Coluna Vitor Vogas
Entrevista Audifax Barcelos: ‘Vidigal é candidatíssimo à reeleição’
Falando à coluna após se filiar ao PP, ex-prefeito avalia o governo de Vidigal na Serra e o deputado Muribeca, enquanto estimula muitas candidaturas

Audifax exibe sua ficha de filiação ao PP, entre Marcos Delmaestro, Josias da Vitória e Evair de Melo (02/12/2023). Foto: Reprodução Instagram
Filiado ao Progressistas (PP) no último sábado (2), Audifax Barcelos acaba de inaugurar uma nova fase em sua trajetória política, iniciada há quase 20 anos com sua primeira eleição para prefeito, em 2004. Essa nova etapa, ao que tudo indica, passa por uma nova candidatura à Prefeitura da Serra em 2024 – muito embora, estrategicamente, ele não se assuma ainda como pré-candidato.
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Mas, enquanto esconde o jogo em relação aos próprios planos, Audifax não poderia ser mais enfático em relação aos do atual prefeito: ele está convencido de que seu sucessor (e antecessor) no cargo, Sérgio Vidigal (PDT), é “candidatíssimo à reeleição”. Em tom de pré-candidatura, Audifax reserva muitas críticas à administração do pedetista: “Está tudo um caos do ponto de vista de gestão, de princípios e das políticas públicas”.
Na segunda parte da nossa entrevista (leia a primeira aqui), Audifax também responde sobre o provável terceiro grande nome nessa disputa, o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos). E explicita o seu desejo de que a Serra tenha muitos candidatos a prefeito – sinalizando enxergar vantagem num pleito com votação mais pulverizada e, consequentemente, maior chances de eleição em dois turnos.
Confira abaixo o nosso pingue-pongue:
Vamos falar do cenário eleitoral na Serra: o senhor acredita que Vidigal tentará a reeleição?
Apesar de ele ter falado várias vezes para vocês que não, apesar de ter ganho a eleição com esse compromisso, apesar de ter dito na posse e em várias entrevistas a vocês que não seria candidato, ele é candidatíssimo.
Hoje se vislumbra um quadro eleitoral na Serra concentrado em três pré-candidaturas fortíssimas: a do senhor, a do atual prefeito e a do deputado Muribeca. O senhor acha que ficará mesmo entre esses três?
Eu torço e faço votos para que tenha várias candidaturas. Defendo isso. Entendo que é bom para a democracia, será bom para o debate, é bom para a população que ela tenha muitas opções para enxergar quem está mais preparado, quem não está preparado, quem tem condições éticas de tocar essa cidade e quem não tem. Tenho falado que vamos passar por momentos de muitas dificuldades na Serra.
Por quê?
O próximo prefeito da cidade vai pegar algo muito parecido com o que eu peguei em 2013: uma cidade com muitas dívidas em função da irresponsabilidade do atual prefeito, que foi prefeito em 2012. A história se repete. As mesmas práticas de 2012 vão se repetir no ano que vem na cidade.
Que práticas são essas?
Compras das coisas sem licitação. Tenho falado muito desse absurdo, negócio de “ata de preços”. A atual administração tem feito muitos contratos por adesão a atas de preços. Isso deveria ser uma exceção, mas tem virado a regra. Compromissos totalmente fora da realidade, do ponto de vista administrativo e político. Endividamento do município. Não pagamento de várias coisas. Ou seja, o próximo prefeito, a partir de 2025, vai pegar uma dívida enorme, como nós pegamos em 2013, porque a prática do atual prefeito no ano que vem, para ganhar a reeleição, será a mesma que ele fez em 2012. A falta de princípios será a mesma, assim como a falta de economicidade. É o perfil do atual prefeito, então vai fazer o mesmo. E tem um agravante, parecido com o de 2013.
E qual é?
Em 2013, a cidade da Serra perdeu muito com o fim do Fundap. Foi a segunda cidade capixaba que mais perdeu com isso. Agora, vamos perder mais de R$ 250 milhões de arrecadação por ano com a reforma tributária. A reforma é um perigo para a Serra. A cidade será, depois de Vitória, a cidade capixaba que mais vai perder com a reforma. Então, a partir de 2025, vamos pegar dívidas enormes da atual administração e vamos pegar uma queda astronômica da receita. Ou seja, não é qualquer um que pode ser prefeito dessa cidade, porque pode quebrar e falir a cidade nos próximos quatro anos.
Como o senhor avalia a atual administração de Vidigal?
Do ponto de vista administrativo, está deixando muito a desejar. Não tem um secretário técnico nomeado três anos atrás que continua. Nenhum de ordem técnica continua. Você pega na saúde: em três anos, quatro secretários. Dá menos de um secretário por ano. Na área de turismo, cultura e esportes, que é uma área importante para a Serra, foram sete secretários em três anos. Então, peca do ponto de vista administrativo e do ponto de vista de princípios. Éramos a cidade mais transparente do Estado. Não somos mais. Éramos a cidade mais transparente do Brasil. Não somos mais. Éramos a cidade que tinha a maior capacidade de pagamento. O próprio Tribunal de Contas anunciou agora que perdemos o conceito A na Serra. A saúde na cidade está um verdadeiro caos. Hoje, está faltando remédio. Se você for hoje nas UPAs, não vai encontrar remédios para intubar as pessoas. Está tudo um caos do ponto de vista de gestão, de princípios e das políticas públicas. E é por isso que o prefeito não está bem avaliado.
O senhor disse há pouco que não é qualquer um que pode governar uma cidade como a Serra. Disse o mesmo durante seu ato de filiação ao PP, no último sábado. No mesmo evento, o senhor também chegou a criticar os “caçadores de like”, lançando ali uma indireta…
Eu não nominei ninguém.
Exatamente. Por isso gostaria de lhe perguntar: foi uma alusão ao deputado Muribeca e um recado para ele?
Tudo o que falei até agora foi sobre o atual prefeito.
Mas e os “caçadores de like”? Esse não é o perfil de Vidigal, até meio avesso a redes sociais, diferentemente do Muribeca. Foi uma referência ao deputado?
Tem muitos políticos Brasil afora que hoje usam essa prática. Muitos políticos. Alguns políticos da Serra, alguns do Estado e muitos do Brasil, infelizmente, hoje usam muito isso, usam muito de narrativas e, como a gente chama, agem como “caçadores de likes”…
O senhor prefere não citar nomes, entendo, mas quero aproveitar a oportunidade para lhe perguntar como avalia o perfil político desse potencial adversário, o deputado Pablo Muribeca, que notoriamente tem um perfil bem mais midiático e muitas vezes parece interpretar um personagem nas redes sociais.
Quem tem que julgar é a população, não sou eu. Defendo muitas candidaturas, acho isso importante. Não só três, mas quatro, cinco… É importante o PL, o PT, o Republicanos, o PSol, outros partidos terem candidaturas. Isso é importante para a democracia. E aí vamos discutir a cidade, e a cidade vai ver quem é quem. Quando tem isso, fica mais claro para a população quem é quem.
O senhor está trabalhando pessoalmente para incentivar e mobilizar algum candidato em específico?
Estou há três anos sem mandato. Mas os partidos com quem tenho conversado é muito na seguinte linha: tenham candidatos! Vamos construir, vamos debater. Isso enriquece a discussão.
Com quais partidos o senhor dialoga hoje?
Hoje, no campo do PP, tem o Agir36 e tem o PRD, esse partido novo resultante da junção do PTB com o Patriota. Agora, os outros partidos também defendo que tenham candidatos. O MDB também precisa ter. Isso é importante demais. Quem ganha com isso é a população.
O senhor tem medo do desgaste, da chamada “fadiga de material”? Talvez isso possa pesar até mais contra o prefeito Vidigal, por estar no cargo e por estar no quarto mandato, tendo o primeiro deles se iniciado em 1997. Mas o senhor também já exerceu três mandatos de prefeito e será candidato de novo aos 60 anos. O que o senhor trará de novo para se reoxigenar, provar para o eleitor que não será mais do mesmo?
Primeiro que a candidatura ou não nós vamos definir lá na frente. Ponto. Para mim, mais importante que idade, que ter um ou dois ou três mandatos, está no conteúdo, está no que você quer fazer, está nas propostas, está no que você está pensando para a cidade. Isso, na minha visão, é muito mais importante que qualquer outra coisa, não só em relação ao Audifax. Se a pessoa está com saúde, está animada, está com disposição e quer construir isso, é bom ser candidato. E se a tudo isso, à vontade, à garra, à determinação, você ainda puder somar a experiência, quem vai ganhar com isso é a cidade. Volto a dizer: não vai ser fácil assumir em 2025 o município da Serra, cheio de dívidas e com queda de arrecadação. Tem que ser alguém que saiba ter equipe e que possa dar garantias de que a cidade não vá perder o que conquistou nos últimos 30 anos, alguém que dê segurança para a cidade. Ao lado disso, repito, uma pessoa que esteja com muita vontade e determinação em querer fazer o novo para a cidade. O próximo prefeito precisa ter essas duas questões.
Lá na frente, o senhor pode se unir a Vidigal para derrotar Pablo Muribeca ou vice-versa?
Com todo o respeito aos nomes que você citou e a todos, repito, defendo que a cidade tenha opções para que ela possa escolher o que é melhor para ela em todos os aspectos.
