoto”.
Nenhum parlamentar defendeu Pazolini em plenário de bate-pronto, logo após o discurso de Coser. Na sessão do dia seguinte (27), o deputado Denninho Silva (União Brasil) incumbiu-se da tarefa. Mas o fez de maneira tímida. Sem citar nomes, criticou os “ataques covardes, em ano eleitoral”, e sustentou que nenhum prefeito fez mais por Vitória do que Pazolini já fez.
O aumento da pressão de João Coser coincide com um momento em que o deputado Capitão Assumção também vinha subindo ainda mais o tom em ataques diretos a Pazolini, desferidos igualmente da tribuna. Cinco dias antes do discurso de Coser, o pré-candidato a prefeito pelo PL chegou a chamar o prefeito de “moleque”, praticamente “chamando-o para a briga política”.
Na última quarta-feira (28), ao menos temporariamente, os ataques de Assumção cessaram, por motivo de força maior: o deputado foi preso por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes. Mas a prisão poderá ser sustada por decisão dos deputados estaduais – na verdade, é o que tende a acontecer.
Se for solto por vontade dos colegas, o deputado bolsonarista tende a voltar à ativa com a língua também ainda mais solta e politicamente fortalecido dentro do seu nicho. Se dentro deste já é tido como ídolo, passará a ser tratado como um “herói da direita”, o capitão que resistiu e derrotou “o arbítrio de Moraes”.
De volta à tribuna da Assembleia, falando sempre para dentro da sua bolha, Assumção deverá intensificar a ofensiva contra os adversários eleitorais, incluindo Pazolini, enquanto Coser também tende a seguir subindo o tom contra o prefeito. Este, então, pelo menos no contexto da Assembleia, pode ser apertado pelos dois lados nos próximos meses: esquerda e extrema direita.
De toda essa sequência de episódios, podemos extrair quatro certezas, listadas e explicadas a seguir:
1) Pazolini carece de um escudeiro
Os discursos e discussões no plenário da Assembleia têm alcance limitado. Hoje em dia até repercutem mais, graças às redes sociais. Mas o recente bombardeio dos dois lados sofrido por Pazolini prova a falta que faz ter ali dois ou mais aliados que formassem uma tropa de choque para blindá-lo e rebater de pronto cada investida da oposição.
2) Coser virá repaginado
Com a campanha sob nova direção, o João Coser que se prepara para adentrar a próxima campanha e encarar uma revanche com Pazolini nas urnas virá reconfigurado. Seu marqueteiro está planejando uma mudança de imagem. Esse é apenas o início da adoção de uma postura menos passiva e menos “vovô bonzinho” por parte do veterano petista.
3) Desta vez teremos uma comparação de governos
Na campanha municipal passada, Coser e Pazolini foram para o 2º turno, mas nem um nem outro era candidato à reeleição. Agora Pazolini será. Assim, diferentemente do que houve em 2020, a próxima campanha será uma comparação de mandatos, uma competição de quem fez mais por Vitória. Mais ainda se Luiz Paulo (PSDB) também for mesmo candidato. Três podem jogar esse jogo.
4) Pazolini não vai morder a isca
Por meio de sua assessoria, o prefeito Lorenzo Pazolini foi procurado para comentar as declarações de João Coser, mas não se manifestou. No caso de Assumção, mesma coisa.
Enquanto todos os seus adversários têm precipitado a luta política e a campanha, Pazolini segue irredutível na estratégia contrária, de adiar ao máximo a sua entrada no debate eleitoral. Até agora, ele nem sequer se apresentou como pré-candidato à reeleição.
Por isso, mantém-se firme e inabalável na resolução de não responder a críticas de adversários e potenciais concorrentes nas urnas, até porque, se o fizer, também acaba entrando no debate eleitoral. É tudo o que ele não quer…
Com a vantagem de ter a máquina municipal nas mãos, o prefeito pode se concentrar no que importa para ele no momento: aceleração das entregas, para rechear o portfólio que terá para apresentar na campanha.
No dia do discurso de Coser, passando ao largo das críticas do petista, Pazolini concentrou-se em pautas como o recente anúncio de que a Prefeitura de Vitória passará a oferecer exames de alta complexidade para usuários da rede de saúde municipal (os exames serão realizados por clínicas particulares e pagos pela prefeitura).
Pelo andar da carruagem, ele vai deixar para dar suas respostas na hora certa, só no período de campanha. O dano colateral para o prefeito é que, na condição de vidraça, ele passará os próximos meses tomando pedrada “a esquerdo e a direito” de adversários na Assembleia, sem uma “base” ou uma “bancada” que o defenda ali com a mesma ênfase.
